Decisões apostólicas reprovam a moderna tendência de desconsiderar o Antigo Testamento
Em Atos 15, encontramos a liderança da igreja primitiva reunida para resolver um impasse: “Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão” (Atos 15:1 e 2).
Por esse tempo, a circuncisão de judeus convertidos ao cristianismo era assunto debatido entre os prosélitos judeus na comunidade cristã. Josefo fala de Helena, rainha de Adiabene, e seu filho Izate, que abraçaram o judaísmo através de um comerciante chamado Ananias. Izate temeu que seus súditos não o aceitassem, caso fosse circuncidado, e Ananias assegurou-lhe que esse rito não era a coisa mais importante: “O rei poderia, disse Ananias, adorar a Deus mesmo sem ser circuncidado, se na verdade estivesse plenamente decidido a ser um devoto do judaísmo, pois isso contava mais que a circuncisão. Depois, falou também que Deus poderia perdoá-lo, se, constrangido pela necessidade e temendo a reação dos súditos, ele não cumprisse o ritual. Assim, o rei foi convencido pelos argumentos. Depois, como renunciara completamente a seu desejo, um outro judeu, chamado Eleazar, vindo da Galiléia e considerado muito exigente quanto às leis, obrigou-o a cumprir o ritual.” – Antiguidades 20.41-3, Loeb.
Entre outras coisas, essa história nos diz que agentes judeus viajavam pelo Império, alguns advogando uma política frouxa quando à circuncisão; outros eram mais exigentes. O Concilio de Jerusalém tratou da questão em 45 a. D. Depois de muita discussão, argumentos de Pedro e Tiago cristalizaram o consenso que foi documentado. Aos gentios foi ordenado abster-se “das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas” (Atos 15:29).
Gerações de eruditos têm-se perguntado que processo de raciocínio levou os apóstolos a essa conclusão. Em que basearam sua decisão?
Precedente Levítico
Sob a direção do Espírito Santo (Atos 15:28), os apóstolos encontraram na Torá uma passagem que poria abaixo regras aplicadas a estrangeiros que viviam entre os judeus. Note como o decreto de Atos 15:29 segue a ordem textual de Levítico. Cada segmento repete que a lei se aplica aos não judeus:
“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos”. Conversos ao cristianismo já não deveriam oferecer sacrifícios a ídolos; “isso lhes será por estatuto perpétuo nas suas gerações. Dize-lhes, pois: Qualquer homem da casa de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós que oferecer holocausto ou sacrifício e não o trouxer à porta da tenda da congregação, para oferecê-lo ao Senhor, esse homem será eliminado do Seu povo” (Lev. 17:7-9).
“… do sangue”. “Qualquer homem da casa de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós, que comer algum sangue, contra ele Me voltarei e o eliminarei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida. Portanto, tenho dito aos filhos de Israel: Nenhuma alma de entre vós comerá sangue, nem o estrangeiro que peregrina entre vós o comerá. Qualquer homem dos filhos de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós que caçar animal ou ave que se come derramará o seu sangue e o cobrirá com pó. Portanto, a vida de toda carne é o seu sangue; por isso, tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda carne é o seu sangue; qualquer que o comer será eliminado” (Lev. 17:10-14).
“da carne de animais sufocados”. “Todo homem, quer natural, quer estrangeiro, que comer o que morre por si ou dilacerado lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde; depois será limpo. Mas, se não as lavar, nem banhar o corpo, levará sobre si a sua iniqüidade” (Lev. 17:15 e 16).
“e das relações sexuais ilícitas”. “Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não fareis segundo as obras da terra do Egito, … Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne para lhe descobrir a nudez. Eu sou o Senhor. Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe; … Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação. Nem te deitarás com animal, … nenhuma destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós” (Lev. 18).
Esses dois capítulos de Levítico oferecem um paralelo mais forte com Atos 15 que a aliança de Noé (Gênesis 9), a qual proibia ingerir sangue, mas nada dizia sobre alimentos sacrificados a ídolos, animais sufocados ou imoralidade. O raciocínio apostólico é óbvio: as leis de Levítico 17 e 18 se referem explicitamente aos prosélitos gentios. A palavra ali traduzida como “estrangeiro” é o termo grego proselytos, usado na Septuaginta.
Longa vigência
Alguns expositores modernos argumentam que o decreto apostólico era somente provisional e temporário. Mas fontes documentais sugerem de outro modo. O Apocalipse faz alusão ao decreto: “Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição” (Apoc. 2:14). O verso 20 repete o assunto.
Ao citar por duas vezes a última estipulação do decreto apostólico, João realça sua ligação ao todo. Não há dúvida de que ele está implícito no texto, pois o verso 24 se refere novamente a ele – “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo” (cf. Atos 15:28). Evidentemente, alguns cristãos no fim do primeiro século não o consideravam importante. Porém, João o reputou como herético. A posição joanina prevaleceu na igreja do segundo século. O Didaquê, uma espécie de “manual” da igreja primitiva, escrito por volta de 100 a. D., estabelece: “Conservai-vos estritamente longe dos alimentos sacrificados a ídolos, pois isso envolve culto a deuses mortos” (6:3).
Segundo Justino Mártir, os cristãos “enfrentavam tortura, até o extremo da morte, a prestar culto ou comer alimentos sacrificados a ídolos”. Eusébio considerava heresia o ensinamento de que não havia mal na comida sacrificada a ídolos.
Na segunda metade do segundo século, os cristãos ainda eram proibidos de ingerir sangue de animais. Finalmente, os bispos da igreja cristã, em ação até a captura de Jerusalém por Adriano, por volta de 135 a. D., eram judeus e, certamente, reforçaram o decreto. Evidências sugerem que esse decreto ainda era considerado normativo até muito depois de o Novo Testamento ser completado.
O concílio e a Torá
É impossível manter que a liderança da igreja tencionava por à parte a Torá, quando a decisão tomada estava fundamentada nesses escritos. Deve ser lembrado que o decreto apostólico isentava da circuncisão apenas os crentes gentios. Isso está implícito não apenas em Atos 15, mas também num diálogo entre Tiago e Paulo, relatado em Atos 21:20-25. Eis o que Tiago disse a Paulo:
“Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei; e foram informados a teu respeito que ensinas todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei… Quanto aos gentios que creram, já lhes transmitimos decisões para que se abstenham das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas.”
Parece que Tiago e os anciãos censuravam Paulo por supostamente ensinar que os cristãos judeus já não estavam ligados à lei (21:21), em violação ao acordo de 15:19, que isentava apenas cristãos gentios (21:25). Isso explica o pedido dos anciãos a Paulo (21:23-27) para que apoiasse quatro irmãos judeus na observância de um voto, provavelmente o nazireado (Núm 6), como prova de que ele estava “guardando a lei”.
Não está claro se Paulo concordou com Tiago no sentido de que judeus crentes deveriam ser circuncidados. Em I Coríntios 7:19, ele escreve: “A circuncisão, em si, não é nada; a incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus.” E também não faz distinção entre conversos judeus e gentios.
Entretanto, o assunto deveria manifestar-se apenas no contexto de gentios conversos, embora seja improvável que Paulo tivesse impedido que os conversos judeus circuncidassem seus filhos. Seja como for, sua aquiescência aos anciãos (Atos 21:26) e a circuncisão de Timóteo (16:3) mostram sua submissão à liderança da igreja.
Posteriormente, ele certificou-se de estar cerimonialmente puro para entrar no templo (Atos 24:18); assim, ele mesmo observava parte dos rituais, tornando-se judeu para ganhar os judeus (I Cor. 9:20). Parece que também apoiou, em princípio, a proibição contra alimentos oferecidos a ídolos (I Cor. 10:14-21), embora criasse uma brecha onde a origem do alimento era incerta (10:25-28).
Diferenças irresolvidas
Ficará mais fácil compreender o debate do Novo Testamento sobre a lei, se admitirmos a possibilidade de que Paulo e os doze tinham diferenças de opinião sobre o assunto. Gálatas 2:12 parece sugerir que os oponentes de Paulo, em Atos 15:1 e 5, estavam alinhados, em alguma forma, com Tiago.
Porém, uma coisa é clara: os fundadores judeus do cristianismo consideravam-se não uma religião separada, mas uma seita judaica conhecida como “o Caminho” (Atos 9:2; 19:9 e 23; 22:4; 24:5, 14 e 22; 28:22).
Paulo via o cristianismo como cumprimento do judaísmo, e cristãos gentios como verdadeiros judeus: “Porque nós é que somos a circuncisão” (Filip. 3:3). “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rom. 2:28 e 29). “Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rom. 9:8). “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”; “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gál. 3:7 e 29).
No fim do primeiro século, João se recusou a permitir aos judeus étnicos o direito de reivindicar o título “judeu” (Apoc. 2:9; 3:9). A igreja chamava-se “Israel”; os apóstolos a viam como legítima continuação do povo da aliança. Acreditavam-se judeus autênticos. Não apenas descartaram as escrituras judaicas e começaram do nada, mas descartaram certas “ordenanças da carne, … impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Heb. 9:10).
É essencial lembrar que o cristianismo primitivo era derivado do Antigo Testamento. Evangelistas cristãos não pregaram textos cristãos antes da destruição de Jerusalém e, provavelmente, não até o segundo século. Sua mensagem estava baseada no cânon da comunidade de seus pais. O judaísmo, assim como a pregação adventista contemporânea, apela somente ao cânon cristão tradicional, ignorando qualquer escrito autoritativo posterior.
Os apóstolos ficariam assustados com a moderna noção evangélica de que nada no Antigo Testamento é vá- lido a não ser o que é repetido no Novo. Paulo cria que “toda Escritura [Antigo Testamento] é inspirada por | Deus e útil para o ensino” (II Tim. 3:16). “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Rom. 3:31).
Lucas lembra as palavras de Cristo: “E é mais fácil passar o céu e a Terra do que cair um til sequer da lei” (Luc. 16:17). E também relata o testemunho de Paulo na corte romana: “eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas” (Atos 24:14).
Se os apóstolos não descartaram a Torá, como poderiam colocar à parte a circuncisão para gentios? Devemos notar que o concerto de Deus com Abraão (Gên. 17:10-14) estabelece que a circuncisão deve ser aplicada apenas aos descendentes do patriarca e seus servos; não aos estrangeiros que vivessem entre eles. Êxodo 12:43-38 implica que o estrangeiro que vivesse entre os judeus normalmente não era circuncidado, a menos que desejasse participar da Páscoa.
Os Dez Mandamentos
Atos 15 não menciona o Decálogo. imoralidade ou fornicação (porneia). A ordem apostólica de abstenção da refere-se a Levítico 18; não ao sétimo mandamento que proíbe o adultério (moicheia). Esses dois termos são usados na literatura greco-judaica, sendo porneia raramente aplicado ao sétimo mandamento.
Acaso, a falta de menção dos dez mandamentos em Atos 15 implicaria sua caducidade para os cristãos? Teria o concilio apostólico facilitado a adoração de outros deuses, uso do nome de Deus em vão, desconsideração pelo sábado, assassínio, roubo, adultério, falso testemunho, etc.? Seria um crasso absurdo. Os participantes daquele concilio tinham como pressuposto a validade dos princípios do Decálogo, o que explica as referências feitas a ele no Novo Testamento, desde as palavras de Deus: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mat. 19:17), à descrição dos santos como aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apoc. 14:12).
É bom lembrarmos que o líder do Concilio de Jerusalém, em Atos 15, foi Tiago, irmão de Jesus, que tinha a mais alta consideração pela lei. Isso está claro não apenas em seu diálogo com Paulo (Atos 21), mas também cm sua epístola, onde ele chama o Decálogo de “lei perfeita”, “lei da liberdade” (Tia. 1:15; 2:8-12; 4:2, 4 e 11; 5:12). Tiago, o Justo, cuja tradição cristã lembra como um pio tradicionalista, vegetariano e abstêmio, jamais teria apoiado qualquer movimento para minar a autoridade do Decálogo.
0 sábado
Como vimos, alguns judeus criam que um prosélito poderia adorar a Deus sem ser circuncidado. Rejeitar a circuncisão não implicava necessariamente total rejeição da lei. Mesmo a rejeição da legislação mosaica não implica rejeição dos princípios básicos de adoração e regras de comportamento encerrados nos dez mandamentos. Como princípios universais desde a Criação, esses preceitos são aplicáveis a todas as pessoas.
Gênesis 26:5 diz, sobre Abraão: “guardou os Meus mandados, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis.” Que o sábado era um desses preceitos claro em Gênesis 2:3; Êxodo 20:11; 16:23-30. Particularmente interessante é o texto de Êxodo 16:28 e 29, onde Deus disse, antes de dar a lei no Sinai: “Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Considerai que o Senhor vos deu o sábado.”
Os judeus contemporâneos de Jesus observavam o sábado como uma ordenança que veio da criação. O movimento de Cristo tinha os princípios do Gênesis em alta estima. Podemos dizer que Sua teologia tendia ao restauracionismo (volta ao Éden), dentro do qual o material do Gênesis tem autoridade inspirada, que sobrepuja a autoridade mosaica em suas legislações. Por exemplo, em Marcos 10:2-12, Jesus inferioriza uma lei mosaica permitindo o divórcio, mencionando a prioridade que foi dada ao casamento na criação. Em Mateus 22:23-32, novamente Ele supera uma lei de Moisés, citando uma tradição patriarcal antiga do Gênesis (cf. João 7:22). Outro exemplo: Jesus defende o quinto mandamento contra uma legislação judaica que o anulava, em Marcos 7:8-13. que vieram desde a criação, acima da legislação mosaica, é improvável que Seus seguidores virassem as costas ao sábado. Nem havia qualquer razão para fazê-lo. Decretos expedidos por imperadores romanos sempre permitiam que os judeus celebrassem o sábado em paz. Na verdade, esse dia se tornara uma realidade aceita, pelo menos em partes do mundo romano. Escreveu Josefo: “as massas têm, há muito, demonstrado um intenso desejo de adotar nossas ordenanças religiosas; e não há uma cidade, grega ou bárbara, nem uma única nação, na qual nosso costume de abster-nos de trabalhar no sétimo dia não tenha sido observado”.
Por volta de 200 a. D., Tertuliano reprovou os pagãos por adotarem o costume judaico de repousar no sábado: “Vocês têm escolhido um dia, de preferência a outros, como aquele no qual não tomam banho ou o adiam até a noite, e no qual dedicam-se ao descanso e se abstêm de festas. Com isso, estão voltando-se de sua própria religião para uma religião estrangeira, pois o sábado e ceia especial são cerimônias judaicas.”
Desde que o sábado foi vastamente aceito entre os romanos como dia de repouso, é mais que seguro dizer que sua observância não era problema na igreja primitiva. Depois do Concilio de Jerusalém, Paulo ainda continuou a adorar no sábado (Atos 17:1 e 2; 18:4), mesmo onde não havia sinagoga (Atos 16:13). Não é mais razoável assumir que o concilio apostólico aboliu o sábado do que assumir que também aboliu o casamento. Porém, as ordenanças da criação, anteriores a Moisés, simplesmente não estavam em discussão. Qualquer decisão de mudar o dia de repouso deveria ter gerado tanta controvérsia, que faria o debate sobre a circuncisão parecer uma tempestade num copo d’água. Basta compararmos o grau de atenção dado aos dois mandamentos no Antigo Tes-tamento. Contudo, não temos relatório de tal controvérsia.
Sábado e gentios
O concilio mencionado em Atos 15 concluiu que a lei de válida para os gentios, embora o fossem aquelas leis pertinentes aos “estrangeiros entre os judeus”. Essa realidade nos dá outro argumento para a permanente relevância do sábado nas comunidades do Novo Testamento. O sábado de Êxodo 20:10 é o único dos dez mandamentos que explicitamente se refere a judeus e gentios: “o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, … nem o forasteiro das tuas portas para dentro”.
Tanto na língua hebraica (ger) como na grega (proselytos) a palavra para “forasteiro” aqui é a mesma de Levítico 17 e 18. Na Septuaginta – a versão autorizada do Antigo Testamento para cristãos de fala grega – o quarto mandamento requer que prosélitos gentios vivendo na comunidade observem o sábado. Êxodo 23:12 e Isaías 56:6 e 7 são outras passagens que mencionam o requerimento do sábado para os gentios.
A igreja cristã colocou à parte uma classe de leis que eram válidas para estrangeiros. A lei de Moisés requeria que o estrangeiro participasse nos sacrifícios rituais (Núm. 15:27-29; 19:10) e as festividades anuais que estavam intimamente ligadas a eles (Lev. 16:29; Deut. 16:11 e 14). Porém, os cristãos primitivos, junto com outros movimentos de reforma dentro do judaísmo, sustentavam que os serviços sacrificiais judaicos já não eram aceitáveis a Deus.
Hebreus 10:8 e 9 estabelece que Deus deixou de lado “sacrifícios e ofertas” e “holocaustos e oblações pelo pecado”. A morte de Jesus, o Cordeiro de Deus, tornou obsoletos os sacrifícios, mas não o sábado. Em suma, no mundo do Novo Testamento, o sábado era visto por alguns como uma ordenança desde a criação. Tornou-se bem conhecido e foi amplamente observado como um hábito prevalecente. Portanto, como fez com o casamento e o assassinato, o concilio apostólico de Atos 15 não se referiu a ele.
Além disso, o concilio manteve que as partes da Torá, aplicadas aos prosélitos, com exceção do serviço sacrifical, eram aplicáveis aos gentios cristãos, como é o caso explícito do quarto mandamento. Sem sombra de dúvida, os apóstolos e os gentios converti- dos continuaram a guardar o sábado após o concilio de Atos 15.
Tim Crosby, pastor em Bponsboro, Maryland. Estados Unidos