“Objetivos da igreja para o próximo ano.”

Colocadas no alto da página, essas palavras me deixaram atônito. Passaram-se dez minutos e eu não conseguira escrever alguma coisa embaixo. Mais dez minutos e, nada. O dilema anual de planejar para o ano seguinte havia me agarrado como uma força paralisante.

O que deveria minha igreja realizar no próximo ano? O que seria de fato realizável? Poderia este novo ano ser diferente dos anteriores? Deveria a igreja estabelecer objetivos para cada coisa? Quão im-portante para o ministro é ter um plano?

Quando os setenta discípulos saíram para a sua primeira missão evangelizadora, eles não iniciaram o trabalho com uma folha de papel na qual estivesse impressa a palavra “objetivos”. Mas iniciaram-no com um alvo, um propósito. Sabiam perfeitamente o que deveria ser realizado. Planejaram para o sucesso e Deus os abençoou: “Então regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo Teu nome!” (S. Luc. 10:17).1

O ministério em nossos dias não é executado à semelhança das condições prevalecentes na época dos setenta, que saíram sem “bolsa, nem alforje, nem sandálias…” (v. 4). Hoje nós dispomos de computadores, painéis, gráficos, videocassetes, etc. Mas o ministro de Cristo, apesar das mudanças tecnológicas da atualidade, necessita de um plano para alcançar um objetivo claro: Salvar pecadores, do mundo para Cristo. Nossos instrumentos podem ser outros, mas continuamos trabalhando na mesma obra-prima iniciada há dois mil anos.

Espontaneidade tem o seu lugar, mas ministério de êxito, quer no trabalho da pregação, visitação ou ensino, requer planejamento. “Quer ele (o ministro) aprecie ou não, o programa da igreja não acontecerá. Nem pode ele ignorar seus deveres esperando que os leigos cuidem deles”, opina Robert Anderson, em seu livro O Pastor Efetivo, pág. 277. As grandes conquistas da igreja não acontecem por acaso. Pe-lo contrário, elas são concebidas como idéias e amadurecem através de um planejamento.

Uma filosofia

Durante cinco anos eu havia praticado a filosofia de um ministério planejado. Assim, estranhei que, subitamente, me parecesse difícil estabelecer alvos para a igreja. A princípio era uma tarefa fácil. Bastaria tomar as conquistas do último ano — batismos, colheita de almas, atendimento à Escola Sabatina, — e acrescentar a elas, por exemplo, 10% de previsão. E tudo estaria pronto. Objetivos imediatos. Sem exagero, sem demora. Sendo um pastor recém-chegado, eu poderia marcar presença. A igreja estaria organizada para crescer 10%. O próximo ano poderia ser um grande ano em meu minis-tério. Esses alvos estavam seguros. Atingíveis. Uns poucos sermões, um apelo especial aqui e ali, e seria tudo. Mas um importunante sentimento de dúvida prendia a caneta congelada em minha mão.

No ano passado, alguns objetivos foram alcançados, enquanto outros foram abafados na apatia congregacional. Alguns programas foram recebidos com bocejo; outros com uma pouco inspirada saudação, algo como: “boa sorte pastor”. Olhei de novo ao título da página: “Objetivos da igreja para o próximo ano”. Que objetivos realmente deveriam ser esses? Os meus? Os da Associação? Eu até poderia me sentir muito bem em relação a eles, mas, e a igreja?

Planejamento não deve ser uma questão que envolva o que esteja sendo recomendado à igreja, mas o que a igreja recomenda. Estabelecimento de alvos é um recurso aceitável para promover a Obra de Deus. Certamente o sucesso de nosso ministério pode ser medido por novas construções e expansão do número de membros. Mas devemos começar a lembrar a nós mesmos que esse sucesso, tal como o próprio ministério, pertence a Deus. Não vamos confundir nossas habilidades para fazer as coisas acontecerem com o que Deus quer que aconteça. A um pastor de êxito foi dito: “Há uma quantidade enorme de pessoas que anos atrás ofereceram-se para o ministério e jamais viram seus alvos alcançados. Assim nós temos de entregar-nos a nós mesmos a Deus para realizar tudo quanto Ele deseja fazer por nós.”

Estabelecer objetivos, então, não é um teste das minhas habilidades pastorais. Po-de até ser uma solitária atividade entre mim e uma folha de papel. Estabelecimento de alvos deve ser um exercício espiritual no qual a igreja é acoplada à vontade de Deus. Você e eu simplesmente ajudamos para que isso aconteça. Os planos são de Deus, não nossos. E maravilhoso o que acontece quando Deus substitui o nosso instinto de autopreservação profissional. Nós acabamos descobrindo que nossos alvos são realmente muito pequenos.

Eu também tenho encontrado que sabiamente Deus define a missão de alguém através de outros. Sua presença não está limitada a um indivíduo. É multiplicada entre Seu povo. Um amadurecido administrador certa vez advertiu-me: “Se você estabelece seus próprios alvos, terá de alcançá-los você mesmo”.

Ainda bem que minha folha de papel intitulada “objetivos” permaneceu em branco. Objetivos atirados de cima sobre os leigos são, quando muito, promovidos; e em último caso, ignorados. Não deveríamos envolver a igreja no estabelecimento de alvos, se queremos de fato alcançá-los?

Planejamento participativo

Há muito tempo a lógica reconhece a eficácia da administração participativa. “O mais efetivo pro-cesso de administração contemporânea é administração participativa”, diz Max DePree, no livro Liderança é uma Arte, pág. 22. Mas como fazer a igreja participar da elaboração de um planejamento?

Normalmente eu começo a planejar a partir de uma avaliação das reais necessidades de minha igreja. Essa compreensão envolve mais que uma revisão de orçamento e número de batismos.

No primeiro sábado do meu pastora-do, uma senhora idosa aproximou-se de mim e falou: “Pastor, por favor venha visitar-nos na próxima semana. Você é novato, e eu desejo falar-lhe a respeito de nossa igreja”. Durante a visita, ela falou-me que aquela não era uma igreja qualquer. Era diferente. Tão diferente quanto os membros que sentavam em seus bancos.

Reconhecer a unicidade de cada igreja é talvez uma boa forma de começar o programa de planejamento. A filosofia de “um tamanho adequado para tudo”, não deve ter lugar no ministério. O que uma igreja faz, pode ser inteiramente diferente do que a outra faz. As realizações de uma igreja, no ano passado, podem não ser as mesmas do próximo ano. O ponto focal é: não imponha seus planos à igreja. Antes, leve-a a descobrir seu ministério. Como Robert Coleman admite, esse tipo de entrega de controle pode ser difícil, e “mesmo planos acariciados, de nossa própria feitura, devem ser reestudados ou completamente abandonados” — O Plano Mestre de Evangelismo, pág. 115. O objetivo é levar alvos adequados à igreja.

Tome tempo e sinta o pulso de sua igreja. Faça isto antes de surpreendê-la com uma lista de “o que nós temos de fazer”. Lembre-se de que sua igreja tem uma história para contar. Uma história a respeito de si mesma. Você não vê essa história em alvos ou gráficos. Ela está em cada rosto, em cada vida. Isto me tomou um ano de visitação, realização de comissões e elaboração de pesquisas para conhecer a minha igreja. Sua história de altos e baixos. De pessoas e eventos. A profundidade espiritual de alguns. O vazio de outros. Minha igreja com suas feridas e sua beleza tem alguma coisa exclusiva para dar. Tudo isto deve ser levado em conta no processo de planejamento.

Duas palavras

Assim, você conhece sua igreja. Você está em contato com o seu único papel no plano de Deus. Você está comprometido para utilizar os recursos para cumprir seu ministério. Mas, alguns descrentes poderão dizer: é aí justamente onde a filosofia se choca com a realidade. Será que isso realmente funciona? Bem, é preciso não esquecer duas palavras: individualização e envolvimento.

No mês de novembro comecei uma série de sermões tendo em vista conscientizar a igreja de sua missão. Em dezembro, separei um sábado especial para definir essa missão em termos do próximo ano. Essa definição deveria incluir objetivos para o evangelismo, crescimento da igreja, conservação de membros, atividades sociais, serviço à comunidade, e o programa tradicional anual da igreja.

Nesse caso, os objetivos são talhados para a nossa igreja. Adequados ao contexto da nossa comunidade, nosso povo, nossa visão de ministério. Estudos demográficos, exame das necessidades sentidas pela comunidade, e informações fornecidas pelas autoridades podem ser úteis para individualizar os objetivos da missão de nossa igreja.

No dia das missões, dividimos a igreja em grupos de cinco ou seis. Cada grupo tinha um líder selecionado com base em sua habilidade. Os grupos discutiram sobre o que seria uma declaração de missão e como definir seus alvos. Depois de terminada a discussão, cada grupo escreveria uma declaração de missão, determinando objetivos específicos. Grandes cartazes expuseram os resultados. Então a atmosfera do culto tornou-se positiva, expectante e mesmo excitante.

À tarde, uma comissão de planejamento se reuniu para considerar os recursos disponíveis. Foram avaliados recursos financeiros e humanos. Depois o plano foi exposto à igreja. Discutimos os métodos, recursos, e o pessoal que o executaria.

Na semana seguinte todo o planejamento foi impresso no boletim. A igreja apropriou-se dos alvos. Este não era o programa do pastor. Não eram os alvos do pastor. Eram os alvos e o programa da igreja. Alvos para causar impacto em nossa cidade. Em lugar de apatia, havia agora um claro propósito. Partilhando objetivos, com um plano no qual todos esta-mos envolvidos, a igreja se move.

Isso pode acontecer em sua igreja também. Quem quer que seja você, onde quer que exerça seu ministério, Cristo lhe chamou para um ministério de êxito.

Planejar alvos consentâneos com as características e necessidades da igreja, e partilhá-los com ela, pode tornar isso possível.