“Bem -aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas… ”

Para alguns eruditos, o livro do Apocalipse é o mais difícil de ser interpretado no Novo Testamento. Porém, há pelo menos três chaves que nos ajudam a compreender as dificuldades desse livro. Como ponto de partida, devemos lembrar que, ao descrever suas visões, João usou um estilo hebraico do grego, porque ele pensava em hebraico. Meticulosa análise sintática do grego utilizado pelo apóstolo mostra que ele usou o texto hebraico do Antigo Testamento como fonte original. Isso nos obriga a buscar o significado teológico das referências feitas ao Antigo Testamento e sua história da salvação.

Sendo cristão hebreu, João adotou a linguagem e o estilo de expressão do concerto de Israel, algo que era familiar aos cristãos judeus habituados com Moisés, os salmos e os profetas. O Apocalipse alude à história do concerto israelita mais de 600 vezes, e isso aponta a primeira chave para a compreensão do livro: As visões simbólicas de João têm suas raízes e significado na Bíblia hebraica. Portanto, ter conhecimento do Antigo Testamento é essencial para captarmos o significado da linguagem profética no Apocalipse.

“O Antigo Testamento em geral desempenha tão grande papel, que uma compreensão apropriada do seu uso é necessária, a fim de termos uma visão adequada do Apocalipse como um todo.”1

Uso criativo do Antigo Testamento

Não necessitamos impor algum método filosófico de interpretação ao Apocalipse, como literalismo ou alegorismo. Porém, precisamos fazer perguntas cujas respostas nos informem o método pelo qual João une a Palavra de Deus nas Escrituras hebraicas com o testemunho de Jesus no Novo Testamento, e como ele harmoniza Israel com a igreja cristã.

Já no início do livro, João apresenta três chaves interpretativas: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer… a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo” (Apoc. 1:1 e 2). Uma leitura cuidadosa dessas palavras indica a chave-mestra que estava na mente de João e que é nossa diretriz para a compreensão do livro: Deus, Jesus Cristo e Sua revelação à igreja.

Consideremos primeiramente cada uma dessas autoridades divinas em Seu relacionamento mútuo: 1) A nova revelação de Jesus Lhe foi dada por “Seu Deus e Pai” (1:6), o Deus do concerto, o que implica o caráter fundamental do Antigo Testamento como Palavra de Deus. 2) Esse Deus revela uma nova orientação da história da salvação, porque confia Seu governo soberano ao Senhor Jesus Cristo ressuscitado, que agora revela o plano divino a Seus servos. 3) João resume tudo o que lhe foi mostrado como “a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo” (1:2). Essa frase coloca Deus e Cristo no mesmo nível de autoridade, pois a construção gramatical das duas partes da frase é similar.

Deus e Cristo agora revelam Seu testemunho como um sagrado encargo que a igreja recebe e mantém como supremo padrão de fé e adoração, mesmo perseguida e em face da morte. Com algumas variações, João usou essa frase para descrever a igreja fiel, em tempos de apostasia e perseguição, através do livro (Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 14:12; 20:4).

Desenvolvimento do tema

De que modo João apresenta suas chaves interpretativas dentro do Apocalipse? Na introdução, ou prólogo, ele apresenta o principal tema do livro; e então o desenvolve em suas visões. Por exemplo, observemos a impressionante semelhança entre os prólogos do seu evangelho (João 1:1-18) e o do Apocalipse (1:1-8). Nos dois casos, João testifica da glória divina e do testemunho autorizado de Cristo (João 1:1-3; Apoc. 1:1 e 5).

Ao passo que o prólogo do evangelho culmina com a glória da Encarnação (João 1:14), o do Apocalipse tem seu clímax no glorioso retorno de Cristo (Apoc. 1:7). Desse modo, o Apocalipse funciona como continuação da história do evangelho e constrói sobre o testemunho terrestre de Jesus.

No fim do primeiro século, já não era necessário, como antes, argumentar que Jesus Cristo tinha cumprido as promessas messiânicas do Antigo Testamento e que a igreja era a herdeira escolhida dessas promessas. Agora, a questão urgente era a consumação das promessas do Antigo Testamento por ocasião da volta de Cristo.

Ligação com Daniel

Segundo João, o livro é a “revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu”. Essa declaração informa a igreja que o Apocalipse tem a mesma inspiração e autoridade que as Escrituras hebraicas. Na conclusão do livro, o Senhor identifica-Se, apelando à palavra profética de Deus: “Eu, Jesus, enviei o Meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a brilhante estrela da manhã” (Apoc. 22:16).

Assim, o Apocalipse de João reivindica ser o “testemunho de Jesus Cristo” para a igreja. Nesse testemunho, o Senhor ressuscitado revela o plano de Deus. Jesus Se identifica como o Messias davídico, anunciado pelos profetas (Isa. 11:1 e Núm. 24:17). Portanto, o testemunho de Jesus está em harmonia com a palavra profética de Deus.

Então, qual é o conteúdo de Seu testemunho para a igreja que espera Sua volta? João revela: “mostrar… as coisas que… devem acontecer [ha dei genesthai]”. Essas palavras são uma referência explícita às mesmas palavras de Daniel: “mas há um Deus nos Céus, o qual revela os mistérios; pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias” (Dan. 2:28); “o que há de ser futuramente” (v. 45).

O uso da palavra “deve” (dei) é de profundo significado, pois relaciona-se ao plano e providência do Deus de Israel para o futuro eterno da humanidade. Esse Deus não apenas conhece o futuro; também “muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis” (Dan. 2:21), e determina o glorioso desfecho da História segundo Sua vontade (Dan. 2:44 e 45). Como afirma Walter Grundmann, “é o dei do misterioso Deus que cumpre Seus planos para o mundo na consumação escatológica”.2 O “deve” divino inclui não apenas os embates humanos (Mat. 24:6), mas centraliza-se, primariamente, na bênção da morte expiatória do Messias (Mat. 16:21; Mar. 10:45), na proclamação do evangelho do reino (Mar. 13:10) e na prometida restauração universal do Paraíso (Atos 3:21).

A referência feita a Daniel (Apoc. 1:1) sugere que o Apocalipse deve ser compreendido junto com as visões de Daniel sobre os planos e propósitos futuros de Deus. Esse modelo de referência é parte integral da primeira chave para o entendimento do Apocalipse. Segundo eruditos modernos, Daniel é o mais influente dentre os profetas he-breus referidos no Apocalipse,3 sendo que o último livro da Bíblia conduz a fé profética de Israel através de um novo princípio interpretativo de cumprimento da história da salvação: o cumprimento cristológico.

O cumprimento histórico das profecias messiânicas de Israel no ministério terrestre de Jesus já fora o tema central do Seu testemunho nos quatro evangelhos. O tema do Apocalipse é reafirmar à igreja de Cristo que as profecias do tempo do fim encontrarão sua consumação final nEle e no povo da Sua nova aliança. Isso fica evidente ao compararmos as promessas feitas às sete igrejas de Apocalipse 2 e 3 com as promessas concebidas nas visões da Nova Jerusalém para os seguidores de Deus e do Cordeiro (Apoc. 20-22). Assim, Apocalipse assegura o breve cumprimento das profecias seladas de Daniel.

Comparando Daniel 2:28 e 45 com Apocalipse 1:1, vemos a íntima ligação entre os dois livros: “o que há de ser nos últimos dias”; “as coisas que em breve devem acontecer”; “o que há de ser futuramente”. Parece que João substitui as expressões de Daniel: “nos últimos dias” e “futuramente”, por “em breve”. A nova ênfase de João sobre um “breve” cumprimento das profecias de Daniel marca um decisivo progresso na história da salvação. Embora o livro de Daniel estivesse selado “até ao tempo do fim” (Dan. 12:4), João anuncia o cumprimento das visões desse profeta sobre o futuro no qual o reino de Deus será estabelecido na Terra.

Ministério contínuo

João proclama que Deus tomou uma nova iniciativa na história da salvação em Jesus Cristo, através de Sua morte, ressurreição e exaltação no Céu. Esse ato de Deus é algo decisivo para a fé cristã. Por essa razão, João chama seu Senhor “a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da Terra” (Apoc. 1:5). Esses títulos unem o testemunho terrestre de Cristo ao Seu ministério celestial. Na visão do livro com sete selos na mão de Deus, João focaliza o novo papel de Cristo como regente da humanidade como sendo fundamental na história da salvação (Apoc. 5).

Em tudo isso, é significativa a repetida ênfase no mérito de Cristo para governar a humanidade e o Universo: “Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (Apoc. 5:5). Essa designação do Senhor ressuscitado só pode ser compreendida à luz das Escrituras hebraicas e suas promessas messiânicas (Gên. 49:10; Isa. 11:1-10). De que maneira João explica a vitória de Jesus na Terra?

Eis a resposta: “Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como setes olhos” (Apoc. 5:6). João vê um Messias morto. Ou seja, Ele é conquistador porque tornou-Se o Cordeiro sacrificial de Deus. A natureza dessa conquista de Cristo é crucial para João, porque, nas sete cartas, ela é o modelo de vencedor para o cristão (Apoc. 2:7, 11 e 17; 3:21). Gregory Beale o explica muito bem: “O próprio Cristo venceu mantendo Sua lealdade ao Pai através do sofrimento e, finalmente, morte. Ele foi fisicamente derrotado, mas espiritualmente vencedor.”4

Em Apocalipse 5, João mostra como o Pai, em uma cerimônia solene, na sala do trono celestial, entrega a soberania do reino ao Jesus ressuscitado. O Cordeiro toma o livro dos selos “da mão dAquele que estava sentado sobre o trono” (Apoc. 5:7). O Senhor crucificado e ressurreto agora começa a abrir os sete selos (6:1), porque está autorizado a executar o julgamento de Deus, o que levará ao estabelecimento do Seu reino na Terra. Em resposta, o Universo inteiro canta louvores a Deus e ao Cordeiro (Apoc. 5:13 e 14). Desse modo, a visão de Apocalipse 5 funciona como o cumprimento inicial da visão de Daniel sobre a vinda do “Filho do homem” ao Pai, para receber a soberania sobre a igreja e o mundo, mesmo antes de o juízo começar.

“Ao tomar o livro, todo o destino da humanidade é colocado nas mãos do Cristo entronizado. Esse livro é, na verdade, o livro celestial do destino, sobre cuja base Cristo deveria julgar. Conseqüentemente, é o livro do juízo”,5 explica Stefanovic.

Os apóstolos e a profecia

O cumprimento progressivo da palavra profética de Deus é confirmado pelos apóstolos, No dia de Pentecostes, Pedro anunciou que Jesus foi exaltado à destra de Deus, como Senhor e Messias, e que os preditos “últimos dias”, ou a era messiânica, haviam chegado (Mar. 1:15). A prova visível da entronização de Cristo foi o derramamento do Espírito Santo, em cumprimento da profecia de Joel (Atos 2:16, 17, 33-36; Joel 2:28 e 29). O autor do livro aos hebreus também afirma a revelação progressiva de Deus: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas” (Heb. 1:1 e 2). O Deus que inspirou os profetas de Israel agora tem falado de modo superior e mais completo, através do Seu Filho Jesus Cristo.

João ainda elevou o histórico auto-testemunho de Jesus ao nível de uma verdade salvífica: “Ora, este é o testemunho de Deus, que Ele dá acerca do Seu Filho. … E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (I João 5:9-12).

A relação entre as promessas divinas e seu cumprimento em Jesus, entre os Antigo e Novo Testamentos, é de testemunho progressivo, fluindo sempre do mesmo Deus da aliança. O testemunho histórico de Jesus, conforme relatado nos evangelhos, é a chave autorizada para

compreensão do significado da Palavra de Deus em Moisés e os profetas. No Apocalipse, esse testemunho é a aplicação cristológica inspirada das profecias de Daniel, Ezequiel, Joel e Zacarias, uma vez que elas extrapolam o ambiente literal e histórico de Israel, alcançando a Era da igreja.

Até aqui, notamos que João aludiu ao Antigo Testamento na descrição de suas visões sobre “as coisas que em breve devem acontecer”. Essa referência à Escritura hebraica contém a primeira chave para a compreensão das visões apocalípticas. Tal uso do Antigo Testamento aponta-nos não apenas as raízes hebraicas da fé cristã, mas também ao contexto teológico e literário do Antigo Testamento.

O livro do Apocalipse assume que o Deus de Israel é o “Deus e Pai” de Jesus Cristo (1:1 e 6), e que o plano divino para o mundo será cumprido por meio do Messias, que participa da identidade de Deus (Apoc. 1:8, 17; 21:6 e 22:13). Desde o início, o “Apocalipse de Jesus” adota e redefine o curso da história da salvação, conforme esboçada no livro de Daniel (Apoc. 1:1 e 19; Dan. 2:28 e 29; 10:21). Mas, como poderiam os cristãos judeus estar absolutamente seguros de que Jesus de Nazaré era o Messias da profecia, e que o Jesus que fora crucificado estava governando a partir do trono de Deus no Céu? Como poderiam eles estar seguros de que Jesus era o Rei-Messias, enquanto muitos do Seu povo eram lançados a feras famintas ou amarrados e queimados em postes, como tochas humanas, nos dias do Império Romano?

João recebeu essa certeza em sua visão inaugural do livro: “Quando O vi, caí a Seus pés como morto. Porém Ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas, Eu sou o primeiro e o último e Aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Apoc. 1:17 e 18).

Aqui, ele testifica que o Senhor ressuscitado Se identifica com o Jesus histórico, a quem ele conhecera pessoalmente, sobre cujo peito reclinara a cabeça, e cujo testemunho relatou no quarto evangelho. A identificação feita por João está baseada na histórica ressurreição de Jesus. Como “primogênito dos mortos” e “sendo Ele as primícias dos que dormem” (1 Cor. 15:20), Cristo é a fonte da fé e da esperança cristã. Foi uma experiência pessoal com Ele que inspirou os santos e os animou a perseverar na fidelidade a Deus até o fim.

O sangue do Cordeiro

João começa a louvar seu Senhor como “Aquele que nos ama e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apoc. 1:5 e 6). Essa doxologia reconhece a morte expiatória de Jesus, por amor à humanidade. O derramamento do “Seu sangue”, no sacrifício da cruz, libertou o crente do pecado, uma declaração que lembra a emancipação histórica de Israel do Egito, como casa da escravidão: “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando Eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando Eu ferir a terra do Egito” (Êxo. 12:13).

A referência feita a Jesus como o Cordeiro Pascal torna-se mais explícita através das 28 vezes em que João Lhe dá o título de “Cordeiro”. Apocalipse 5:6, 7, 12 e 13 são apenas algumas dessas ocasiões. O simbólico título “Cordeiro” afirma a validade de Sua morte “em resgate por muitos” (Mar. 10:45), sendo o coração do evangelho apostólico (João 1:29; I Cor. 5:7; 15:1-4; Rom. 3:25; I Ped. 1:18-20; Heb. 1:3; 9:14 e 22). Por esse importante símbolo de Cristo, João indica que o evangelho é o tema dominante do Apocalipse. Roy C. Naden estabelece corretamente que “através do livro, esse símbolo de Jesus conserva nossos olhos focalizados em nossa única fonte de redenção”.6

O apóstolo João também assegura aos santos que eles serão vencedores sobre o maligno “por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho” dado em face da morte (Apoc. 12:11), que eles estão escritos “no livro da vida do Cordeiro” (Apoc. 21:27), cantarão com Israel “o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro” (Apoc. 15:3) e clamarão “Aleluias” nas “bodas do Cordeiro”, no Céu (Apoc. 19:7).

Com base em Sua obra de redenção efetuada, Jesus envia Seus seguidores como Suas testemunhas em todo o mundo (Atos 1:8). À igreja de Pérgamo, Ele assegura: “Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o Meu nome e não negaste a Minha fé, ainda nos dias de Antipas, Minha testemunha, Meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita” (Apoc. 2:13).

Filho do homem

Em sua visão inicial, João viu Cristo ministrando em meio a “sete candeeiros de ouro”, e O descreveu como “um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, a altura do peito, com uma cinta de ouro” (Apoc. 2:12 e 13). Ele adotou a descrição de Daniel de “um como o Filho do homem” (Dan. 7:13), para identificar o Senhor ressuscitado que ministra como Rei-Sacerdote em favor de Sua igreja na Terra. Essa aplicação sacerdotal do “Filho do homem” de Daniel é uma interpretação evangélica, nova para o judaísmo. João não estava aplicando a expressão “Filho do homem” de Daniel exclusivamente ao julgamento final. Ele foi comissionado pelo Sacerdote celestial a escrever num livro o que viu e enviar às sete igrejas localizadas na Ásia Menor de seu tempo (Apoc. 1:11).

Assim, o Apocalipse de Jesus teve relevância imediata para a igreja nos dias de João, e tem relevância para a igreja de todos os tempos até que o Senhor venha. A ênfase de Cristo no sentido de a igreja conservar o que recebeu era uma forma de referir-Se ao evangelho apostólico (I Cor. 15:1 e 2). A guarda fiel desse evangelho habilitará cada crente a, pela graça de Cristo, ser vitorioso em meio à “provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”, no fim do tempo (Apoc. 3:10).

Aqueles que estão perdendo a visão de Jesus, mergulhados em sua justiça própria e autocomplacência, vivendo vida espiritual enganosa, são convidados a voltar-se para Seu Salvador e Senhor. A igreja laodiceana, especialmente, encontra-se em sério perigo de perder as bênçãos do evangelho (Apoc. 3:14-21). Como “Testemunha fiel e verdadeira”, Jesus apela: “Eis que estou à porta e bato” (Apoc. 3:20), e aconselha: “de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas” (Apoc. 3:18).

Em 1888, muitos adventistas começaram a compreender a importância fundamental do “evangelho eterno”, acima da ênfase unilateral dada à Lei até então. Na esteira desse despertamento, Ellen White escreveu em 1892: “A mensagem laodiceana está soando. … Justificação pela fé e justiça de Cristo são os temas que devemos apresentar a um mundo em perigo… Ele nos convida a comprar vestiduras brancas, que representam Sua gloriosa justiça; e colírio, para que possamos discernir as coisas espirituais. Oh, não abriremos a porta do coração a esse visitante celestial…?”7

Essa preocupação coloca o evangelho no centro das cartas às igrejas apocalípticas. Este é o ministério sacerdotal de Cristo: tomar Sua igreja uma luz da verdade salvadora e santificadora no mundo. — Continua

Hans K. LaRondelle, professor emérito do Seminário Teológico da Universidade Andrews, Estados Unidos

Referências:

1 Gregory K. Beale, John’s Use of the Old Testament in Revelation. JSNT Suppl. Ser. 166, Sheffield Ac. Press, 1998, pág. 61.

2 Kittel’s Theological Dictionary of the New Testa-ment, 2:23.

3 Gregory K. Beale, The Book of Revelation (Grand Rapids: NIGTC, Eerdmans, 1999), pág. 77.

Ibidem, pág. 353.

5 Rankov Stefanovic, The Background and Meaning of the Sealed Book of Revelation 5, tese doutorai, Andrews University, 1995, pág. 322.

6 Roy C. Naden, The Lamb Among the Beasts (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1996), pág. 25.

7 Ellen G. White, SDABC, vol. 7, pág. 964.