Dr. Siegfried J. Schwantes

O homem não está mais livre para esquivar-se de ser marcado pelas ideologias correntes em seu tempo do que para esquivar-se do ar que ele respira. Os teólogos não são mais bem-sucedidos a este respeito do que outros mortais, e, portanto, só pode ser natural esperar que o pensamento dos reformadores foi colorido pela ideologia humanística tão em voga na Renascença. Naquela época de transição, o foco do interesse deslocou-se, obviamente, do Deus do Céu para o homem e este mundo.

Semelhante clima intelectual não preparou a mente dos homens para apreciar a doutrina do santuário celestial, e poucos teólogos desse período lhe deram alguma atenção. Os elementos dessa doutrina estavam abundantemente presentes nos escritos tanto do Antigo como do Novo Testamento, mas os tempos não eram propícios para a apreciação de seu verdadeiro valor.

Em contraste com a teologia centralizada no homem, característica da Reforma e sua sequência, temos o ensino bíblico de que nenhum passo na experiência da salvação por parte do homem é meramente uma questão terrestre. Jesus torna bem claro que tais experiências espirituais como o arrependimento, a confissão e o perdão têm repercussões no Céu. Com efeito, à luz do Novo Testamento nenhuma dessas experiências teria algum valor para a salvação sem essa ressonância celestial.

Por exemplo, embora o genuíno arrependimento surja misteriosamente das profundezas do ser, nunca é iniciado pela própria pessoa. Segundo o apóstolo Paulo, ele sempre constitui uma resposta ao amor de Deus: “Ou desprezas a riqueza da Sua bondade,… ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” Rom. 2:4. Ondas de compaixão emanam do infinito amor de Deus. A misericórdia divina suscita uma resposta na alma humana, mas não para aí. O circuito só é completado quando o arrependimento do homem é aceito, aprovado e ratificado pelo Céu. Há “júbilo no Céu por um pecador que se arrepende” (S. Luc. 15:7). Deus nota a profunda atuação do arre-pendimento na alma humana, e isso é sumamente importante para que conduza à salvação.

O que é verdade sobre o arrependimento é ainda mais evidente na confissão, sua expressão audível. A humilde confissão do publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (S. Luc. 18:13) encontrou uma jubilosa resposta no Céu. “Digo-vos — afirmou Jesus — que este desceu justificado para sua casa.” Verso 14. Um simples murmúrio aos ouvidos humanos, a fervorosa petição do publicano encontrou uma rápida resposta no coração de Deus.

Há também a confissão pública de fé em Cristo diante de ridículo ou morte. Semelhante confissão tem, igualmente, repercussões no Céu: “Todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de Meu Pai que está nos Céus.” S. Mat. 10:32. O testemunho do cristão pode ser, aparentemente, abafado na algazarra da zombaria ou indiferença, mas nunca escapa à observação do Céu. Muito melhor do que em qualquer computador terrestre, ele é guardado para sempre na memória do Céu.

O perdão dos pecados também não é meramente uma transação terrena. “O que ligares na Terra, terá sido ligado nos Céus; e o que desligares na Terra, terá sido desligado nos Céus.” S. Mat. 16:19. Pondo de lado toda controvérsia sobre quem tem o direito de exercer o poder das chaves e o que significa o verbo “ligar”, uma verdade sobressai no texto de maneira tão brilhante como o Sol ao meio-dia: o perdão dos pecados nunca é meramente uma transação terrena. O perdão dos pecados não tem valor para a salvação se não for ratificado pelo Céu. A igreja pode perdoar; a parte ofendida pode perdoar; porém, a menos que Deus perdoe, esse pecado testificará contra o pecador no juízo final.

As Escrituras raramente se preocupam com o perdão em geral. Sua preocupação é com o perdão dos pecados. Por mais impopular que seja o conceito do pecado no

pensamento moderno, ele continua sendo central na teologia bíblica. O próprio plano da salvação foi ideado principalmente para lidar com o problema do pecado. Existe algo no tocante ao pecado que o torna repulsivo a Deus e letal para o homem. Ele rompe a harmonia entre Deus e o homem, e faz com que a vontade humana se oponha à vontade de Deus. Entroniza o próprio eu onde só Deus devia estar. Em vista do que é o pecado, o perdão, no sentido mais profundo, continua sendo uma prerrogativa divina. Nenhuma declaração terrena pode obliterar sua hedionda natureza e suas consequências. É por isso que o perdão do pecado nunca pode ser meramente uma transação terrena. Sem a ratificação celestial, o perdão jamais poderá remover a mancha e a culpa do pecado.

Para o homem bíblico, o pecado é, antes de mais nada, uma ofensa contra Deus. Os semelhantes podem ser prejudicados no processo; mas, em última análise, Deus é a vítima de todo pecado. Portanto, Davi confessou humildemente: “Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos.”

Sal. 51:4. A oração de Daniel em favor de seu povo expressa o mesmo reconhecimento básico: “Ó Senhor, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, porque temos pecado contra ti.” Dan. 9:8.

A arremetida do pecado contra Deus, tão evidente para Davi e Daniel, não foi percebida por Abelardo e seus herdeiros espirituais. Uma concepção restrita do pecado diminui o apreço pela expiação de Cristo. Consequentemente, Abelardo não conseguiu entender como a morte de Cristo na cruz poderia ter algum efeito objetivo sobre Deus. Seu propósito — ensinava ele — não era possibilitar que Deus exercesse perdão, e, sim, tornar o perdão de Deus aceitável ao homem. Segundo sua opinião, não havia obstáculo na mente de Deus para perdoar o pecador, nem mesmo a clamorosa indignidade cometida contra Sua lei. O único obstáculo estava na mente do homem. Este precisava convencer-se do amor de Deus, antes que pudesse aceitar o perdão divino. E a encarnação e a cruz foram um pequeno preço a ser pago para convencer o homem. Abelardo antecipou em seu tempo a tendência humanística que se manifestaria séculos mais tarde.

Podemos ver assim por que a doutrina do santuário celestial presta tão grande serviço ao pensamento cristão. Ela obriga os teólogos a desviarem a atenção para o aspecto celestial do propósito redentor da parte de Deus. É certo que o homem perdido no pecado constitui o objeto da procura e salvação divina. Mas a iniciativa dessa procura e salvação pertence a Deus, e não ao homem, como as parábolas da ovelha extraviada e da moeda perdida salientam tão claramente. A encarnação é importante, mas só porque revela o infinito amor e condescendência de Deus na dádiva de Seu Filho para tornar-Se o goel e Sumo Sacerdote do homem. A cruz é importante, não porque nela se houvesse realizado a expiação final, mas porque ela torna possível a expiação final.

A doutrina do santuário lembra ao homem que as decisões finais acerca de sua salvação são tomadas no Céu e não na Terra. Em vez de estimular o homem à introspecção e à preocupação consigo mesmo, as Escrituras o estimulam a olhar para cima, onde Deus está entronizado soberanamente: “Olhai para Mim, e sede salvos, vós, todos os termos da Terra.” Isa. 45:22. A um grupo de crentes cuja esperança de salvação girava em torno do santuário terrestre e seu imponente ritual, o autor do livro de Hebreus escreve: “Ora, o essencial das coisas que temos dito, é que possuímos tal Sumo Sacerdote, que Se assentou à destra do trono da Majestade nos Céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem.” Heb. 8:1. É nEle que deve fixar-se agora o nosso olhar durante a dispensação cristã.

Nesse santuário celestial Cristo efetua agora Seu ministério sacerdotal em favor da humanidade — um ministério que é tão vital para a salvação como o ministério terrestre de Cristo que culminou com Sua morte na cruz. Os dois constituem um todo indivisível. Sem a encarnação e o sangue derramado na cruz não poderia haver eficaz ministério celestial, pois é necessário que o sacerdote tenha o que oferecer (ver Heb. 8:3). Semelhantemente, sem a mediação celestial de Cristo, os que vivem sobre a Terra hoje em dia não poderiam tirar proveito do histórico sacrifício de Cristo. Não haveria um elo ligando o que foi efetuado no Calvário com a atual necessidade humana de perdão e reconciliação. Os méritos do sacrifício de Cristo precisam ser aplicados, de alguma modo, ao pecador arrependido no tempo presente. E isto é realizado pela intercessão de Cristo no santuário celestial. “Por isso também pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Heb. 7:25.

Tendo tomado sobre Si a natureza humana, o Filho assume naturalmente o papel de Mediador em favor do homem. Tendo-Se tornado semelhante ao homem em todo o sentido. Cristo é “misericordioso e fiel Sumo Sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Heb. 2:17). A mediação é tanto uma parte do ministério sacerdotal de Cristo como a expiação que Ele ofereceu sobre a cruz. Podemos ir além, dizendo que a expiação de Cristo pelo pecado seria ineficaz sem o Seu ministério de mediação e intercessão.

Assim como o perdão dos pecados nunca é meramente uma transação terrestre, a expiação também tem repercussões celestiais e não é meramente uma transação terrestre que ocorreu uma vez por todas. O ministério de reconciliação da parte de Cristo é uma extensão celestial da obra de expiação efetuada na cruz, ligando eficazmente o passado com o presente, os méritos do sangue derramado no Calvário com as necessidades atuais de todo pecador. Sem esse elo celestial, a corrente da salvação seria incompleta e ineficaz.

Cristo intercede pelos pecadores como um advogado defende o seu cliente. “Se… alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.” I S. João 2:1. Por outro lado, Satanás é o acusador dos irmãos (ver Apoc. 12:10). De maneira capciosa, ele depõe contra os que querem livrar-se de seu domínio. Apresenta os mais astutos argumentos para que todo pecador individual seja entregue a sua própria sorte. Satanás já aparece nesse hediondo aspecto nos livros de Jó e Zacarias, que nos proporcionam valioso vislumbre das cenas que ocorrem no tribunal celestial. Como é confortante saber que os crentes têm um Intercessor perfeitamente habilitado para defendê-los no tribunal de Deus! Satanás quer que seus nomes sejam apagados do livro da vida. Seus argumentos podem ter uma aparência de legitimidade, mas omitem os méritos do sangue de Cristo.

A intercessão de Cristo a favor do homem, efetuada até mesmo durante o Seu ministério terrestre (ver S. Luc. 22:31 e 32), prossegue da maneira mais natural no tribunal celestial, “pois Ele sempre vive para fazer intercessão por eles” (Heb. 7:25). É evidente que essa intercessão não tem o objetivo de abrandar o coração de Deus, como se Ele não tivesse amor pelo homem na condição em que este se encontra. “Deus prova o Seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom. 5:8. Mas, se não é para suscitar amor e piedade pelo homem da parte de Deus, qual será o propósito da intercessão de Cristo no santuário celestial?

Seu propósito é provar perante as inteligências celestiais que Deus é justo ao justificar aquele “que tem fé em Jesus” (Rom. 3:26). Nesse tribunal celestial, perante inúmeras testemunhas angélicas, os justos juízos de Deus precisam ficar acima de toda sombra de dúvida. Quando o último caso for examinado no tribunal divino, e for proferida a sentença para a vida ou para a morte, avolumar-se-á o coro de miríades de lábios, proclamando: “Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!” Apoc. 15:3.

Não devemos subestimar a importância crucial do que acontece no Céu. A salvação do homem é vital, mas a vindicação das relações de Deus com o homem em todo o processo da redenção não é menos vital. Tendo começado na cruz, essa vindicação não será finalizada enquanto o tribunal celestial não pronunciar a última sentença.

Assim, a doutrina do santuário celestial se apresenta como um antídoto necessário contra a tendência humanística no pensamento teológico corrente. O fato de que essa tendência é tão antiga como a Reforma não faz com que seja menos errônea e perigosa. O foco do

processo da salvação há tanto tempo centralizado no homem e seu pecado, precisa afinal deslocar-se para Deus, o qual inicia e confirma todo o plano da redenção. É compreensível que para os reformadores todo o evangelho parecesse estar incluído no texto: “O justo viverá por fé.” Rom. 1:17. Bendita como essa declaração sempre continuará sendo para os cristãos evangélicos, é, não obstante, evidente que seu foco incide sobre o homem e não sobre Deus.

Admitir que essa nova ênfase era necessária depois de séculos de errônea compreensão medieval não significa que os vislumbres obtidos pelos reformadores representam a palavra final na teologia bíblica. Se a dimensão humana da salvação fora negligenciada pelos escolásticos, o pêndulo moveu-se agora para uma excitação humanística que não negligenciou o aspecto divino em menor medida. A recuperação da doutrina do santuário celestial durante o século dezenove só pode ser descrita como providencial para restabelecer o equilíbrio. Seu gênio consiste em tornar a dirigir a atenção do homem para o que acontece no Céu, onde finalmente será decidido o eterno destino do homem.

O plano de Deus para uma nova ênfase à dimensão celestial da salvação é evidente no teor da primeira mensagem angélica: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o Céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas.” Apoc. 14:7. A tendência iniciada pela Renascença e acelerada pela revolução científica começada no século dezessete, glorificava o homem e suas realizações à custa de Deus, ao qual se atribuía um papel cada vez menor no conceito sobre o mundo emitido por cientistas e filósofos. No meio desse fervor humanístico, a proclamação: “Temei a Deus e dai-Lhe glória” caiu como uma bomba-relógio — como uma lembrança atroadora de que Deus está ali, de que Ele governa e domina, de que Ele é o Juiz.

O plano original de Deus era que o homem tivesse cada vez maior domínio sobre a Terra e seus recursos. Mas o homem fica insensatamente embriagado com o poder e a consecução, e torna-se cego à dimensão espiritual de sua vida, a seu destino dependente de Deus. É essa miopia espiritual do pensamento moderno que em grande parte é responsável pela desesperança que paira sobre a humanidade como um miasma fatal. Nada é mais apropriado para dissipar esse nevoeiro espiritual do que a compreensão de que Deus está ali e de que o mais elevado dever do homem é dar-Lhe glória. Era isso que a mensagem do primeiro anjo tencionava realizar, e é por isso que o redescobrimento da doutrina do santuário celestial como que constitui um raio de luz nas trevas de uma teologia de índole humanística. Constrange o homem fadado ao Juízo a lembrar-se de sua origem divina e de seu destino eterno.

A vinculação da mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 com a doutrina do santuário não é arbitrária. O apelo para temer a Deus e dar-Lhe glória se baseia na verdade de que é chegada a hora do Seu Juízo. No livro do Apocalipse o Juízo final muitas vezes é relacionado com o templo celestial. Assim, em Apocalipse 11, a declaração de que “chegou… o tempo determinado para serem julgados os mortos” (v. 18) é seguida pelo anúncio: “Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da aliança no Seu santuário” (v. 19). João não precisou lembrar a seus leitores que a arca do concerto no tabernáculo mosaico continha as tábuas da lei (ver Deut. 10:5). Para quem estava familiarizado com o Antigo Testamento, seria difícil não relacionar o Juízo com o decálogo, e este com a arca do testemunho que ficava dentro do lugar santíssimo do santuário.

Assim também, na última parte de Apocalipse 14, que descreve “um semelhante a filho de homem” sentado sobre uma nuvem branca e executando o juízo sobre os impenitentes, anjos são vistos duas vezes saindo do templo (versos 15 e 17). No primeiro caso, um anjo vem com instruções “para Aquele que Se achava sentado sobre a nuvem”; no segundo caso, o anjo sai do templo no Céu para unir-se ao Filho do ho-mem na obra de efetuar a colheita da Terra. Três vezes o templo celestial é mencionado em Apocalipse 15 em conexão com anjos que estão prestes a derramar juízos divinos sobre a Terra (vs. 5, 6 e 8).

A frase: “Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem” (Apoc. 14:14) é reconhecida com facilidade como uma figura extraída de Daniel 7. Lemos ali o seguinte a respeito da cena do Juízo descrita nos versos 9-14: “E eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do homem.” V. 13. Jesus também estava familiarizado com as profecias de Daniel, e no Seu discurso sobre os acontecimentos dos últimos dias Ele aplica a fraseologia de Daniel a Si mesmo: “E verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória.” S. Mat. 24:30. Ele torna a extrair algo de Daniel ao descrever Sua futura glória perante o Sinédrio judaico: “Desde agora vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu.” S. Mat. 26:64.

Se o Juízo for reconhecido como o passo final na proscrição do pecado e sua erradicação do Universo, então a analogia do Dia da Expiação na dispensação mosaica pode ser usada para lançar luz sobre o assunto. Os processos relatados em Levítico 16 podem ser caracterizados como o remate judiciário do ano religioso. As cerimônias do Dia da Expiação, embora repetissem os sacrifícios diários, continham o aspecto adicional da eliminação final dos pecados confessados. As transgressões dos que mantiveram seu arrependimento e sua relação com Deus eram apagadas. Os pecados dos que abandonaram sua lealdade a Deus eram retidos, e essas pessoas eram excluídas da vida espiritual da comunidade — e essa exclusão equivalia à morte eterna. Pode-se imaginar, portanto, com que profundo interesse eram acompanhados os serviços realizados no santuário nesse dia.

Na economia mosaica todo aspecto da solução do problema do pecado estava relacionado com o santuário. O ciclo anual de sacrifícios e cerimônias prefigurava aos olhos da fé os vários aspectos do ministério de Cristo: Seu perfeito sacrifício na cruz, uma vez por todas, Sua mediação sacerdotal no santuário celestial em favor dos pecadores arrependidos e o Juízo final, que conduz a obra da redenção a uma gloriosa consumação. O santuário era a melhor maneira de proclamar que só Deus pode prover um remédio para o pecado e que esse remédio precisa ser buscado onde Deus o oferece. Não havia remédio alternativo. “Olhai para Mim, e sede salvos, vós, todos os termos da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro.” Isa. 45:22. Além disso, o fato de que esse remédio para o pecado precisa ser buscado no san-tuário e em nenhuma outra parte, deve excluir a busca inútil de quaisquer meios de salvação meramente humanos. O homem pecaminoso precisa reconhecer humildemente sua total dependência de Deus para perdão e vida eterna.

Essa ênfase do Antigo Testamento é transportada para o Novo. O apóstolo Pedro declara sem ambiguidade: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” Atos 4:12. Tal exclusividade radical parece ser escandalosa para o homem moderno educado na tradição humanística. Quando o gume da convicção cristã é corroído pelos ácidos do modernismo, semelhante posição inflexível é considerada obsoleta por alguns.

Nesta época de evangelhos antropocêntricos baseados em premissas seculares, a doutrina do santuário celestial constitui uma lembrança oportuna de que a única fonte de salvação se encontra em Deus. Não pode ser de outro modo; Deus, em Cristo, é o alfa e o ômega em toda a história da redenção, e todas as etapas do plano da redenção se centralizam no Céu. O profeta Ezequiel, em sua visão culminante, contemplou um rio fluindo do templo, cuja água vivificante transformou o árido deserto num jardim produtivo (ver Ezeq. 47:1-12). Que figura mais apropriada poderia ser usada para transmitir as boas-novas de que a salvação procede de Deus, o qual “está no Seu santo templo” (Hab. 2:20)?

A Cena do Juízo no Céu

Ellen G. White

Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o seu arrependimento pela fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: “Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma de Minhas mãos.” “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus!” Sal. 51:17. E ao acusador de Seu povo, declara; “O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda: não é este um tição tirado do fogo?” Zacarias 3:2. Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como “igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante”. Efésios 5:27. Seus nomes permanecem registrados no livro da vida, e está escrito com relação a eles: “Comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso.” Apocalipse 3:4….

A obra do juízo investigativo e extinção dos pecados deve efetuar-se antes do segundo advento do Senhor. Visto que os mortos são julgados pelas coisas escritas nos livros, é impossível que os pecados dos homens sejam cancelados antes de concluído o juízo em que seu caso deve ser investigado. Mas o apóstolo S. Pedro declara expressamente que os pecados dos crentes serão apagados quando vierem “os tempos do refrigério pela presença do Senhor”, e Ele enviar a Jesus Cristo. (Atos 3:19 e 20.) Quando se encerrar o juízo de investigação, Cristo virá, e Seu galardão estará com Ele para dar a cada um segundo for a sua obra.

O mais profundo interesse manifestado entre os homens nas decisões dos tribunais terrestres não representa senão palidamente o interesse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes insertos no livro da vida aparecerem perante o Juiz de toda a Terra. O Intercessor divino apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que venceram pela fé em Seu sangue, a fim de que sejam restabelecidos em seu lar edênico, e coroados com Ele como co-herdeiros do “primeiro domínio”. Miquéias 4:8. Satanás, em seus esforços para enganar e tentar a nossa raça, pensara frustrar o plano divino na criação do homem; mas Cristo pede agora que este plano seja levado a efeito, como se o homem nunca houvesse caído. Pede, para Seu povo, não somente perdão e justificação, amplos e completos, mas participação em Sua glória e assento sobre o Seu trono.

Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusá-los diante de Deus como transgressores. O grande enganador procurou levá-los ao ceticismo, fazendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de Seu amor e violar Sua lei. Agora aponta para o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados que ele os tentou a cometer; e por causa disto os reclama como súditos seus.