Guilherme Miller, conhecido como “o pai do movimento adventista na América”, nasceu em Pittsfield, Massachusetts, em 15 de fevereiro de 1872. Era o primogênito de uma família de 16 filhos, e sua mãe, uma senhora de grandes virtudes, era filha de um pregador batista. Assim, Miller herdou qualidades de cidadania e piedade dos pais.

Segundo o costume da região, naquele tempo, o período escolar tinha a duração de três meses. O pequeno Miller foi iniciado na leitura e na escrita, por sua própria mãe, matriculando-se numa classe adiantada, tão logo abriu uma escola no distrito. Aí, ele recebeu sua inteira educação formal.

No início, os únicos materiais para leitura encontrados no lar, eram uma Bíblia, um Hinário e um livro de orações. Mas com o passar do tempo, outros volumes foram acrescentados à escassa biblioteca. Especialmente entre 14 e 21 anos, Miller de-dicou-se profundamente à leitura. Costumava levantar-se à noite, enquanto a família dormia e, sob a luz e o calor da lareira, permanecia lendo até tarde. “Ficou conhecido na vizinhança por sua ilustração e sua clareza na pena. Era muitas vezes chamado para compor versos, escrever cartas e executar desenhos caligráficos.”1

Em junho de 1803, aos 21 anos, Guilherme Miller casou-se com a Srta. Lúcia Smith, que morava aproximadamente dez quilômetros distante da sua casa. A nova família estabeleceu-se no lar da noiva, perto de Poultney, Vermont, onde Miller passou a ocupar-se da lavoura, “numa época em que nove décimos da população americana viviam em fazendas”.2

Primeiras impressões religiosas

Durante a infância, Guilherme Miller fora ensinado a respeitar as Escrituras Sagradas como sendo a revelação de Deus ao homem. Mas ao tornar-se adulto ficou perplexo com o que julgava serem incoerências e contradições, que ele era incapaz de conciliar ou explicar.

Freqüentador assíduo da Biblioteca Pública, ali entrou em contato com algumas das pessoas mais bem educadas da comunidade. Essas pessoas eram deístas, isto é, abraçavam a crença em Deus apenas como a causa primeira de todas as coisas. Foi então que travou os primeiros contatos com obras de Voltaire, Hume, Paine, entre outros escritores deístas, muito populares na-quele tempo.

Miller chegou à conclusão de que a Bíblia era apenas uma obra forjada por homens, e dela se desfez. Continuou com as idéias deístas, mantendo-se no vale da descrença na Bíblia, durante cerca de doze anos.3

O vazio

Portador de personalidade atrativa, alcançou reconhecimento de seus méritos, tornou-se juiz de paz e xerife comissionado. Seguramente desempenharia cargos de maior responsabilidade, quando, cansado da política, decidiu seguir a carreira militar.

Ao entrar para o exército, em 1812, em meio a prenúncios de guerra, recebeu o posto de tenente. Passou a capitão dos voluntários, ao começar a guerra, e, depois ingressou no exército regular, como primeiro-tenente. Foi promovido a capitão em 1o de fevereiro de 1814 e participou ativamente de manobras que culminaram com a batalha de Plattsburgo.

Ao fim da guerra, voltou à vida privada. Seu pai falecera e ele teve de mudar-se para Low Hampton, a fim de cuidar da mãe viúva.

Foi durante a guerra que Miller recomeçou a pensar mais seriamente nas questões religiosas. Convencera-se de que o deísmo estava inseparavelmente ligado à pregação da existência futura, e tudo tornara-se-lhe obscuro e incerto. A guerra já tinha terminado quando ele enfrentou grande luta espiritual e mental. “Os céus pareciam chumbo sobre a minha cabeça, e a terra como de ferro sob meus pés. Eu me sentia miserável, mas não compreendia a causa”, ele disse posteriormente.

Seu tio, Elin Miller, era pastor da igreja batista de Low Hampton, e Miller passou a freqüentá-la assiduamente, contribuindo liberalmente para sua manutenção. Sempre que o pastor estava ausente, os diáconos liam os sermões. Nessas ocasiões, Miller se ausentava, o que motivou convites para que fosse ele o apresentador dos sermões durante a ausência do pastor. Ele aceitou o convite, ainda que mantivesse suas idéias deístas.

Em setembro de 1816, enquanto lia um sermão num domingo à noite, foi tomado de forte emoção, a ponto de ficar impossibilitado de prosseguir e ter de sentar-se. Sentindo profunda necessidade de um Salvador, decidiu confiar-se inteiramente a Ele. Falando de sua própria experiência, ele declarou mais tarde: “Em Jesus encontrei um amigo.”

Imediatamente, erigiu o altar da família, confessando sua fé na religião que antes fizera assunto de zombaria e ridículo. Uniu-se à Igreja, tornando-se uma figura destacada.

Estudo da Bíblia

Por dois anos, de 1816 a 1818, dedicou-se intensa-mente ao estudo e à meditação, procurando harmonizar as aparentes contradições da Bíblia.

Deixando de lado todos os comentários e as idéias preconcebidas, passou a estudar a Bíblia apenas com o auxílio de uma Concordância. Iniciando com Gênesis 1:1, passou a comparar verso com verso, prosseguindo após certificar-se de haver compreendido o seu total significado. Em seu estudo, ele mantinha, entre outros, dois princípios básicos de hermenêutica: 1) A Bíblia interpreta-se a si mesma; e 2) a Bíblia deve ser interpretada literalmente, exceto onde o simbolismo é claro.

De acordo com suas próprias palavras, eis a sua principal conclusão: “Cheguei assim, em 1818, ao final de meus dois anos de estudo das Escrituras, à solene conclusão de que em cerca de 25 anos, a partir daquele tempo (1818), todas as atividades de nossa presente condição chegariam ao fim.”4

Passou dias e noites estudando a profecia de Daniel 8:14. Depois de algum tempo, ficou-lhe bem claro que os 2.300 anos começaram em 457 a.C., com a saída do decreto de Artaxerxes para edificar Jerusalém. Por um simples cálculo matemático, chegou à conclusão de que o período terminaria em 22 de outubro de 1844, data em que Cristo aparecería pela segunda vez.

O primeiro sermão

Num sábado, 13 de agosto de 1831, após treze anos protelando, achou-se pro­fundamente impressionado pela convicção do dever de anunciar aos outros suas conclu­sões a respeito da segunda vinda de Cristo. “Vai, anuncia isto ao mundo”, dizia-lhe uma voz. “Não, Senhor, não! Tu sabes que eu não sei pregar. Eu não sei pregar”, argumen­tava. Apesar de tudo, Miller não conseguiu silenciar a voz da convicção.

Assim, decidiu fazer um concerto com Deus: “Senhor, se me abrires o caminho, isto é, se me mandares um convite para que eu pregue exatamente sobre este assunto, então irei”, orou. Apenas 30 minutos haviam se passado, quando alguém bateu à porta. Era seu sobrinho Irwing, que percorrera 25 quilômetros naquela manhã com um recado de seu pai e cunhado de Miller: “Tio Gui­lherme, eu saí antes do desjejum para dizer-lhe que nosso pastor não poderá dirigir a Palavra no culto de amanhã. Papai mandou que viesse fazer-lhe um apelo. Ele deseja que venha e nos fale sobre as coisas que tem es­tudado na Bíblia, a respeito da segunda vinda de Cristo.” Mesmo assim, os momentos seguintes foram de intensa luta com Deus. Mas o dever o conclamava.

Miller tomou sua Bíblia e partiu com o sobrinho para Dresden. No dia seguinte, 14 de agosto de 1831, pregou seu primeiro sermão na igreja batista local, aos 50 anos. A mensagem estava baseada em Daniel 7 e 8. Era o marco inicial do grande despertamento adventista na América. Posteriormente, ele pregaria em muitas igrejas batistas, metodis­tas, congregacionais, etc. Recebeu uma cre­dencial interdenominacional, única, assinada por 17 clérigos de várias denominações.5

“Os principais colaboradores de Guilher­me Miller foram: Josias Litch (1809-1886), pastor metodista; Carlos Fitch (1805-1844), pastor da Igreja Congregacional; José Bates (1792-1872), marinheiro, capitão e comandante; e Josué Himes (1805-1895), conhecido como o grande agente de publicidade do movimento milerita.”6

Esperança adventista

Onde quer que Miller pregasse, seguia-se um reavivamento. Multidões acorriam para ouvi-lo, profundo ar de solenidade pairava sobre o lugar onde reuniam-se. Era um trabalhador incansável. Embora fosse homem de idade e de pouca saúde, passava meses fora de casa, viajando de trem, de bote ou de jangada; às vezes era apanhado por nevadas, durante dias. Em 1843, viajou pela Nova Inglaterra e por Nova Iorque, pregando 80 sermões em sessenta dias. No ano seguinte declarou: “Preguei cerca de 4.500 sermões no perído de doze anos, a pelo me-nos 500 mil pessoas.”

Após o Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844, Guilherme Miller assim se expressou: “Deus tem estado comigo, e me tem confortado. Creio na Palavra de Deus. Embora rodeado de inimigos, meu espírito está perfeitamente calmo, e minha esperança na vinda de Cristo é tão firme como sem-pre.” Sua fé jamais vacilou, morreu firme na bendita esperança da volta de Jesus.

Guilherme Miller foi o instrumento usado por Deus para dar início ao movimento adventista. Embora não tenha sido exato quanto ao acontecimento e o local onde se daria, não errou a data. Em lugar da volta de Cristo à Terra, no dia 22 de outubro de 1844 o Filho de Deus adentrou o Lugar Santíssimo do Santuário Celestial para iniciar o Juízo Investigativo.

O glorioso acontecimento que Miller esperava contemplar em seus dias, brevemente será uma grata realidade. E ele, que descansa no pó desde o dia 20 de dezembro de 1849, estará presente. “Anjos de Deus o acompanhavam. Ele era firme e denodado, proclamando destemidamente a mensagem que lhe fora confiada. Mas anjos vigiam a preciosa sepultura desse servo de Deus, e ele sairá ao som da última trombeta.”?

Referências:

  • 1. Everett Dick. Fundadores da Mensagem, pág. 17.
  • 2. C. Mervyn Maxwell, História do Adventistmo, pág. 9.
  • 3. Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 318.
  • 4. L. E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, vol. 4, pág. 463.
  • 5. Francis D. Nichol, The Midnight Cry, pág. 57.
  • 6. Archa O. Dart, História da Nossa Igreja, pág. 154.
  • 7. Ellen G. White, Primeiros Escritos, págs. 232 e 258.