Palestra pronunciada no Primeiro Congresso Internacional de Nutrição Vegetariana em Washington, D.C.

Gostaria de expressar alguns pensamentos baseados num texto muito conhecido de todos, o qual pode ter aplicação especial para nós hoje, na conclusão desta semana empolgante.

O texto encontra-se em S. Marcos 6. Jesus e Seus discípulos haviam acabado de atravessar o lago para ir a um lugar solitário, a fim de descansarem. E a multidão os viu partirem, e muitos O conheceram; e correram para lá, a pé, de todas as cidades, e ali chegaram primeiro do que eles. Jesus, tendo compaixão deles, começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Então, nos versos 35 a 37, encontramos estas palavras: “ E, como o dia fosse já muito adiantado, os Seus discípulos se aproximaram dEle, e Lhe disseram: O lugar é deserto, e o dia está já muito adiantado. Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias circunvizinhas, e comprem pão para si; porque não têm que comer. Ele, porém, respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de comer.”

O DESAFIO

Este é o desafio dos meus comentários hoje. ‘‘Dai-lhes vós de comer.” Não quero dizer que, como é sugerido pelo contexto, devamos iniciar programas de distribuição de alimentos, apesar de ser esta uma boa aplicação para o texto em questão. Além da necessidade física do corpo, de receber alimento, a mente e a alma também necessitam de nutrição. É meu propósito, com a frase ‘‘dai-lhes vós de comer”, sugerir que devemos compartilhar as mensagens, as informações que estivemos ouvindo durante esta semana. Os que vieram a este congresso são uns poucos privilegiados, da mesma forma que os discípulos, sentados dia após dia aos pés de Jesus por tanto tempo, também o foram. E do mesmo modo como Ele lhes disse então: ‘‘Dai-lhes vós de comer”, diz-nos também hoje que devemos dar-lhes de comer.

Pergunto agora: Que quer dizer isso? Que havereis de compartilhar com outros quando deixardes este lugar e voltardes a vossos lares e igrejas? Que lhes dareis vós? Será uma abordagem limitante, proibitiva, com relação às práticas dietéticas vegetarianas; uma abordagem que quase literalmente os afasta, causando aquilo que os discípulos sugeriam que Jesus fizesse, isto é, que mandasse o povo embora? Será essa uma mensagem legislada ou vivida? Dar-lhes-emos uma mensagem que diz: “Você não deveria comer isto”? ou, ainda mais enfaticamente: ‘‘Você não pode comer aquilo”? ou será que a mensagem que queremos compartilhar será vivida tão marcantemente, de forma tão atraente em nossas vidas, que isto será visto como sendo desejável?

A ênfase, durante esta semana, foi nutrição, dieta e alimentos. Espero que nos lembremos de que as preocupações dietéticas sejam uma parte da mensagem bastante ampla de saúde, e não a mensagem em si. Além disso, devemos também lembrar-nos de que a mensagem de saúde, como freqüentemente a chamamos, seja somente uma parte do Evangelho; não o Evangelho. O homem não vive de pão, somente. Parece ser um conceito tão facilmente compreendido e tão freqüentemente repetido, que não há necessidade de ser enunciado novamente. Deve, porém, ser repetido, pois, aparentemente, com muita freqüência nos esquecemos de que o reino dos Céus não é comer e beber.

“Dai-lhes vós de comer.” Jesus pôs a responsabilidade diretamente sobre os discípulos. Ele não faria de forma diferente hoje. Temos a responsabilidade de compartilhar mais efetivamente, de forma mais precisa e completa, o conhecimento referente à nutrição e saúde. Há muito tempo a primeira mensagem de saúde nos foi dada. O povo de Israel, então recém-saído do Egito, recebeu instruções segundo as quais deveria dar ouvidos aos mandamentos e, se assim o fizesse, seria abençoado entre todos os outros povos. O Senhor tiraria do meio deles todas as doenças. Leia o desafio em Deuteronômio capítulo 7. A saúde e prosperidade dos israelitas deveriam ser um atrativo para os outros povos, que seriam levados a reconhecer que aqueles princípios para a vida diária foram dados por um Deus de misericórdia e amor. E, além disso, deveriam reconhecer também que poderiam usufruir os mesmos benefícios seguindo aqueles princípios. Zacarias, nos últimos versos do seu oitavo capítulo, mostra o cenário de pessoas de todas as nações, vindo ao povo de Israel, e dizendo: “Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco”.

Como Adventistas do Sétimo Dia, temos tido por muitos anos uma mensagem de saúde. Quando observamos as estatísticas que demonstram que há uma diferença na incidência de várias doenças entre os adventistas e outros grupos de pessoas, sentimo-nos gratificados pelos benefícios do viver sadio. Porventura já paramos alguma vez para pensar que esta diferença pode ser ainda mais significativa se maior número de pessoas entre nós estiver seguindo mais meticulosamente esses princípios no seu viver diário?

UM GRANDE TRABALHO

“Dai-lhes vós de comer.” Que direis a vossas congregações sobre os benefícios do viver saudável? Como havereis de encorajá-las nessas práticas? Que dirá a vossa vida?

Sou professora da Escola Sabatina numa classe de jovens em nossa Igreja. Ao examinar os conceitos relacionados com as práticas de Daniel sobre assuntos dietéticos, fiquei surpresa com a atitude da maior parte dos membros da classe. Preocupamo-nos, freqüentemente, com a evangelização do mundo que nos rodeia, e esquecemos o que está acontecendo em nosso meio.

Na minha maneira de ver, temos um grande trabalho para fazer entre nossa família, na Igreja. Minha opinião se fortaleceu ao fazer um estudo sobre alimentação de crianças, entre os Adventistas do Sétimo Dia. Descobri que tanto há falta de informação, como informações incorretas. Creio que, à medida que tivermos sucesso nos esforços para educar a própria família, os esforços com os de fora serão mais poderosos e eficazes.

Inúmeras pessoas há, lá fora, que estão famintas. Estão famintas de alimento físico, sim, mas muitos estão também famintos de alimento da mente e da alma. Querem informações corretas e precisas.

Vivemos numa era de alimentos rápidos, a era de máquinas que produzem alimentos processados, pré-cozidos. Vivemos também numa época de informações processadas e pré-embaladas. Qual é a nossa proposta ao levar essa informação à mente dos de fora e, mais precisamente, dos nossos próprios irmãos? Que tipo de alimento, de informação sobre nutrição, podemos dar-lhes? Que precisamos dizer-lhes, que possa beneficiar tanto a sua saúde física como a espiritual?

Devemos lembrar-nos de que a mensagem de saúde nos foi dada para que pudéssemos compreender mais rapidamente assuntos espirituais. É-nos dito que à medida que nos tornarmos mais conhecedores de assuntos sobre saúde, as pessoas terão mais facilidade de aceitar-nos os conhecimentos sobre assuntos espirituais. Por isso, observo que os assuntos que dizem respeito às práticas dietéticas vegetarianas são um ponto comum, através do qual as pessoas envolvidas em questões teológicas, e aquelas que se envolvem com a saúde, podem unir-se num esforço integrado para facilitar o crescimento do corpo, mente e alma. Creio que temos feito muito pouco no sentido de efetuar essa integração entre a medicina e o ministério.

“Dai-lhes vós de comer.” Que quer dizer isto? Pensemos novamente na história relatada em São Marcos, capítulo 6. O verso 42 diz: “E todos comeram e ficaram satisfeitos.” Na verdade, ficaram vários cestos cheios de sobras. Nosso Deus não é mesquinho ao conceder as Suas bênçãos a nós; tanto físicas, como mentais e espirituais. Também não deveríamos ser egoístas para com os outros.

São-nos dadas boas informações a respeito de saúde. Temos a responsabilidade de comunicar o conhecimento que temos, de tal forma que aqueles que ouvirem venham a sentir-se satisfeitos. Aquilo que lhes dissermos, o que demonstramos em nossa vida, deve ser bem alicerçado, preciso e prático. Deve ser percebido que, quando Cristo esteve entre os homens, não falava somente sobre teorias. Não Se valia de termos complicados. O que disse era eminentemente prático; e assim deve ser também conosco.

Isaías diz: ‘‘Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? e o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? ouvi-Me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura.” Isa. 55:2.

A palavra gordura é traduzida como abundância. Temos informações tais que, quando transmitidas, podem levar às pessoas o conhecimento de que precisam. Assim, não será mais necessário gastar o dinheiro naquilo que não é pão.

OS DISCÍPULOS ADMIRADOS

Os discípulos ficaram surpresos quando Jesus lhes fez esta sugestão. Afinal, estavam num lugar deserto. Não havia ali por perto nenhum supermercado; nem mesmo onde pudessem conseguir um lanche rápido. Mas constataram, por fim, que tinham cinco pães e dois peixes. Aquilo não era suficiente para alimentar cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

Não somos um grupo grande. Não temos muitos insumos, comparados com a maioria das instituições existentes no mundo hoje. Temos, porém, aquilo que é de maior importância. Isto estabeleceu a diferença naquela colina da Galileia; e o fará também hoje.

O relato diz que Cristo tomou os cinco pães e os dois peixes e, olhando para o Céu, os abençoou, e foram multiplicados, saciando a todas as pessoas. E, como vimos, abundantemente.

Somente ao sentirmos que temos a bênção de Deus sobre nossos esforços hoje, é que eles obterão sucesso. Os discípulos se preocuparam com o que não tinham. Cristo considerou o que estava disponível. Podemos ter apenas cinco pães de cevada e dois peixes, do ponto de vista de nossa contribuição ao mundo, mas temos a bênção do nosso Pai, que nos possibilitará a fazer grandes coisas.

Saiamos deste lugar com o compromisso de praticar e transmitir a informação que nos foi dada no campo da nutrição e saúde. Sempre, porém, no contexto de uma mensagem maior, anunciada por Zacarias tempos atrás. E que as pessoas venham, e desejem unir-se a nós, porque vêem os benefícios de um viver saudável, demonstrado em nós como um povo.

PATRÍCIA JOHNSTON, Nutricionista Vegetariana em Washington, D.C.