Uma frase mencionada durante o filme Love Story garante que “amar é jamais precisar pedir perdão”. Nada mais ilusório e utópico. Exatamente porque somos humanos, carregados de fraquezas e defeitos, necessitamos da misericórdia e do perdão de outras pessoas, tanto quanto elas necessitam receber de nós manifestações dessas virtudes. Só onde o amor é perfeito não existe necessidade de perdão. Mas enquanto peregrinamos como pecadores em direção à casa do Pai, ele é tão indispensável em nossos relacionamentos, como o nosso alimento diário para a nossa sobrevivência física.

Somente o perdão nos devolve a capacidade de amar sempre de novo, de ir até mesmo em busca de quem nos ofendeu, para celebrarmos a reconciliação. Em se tratando de um assunto de tal relevância, e ao mesmo tempo tão difícil de ser colocado em prática, não podemos inspirar-nos apenas em fontes humanas na tentativa de compreendê-lo ou concretizá-lo em nossa experiência diária. Precisamos nos espelhar em Cristo Jesus. Aquele mesmo Cristo que desafiou a insensibilidade, o ódio e a vingança dos fariseus, propondo-lhes o perdão para a mulher adúltera. O mesmo Jesus que, em meio aos mais cruéis sofrimentos orou ao Pai em favor de Seus algozes. Sim, o mesmo Jesus que paciente, calmo, suportou afrontas a fim de consumar o plano da salvação, morrendo na cruz para que tenhamos vida eterna.

Amor e perdão

O ato de perdoar exige humildade, desapego, renúncia. Acima de tudo, exige grande demonstração de amor. Um amor que não mede, não calcula, não minimiza. Amor que vem de Deus, gratuito. Ninguém pode amar qualquer inimigo sem que esteja disposto a perdoar. O Senhor não exige que primeiro sintamos amor para depois agir. Ordena perdoar e amar. Precisamos decidir perdoar nosso ofensor, a fim de que tenhamos a possibilidade de desenvolver uma atitude de amor para com ele. Amor que enxerga falhas, observa erros, mas que não se fundamenta nessas coisas.

O primeiro recurso para amar o inimigo é o reconhecimento da existência da dor, causada pela ofensa sofrida. É preciso reconhecer: “estou ferido, Senhor. Estou magoado.” Por mais amadurecidos que sejamos e entendamos que Deus está no controle da nossa vida, não estamos imunes à dor. E nem sempre adianta simplesmente recitar “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”. Se necessitamos crer nessa verdade, é porque estamos atravessando um momento difícil que Deus permitiu acontecer.

Não precisamos esconder a dor, nem de nós mesmos nem de Deus. Não precisamos provar superioridade. O Senhor conhece nossas limitações.

Liberdade

Só quem perdoa é livre. Todo sentimento de ódio, revolta, vingança ou agressão, nos faz escravos de nós mesmos. Escravos de nossas paixões e instintos. Eles aos poucos agem em nós como ídolos que exigem satisfação para seus caprichos. Daí a importância de assumirmos com serenidade o nosso passado, procurando esquecer e curar as feridas. Para viver com tranquilidade de espírito o momento presente, sem medo em relação ao futuro.

É o próprio Deus quem nos aconselha, através do profeta Isaías: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova…” (Isa. 43:18 e 19).

A dinâmica libertadora do perdão, às vezes, é lenta mas progressiva e cheia de esperança.

No lar

Há muitos lares desmoronando porque o amor lentamente está morrendo e, com ele, a capacidade de perdoar. Isso acontece em virtude da existência de dominação, ciúme, inveja, desconfiança e ruins suspeitas. Consequentemente, desaparecem o diálogo, o espírito de doação: nascem, entretanto, as agressões e exigências egoístas.

O apóstolo Paulo sabia muito bem o que era necessário para a harmonia entre os crentes, especialmente no plano conjugal: “Longe de vós, toda amargura, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.” (Efés. 4:31 e 32).

Acreditamos na paz e no amor; e, por isso mesmo acreditamos no perdão. Difundi-los é nossa missão sagrada. Nessa tarefa, a Palavra de Deus será nossa fonte de inspiração. A oração será nossa força, nosso alimento, para viver o amor e o perdão. Saber perdoar é uma árdua conquista em que a graça de Deus não dispensa a colaboração do esforço humano.

Oremos para que os caminhos de Deus se tornem os nossos. E Seus pensamentos sejam os nossos pensamentos.

ANAMI AZEVEDO OLIVEIRA, Secretária na Associação Mineira Central