A unção do Espírito é a suprema bênção. O pregador não deve se contentar com nada menos que isso

A capacitação do Espírito Santo é indispensável à pregação cristã. Os pregadores podem ser capazes de apresentar a letra da Palavra de Deus e prender a atenção dos ouvintes com histórias interessantes e utilização dos modernos recursos da informática. Mas, a semeadura do evangelho não terá êxito sem o vivificante poder do Espírito Santo.1

Eruditos da pregação têm descrito essa capacitação como “a sagrada unção”,2 “unção divina”3 e “aprovação de Deus”.4 Em anos recentes, esse assunto tem recebido significativa atenção na literatura homilética. Arturo G. Azurdia III, por exemplo, escreve que “o poder do Espírito Santo é a condição sine qua non da pregação do evangelho, a única coisa sem a qual nada mais importa”.5

Ele afirma: “Alguns podem ficar surpresos ao descobrirem que, quando o Espírito de Deus unge a pregação da Palavra, um dos indicadores comuns é um apurado senso de quietude; não gritaria e êxtase, mas um silêncio fora do comum. A tosse e o pigarreio cessam. O incessante movimento de pessoas é superado por solene calmaria. E, subitamente, embora as feições do pregador e o timbre de sua voz sejam particularmente seus, as palavras que saem de sua boca parecem ter sido enviadas pelo Céu.”6

Que deveria o pregador fazer, para experimentar a sagrada unção? Nesse sentido, sugiro sete hábitos baseados na Escritura e no testemunho de pregadores experientes. Entretanto, é vital lembrar que esses hábitos são uma expressão do nosso desejo de cooperar com o Espírito de Deus, na concessão que Ele nos faz de guia e capacitação. Não são armas com as quais devamos tentar monopolizá-Lo em prol de nossos objetivos pessoais.

1. Priorize a oração e a pregação

Esse hábito reflete a prática dos apóstolos na igreja primitiva: “E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra” (Atos 6:4). Em vez de entregar-se à pressão dos ministérios sociais, que também consideravam importantes (Atos 6:3), eles estabeleceram como prioridades orar e ministrar a Palavra. Como resultado, “crescia a Palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6:7).

Essas prioridades apostólicas devem ser também as nossas. “Se você é pastor”, declara David Eby, “suas prioridades, seu chamado e seu foco estão determinados. Não existe ‘se’, ‘mas’ nem ‘talvez’. Oração e pregação constituem os primeiros itens de sua agenda.”7 Assim, vamos orar todos os dias, apaixonadamente, fervorosamente e com determinação. Façamos da oração a “força proeminente que impregna e dá colorido ao preparo e à apresentação da mensagem”.8 Trabalhemos diligentemente no sermão, durante toda a semana, interpretando fielmente, aplicando e ilustrando o texto.

2. Vigie-se ininterruptamente

Em sua mensagem de despedida aos anciãos de Éfeso, Paulo os advertiu: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue” (Atos 20:28).

Richard Baxter, famoso pastor puritano na Inglaterra, no século 17, comentou esse texto, escrevendo a pregadores: “Cuidem para que a obra da graça salvadora esteja inteiramente acabada em sua própria alma. Tenham cuidado de si mesmos, para que não fiquem vazios da graça que oferecem a outros, nem sejam estranhos à efetiva operação do evangelho que pregam. Não aconteça que, enquanto proclamam ao mundo a necessidade de um Salvador, vocês O negligenciem, desinteressando-se por Ele, e percam Sua bênção salvadora.” 9

Essas palavras devem ser memorizadas por todo pregador. Como alguém pode esperar ser ungido pelo Espírito no púlpito, sem uma entrega diária a Seu poder transformador? Portanto, “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (I Tim. 4:16).

3. Exalte Cristo e este crucificado

A pregação apostólica estava permeada com a pessoa e obra de Jesus Cristo (Atos 5:42; 8:5 e 35; 9:20; 11:20; 17:2). O foco central de Paulo era Cristo: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (I Cor. 2:1 e 2).

Enquanto nos envolvemos no preparo de sermões, mantenhamos na mente a “verdade mais central … ao pesquisarmos as Escrituras – Cristo e Ele crucificado”. Ellen G. White lembra os pregadores no sentido de que “todas as outras verdades são revestidas de influência e poder correspondentes à sua relação com esse tema”.10 Exaltemos Jesus em nossos sermões, não permitindo que nada mais O supere. confiança própria. Pondo de lado sua habilidade retórica e descartando suas inclinações filosóficas, Paulo transmitia suas mensagens à igreja de Corinto com exclusiva confiança no poder do Espírito Santo para transformar vidas. Sua pregação, “não era uma exposição de palavras sedutoras ou de sabedoria humana”, diz H. M. S. Richard, “mas ‘uma demonstração’, evidência e prova, ‘do Espírito e de poder’.”11 Paulo humilhava-se a si mesmo e colocava sua confiança no poder de Deus, em vez de na sabedoria humana.

A força da pregação não reside em falar alto, gesticulação, eloquente sermonização, argumentos brilhantemente entrelaçados; mas na “demonstração do Espírito e de poder”. E essa experiência começa no estudo, quando nos humilhamos e nos rendemos ao poder do Espírito.

“Nossa grande força está em compreender e sentir nossa fraqueza.”12

5. Pregue para si mesmo

Richard Baxter era defensor da idéia de os pregadores pregarem para si. “Primeiramente, preguem para si mesmos”, ele admoestou, “antes de pregar para o povo, e com maior zelo.”13

Baxter argumenta que todo cristão deve pleitear com seu próprio coração, “utilizando a linguagem mais comovente e afetuosa, persuadindo-o com os mais poderosos e convincentes argumentos”. Esse solilóquio, ou “pregação para o próprio ser”,14 como ele descreve, tem uma aplicação poderosa para os pregadores contemporâneos. Necessitamos tomar nossos sermões e, zelosa e apaixonadamente, pregá-los para nós mesmos, atentando para nossas admoestações e permitindo que o Espírito opere em nosso coração, antes de levar a mensagem às pessoas.

6. Ore por capacitação

“Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem” (Luc. 11:13). Essa promessa é aplicável a todos os cristãos e, de modo especial, aos pregadores. Portanto, acheguemo-nos a Deus e supliquemos-Lhe diariamente que cumpra em nós Sua promessa. Jamais deixemos de pedir; jamais nos cansemos de reivindicar a eficácia do Seu poder para nossos sermões.

Martin Lloyd-Jones aconselha: “Busque-O! Busque-O! Que podemos fazer sem Ele? Busque-O sempre! Mais que isso, insista! … Esta unção é a suprema bênção. Busque-a, até obtê-la. Não se contente com nada menos.”15

7. Certifique-se da presença do Espírito

Para se chegar ao púlpito do Tabernáculo Metropolitano, onde Charles H. Spurgeon pregou durante os anos 1800, era preciso subir quinze degraus que formavam uma extensa curva. Conta-se que quando ele subia cada um daqueles degraus, em direção ao púlpito, fazia-o repetindo para si mesmo: “Eu creio no Espírito Santo”

Sugiro que, durante o preparo do sermão e ao nos aproximarmos do púlpito para entregá-lo ao povo, façamos silenciosamente esta oração: “Eu creio no Espírito Santo e suplico Sua unção sobre mim, enquanto apresento a mensagem.” Então, preguemos apaixonadamente, na confiança de que Deus nos ouvirá e atenderá. Ao finalizarmos o sermão, agradeçamos a Deus pela graciosa presença do Seu Espírito e deixemos os resultados em Suas mãos.

Jud Lake, professor de Homilética e Teologia Pastoral na Universidade Adventista do Sudeste, Estados Unidos

Referências:

1 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, págs. 284-289.

2 Tony Sargent, The Sacred Anointing: The Prea-ching of Dr. Martin Lloyd-Jones (Wheaton, III: Crossway Books, 1994).

3 E. M. Bounds, Power Through Prayer (Chicago: Moody Press, 1979), pág. 101.

4 D. Martin Lloyd-Jones, em Tony Sargent, Revival, (Wheaton, III: Crossway Books, 1987), pág. 295.

5 Arturo G. Azurdia III, Spirit Empowered Preaching: Involving the Holy Spirit in Your Ministry (Ross-shire, Inglaterra: Mentor, 1998), pág. 100.

Ibidem, págs. 111 e 112.

7 David Eby, Power Preaching for Church Growth: The Role of Preaching in Growing Churches (Ross-shire, Inglaterra: Mentor, 1998), pág. 29.

8 E. M. Bounds, Op. Cit., pág. 41.

9 Richard Baxter, The Reformed Pastor (Carlisle, Penn: Banner of Truth Trust, 1994), pág. 56.

10 SDABC, vol. 6, pág. 1084.

11 H. M. S. Richards, Fed My Sheep (Review and Herald Publishing Association, 1958), pág. 169.

12 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, pág. 70.

13 Richard Baxter, The Practical Works of Richard Baxter (Ligonier, Penn: 1990), vol. 4, pág. 974.

14 ______________, The Practical Works, vol. 3, pág. 316.

15 Martin Lloyd-Jones, Op. Cit., pág. 325.

A força da pregação reside na demonstração do Espírito e de poder