Fomos ensinados que todo bom sermão é formado pelas seguintes partes: Introdução (com sua proposição), Corpo (com suas divisões e subdivisões) e a Conclusão. E não é de se estranhar que as-sim tenhamos aprendido, considerando que nos últimos 1.500 anos esse método didático de pregar foi o mais preeminente entre os estilos de estrutura de sermões. Essa maneira de desenhar os sermões existiu desde que Agostinho, baseado na lógica aristotélica, uniu a retórica clássica secular à arte da pregação no século IV.1

Somente depois de 1971, este método tradicional foi seriamente confrontado com outra alternativa, quando Fred Craddock desafiou os pregadores a buscarem variações na estrutura dos sermões. Para isso, chamou a atenção aos modelos de discurso usados por Jesus e pelos primeiros evangelistas, sugerindo uma importantíssima alternativa ao método tradicionale iniciando um sério debate na literatura homilética, o qual tem continuidade até nossos dias. Tal debate está centralizado nos métodos de pregação.

Há dois métodos gerais de se fazer sermões: o método dedutivo e o método indutivo. Isso quer dizer que um sermão movimenta-se do geral ao particular, ou do particular ao geral.

Mas em que consistem, na prática, esses dois métodos? Indução é o padrão de comunicação no qual a idéia central, ou premissa, é declarada no final do processo comunicativo, e cujas evidências são apresentadas primeiro. Ao contrário, a dedução afirma primeiro sua premissa mais importante e, depois, passa a provar, estabelecer e defender o ponto central.

Livros de texto em lógica e filosofia apresentam claramente a importância e as diferenças entre os dois métodos.3 Eruditos da pregação também concordam em que o método dedutivo é o método de arrazoamento mediante o qual aplicações concretas ou conseqüências são deduzidas de princípios gerais. O método indutivo é o arrazoamento inferido de uma par-te ao todo, do particular ao geral, do individual ao universal. A dedução vai do geral ao específico (universal ao particular); a indução vai do específico ao geral (particular ao universal).

Segundo Craddock, “há basicamente duas direções nas quais se move o pensamento: dedutiva e indutiva. Em poucas palavras, o movimento dedutivo vai da verdade geral à aplicação particular ou experiência, enquanto a indução é o contrário”.4

Principais diferenças

Para Robinson, o critério para saber se o sermão é dedutivo ou indutivo está na posição da idéia central do sermão. Em um sermão dedutivo, a idéia aparece na introdução e o corpo a explica, prova e aplica. No indutivo, apenas é introduzido o primeiro ponto do sermão e, com fortes transições, cada ponto se une ao outro até que a idéia central emerge na conclusão?

Lewis expande um pouco mais as diferenças entre os dois métodos, com as seguintes palavras: “A pregação dedutiva começa com uma declaração de intenção e então se propõe a provar a validade de que o que o pregador disse está predeterminado ser a verdade. A pregação indutiva, por outro lado, apresenta a evidência, os exemplos, as ilustrações, e posterga as declarações, afirmações e asserções, até que os ouvintes possam pesar as evidências, pensando nas implicações, chegando então à conclusão, junto com o pregador, no final do sermão.”6

Baseando-se no trabalho de Lewis, Bryson apresentou as seguintes diferenças:

“Os sermões começam com assuntos específicos tais como fatos, estatísticas, ilustrações, experiências e exemplos. Os sermões dedutivos começam com propostas, asserções, conclusões e princípios. Os sermões indutivos vão mais além do específico com o qual começam. O desenho dedutivo define, disseca, defende ou delimita a premissa principal. Os exemplos indutivos precedem e levam às conclusões, e os exemplos dedutivos seguem e apóiam as conclusões já apresentadas. No formato indutivo, a proposta, as asserções, ou as declarações saem do material concreto ou ilustrações. Explicando em forma mais simples, o pregador dedutivo começa com uma verdade e então procura desenvolvê-la. O pregador indutivo utiliza particulares para ajudar seus ouvintes a chegarem a uma conclusão.”7

Em geral, os autores que favorecem a pregação indutiva colocam a Jesus como o exemplo maior de pregador a utilizar es-se método, junto com os demais escritores e pregadores bíblicos. “Jesus, os profetas e os apóstolos pregaram com acento indutivo.”8

“A pregação de Jesus foi quase sempre indutiva. Procurava envolver a Seus ouvintes no processo de arrazoamento em lugar de pedir-lhes que aceitassem alguma ver-dade preestabelecida… raramente Jesus utilizou uma metodologia dedutiva.”9

Se o método favorito de Cristo foi o indutivo, vale a pena então olhar de perto esse método.

Estrutura do sermão

Uma das grandes diferenças entre os métodos de pregação tem a ver com a estrutura do sermão. No método dedutivo, a estrutura é algo muito importante e deve ser cuidadosamente planejada. Há um plano de ação claramente definido, permitindo destacar-se a estrutura. A discussão segue um plano com passos claramente visíveis.10 Há uma tese que se subdivide em subteses, explica-se cada ponto e faz-se aplicação à situação particular dos ouvintes.

No debate sobre a estrutura da pregação, os que favorecem o método dedutivo acusam os não-estruturalistas de haverem desenvolvido o que chamam de “ensaios orais”, queixando-se de que tais ensaios chegam a ser piscinas de protoplasmas literários correndo simultaneamente em todas as direções.

O método indutivo, por outro lado, olha a estrutura do sermão de forma bem diferente. Ela deve estar subordinada ao movimento. Essa subordinação significa que na maioria das vezes a estrutura não é visível à congregação. A estrutura que os sermões indutivos requerem é antes uma estrutura de processo (do particular ao geral) que uma estrutura de forma, segundo o Pastor Dwight Nelson, da igreja da Universidade Andrews, nos Estados Unidos.”

Há uma regra básica para o arranjo dos sermões indutivos: começar com situações específicas que servem como evidências, para chegar a uma conclusão. Isso está em contraste com o método dedutivo, que começa com pontos, os quais são seguidos por evidências e exemplos.

A própria natureza dos sermões indutivos torna quase impossível apresentar um padrão de esboço.

Os dois métodos de pregação utilizam o mesmo conteúdo: perguntas, parábolas, narrações, analogias, diálogo, experiências, etc. A grande diferença está no movimento do sermão – do geral ao particular ou do particular ao geral, como já foi dito.

O método dedutivo vale-se de parábolas, analogias, diálogos, etc., para provar ou ilustrar os pontos que demonstrem a tese principal, enquanto o método indutivo utiliza tais recursos para levar à conclusão ou idéia geral. No método indutivo, por exemplo, as experiências não são consideradas como material que ilustra algo, mas como a própria substância do sermão, seu próprio conteúdo.

Mais importante do que qualquer método de pregação é a inclusão de Cristo na mensagem.

Narrativas

Um sinal característico dos sermões indutivos é o uso de narrações, especialmente tiradas das Escrituras. Para Lewis, o uso da narração é o elemento mais indutivo que pode haver para apresentar sermões indutivos.

Esse instrumento foi utilizado pelos he-breus, que contavam a história da salvação predominantemente expressa em narrações. Foi também utilizado pelos profetas, que contavam história para conquistar a atenção dos ouvintes. Jesus pregou e ensinou freqüentemente com histórias conhecidas como parábolas. Os apóstolos pregaram narrando a história de Jesus Cristo. “A narração leva o peso do relato bíblico desde o Jardim do Éden até a Nova Jerusalém. A estrutura é a de uma história, desde o princípio até o fim. O Velho Testamento é uma história que leva às histórias do evangelho no Novo Testamento.”12

Existem três diretrizes para se pregar um sermão narrativo:

  • 1. Estar completamente familiarizado com o contexto histórico do texto sobre o qual se planeja pregar. Para isso, o uso de mapas, enciclopédias e comentários pode representar grande ajuda.
  • 2. Ter uma visão mental dos eventos apresentados pelo texto e apresentá-la aos ouvintes de maneira objetiva. Não acrescentar elementos estranhos à história, nem qualquer outra coisa que possa desviar a atenção.
  • 3. Ligar a história com alguma doutrina bíblica.

O mais importante

Deve-se pregar indutiva ou dedutiva-mente? Qual dos dois métodos produz melhores resultados? O Pastor Nelson, em seu projeto doutorai demonstrou que, para a sua congregação, não fez nenhuma diferença quando pregou utilizando o método dedutivo ou o indutivo. Ele concluiu que a utilização dos dois métodos é benéfica. Aliás, a mesma conclusão a que chegaram diversos autores.

Vale ressaltar, entretanto, que mais im-portante do que qualquer método é a inclusão de Jesus Cristo em cada mensagem, mesmo que pareça fora de contexto. É Ele quem dará vida a cada sermão, e por meio do Seu Espírito fará com que as palavras frutifiquem para a vida eterna.

Referências

  • 1 Yngve Brilioth, A Brief History of Preaching. Philadelphia: Fortress Press, 1965; pág. 51.
  • 2 Fred B. Craddock. As One Without Authority. Nashville. TN: Abigdon Press, 1971; pág. 45.
  • 3 Francisco Romero e Eugênio Pucciarely, Lógic, Buenos Ai-res: Espasa-Calpe, 1947: John Grier Hibben, Logic. Deduc-tive and Inductive. Nova York: Charles Scribners Sons, 1908 William H. Há, versão A Concise Introduction of Philosophy. Nova lork: Random House. 1967.
  • 4 Fred B. Craddock. Op. Cit., pág. 54.
  • 5 Haddon W. Robinson, Biblical Preaching: The Development and Detivery of Expository Preaching. Grand Rapids: Baker Book House, 1980; pág. 125.
  • 6 Ralph L. Lewis e Gregg Lewis. Inductive Preaching, pág. 43.
  • 7 Harold T. Bryson, Expository Preaching. Nashville. TN: Broadman & Holmam Publishers. 1995; pág. 360.
  • 8 Wayne McDilI, The 12 Essential Skills for Great Preaching. pág. 19.
  • 9 Raymond Bailey, Jesus the Preacher, Nashville: Broadman Press, 1990; págs. 14. 115.
  • 10 Andrew Blackwood, Doctrinal Preaching. Nashville: Abingdon Press. 1956; pág. 161.
  • 11 Dwight Nelson. A Comparison of Receptivity to the De-ductive and Inductive Methods of Preaching in the Pioneer Memorial Church, pág. 31.
  • 12 Ralph Lewis e Gregg Lewis. Op. Cit., pág. 60.