Estou sendo incentivada pela revista Ministry a escrever um artigo a respeito da sexualidade e o pastor. Pelo menos parece que nossa igreja está capacitada a usar a linguagem e a discutir assuntos que antes pareciam quase profanos. É bom sabermos que finalmente podemos falar sobre aquilo que Deus criou com solicitude e propósito.

Estou animada especialmente pelo fato de poder dirigir-me aos pastores — essa grandiosa, e na maioria dos casos viril, categoria que dirige o rebanho de Deus semana após semana. Isso representa uma mudança positiva. No passado, muitas vezes as esposas dos pastores foram encarregadas de cuidar de todos os interesses do relacionamento marital. Dizia-se que essas notáveis e abnegadas senhoras deviam satisfazer as necessidades social e sexual de seus atarefados esposos; que deviam sacrificar-se; que deviam ser compreensivas e sensíveis, a fim de evitarem ser a causa de infidelidade.

Ao falar a grupos de esposas de pastores, tenho ouvido muitas vezes senhoras expressarem tanto frustração como satisfação, ansiedade bem como alegria, por fazer parte da equipe do pastor. Os desafios da vida pastoral são muito reais, e manter uma experiência sexual positiva é uma responsabilidade mútua, que tanto um como o outro precisam considerar importante.

PROBLEMA COMUM

São as dificuldades conjugais um problema fora do comum entre os pastores? A informação estatística é clara. Lyle Schaller estima que o índice de divórcio de pastores no mínimo quadruplicou, desde 1960. Num artigo escrito em Christianity Today, Robert J. Stout menciona a avaliação de Schaller e se refere à declaração de G. Lloyd Rediger, segundo a qual 37 por cento do clero que trabalha em sua organização estão considerando a possibilidade de divórcio. Baseado em precedentes, Rediger acha que aproximadamente metade desses realmente se divorciarão.

Embora esses dados sugiram que o divórcio do clero está-se tornando mais comum, não podemos dizer que os problemas sexuais sejam sempre a causa da separação. Sabemos, porém, que quando esposas e maridos desenvolveram um relacionamento que é a um só tempo satisfeito fisicamente e emocionalmente assegurado, em geral eles são grandemente motivados a trabalhar sem outros problemas. E nesse ponto, a declaração de Masters e Johnson segundo a qual pelo menos metade dos casais não estão satisfeitos com o seu relacionamento sexual, sugere que estamos diante de uma verdadeira situação epidêmica de disfunção, que faz sua parte em incitar ao divórcio.

CRESCIMENTO PROGRESSISTA

Nossa sociedade tem testemunhado vários crescimentos progressistas no que diz respeito à sexualidade. Por exemplo, em virtude da abertura de nossa sociedade, a informação acerca da sexualidade é muito mais prontamente acessível agora. Aprendemos, entre outras coisas, que a resposta sexual não é apenas uma mistura ocasional de emoções, hormônios e músculos. Compreende uma metodologia, um ritmo e certa previsibilidade.

Esse progresso da informação é benéfico, porque a compreensão da fisiologia, do tipo de resposta e expectativas do casal proporcionam a satisfação recíproca de sua sexualidade. Outras oportunidades podem vir do conhecimento dos componentes emocionais que podem levar a sexualidade do plano físico para o plano da intimidade total. Existe agora à disposição literatura melhor do que em qualquer época anterior, para auxiliar os cônjuges a crescerem nesse sentido.

Em outros desenvolvimentos positivos, muitas pessoas de nossa sociedade já não consideram os homens que expressam seus sentimentos como moles e fracos. Agora o homem pode admitir que gosta de ser acariciado, embalado, afagado e abraçado. A fome da pele está-se tornando uma expressão aceitável. Precisamos compreender que o desejo de ser tocado com as mãos não desaparece na idade escolar — embora essa seja a época às vezes em que o contato entre os pais e os filhos diminui.

Outro crescimento positivo inclui um conhecimento crescente da saúde e o interesse que as igrejas estão demonstrando pela educação matrimonial, incluindo a comunicação sexual. Muitos programas de igreja incluem regularmente atividades de enriquecimento matrimonial. Precisamos continuar a ajudar os membros de igreja a verem essas atividades não como a admissão de um problema, mas como a compreensão de que todas as coisas boas precisam crescer para continuar boas. O fato de os pastores e suas esposas estarem ocupando uma posição de liderança nessas atividades, faz com que suas próprias relações matrimoniais sejam beneficiadas.

PROGRESSOS NEGATIVOS

Mas nem todas as notícias são boas. Temos ainda que pôr em inatividade muitos mitos que atrapalham o relacionamento sexual. A remanescente confusão pastoral acerca das atribuições do sexo, vem às vezes à tona, originando problemas pessoais e de aconselhamento. Muitas vezes aplicamos a recomendação de Paulo no sentido de evitar defraudar sexualmente a própria esposa (I Cor. 7:5), apenas à mulher. Precisamos entender que a falta de bondade, consideração, de preparação afetuosa para a sexualidade conjugal pode também defraudar o companheiro. A verdadeira união sexual é um ato de mutualidade, não a satisfação de uma pessoa apenas.

Por causa do seu programa de trabalho, o pastor e sua esposa devem tudo fazer para reservar o seu tempo de estarem juntos, em intimidade. As experiências sexuais apressadas, tomar-se-ão rotineiras e sem vida. Cumpre que o casal planeje no sentido de dedicar tempo para essa gratificante experiência. Compete-lhes também tornar maior a satisfação, descobrindo maneiras criativas de iniciar, de fazer a corte e de se aceitarem.

Ao proporcionar uma satisfação em que ambos tomam parte, o contato físico do sexo ajuda a unir o casal. De alguma forma, restabelece ele a arte da cortesia. Ele não se mantém estático. Não fica indiferente. Com a comunicação e a repetição ele continua a desenvolver-se. Creio que isto encerra uma das mais fortes razões de fidelidade por toda a vida. Com o passar dos anos, o casal se familiariza com o ritmo e cadência de seu relacionamento sexual e o enriquece.

Parece tudo isto muito idealístico? Espero que sim, pois sou muito a favor dos ideais. O idealismo é uma forma de agir ou idéia baseada numa concepção das coisas como estas devem ser. Creio que é plano de Deus que Seus ministros tornem esta parte de suas vidas tão agradável, tão pura e tão encantadora que seu sentimento de amor possa ir diretamente do pastorado e contagiar os membros da igreja.

Algumas pessoas acham que a nova liberdade que permite a homens e mulheres trabalharem juntos em escritórios, lojas e instituições é um desenvolvimento negativo. Acham que se as mulheres voltassem para o lar “onde elas devem estar’’, teríamos menos incidentes de infidelidade.

Este problema é relevante em especial para os pastores, que são ensinados a ser desprendidos e compassivos. Esses traços podem fazer o pastor parecer irresistível a um membro de igreja cuja esposa não exibe nenhuma dessas graças. O conselheiro que está experimentando dificuldades conjugais pode ser muito vulnerável às mensagens “se tão-somente meu esposo me entendesse como o senhor”, da consulente. Somente uma boa e resoluta dose de entrega intelectual e uma rica medida da graça de Deus, pode guardar o conselheiro de cair presa de semelhante tentação.

O pastor pode reforçar sua linha de defesa contra a tentação construindo seu relacionamento com a esposa. Se ambos têm algum sentimento de retraimento ou de rejeição, se não fizeram um estudo (e que maravilhosa obra de progresso isso pode realizar!) do enriquecimento do toque e do emprego de frases generosas e de amor no trato diário, o resultado pode ser problema no pastorado. Se, porém, sua entrega é firme, constantemente proclamada e invariavelmente vivida, então a mensagem dada aos membros é “tudo está bem conosco — apanhamos um lampejo do plano de Deus para o marido e a esposa no casamento.” Representar mensagem como essa não é obra do acaso. Requer esforço deliberado, dedicação total e muito tempo gasto juntos. Mas não é isso o que significa deixar e unir-se (Gên. 2:24)? Não é o que cada um deseja, quando assume a experiência do casamento?

RESTABELECER O GALANTEIO

Deveríamos revelar muita ternura, contato manual, aconchegos e carícia que não são considerados parte de um ato sexual. Gostávamos muito desses gestos quando estávamos namorando; relegamos isso tão depressa ao passado? Por que precisaria cada contato ser sexualizado? Particularmente as mulheres se ressentem disto.

E ouvimos tão poucas declarações de afeto e carinho! Devia haver no lar de cada pastor vários livros de poesia sobre o amor, para que marido e mulher os lessem em voz alta um para o outro. Começar com Cantares de Salomão em sua totalidade, lendo cada qual a parte apropriada para a noiva ou o noivo — talvez com uma bebida à base de suco de frutas efervescente para cada qual brindar ao outro em lugares particularmente significativos (a Nova Versão King James e a Nova Versão International dividem o diálogo em partes destinadas à noiva e ao noivo).

Deus não pretendia que a união conjugal fosse uma simples atividade desenvolvida em meio de murmúrios e tensões que vão e voltam. Desejava que esta satisfação legítima atraísse o homem e a mulher um para o outro de maneira tão íntima, tanto no plano emocional como espiritual, que os momentos de incerteza e abatimento fossem superados.

ALBERTA MAZAT, professora de Terapia Matrimonial e Familiar da Universidade de Loma Linda