O trabalho pastoral consiste em alimentar e aumentar o rebanho do Senhor

Certo índio, fiel adventista, morava na cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Ao saber que o pastor que o batizara estava muito enfermo, foi à cidade de Campo Grande, para visitá-lo. Ao chegar à recepção do hospital, soube que as visitas estavam proibidas, devido ao delicado estado de saúde do paciente. Ele, porém, não desistiu e solicitou à enfermeira que falasse com o médico de plantão. “Apenas dois minutos”, propôs o médico. Já no quarto, o índio olhou demoradamente para o pastor e perguntou-lhe:

– O senhor se lembra de mim?

– Sim, me lembro; eu o batizei lá em Ponta Porã.

– Pois é, pastor, vim aqui para agradecer tudo o que o senhor fez por mim. A enfermeira falou que não posso ficar muito tempo aqui no quarto. Mas, antes de ir embora, gostaria que o senhor soubesse que sua influência foi muito importante em minha vida.

O pastor, com a voz extremamente fraca, orou pelo índio, que chorava copiosamente. Terminada a prece, o visitante disse: “Pastor, se eu não puder ver o senhor outra vez neste mundo, quero vê-lo no Céu.”

Esse diálogo, poucos dias antes do falecimento daquele servo de Deus, foi a coroação de uma vida dedicada ao ministério da pregação. Poderia haver algo mais gratificante?

Conhecimento mútuo

A credibilidade de todo pastor bem-sucedido estriba-se em dois fundamentos: conhecer as ovelhas e fazer-se conhecido entre o rebanho. Jesus, nosso modelo, afirmou: “Eu sou o bom pastor; conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem a Mim.” (João 10:11).

A familiaridade com os membros da igreja consiste em saber a origem, o temperamento, a situação de trabalho, as necessidades espirituais e os problemas que cada um deles enfrenta em seu dia-a-dia. Isso requer contato pessoal, senso de observação e muita empatia. Além disso, todo pastor deve ter percepção para detectar as reações de cada membro em relação com as atividades da igreja. Com o tempo, ele verá que há três grupos de pessoas à sua volta: grupo hostil, que ativa ou passivamente se opõe a seus esforços no sentido de atingir determinadas metas; grupo vagaroso, cuja motivação é insuficiente para cooperar na realização da meta comum; e grupo entusiástico, que apóia seu interesse em alcançar as metas propostas.

A percepção da realidade de cada membro é importante, mas não suficiente. É necessário que o pastor conquiste os oponentes e os vagarosos para o time dos entusiásticos. O presidente Truman costumava dizer: “Líder é a pessoa que tem a habilidade de fazer com que os outros façam o que não queriam fazer, e gostem de fazê-lo.” É fundamental que o líder tenha sonhos que motivem os membros. O líder que não conhece seus liderados tem dificuldade para levar seus projetos avante. Pode até fazer bons planos, mas não consegue concretizá-los. Liderar não é apenas pintar o barco, mas fazê-lo navegar. Daí a necessidade de fazer com que as pessoas se movam. Li Hung Chang, velho líder chinês, disse que há três tipos de pessoas no mundo: “as que não se mexem, as que são movíveis, e as que movem os outros.”1

Se, por um lado, o pastor procura conhecer os membros a fim de motivá-los ao trabalho e ao crescimento espiritual, deve, por outro, dar-se a conhecer. Como? Dando bom exemplo; sendo transparente, humilde e Serviçal; demonstrando profundo interesse pelas pessoas; sendo um homem de oração; trabalhando abnegadamente, movido pelo amor (João 10:1-15).

A missão do pastor tem duas vertentes básicas: apascentar o rebanho e aumentá-lo.

Apascentando o rebanho

O grande pregador e missiólogo John Stott sugere cinco papéis que todo pastor precisa desempenhar para alimentar o rebanho do Senhor: despenseiro, arauto, testemunha, pai e servo.2

Despenseiro. Segundo Stott, “despenseiro é o empregado de confiança que zela pela correta utilização dos bens de outra pessoa”.3 O apóstolo Paulo se considerava um despenseiro de Deus (I Cor. 4:1 e 2). Administrava os mistérios do evangelho não como uma coisa obscura, mas como uma verdade revelada. Além disso, tinha pro-fundo senso de responsabilidade: não podia falhar. Essa fidelidade estribava-se em quatro aspectos vitais: 1) Fonte de incentivo – o pregador não pode falhar; 2) Conteúdo da mensagem – mensagem completa, sem adição, nem subtração (11 Tim. 1:14); 3) Natureza da autoridade do pregador – autoridade vinda de Deus; 4) Necessidade da disciplina pessoal do pregador – o despenseiro fiel procura estar a par de todo o conteúdo da despensa.

Arauto. Como pregador, Paulo era um arauto. “Para isto fui designado pregador” (I Tim. 2:7). É interessante ver o contraste entre o despenseiro e o arauto: o despenseiro alimenta a família de Deus; o arauto proclama as boas novas do evangelho a todo o mundo. Mas ambos alimentam.

Testemunha. O pregador, como testemunha, fala mediante a influência de seu exemplo. Tem experiência pessoal com Jesus. O pastor não pode falar como alguém que “ouviu dizer”, mas precisa ter a capacidade de falar sobre o que Jesus fez e está fazendo em sua vida.

Pai. O relacionamento do pastor com a igreja baseia-se no afeto. A igreja é sua família. Notemos como Paulo considerava o rebanho: “filhos meus amados” (I Cor. 4:14); “meus filhos” (Gál. 4:19). O pastor, encarnando a figura do pai, é compreensivo – “ele nos entende”; é gentil – “nos tornamos carinhosos entre vós” (I Tes. 2:7). Há, porém, uma séria advertência para os pastores que não vivem a figura do pai: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do Meu pasto! – diz o Senhor” (Jer. 23:1).

Para ser pai, o pastor deve ser simples. Além dessas qualidades, o pai se interessa pelos filhos. No Expositor’s Greek Testament, sobre II João 2, há o seguinte relato: “O Dr. Dale, de Birmingham, tinha preconceitos contra o evangelista Moody. Mas, após ouvi-lo, sua opinião foi alterada. Ele passou a encará-lo com grande respeito, considerando que ele tinha o direito de pregar o evangelho, ‘pois era incapaz de falar de uma alma perdida sem lágrimas nos olhos’.”

Não nos esqueçamos, porém, de que todo pai responsável delega funções aos filhos mais velhos para ajudar os mais novos ou mais fracos. Assim, o pastor alimenta o rebanho por meio da participação de ovelhas mais experientes: os oficiais da igreja em todos os níveis.

Servo. Em I Coríntios 3:5, lemos: “Quem é Apoio? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um.” A vida de um pastor humilde e Serviçal desautoriza o culto de personalidades humanas. O mesmo apóstolo adverte: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (I Cor. 1:31). Na sacristia da igreja de Mary-at-Quay Ipswich, lê-se o seguinte:

Quando eu estiver proclamando

Tua graciosa salvação,

Oh vem dominar todo o meu coração;

quando todos estiverem maravilhados Com a palavra de Jesus,

Esconde-me, então, atrás de Tua cruz.

É fácil ser um pastor bem-sucedido? Não. David Fischer afirma: “Ser pastor nos dias atuais é mais difícil do que em qualquer outra época de que se tem lembrança.”4 Ele diz que muitos de seus colegas na América estão abandonando o ministério. E pergunta: “Por que tantos de nós começamos tão esperançosos e sonhadores e acabamos exaustos e desanimados?” E então cita a opinião do psiquiatra Louis McBurney: “A falta de auto-estima é o problema número um que os pastores enfrentam.”5 Se a cultura norte-americana não valoriza o ministério pastoral, algo está errado.

Aumentando o rebanho

Se apascentar o rebanho é uma tarefa solene, aumentá-lo é um dever da mais alta significação. Jesus foi bem claro: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações…, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mat. 28:19). “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me convém conduzi-las” (João 10:6).

Num artigo publicado na revista O Ministério Adventista, o Pastor Aeschlimann pergunta: “Qual é a genuína missão do pastor? Nem mais nem menos que pôr a igreja a trabalhar, atribuindo uma tarefa a cada membro, segundo os seus dons.”6

Iniciativas e atitudes que podem ajudar a expandir o rebanho:

Ter alvos e metas bem definidos, com a participação dos membros. Como líder, o pastor ensina e inspira os membros a construir o barco e fazê-lo navegar.

Treinar a igreja para o serviço. A maioria dos pastores se preocupa com a tarefa de batizar, mas se esquece da missão de fazer discípulos. “O Mestre por excelência escolheu homens humildes, iletrados, para proclamarem as verdades que deviam abalar o mundo. Ele Se propôs preparar e educar esses homens… . Eles, por sua vez, deviam educar outros e enviá-los com a mensagem evangélica.”7

“Toda igreja deve ser uma escola missionária para obreiros cristãos.”8

“É intento de Cristo que Seus ministros sejam educadores da igreja na obra evangélica. Cumpre-lhes ensinar o povo a buscar e salvar os perdidos.”9

Transformar cada membro em discípulo, levando-o a:

Aceitar o chamado de Jesus e seguir Seu exemplo (Luc. 5:27 e 28).

Negar-se a si mesmo e carregar a sua cruz (Mat. 16:24).

Renunciar tudo por Cristo (Luc. 14:33).

Manter íntima comunhão com o Mestre (João 15:4 e 5).

Permanecer fiel à Palavra de Deus (João 8:31).

Estar pronto para testemunhar por Cristo (Rom. 1:15).

Nutrir amor pelo semelhante (João 13:35).

Sentir paixão pela conquista de almas (I Cor. 9:16).

Produzir frutos (João 15:8).

Estar disposto a fazer novos discípulos (II Tim. 2:2).

Deus precisa de homens com mais sabedoria e menos erudição, para o êxito da missão da Igreja. Sabedoria, neste caso, é o jeito certo de fazer as coisas sob a direção do Espírito Santo. Tal obra requer líderes espirituais, cuja qualificação é bem definida por Sanders: “A liderança espiritual só pode ser exercida por homens cheios do Espírito Santo.”10

Além de poder, o Espírito Santo propicia a todo pastor sincero e humilde uma visão otimista do ministério evangélico. Como disse Powhatan James, “o homem de Deus é capaz de ver as montanhas cheias de cavalos e carruagens de fogo”.                   

Referências:

  • 1 Citado por J. Oswald Sanders, Liderança Espiritual (Editora Mundo Cristão: São Paulo, SP, 1985), pág. 20.
  • 2 John Sttot, O Perfil do Pregador (Editora Sepal: São Paulo, SP, 1991), págs. 11-13.
  • 3 Ibidem, pág. 20.
  • 4 David Fisher, O Pastor do Século 21 (Editora Vida: São Paulo, SP, 1999), pág. 5.
  • 5 Ibidem, pág. 7.
  • 6 Carlos E. Aeschlimann, “Morte e ressurreição de um pastor”, O Ministério Adventista (Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, SP, julho-agosto, 1986).
  • 7 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, SP, 1994), pág. 17.
  • 8 ______________, Serviço Cristão (Casa Publicadora Brasileira: Santo André, 1981), pág. 59.
  • 9 ____________, O Desejado de Todas as Nações (Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, SP, 1995), pág. 825.
  • 10 J. Oswald Sanders, Op. Cit., pág. 69.