“Como, porém, invocarão Aquele em que não creram? e como crerão NAquele de quem nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm. 10:14).

Vinte e oito anos atrás um professor de seminário me disse: “Quando a pregação deixar de existir, também a igreja deixará.” Essa declaração começou o que para mim se tomou um caso de amor com a atividade homilética. Com grande entusiasmo e determinação, comecei a explorar a tradição da pregação e descobri que eu fazia parte de uma longa fila de pregadores, que retroagia a Moody e Jonathan Edwards, Wesley, Calvino e Lutero, indo até o apóstolo Paulo, o próprio Senhor Jesus Cristo, os profetas do Antigo Testamento e, finalmente, Deus o Pai, cuja voz na Criação pôs o mundo em seu curso e no Sinai deu à humanidade sua ordem interior. Descobri que o reavivamento e a reforma, a vida espiritual na igreja eram contingentes na proclamação da palavra bíblica.

Nesse ponto, tomei duas importantes decisões: Primeiro, que em meu ministério daria a máxima prioridade à pregação; e, segundo, que dedicaria a maior quantidade de tempo e energia ao estudo e prática de homiléticas. Não me tenho decepcionado com as decisões que tomei, e as repetiria alegremente e sem hesitação. Na verdade, já houve ocasiões em minha vida ministerial em que reafirmei essas decisões.

Como você observa, creio na pregação.

Estou convencido do poder da pregação pelo que esta tem feito por mim não só como ouvinte, mas como pregador. Sem a pregação, o povo não ouviria nenhum trovão vindo do Sinai, nenhuma graça procedente da cruz, nenhum cuidado oriundo do santuário celestial, nenhuma esperança do futuro.

Para que haja poder no púlpito, precisamos crer. Em primeiro lugar, devemos crer em Cristo e na mensagem bíblica — Paulo chama isto “o mistério”. E a seguir devemos crer em nossa vocação para o ministério e a própria pregação, que pertence “ao ministério da reconciliação” (II Cor. 5:18-20).

Crer no evangelho

Aos cristãos, Paulo testificou: “Está escrito: ‘Cri; por isso falei.’ Com este mesmo espírito de fé nós também cremos e por isso falamos” (II Cor. 4:13, NIV). Este verso é posto no contexto de uma passagem excitante em que Paulo fala do ministério de maneira bastante pessoal em relação ao evangelho, o chamado para o ministério, e a pregação do evangelho. Tanto a estrutura de sua pregação como sua concepção do papel que exercia como pregador, derivavam do seu encontro com Cristo, seu conhecimento de Cristo e sua fé em Cristo. Sua pregação, por isso, era histórica, redentora e pessoal. Com base em tal pregação, a fé e a obra da igreja permanecem de pé ou caem.

Acho que o melhor exemplo bíblico da relação entre mensagem, pregador, pregação e resultados é a história do vale de ossos secos do livro de Ezequiel. Quando pregou para aqueles ossos a mensagem que Deus lhe deu, eles receberam o dom da vida! Não pelo fato de ele ter pregado — mas porque ele pregou a mensagem que lhe foi dada.

Não podemos fazer coisa alguma a partir do nada — seja no púlpito ou em qualquer outro lugar. Deus pode fazer alguma coisa sem depender de nada. Nós não podemos. Precisamos começar com um elemento. Não é isto que devemos pretender da verdade; isto é o que a verdade deve exigir de nós. Devemos livrar-nos de nosso intelectualismo orgulhoso, de nossas opiniões.

Se você e eu estivermos convencidos da mensagem bíblica, não procuraremos concordar com o pensamento moderno que parece gostar mais de perguntas do que de respostas. A fé robusta é suspeita hoje em dia. É chamada de fanática, ignorante, ingênua, inculta, por aqueles que pensam que possuem algum conhecimento secreto que ninguém mais tem. Seremos mais aceitos pelo mundo moderno se crermos menos e duvidarmos mais. Mas isto não salvaria uma única alma!

Recentemente um intelectual adventista perguntou-me: “O senhor está realmente muito certo quanto a nossa mensagem e o futuro de nossa igreja?” Fiquei tão assustado com a pergunta que não pude responder imediatamente, mas disse que sim, que estava. Faz-me isso andar de passo errado? Se é assim, prefiro marchar sozinho — mas acho que não marcharia só. Não crer na mensagem bíblica ou na pregação é como estar numa luta de travesseiros, armado apenas com uma fronha vazia — com a diferença que esta atividade em que nos encontramos não é nenhuma luta de travesseiros.

Muitas vezes permitimos que nossas dúvidas continuem sem ser contestadas. Que acha de concentrá-las na cabeça? Que me diz de lutar com elas como o fez Jacó com Deus no Jaboque? O que acha de crermos em nossas crenças e duvidarmos de nossas dúvidas?

Se não crermos, não temos nenhum interesse pela pregação. Se não somos tocados pela mensagem, poucos dos nossos ouvintes o serão. Se, porém, crermos, devemos pregar! Se a mensagem bíblica se apossou de nós e nos prendeu e sacudiu, há grande probabilidade de que por nosso intermédio ela prenda também o nosso coração. Se crermos, pregaremos com ardor; isto, quando nós mesmos nos surpreendemos com os pensamentos que o Espírito Santo nos concede. Devemos experimentar no coração o que conhecemos com a mente. Enquanto a verdade não tiver aquecido o coração do pregador, não pode ela aquecer nenhum outro coração indiferente.

Para pregarmos bem e com poder, precisamos preparar nossos sermões com cuidado e oração. E nós, os pregadores, devemos estar preparados para pregar. Nós preparamos os sermões. O Espírito Santo nos prepara. Como disse Sangster, a maior pregação acontece não quando pregamos bem, mas quando se “falou por nosso intermédio”.

O estudo da Palavra é importante; ele nos torna profundos. Mas pobre de você e de mim — e pobre da igreja, para não falar do mundo — se nosso estudo serve apenas para despertar-nos os sentidos, sem intensificar nossa espiritualidade. Importante como é o estudo da Palavra, é a oração pela Palavra que nos faz arder. Sabe você o que faz a oração em favor da pregação? Ela nos faz descer aos pormenores. Descer à honestidade. Descer ao nosso povo. À brevidade. Livra-nos do nosso orgulho e pomposidade. Põe-nos em contato com a mente de Deus. Esvazia-nos a fim de que o Espírito possa encher-nos. Retira nossa própria força, a fim de que Deus nos possa conceder a Sua.

É a convicção que converte. É perigoso ouvir pregadores que não estão convencidos. Eles não se servem do argumento: “Sob certas circunstâncias isto talvez seja verdade.” Antes, insistem: “Isto é o que diz Deus.” Se não podemos saber o que é a verdade e pregá-la como a verdade, ninguém prestará qualquer atenção ao que temos para dizer.

Crer na pregação

Não há necessidade de ler muito as cartas de Paulo para ficar sabendo que ele não só cria no evangelho, como também acreditava no que era chamado a ser e fazer. Ele cria na pregação. Para ele, o chamado para pregar fazia parte do chamado para ser cristão, para ser apóstolo. Estava associado a sua fé em Cristo. Ele sempre falava de Cristo, do evangelho e da pregação em relação um com o outro. Estes eram para ele realidades inseparáveis.

Mas somos os únicos no programa agora. É nossa vez. Paulo cumpriu o seu ministério. Agora devemos cumprir o nosso. O que significa para nós ser pregadores?

Paulo enfrentou resistência a Cristo e ao evangelho. Enfrentou o cepticismo e a irreligiosidade. Enfrentou formas de secularismo e materialismo. Separados da experiência de Paulo por quase dois milênios, enfrentamos um desafio que possui suas semelhanças e, contudo, é muito diferente. Além das dificuldades que Paulo enfrentou, temos que lidar com a mentalidade científica, para a qual é muito difícil obter a fé.

Por causa desses desafios, alguns pregadores perderam a fé na pregação. Acham eles que a pregação é um meio fora de moda, antiquado, de comunicação, relegado ao montão de ruínas da história. Mas é realmente assim? Jesus não mais Se comunica por meio da pregação?

Paulo disse aos romanos que eles não poderiam crer, não poderiam invocar o Senhor ou ouvir o que Cristo dissesse, sem um pregador (Rom. 10:1-15). O fato de algumas pessoas se recusarem a ouvir, ou ouvirem com indiferença, não indica que Jesus deixou de falar por meio da pregação. Há indícios de que as vidas são ainda transformadas pela proclamação da Palavra de Deus. Nações foram transformadas por pregadores como Lutero, Calvino e Edwards. A pregação da Reforma, dos reavivamentos wesleianos, alterou o curso da História. A pregação de Whitefield, de Spurgeon, Moody, Sunday e Grahan despertou grandemente grandes cidades como Londres e Nova Iorque. Cem anos atrás toda a Finlândia setentrional e partes da Suécia foram transformadas pela pregação de um agricultor itinerante. 

Não nos esqueçamos de que Deus fez de Seu Filho um pregador. Uma das primeiras coisas que Marcos nos diz sobre Ele é que “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus” (Marc. 1:14). Desde então a igreja cristã sempre teve pregadores. Aquilo que Deus ajuntou — o pregador, a mensagem e o método — não separemos. Não teremos nenhum poder para pregar se não crermos na pregação. E se crermos nela, dedicar-nos-emos firmemente a ela. Faremos isso com relação a nossas responsabilidades teológicas, pastorais e evangelísticas. Se crermos na pregação, não diremos que nada mais podemos aprender a seu respeito.

Além disso, sofreremos por amor a nossa pregação, como o fizeram Paulo e outros. Prova-se a dedicação ao ministério pela disposição de sofrer, se necessário, para levá-lo avante.

Nossa igreja defende nossa crença na pregação, colocando a pregação da Palavra como a principal prioridade entre as quatro áreas básicas do ministério pelas quais somos responsáveis — pregação, pastorado, treinamento e evangelização. Em 1894 Ellen White escreveu: “A pregação do evangelho é o meio indicado por Deus para converter as almas.”1 Em 1898 ela escreveu: “A pregação da Palavra não deve ser subestimada.”2 E em 1901: “A pregação do evangelho é o grande método do Senhor para a salvação de almas.”3

Naturalmente, seus pontos de vista sobre a pregação foram progressivos, como resultado da experiência e da reflexão. Ela observava e analisava de maneira prática e teológica o que estava fazendo na proclamação pública. Nisto serve ela de inspirador exemplo a todos os pregadores adventistas. Ela cria na pregação e serviu de modelo dessa crença para todos nós. O poder de sua influência como pregadora nesta igreja é insofismável.

Nossa necessidade hoje não é de nova teologia. Necessitamos de pregadores renovados! Pregadores que conheçam a Jesus Cristo e que tenham dedicado a vida a pregar a mensagem bíblica!

Você e eu somos os depositários de uma grande tradição homilética. Agradeçamos a Deus por ela, aceitemo-la e preguemo-la com toda a alma, paixão e fé que em nós existe.

Raymond C. Holmes, professor do Seminário Teológico da Universidade Andrews

Referências:

  1. Manuscrito 38.
  2. Manuscrito 107.
  3. Carta 11.

A recomendação é pregar a toda a criatura.