Neste artigo, o autor analisa o Evangelismo em todos os seus aspectos — origem divina, métodos e estratégias, — e como os evangelistas devem enfrentar as dificuldades para ocupação de espaço, num mundo saturado dos mais diversos tipos de mensagens.

Evangelho, evangelização e evangelismo não são exatamente a mesma coisa, embora sejam coisas intimamente relacionadas entre si. Para entendermos o que seja evangelismo, é necessário que tenhamos bem claro o conceito de evangelho e evangelização.

A palavra evangelho é encontrada 72 vezes em todo o Novo Testamento, das quais 52 nos escritos do apóstolo Paulo. O termo vem do grego evanguélion, que literalmente significa “boas-novas”. Estudos históricos do termo indicam que entre os antigos gregos a palavra evanguélion era usada para “boas notícias de campos de batalha”. A notícia poderia chegar por via marítima, por um mensageiro montado em um cavalo, ou a pé, e era proclamada na cidade que esperava ansiosa pela novidade. O mensageiro que a trazia era o evanguélos, ou seja, o “mensageiro sagrado”.

A versão Septuaginta das Escrituras Sagradas, algumas vezes transmite a idéia de um corredor ou batedor que traz a notícia da vitória.

Mas o evangelho é muito mais do que boas-novas. Jesus em pessoa é o evangelho. Ele é tudo o que ele mesmo ensinou com relação à salvação do ser humano. Para fins práticos, podemos resumir o evangelho em quatro frases: Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que se havia perdido — o histórico do evangelho. Jesus morreu por nossos pecados — o sentido soteriológico do evangelho. Jesus ressuscitou — o sentido de boas-novas do evangelho. Jesus voltará — o sentido escatológico do evangelho.

Evangelização é a ação de evangelizar. A palavra é usada em seu sentido tipicamente bíblico em Salmos 92:2, onde é traduzida como “anunciar” o amor de Deus; em Isaías 52:7 aparece como “proclamar a salvação”; e em Isaías 60:6, como “proclamar o louvor do Senhor”.

Nos dias do profeta Eliseu, uma cidade israelita estava sob cerco. Todo suprimento de alimentação havia sido cortado pelos exércitos inimigos. O povo estava faminto.

Uma noite, quatro esmoleiros leprosos fora da cidade decidiram arrojar-se à misericórdia dos soldados inimigos, na esperança de conseguirem um bocado de pão. Eles precisavam arriscar-se. Sua condição era desesperadora. Estavam fadados à morte. Não havia outra esperança de sobrevivência. Para sua surpresa, eles descobriram que os soldados haviam fugido misteriosamente. Inicialmente os leprosos desfrutaram do abundante alimento deixado para trás, mas logo lembraram-se de seus compatriotas dentro da cidade. Correram e bateram nos portões, anunciando a todos que havia fartura de alimento à disposição de quem o quisesse (II Reis 7).

Um autor famoso, D. T. Niles, definiu evangelização nos seguintes termos: “um mendigo dizendo a outro mendigo onde este pode conseguir alimento”. Quando aqueles leprosos resolveram entrar na cidade e anunciar as boas notícias de que já havia pão suficiente para matar a fome, eles fizeram exatamente aquilo que temos de fazer com o mundo espiritualmente faminto.

A técnica da evangelização é ação — ação que realiza. A palavra evangelizar é diferente da palavra pregar. Nem toda pregação pode ser evangelização. A ideia fundamental da evangelização é passar o evangelho para alguém, de tal maneira que a pessoa fique entranhada por ele. Que o evangelho forme parte de sua vida. Mero proselitismo ou comunicação dos preceitos de determinada igreja não é evangelização.

A palavra evangelismo, por sua vez, não é encontrada no Novo Testamento. Naturalmente, ela torna possível a ação de evangelizar. O sufixo ismo denota sistema. Assim, evangelismo envolve princípios, métodos, estratégias e técnicas empregadas na ação de evangelizar.

Alguém já definiu o evangelismo como o sistema baseado em princípios e técnicas tiradas da Bíblia, pelos quais se comunica o evangelho de Cristo a todo pecador, sob a influência do Espírito Santo, visando persuadi-lo a aceitar a Cristo como seu Salvador pessoal e unir-se à Igreja de Deus através do santo batismo.

Notamos então que é o evangelismo que disciplina e organiza a todo este movimento operacional. O evangelismo supre a evangelização com os recursos que ela necessita para alcançar o pecador com a mensagem do evangelho.

Portanto, evangelismo não é a proclamação do evangelho — isso é evangelização —, mas todo um sistema que permite tal proclamação.

A autoria da evangelização

As raízes da evangelização estão na eternidade. O primeiro Conselho de Evangelização foi formado pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como autor da evangelização, o Pai a concebeu e comissionou a Seu Filho para ser o executor da salvação. Inspirou os antigos profetas a predizerem a vinda do Filho, na carne. Ordenou os sacrifícios diários da velha dispensação, para prefigurarem o sacrifício salvador do Filho. Sustentou o Filho no cumprimento da Missão. Ressuscitou-O dos mortos.

O Filho também é o autor da evangelização. Embora “subsistindo em forma de Deus”, Ele “não julgou ser igual a Deus”, mas fez-Se “servo tornando-Se igual aos homens” (Fil. 2:6 e 7). Cristo proclamou o evangelho do Reino de Deus (S. Mat. 13). É o evangelista modelo. Todo verdadeiro trabalho evangelístico está centralizado Nele. Foi Ele quem deu as boas-novas, revelou as alegres notícias.

Por Sua vez, o Espírito Santo, também autor da evangelização, no Pentecostes concedeu poder a um pequeno grupo de homens frágeis, para o cumprimento da Missão. Vocaciona hoje os evangelistas para a obra que devem fazer. Abre as portas para a propagação do evangelho. Trabalha nos corações dos pecadores para que aceitem o evangelho. É o evangelista-chefe da terra, em nossos dias.

“Não é o poder que emana dos homens o que faz com que a obra tenha sucesso; é o poder das inteligências celestiais, operando através do agente humano que produz perfeição na obra. Paulo pode plantar, Apoio regar, mas Deus é quem dá o crescimento. O homem não pode fazer a parte de Deus na obra. Como agente humano pode cooperar com as inteligências divinas, fazendo a sua parte com simplicidade e humildade, tendo presente que Deus é o grande Mestre” — E. G. White, Review and Herald, 14/11/1893.

Métodos evangelísticos

A palavra método é oriunda da junção de dois vocábulos gregos: meta e hodós, cujo significado é “no caminho”.

Em termos práticos, método é o caminho usado para se chegar a um determinado objetivo; é a maneira de se fazer alguma coisa. No evangelismo, existem, basicamente, dois métodos: se quero atingir pessoas com a mensagem salvadora de Cristo, posso fazê-lo de pessoa a pessoa, e então estarei aplicando o método evangelismo pessoal; ou posso fazê-lo a um grande grupo de pessoas de uma só vez. Nesse caso o método utilizado é o evangelismo público.

Para ambos os métodos podemos usar duas formas de raciocínio: o dedutivo e o indutivo. Argumentação dedutiva é aquela que começa do geral para o particular. No caso, o evangelista começa a falar do plano da salvação para aplicá-lo ao problema particular que o pecador está enfrentando. No Sermão da Montanha, apresentado por Jesus, e no discurso de Pedro, apresentado no Dia de Pentecostes (Atos 2), nós encontramos dois exemplos desse fato.

Na argumentação indutiva, o evangelista começa pelo problema da pessoa até chegar ao plano da salvação. Um caso típico é o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Ele começou com os problemas da mulher: a sede, os pecados que marcavam a sua vida, e partiu para apresentar-lhe a Água da Vida.

Estratégia, por sua vez, está relacionada com o lado operacional do método. Originalmente, essa palavra tinha a ver com guerra e tratava somente de organização e planejamento das operações militares. Mas a ideia é usada para qualquer plano de ação, buscando a melhor maneira de alcançar os objetivos. Em São Lucas 9, Jesus envia Seus doze apóstolos a pregar. O método poderia ter sido evangelismo pessoal e público simultaneamente. A estratégia foi o envio dos doze, ao mesmo tempo. Foi uma campanha.

Já no caso anteriormente citado, da mulher samaritana, segundo São João 4, o método foi evangelismo pessoal. A estratégia: Cristo planejou passar por Samaria e ficar perto do poço aguardando a chegada da mulher.

Nos dias atuais, o evangelismo executado em auditórios móveis é uma estratégia. O método é evangelismo público. Uma campanha metropolitana é uma estratégia. O método é evangelismo pessoal e público.

Ao recurso material usado para a execução do método chamamos técnica. A maneira como as pessoas são abordadas, a mensagem é esboçada; a utilização do argumento dedutivo ou indutivo, tudo isso envolve técnicas. Contar histórias no flanelógrafo para crianças é uma técnica, assim como usar slides numa conferência para adultos. Jesus, ao dirigir-se à mulher samaritana, começou pedindo água. Essa foi Sua técnica.

Evidentemente não há erro se chamarmos a tudo isso métodos de evangelismo. No entanto, para fins didáticos, apesar das estratégias e técnicas fazerem parte da execução do método, em termos específicos, cada parte tem seu próprio nome.

O método evangelístico pode muito bem sofrer alterações. Deus não está limitado. Ele tem várias maneiras de realizar Seu trabalho. Utiliza os melhores e mais apropriados métodos, estratégias e técnicas para cumprir Seus propósitos em cada época. Ajusta o evangelismo de acordo com o tempo e a cultura.

A Sra. Ellen G. White afirma que “não deve haver regras fixas: nossa obra é progressiva e deve haver oportunidades para os métodos serem melhorados. Alguns dos métodos usados nesta obra serão diferentes dos que foram usados na mesma, no passado; mas não permitamos que alguém, por causa disso, ponha obstáculos no caminho mediante a crítica” —Evangelismo, pág. 105.

“Não nos esqueçamos de que diferentes métodos devem ser empregados para salvar diferentes pessoas.

“Os obreiros de Deus devem esforçar-se por ser homens multilaterais; isto é, devem ter amplitude de caráter. Não devem ser homens de visão acanhada, estereotipados com uma única maneira de trabalhar, presos aos mesmos costumes e incapazes de perceberem que suas palavras e a defesa que fazem da verdade têm que variar com a classe de gente que têm que lidar e com as circunstâncias que surgirem” — Idem, pág. 106.

O evangelho, porém, não muda. Pode ser apresentado de maneiras renovadas para alcançar o mundo por diferentes ângulos, mas tem sempre como centro a pessoa de Cristo e Sua obra redentora. O mundo pode ter-se modificado, o conhecimento científico pode ter aumentado, a cultura pode ter experimentado transformações, mas o coração humano não se modificou. Ele ainda é “desesperadamente corrupto” (Jer. 17:9).

O homem continua precisando de Jesus e de Seu “evangelho eterno”. O evangelho não pode mudar. Hoje ainda existem Martas e Marias, Ananias e Safiras, fariseus e publicanos, meretrizes e filhos pródigos. Existem os doentes e os sofredores, o filho oficial do Rei, o servo do centurião, o endemoninhado gadareno, e a viúva de Naim. E em número cada vez maior. É por isso que devemos continuar pregando o mesmo evangelho, em todas as culturas, em todas as idades, a todas as nações, tribos e povos. O evangelho não muda. Ele é eterno.

Ao longo da história, houve muitos evangelistas. Cada um com seu método. Cada um com sua personalidade, mas todos pregando o evangelho eterno e imutável.

Conseguindo decisões

O Espírito Santo é o personagem indispensável no evangelismo. Ele atrai as pessoas a Cristo, convence das coisas más que devem abandonar. Também convence das coisas boas que devem fazer. Guia “a toda verdade”, dá compreensão correta das Escrituras, outorga vitória sobre o pecado. Cria o desejo e oferece poder para obediência. É por isso que devemos dar ao Espírito o primeiro lugar em tudo o que fazemos no evangelismo. Só assim veremos os extraordinários resultados que tanto esperamos.

Mas não podemos ignorar os princípios de persuasão. Até porque o Espírito Santo também age através deles. Nenhuma decisão é feita por casualidade ou acidente. Tudo está regulamentado por leis estabelecidas por Deus. “Existem grandes leis que governam o mundo da natureza e as coisas espirituais estão controladas por princípios igualmente certos. Para conseguir-se os resultados anelados, é necessário usar-se os meios para esse fim” — Testimonies, v. 9, pág. 221.

O evangelista que não sabe como e por que se formulam as decisões na mente está, com certeza, em desvantagem. “Para conduzir almas a Jesus, é preciso ter-se certo conhecimento da natureza humana e estudar a mente dos homens” — Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 453.

“Quem deseja conseguir as decisões das pessoas precisa conhecer, primeiro, acima de tudo e finalmente, os mais profundos recessos da mente deles” — Robert Oliver, Psychology of the Persuasive Speech, pág. 6.

Portanto, necessitamos entender que toda decisão feita é o resultado do desejo e da convicção que ocorrem na mente da pessoa. Não importa se o assunto envolvido é a escolha de determinada roupa, compra de um automóvel, ou a possibilidade de unir-se a uma igreja. Em qualquer caso, são o desejo e a convicção que levam a mente a fazer a decisão. Naturalmente, já dissemos que na decisão em favor de Cristo é o Espírito Santo que opera através do desejo e da convicção.

Consideremos então o seguinte: durante cada ano, o Brasil utiliza-se de mais de cinco milhões de toneladas de papel, o que significa que cada brasileiro, em média, consome 45 quilos de notícias impressas. É pouco provável que alguém consiga digerir tamanho volume de informação. A edição dominical do jornal O Globo pesa quase meio quilo e contém 300 mil palavras. Para ler tudo isso a uma velocidade de 300 palavras por minuto, seriam necessárias 28 horas. Um domingo inteiro não seria suficiente. E o que fica, depois de tudo?

Oitenta por cento dos lares brasileiros possuem pelo menos um aparelho de televisão. Quase todos os aparelhos captam no mínimo quatro canais. A família brasileira assiste em média quatro a cinco horas diárias de TV (mais de trinta horas semanais). Como o cinema, a TV é uma fotografia parada que muda 30 vezes por segundo, o que significa que a família média brasileira está exposta a cerca de 500 mil fotos televisivas a cada dia que passa. E não estamos sendo afogados somente por torrentes de fotografias, mas, também, por enxurradas de todo tipo de comunicação. A embalagem de um pacote de cereais contém 1.268 palavras.

Os caminhos da comunicação estão engarrafados. O trânsito é pesado, desorganizado e enlouquecedor. Nele misturam-se rádio, TV, videocassete, cinema, teatro, revistas, jornais, livros, cartazes, faixas, outdoors, etc. Quem é que vê toda essa torrente de comunicação? Há uma confusão de tráfego nos postos de pedágio da mente. Os motores estão começando a ferver. E as cabeças também.

A grande pergunta é: como chegar com a nossa mensagem a essa selva de comunicação?

É preciso reconhecer que para se defender do volume de comunicação diária, a mente do homem de nossos dias aprendeu a filtrar e rejeitar muita informação que lhe chega. De um modo geral, a mente só aceita aquilo que de certa forma coincide com o seu conhecimento ou com sua experiência anterior. Milhões de dólares têm sido desperdiçados na tentativa de mudar a mente através da propaganda. Uma vez que a mentalidade está formada, é quase impossível modificá-la. A pessoa média aceita quando lhe contam coisas que ela ignorava, mas essa mesma pessoa não admite que lhe digam que ela está errada. Tentar mudar a mente é o caminho certo para o desastre na comunicação de uma mensagem.

O que fazer então para comunicar a nossa mensagem, com sucesso, num mundo cheio de muitas vozes? O posicionamento é um sistema organizado para se encontrar uma janela para a mente. Posicionamento não é o que é feito com o produto, mas o que é feito na mente da pessoa que se pretende evangelizar. Ou seja, você posiciona a mensagem na mente de uma pessoa. Posicionamento não implica necessariamente mudanças, embora isso ocorra às vezes. Mas mudanças feitas no nome, na apresentação, ou na embalagem, não são mudanças feitas no produto. Nosso evangelho é eterno. O posicionamento é o primeiro sistema de pensamento que enfrenta, para valer, o difícil problema de se fazer ouvir nesta sociedade saturada de comunicação.

No mundo da propaganda, o posicionamento mudou a forma de apresentação da mensagem. “SBT, líder na vice-liderança”, dizem os comerciais da rede de televisão de Sílvio Santos. Note bem: na vice-liderança. Mas o que foi feito com aquelas deliciosas palavras “o primeiro”, “o melhor”, “o número um”?

Hoje o que vale não é necessariamente ser o primeiro, mas ter um lugar na mente das pessoas. Mais um exemplo: Coca-Cola é o refrigerante preferido do público. Provavelmente nenhuma outra marca conseguirá mudar o quadro. Então, alguém toma um novo posicionamento. Coca-Cola pode ser a primeira. Mas guaraná combina melhor com pipoca. E, como as pessoas gostam de pipoca, uma empresa fabricante de guaraná coloca na mente do público que “pipoca, só com guaraná”.

Se é impossível tirar da mente de um consumidor que Coca-Cola é o melhor refrigerante, o guaraná também vai se posicionar nessa mente como o único que deve acompanhar a pipoca. Com o tempo acabará ganhando a preferência.

Ocupando espaço

A essa altura, surge uma outra questão. Como colocar a nossa mensagem na mente das pessoas? O caminho mais fácil para se chegar à mente de alguém é ser o primeiro. Essa é uma realidade que não é difícil de ser comprovada. Quem é o pai da aviação brasileira? Santos Dumont. E qual o segundo nome em importância na aviação brasileira? Não é fácil responder. Todos sabemos que o primeiro médico a realizar um transplante cardíaco foi Christian Barnard. E o segundo?… A Igreja Católica é a maior igreja cristã do mundo. E a segunda?…

A primeira coisa de que necessitamos para fixar a mensagem de forma indelével na mente, não é a mensagem, mas a mente. Uma mente inocente, que jamais tenha sido tocada por outra mensagem na mesma área. O caminho mais difícil para se chegar à mente de alguém é ser o segundo. E se não somos os primeiros a chegar à mente da pessoa em perspectiva, então temos um problema de posicionamento. Em comunicação, a primeira mensagem a marcar posição leva uma enorme vantagem. É bom ter a melhor mensagem, mas muito melhor ainda é ser o primeiro a chegar.

Felizmente há estratégias para se enfrentar o problema de ser o número dois, três, ou até mesmo o cem. Naturalmente devemos ser cuidadosos, porque as mensagens apresentadas no velho estilo tradicional de querer provar que uma coisa é melhor que a outra, já não tem mais chances de sucesso na atual sociedade supersaturada de comunicação. A igreja necessita criar uma posição na mente das pessoas. Tal posição deve levar em conta, não apenas os seus próprios pontos fortes e fracos, mas também os das outras igrejas.

A comunicação está entrando numa era onde quem manda é a estratégia. É a era do posicionamento. Já não basta inventar ou descobrir alguma coisa; é necessário ser o primeiro na mente do público. Não é suficiente ter a mensagem correta. É preciso saber posicioná-la.

Normalmente as pessoas somente vêem o que esperam ver. Se tomarmos dois desenhos abstratos, e colocarmos num deles o nome de Picasso; e, no outro, o nome de José Pereira da Silva, e então solicitarmos a opinião de alguém, é fácil prever o resultado.

Também podemos solicitar a um batista e a um adventista que leiam Gálatas 5. Cada um verá nessa leitura justamente o que coincidir com suas ideias. Então, para encontrar uma posição única, temos que ignorar a lógica convencional. Ela nos diz que o conceito das coisas é encontrado dentro das próprias coisas ou dentro de nós mesmos. Isto pode funcionar em qualquer área, mas não em evangelismo e comunicação. Aqui, o que temos de fazer é procurar o conceito das coisas no interior da mente das pessoas. O que elas querem, o que elas precisam, com o que elas sonham, o que desejam e buscam desesperadamente. O que realmente importa é aquilo que o público precisa e quer saber. Não o que queremos dizer, mas como o que vamos dizer irá ao encontro das suas necessidades interiores.

Sabemos muito bem que as necessidades básicas dos ouvintes jamais serão plenamente satisfeitas por melhoramentos sociais ou econômicos. Jesus disse: “A vida do homem não consiste na abundância de bens que ele possui” (S. Luc. 12:15). Também sabemos que existe um vazio na vida sem Cristo. A humanidade continua clamando por alguma coisa que ela não pode identificar. Se uma pessoa ganha um milhão de dólares, não ficará satisfeita. Se ela puder condescender com o sexo e com todas as formas de sensualidade, isso também não satisfará o profundo anseio interior. As pessoas estão vazias, sem Deus.

Outra coisa a ser levada em conta é que os ouvintes, todos eles, experimentam solidão de alguma forma e em algum momento da vida. Alguns a têm chamado de “solidão cósmica”. No fundo é uma solidão de Deus. Outrossim não devemos esquecer de que os ouvintes são pessoas que carregam sentimentos de culpa. E, finalmente, lembremos de que eles possuem, de alguma forma, medo da morte e do futuro. O homem não nasceu para morrer. A morte é um intruso na experiência humana.

Aqui, a pergunta a ser feita é a seguinte: como as doutrinas que serão apresentadas ocuparão na mente do público, o lugar de solução para esses problemas comuns ao ser humano? As pessoas podem até não querer saber que o sábado é o dia do Senhor. Mas se mostrarmos o sábado como um dia de companheirismo e comunhão com Jesus e com a igreja, elas poderão identificar aí uma resposta para seu problema de solidão.

As nossas respostas, tiradas da Palavra de Deus, podem parecer simplistas, demasiado óbvias para problemas tão complicados. E, na verdade, são. A experiência tem demonstrado que a prática do posicionamento é a procura do óbvio. E o óbvio devia ser o conceito mais fácil de se comunicar porque faz sentido ao receptor da mensagem. Infelizmente, os conceitos óbvios são os mais difíceis de serem reconhecidos e transmitidos. A mente humana admira o complicado e rejeita o óbvio porque é simples demais. Mas nós temos que ir às pessoas com os conceitos óbvios do evangelismo eterno e levar respostas para as inquietudes humanas. “Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, Ele escolheu o que o mundo acha fraco” (I Cor. 1:27).

ALEJANDRO BULLÓN, Secretário ministerial associado da Divisão Sul-Americana