Evangelismo é um estilo de vida fundamentado no princípio bíblico de que pastores e leigos são ministros, na execução da tarefa missionária

Na Bíblia, a fé cristã não é percebida como uma estrutura missionária em que os sacerdotes sejam profissionais e componham uma hierarquia superior em relação aos leigos. De certa forma, herdamos essa visão hierárquica da estrutura da Igreja Católica. Oscar Feuchet acertadamente disse que “o ministério é um ofício; não uma ordem. Muito menos uma ordem de bispos, sacerdotes e diáconos. A Igreja é um governo das pessoas, para as pessoas e todos os cristãos são as pessoas”.1

É falso o conceito de que o clero e o laicato têm ministérios separados, e que ao pastor cabe cumprir a missão em virtude do seu trabalho. A palavra grega klerós geralmente é traduzida como “lote”, “porção”, “parte de algo”, ao passo que a palavra laós tem o significado de “povo”, “mundo”. A diferença entre os dois termos não possui origem bíblica. Segundo a História, ao redor do ano 95 d.C., os escritos de Clemente já diferenciavam entre “os chamados e os não chamados”. Jerônimo e, mais tarde, Orígenes também fazem semelhante distinção.

Durante a Idade Média essa teoria foi desenvolvida com mais clareza. Os sacerdotes ou clérigos eram considerados como uma classe espiritualmente superior aos leigos. Nesse contexto, os leigos deviam encontrar a Deus com a ajuda mediadora do sacerdote, que até podia perdoar pecados, definir doutrinas e interpretar a Bíblia.

Uma distinção dessa natureza, a bem da verdade, pode ser prejudicial ao avanço da tarefa missionária. “Qualquer diferença entre o sacerdócio clerical e o dos crentes é apenas de função e não de posição.”2

Fundamento escriturístico

Na Igreja do Novo Testamento, era bem compreendido o princípio bíblico de que todo crente possui uma função sacerdotal. Pedro conhecia o princípio do Antigo Testamento sobre o sacerdócio universal de todos os crentes, quando escreveu sua carta. Em I Pedro 2:4-10, ele ressalta que to-dos os que recebem a Cristo são considerados sacerdotes. O apóstolo cita Moisés quando esse patriarca afirmou ser o laós “propriedade peculiar [de Deus] dentre todos os povos… reino de sacerdotes e nação santa” (Êxo. 19:5 e 6).

Note-se que Pedro faz uma afirmação do modelo do Antigo Testamento. Para ele, foi cumprida uma profecia (v. 2). Cristo rejeitado chegou a ser a pedra sobre a qual foi edificado o templo. Nos versos cinco a nove são detalhados pelo menos seis títulos conferidos aos crentes. De acordo com essa relação, cada crente é chamado por Deus como “pedras que vivem”, “casa espiritual”, “raça eleita”, “nação santa”, “sacerdócio real”, e “povo de propriedade exclusiva”. A figura de linguagem é clara. O sacerdócio é um ofício para todos os crentes. Todos eles têm o status de ministro.

Ao chegarem a essa compreensão bíblica, pastores e leigos estarão impulsionando uma relevante vocação missionária de todas as forças da igreja. Escrevendo aos cristãos efésios, Paulo fala dessa realidade. O impacto do chamado vem “na obrigatoriedade de andar com Deus e viver o chamado”,3 de tal forma que honre a Deus. No capítulo 4 da carta aos efésios, sobressai a palavra “um” para destacar a unidade de todos os cristãos, como parte do ministério. Dentro dessa unidade básica, percebe-se a diversidade. Cada um deve contribuir para o crescimento e o progresso integral da Igreja.

A lista dos dons espirituais apre-sentada por Paulo também revela Jesus como plenamente autorizado para outorgá-los aos crentes. O apóstolo destaca três propósitos básicos dos dons: aperfeiçoamento dos santos, desempenho do serviço e edificação do corpo de Cristo. Nessa dinâmica, o pastorado aparece como um minis-tério entre os muitos que a Igreja possui. Então, o processo da edificação, crescimento “em tudo” (v. 15), é uma função compartilhada entre o pastor e os leigos (v. 16). Quando os crentes trabalham unidos com a diversidade de ministérios, a Igreja chega a ser um movimento contínuo entre Deus, os membros e o sentido de missão diante do mundo. De fato, a Igreja necessita experimentar tal dinâmica de crescimento integral.

Durante Seu ministério pessoal, O Mestre aproximou-Se das pessoas para lhes dar a salvação e lhes enviar a testemunhar. Depois de libertar o endemoninhado gadareno, disse-lhe: “Vai para tua, casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti” (Mar. 5:19). E o gadareno testemunhou em Decápolis. No encontro com Zaqueu, Ele procurou um lugar familiar, a casa do próprio Zaqueu, para então dizer-lhe: “Hoje, houve salvação nesta casa” (Luc. 19:1-10). A mulher samaritana, após ser envolvida com o perdão do Mestre, começou a testemunhar dizendo: “Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. … Mui-tos outros creram nEle, por causa da sua palavra” (João 4:1-42).

Os especialistas em crescimento de igreja descobriram que as igrejas crescentes são aquelas que integram a fora leiga na evangelização. Um estudo realizado por Win Arn revela que cada cristão pode, potencialmente, identificar sete ou oito amigos ou parentes que não são convertidos. Arn conclui dizendo que “70% a 90% dos membros chegam à igreja pela in-fluência de um amigo, parente ou só-cio”.4 Isso quer dizer que a congregação pode crescer de maneira saudável através de “redes” de amizade. Se esse modelo for colocado em prática, em uma igreja de 50 membros, essa comunidade teria potencialmente 400 fiéis, no futuro.

Christian Schwarrz opina que os pastores das igrejas crescentes são modelos reproduzíveis. Tais igrejas visualizam o potencial leigo. “É uma boa notícia comprovar que os pastores das igrejas que crescem não são necessariamente superastros…. Os responsáveis por igrejas em crescimento concentram seu trabalho em capacitar outros crentes para o serviços.”5 E Goottfried Oosterwal sentencia que “um dos sete fatores básicos de desenvolvimento da Igreja Adventista é a igreja local como base do evangelismo”.6

A função pastoral

  • Por sua função, o papel do pastor está dividido em três aspectos: a pregação, a administração dos ritos e a liderança. Algumas dentre as tarefas que podem ser identificadas como pastorais são as seguintes:
  • Favorecimento do ministério compartilhado. O pastor deve tomar a iniciativa de envolver os crentes de acordo com os seus dons. Criar o clima apropriado para motivar e ratificar cada crente em uma missão significativa, relacionada com as necessidades, afiliação e sentido de pertinência de cada um.
  • Liderança Serviçal. O pastor lidera servindo. Exerce uma liderança participativa.
  • Ensino. No Novo Testamento, Jesus freqüentemente é reconhecido como Mestre. Com esse modelo, o pastor dedica tempo para a instrução e o ensino da metodologia bíblica no trabalho missionário.
  • Equipa os santos. O equipamento dos leigos envolve o compromisso pessoal de cada membro (I Tim. 6:10) no sentido de compreender biblicamente o propósito da Igreja no mundo. Requer também a consideração dos dons espirituais da pessoas para solução de seus problemas. Equipar os santos significa iniciar novos ministérios na Igreja, a partir dos dons espirituais (II Tim. 3:17).

A estratégia centralizada no potencial dos missionários voluntários é um princípio bíblico, exercido e recomendado por Jesus à Sua Igreja. O êxito pastoral em nosso tempo reside no preparo e mobilização dos leigos, trabalho individual por eles, para fazer crescer a Igreja.

Referências:

  • 1. Oscar E. Feucht, Everyone a Ministry (St. Louis, Londres: Concordia Publishing House, 1986), pág. 35.
  • 2. Juan Millanao, Capacitación del Obrero Voluntario Ad-ventista (Lima: Universidade Peruana União, 1988), pág. 9.
  • 3. Willard H. Taylor, Comentario Bíblico BEACON (Kansas City, Missouri: Casa Nazarena de Publicaciones, 1978), vol. 10, pág. 215.
  • 4. Win Arn, Como Poseer una Iglesia Revitalizada, Salu-dable, Creciente y Amante (Lima: Salt, 1998), pág. 52.
  • 5. Christian Schwarz, Las 8 Características Básicas de uma Iglesia Saludable (Terrassa: CLIE, 1996), págs. 22 e 23.
  • 6. Goottfried Oosterwal, La Iglesia Adventista del Séptimo Dia en el Mundo Contemporâneo (Libertador San Martin, Entre Rios, Salt, 1981), pág. 18.