Deus tem um propósito para cada um de nós. Somos pastores de sucesso quando cumprimos esse propósito

Qual é a nossa concepção de sucesso pastoral? Geralmente avaliamos o sucesso de um pastor pelos mesmos padrões usados no âmbito secular. Aí o sucesso é medido em termos de produção mais alta, operações mais amplas, lucros maiores, organizações mais imponentes e aumento de pessoal. Maiores, melhores e mais altas posições são contadas como marcas de uma pessoa de êxito.

Após 25 anos servindo a Igreja como pastor, posso identificar uma filosofia similar, segundo a qual tendemos, quase inconscientemente, a definir o sucesso no pastorado. Tal filosofia tem encorajado muitos de nós a crer que aumento de produção (mais batismos), maiores operações (mais edifícios e modernas instalações), mais instituições e mais extenso número de pessoal, ou tornar-se alguém um executivo, são critérios para definimos o sucesso pastoral.

Alguns encontros pastorais nos oferecem definições de êxito, e como ele pode ser alcançado. E voltamos para casa sentindo-nos quase esmagados e até um pouco derrotados, às vezes. Afinal, foi demonstrado o que é sucesso. Se, depois de alguns anos, minha igreja não consegue ser uma superigreja, com muitos membros, então, eu devo ter alguma parcela de culpa. E sofro, pensando: “Não sou tão íntimo de Deus. Deve haver algo errado entre mim e Ele ou simplesmente algo errado comigo e ponto final.”

Outra visão

O livro de Atos mostra que certos indivíduos foram escolhidos para ser usados de modo mais expressivo do que outros. Pedro e João são mencionados com freqüência, mas outros discípulos não o são. Porém, estou certo de que eles serviram ao Senhor fielmente, tanto quanto os apóstolos mais famosos.

O fato de alguns discípulos não serem mencionados como usados por Deus de modo deslumbrante não significa que eles tiveram menos êxito no que realizaram, ou dentro da esfera para a qual Deus os chamou. Dentro do Seu plano, Deus tinha um propósito para cada discípulo, tendo em vista o avanço do evangelho. E à medida que eles cumpriam esse plano, ministravam com êxito para o Senhor.

Aparentemente, Pedro, João e Paulo faziam mais do que os outros discípulos. Pedro viu três mil pessoas aceitando a Cristo como resultado do seu sermão. Não lemos a respeito de Tiago sendo protagonista de tal façanha. Contudo, lemos a seu respeito mediando uma reunião muitíssimo importante para tratar de uma questão que poderia ter dividido a igreja (Atos 15).

Quando consideramos o trabalho de Paulo, parece que ele levou mais pessoas a Cristo do que qualquer outro apóstolo. Ele pregou o evangelho para todo o mundo conhecido de então, fundou igrejas em muitos países. Quer isso dizer que ele tinha mais sucesso do que os outros? Não. Ele apenas cumpriu o ministério para o qual Deus o chamou. Assim foi com os sete diáconos. Filipe foi chamado para ser um evangelista (Atos 8). Estevão tomou-se um maravilhoso expositor da Palavra. Deus realizou “prodígios e grandes sinais entre o povo”, através dele (Atos 6:8). Não lemos de tão maravilhoso trabalho sendo feito pelos outros cinco diáconos.

Significa isso que Estevão e Filipe tinham mais sucesso do que os demais? Não podemos chegar a essa conclusão. Cada diácono foi chamado para um ministério específico, e, enquanto cumpriam o propósito para o qual Deus os chamou, tinham sucesso.

O corpo

Em I Coríntios 12, Paulo usa a analogia do corpo humano para descrever as várias funções dos membros da igreja. Cada parte do corpo humano tem uma função. Algumas funcionam de modo mais visível que outras. Alguns membros são considerados menos importantes do que outros. Mas o fato é que cada membro e órgão têm uma função quer seja visto ou não; seja ele considerado importante ou não. Quando observamos o corpo humano, é fácil avaliar a função de uma parte específica e determinar se ela está funcionando a contento.

No corpo espiritual de Cristo (a igreja), é mais difícil fazer tal avaliação, pois isso depende do nosso critério de sucesso. Suponhamos que, para nós, sucesso significa que um pastor batiza 200 pessoas cada ano, faz a igreja crescer 100%, os dízimos aumentarem 100% e surgir uma nova congregação cada três anos. Mas se nada disso acontecer, o pastor será tido como fracassado aos nossos olhos, e provavelmente aos olhos dele também.

O que dizer então se Deus não chama cada pastor para cumprir exatamente o mesmo tipo de ministério de outro pastor? O que dizer se Ele chama uns para serem Pedro; outro, João; outro, Tiago; outro, Paulo; e outro um Bartolomeu? A questão é clara. Creio que Deus dá a cada um de nós uma missão específica. E o Novo Testamento ilustra isso, através dos ministérios exercidos pelos vários indivíduos mencionados. À medida que o pastor busca conhecer o chamado de Deus para ele, o tempo e as circunstâncias o ajudam a saber qual é a sua missão específica. Os resultados variam. O mais importante é que o pastor conserve suas mãos na mão de Deus, busque ser cheio do Espírito Santo, submisso à direção do Espírito, fazendo o seu melhor para servir a Deus fielmente em qualquer lugar.

Ilustração de sucesso

Em seu livro, They Found the Secret [Eles Encontraram o Segredo], págs. 26-30, V. Raymond Edman apresenta um breve esboço da vida de homens e mulheres dos dois últimos séculos, e sua experiência de busca pela missão de Deus para a vida deles. Um homem, Samuel Logan Brengle, ilustra claramente a premissa deste artigo. Ele aceitou a Cristo, durante a juventude, e se tomou um pregador itinerante na Associação Metodista Indiana do Noroeste, nos Estados Unidos. Depois de dois anos, ele freqüentou um seminário em Boston.

“A ambição de Brengle era ser um grande pregador; e ele buscou o poder do Espírito Santo para isso. Raciocinou que um grande pregador deveria fazer mais para a glória de Deus que um medíocre.

“Finalmente, em desespero de alma, ele orou: ‘Senhor, quero ser um pregador eloqüente, mas se eu puder melhor glorificar-Te pela gagueira, do que pela eloqüência, então torna-me um gago.” À medida que Brengle buscava uma experiência mais íntima com Deus, compreendia mais plenamente a graça de Cristo. Sob a direção divina, ele experimentou o derramamento do Espírito Santo em sua vida.

Mas a euforia inicial daquela experiência passou. E Brengle escreveu: “Deus retirou alguma coisa dos meus sentimentos emocionais. Ele me ensinou que eu tinha de viver pela fé e não pelas emoções. … Mostrou-me que eu deveria aprender a confiar nEle, em Seu infalível amor e dedicação, independentemente do que eu sinta.”

Edman descreve a experiência de Brengle: “E o que resultou da continuação dessa experiência de plenitude do Espírito de Deus? A pregação de Brengle mudou perceptivelmente. Antes, ele pregava para apreciação humana; agora, o fazia unicamente para a exaltação do Salvador. Pregava para incomodar, não para agradar. A reação dos ouvintes era a convicção do pecado em lugar de elogios ao pregador.”

Deus conduziu Brengle numa direção absolutamente diferente no ministério: “A libertação do orgulho e ambição por promoção eclesiástica o levou a um desconhecido caminho de serviço. Da expressividade e segurança do metodismo ele foi chamado à obscuridade do Exército da Salvação quando essa organização era desconhecida e pouco considerada.” Aos olhos humanos, tal mudança poderia ser considerada uma “queda” de status.

Tendo subjugado o orgulho de Brengle, Deus o levou a realizar tarefas em lugares nada comparáveis ao que poderia ter feito se tivesse permanecido em lugares convencionais. Deus abençoou muito o ministério de Brengle no Exército da Salvação. Alguém pode concluir que seu pastorado foi um fracasso, comparado a alguns dos seus colegas que foram pastores de grandes congregações e foram promovidos a funções administrativas em suas respectivas denominações. Mas, à vista de Deus, Brengle foi um sucesso. Ele cumpriu o propósito para o qual Deus o chamou.

O ministério hoje

Sim, Deus chamou alguns a desempenhar o que geralmente consideramos um “ministério de êxito”. Por outro lado, também chamou outros para desenvolver um “ministério menos exitoso”, segundo a perspectiva humana. Se isso é verdade, então pastores de “muito êxito” e pastores que conseguem “menos sucesso” podem ser “igualmente destacados”, de acordo com os critérios de Deus. Mas nada disso justifica a inércia. Acredito que o critério de sucesso no âmbito pessoal é simples. Devemos manter uma vida significativa de estudo e oração, renovação diária de nosso compromisso com Cristo. Devemos buscar o batismo do Espírito Santo todos os dias, com disposição para nos submeter, inteiramente, à Sua direção.

Nosso alvo deve ser buscar uma experiência como a de Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim” (Gál. 2:19 e 20). Então, independente do julgamento humano, seremos um sucesso, segundo os padrões de Deus. Desejaremos cumprir a missão que Ele nos confiou.

Dennis Smith, Pastor na Associação Nova Inglaterra do Sul, Estados Unidos