A escavação arqueológica patrocinada pela Universidade Andrews, em julho de 1984, trouxe à luz a primeira evidência extrabíblica da existência de um rei amonita chamado Baalis, o qual foi contemporâneo do profeta Jeremias. O local da escavação é conhecido como “Tell el-Umeiri”, distante cerca de 13 km da cidade de Amã, capital da Jordânia.

Numa pesquisa preliminar de superfície, um de nossos colegas encontrou uma “pedrinha” suja e feia, que lhe chamou a atenção. Todo o material escavado era literalmente peneirado e, em dado momento, ao passar na peneira terra e pedra, o Dr. Lloyd Willis notou um pequeno objeto de forma um tanto cônica, coberto de barro e sujeira. Após a devida limpeza, verificou-se que era um carimbo ou selo de, aproximadamente, dois centímetros de diâmetro, belamente gravado em pedra.

A Bíblia faz referência a um rei amonita chamado Baalis, nos seguintes termos: “Joanã, filho de Careá. e todos os príncipes dos exércitos, que estavam no campo, vieram a Gedalias, a Mispá, e lhe disseram: Bem sabes que Baalis, rei dos filhos de Amom, enviou a Ismael, filho de Netanias, para te tirar a vida. Mas não lhe deu crédito Gedalias, filho de Aicão”. (Jer. 40:13 e 14; comp. II Reis 25:20-25).

PERPLEXIDADE DOS ESTUDIOSOS

Por décadas, estudiosos da Bíblia estiveram perplexos a respeito do rei amonita Baalis. Por falta de comprovação extrabíblica, muitos descartavam a veracidade do relato bíblico; no entanto, com o achado do selo amonita, acima citado, mencionando o nome Baalis, bem como com a devida explicação oferecida por estudiosos e arqueólogos adventistas, a Bíblia mais uma vez “tem razão”, além de ser uma contribuição valiosa no campo da arqueologia bíblica, por parte de uma expedição patrocinada pela Universidade Andrews.

A impressão no selo divide-se em três partes, sendo que as partes superior e inferior contêm a inscrição propriamente dita. Na parte central aparece a impressão de um escaravelho com as asas abertas e empurrando um disco solar. Ao lado, estão dois estandartes com um disco solar e a Lua em forma crescente, acima de cada um deles. O desenho é bastante comum na arte antiga em selos. Um estudo comparativo com outros selos da época, demonstra que tais selos eram usados por altos funcionários do governo. E no que tange à inscrição, ela reza assim:

Imlk’wr Cbc bclysc

A tradução literal seria: Imlkn’wr = “Pertence a Milcom é chama”. Milcom era um dos deuses dos amonitas (I Reis 11:5, por exemplo). Conforme o costume oriental, muitas vezes os pais davam nomes teofóricos (relacionados ou associados com algum deus) a seus filhos, mesmo entre os israelitas. Por exemplo: Daniel, que significa “Deus (El) é meu juiz”. E mlkm’wr, significa “Milcom é chama” (mlkm = Milcom; wr = é chama ou luz). “Milcom é chama” era o nome de um funcionário do rei Baalis. As letras seguintes cbd, traduzem-se como “servo”, enquanto bclysc (Baalis) são, na realidade, duas palavras.

A palavra Baalis (bclysc) é uma espécie de abreviatura ou variante de “Baalyasha”, fato descoberto com a ajuda de estudos lingüísticos. A palavra amonita “Baalyasha” foi escrita “Baalis” pelo profeta hebreu Jeremias, o qual, sem dúvida, escreveu assim refletindo a maneira como a palavra amonita era pronunciada. (Compare-se a pronúncia das palavras Chibolete e Sibolete a leste e a oeste do rio Jordão, Juizes 13:6.)

DOIS ELEMENTOS

A palavra Baalyasha contém dois elementos: o primeiro, bcl, é traduzido por Baal, divindade largamente adorada no Oriente Médio. E o segundo elemento ys(yasha), significa “salva” ou “é salvação”. bclysc (Baalis ou Baalyasha) quer dizer “Baal salva”. Isto também ilustra a corrupção de tal palavra em tempos antigos (compare-se por exemplo o termo “Baal salva” com o nome Eliseu, que significa “Deus salva”).

A inscrição toda, do selo é, pois, a seguinte:

Imlkm ‘wr Pertence a Milcom é chama

cbd servo de

bclysBaal salva

Em tempos antigos, costumava-se colocar o nome do rei logo após a palavra “servo”, o que identifica Baalis como sendo o nome do rei no selo em apreço. E a palavra “servo” não possuía nada de pejorativo, sendo, neste contexto, um título de nobreza e, neste caso, talvez uma espécie de primeiro-ministro ou embaixador.

A importância e valor desta descoberta arqueológica pode ser resumida como segue:

1. Fica solucionado um problema filológico no que se refere à relação da palavra “Baalis”, usada por Jeremias, com a palavra amonita “Baalyasha”, escrita no selo.

2. É a primeira vez que aparece o elemento divino “Milcom” associado ao nome de uma pessoa. Há dezenas de nomes amonitas mencionados na Bíblia e em outras inscrições e selos amonitas, mas nunca associados ao deus Milcom.

3. É a primeira prova extrabíblica que confirma a historicidade do rei amonita Baalis, mencionado por Jeremias. VILMAR EMÍLIO GONZÁLES

* As devidas explicações sobre a inscrição no selo amonita são fornecidas pelo Dr. Larry G. Herr, professor de Arqueologia e Antigo Testamento no Canadian Union College; pelo Dr. Lawrence T. Geraty, Diretor do Atlantic Union College; e por Randall Younker, aspirante a doutorado pela Universidade de Arizona.