Como proporcionar aos adoradores uma experiência positiva na igreja

Imagine a seguinte situação: sábado pela manhã, perto das 9 horas, enquanto os líderes ajustam os últimos detalhes da programação, aproxima-se um casal. “Esta é a igreja da TV Novo Tempo?”, perguntam. E completam indicando que apreciam a programação e aprendem muito com as diversas pregações a que assistem pela televisão e internet.

Isso tem acontecido com frequência na América do Sul. Muitas pessoas têm sido atraídas a congregações adventistas em dias de culto, principalmente aos sábados. Por mais que se tenha um bom ministério de recepção, as observações referentes à qualidade do sermão, organização da Escola Sabatina, irreverência dos membros, barulho durante a programação, falta de conforto do ambiente, entre outras questões, começam a assombrar os líderes quando estes recebem os convidados, especialmente aqueles que não conhecem a experiência de culto da igreja.

O tema da experiência na igreja, no momento da adoração, é um importante complemento à própria experiência pessoal de cada membro. O Novo Testamento trata desse assunto de forma recorrente, como demonstram as exortações de Paulo em algumas de suas epístolas, sobre pontos essencialmente doxológicos ou relacionados à convivência cristã. Esse também foi um tema importante nos escritos de Ellen White, pioneira da Igreja Adventista. No início do movimento, os membros vinham das mais variadas denominações, cada uma com sua ideia de adoração e organização, e precisavam de uma referência quanto a prestar um culto racional, organizado, reverente e que atingisse os objetivos reais de adoração a Deus.

A importância da experiência

Em 1992, Gerhard Schulze alertou para a mudança do jeito como a sociedade moderna estava se portando ante as relações humanas, de consumo, profissionais, entre outras. Ele cunhou o termo erlebnisgesellschaft, ou sociedade da experiência vivida,1 para indicar uma espécie de supremacia da satisfação imediata com a experiência vivida (ou das vivências que os indivíduos experimentam), nas suas decisões e percepções cotidianas, sendo este um ponto importante na forma da estruturação da sociedade moderna. Desde então, diversos cientistas e pesquisadores passaram a estudar esse fenômeno, que tem influenciado decisões nos mais variados âmbitos da vida.

As bases para o melhor entendimento da sociedade experiencial2 devem ser entendidas a partir das seguintes proposições:

a) A customização em massa é o caminho. O público pequeno, individualizado, é o grande foco da sociedade da experiência. A individualização dos resultados é um mote importante. Mesmo que em ações públicas, voltadas a uma comunidade ou público específico, a satisfação individual deve ser considerada.

b) As atividades são “teatrais”. A expressão “teatral” não deve ser confundida com espaço de performance voltado à dissimulação. Quando se fala em aspecto teatral, alude-se à roteirização, ao foco na beleza e nos papéis bem definidos dos indivíduos, para um público que valoriza “assistir” a algo bem organizado e estruturado.

c) Autenticidade como a nova métrica de sensibilidade. As pessoas naturalmente consideram duas perguntas diante de uma experiência: (1) o que está sendo apresentado é real e verdadeiro? (2) o que está sendo oferecido realmente é o que diz ser?

d) Experiência como foco. Para a “venda” de algum produto, o foco é substituído. Sai aquilo “que o produto faz”, e entra “a experiência ao redor do que o produto faz”.

e) Retirada da carga do público. Se antes o bolo de aniversário – símbolo importante da celebração – era feito pela mãe da criança, hoje os pais preferem contratar um local específico de eventos e fazer com que a festa tenha uma experiência muito mais completa.

A gestão da experiência ganhou robustez teórica e prática dentro dos estudos de administração e marketing. A preocupação em entender como se processa a experiência de uma pessoa em seu contato com uma empresa/produto/serviço/loja, e como ela reage a essa experiência, tem sido tema de estudos cada vez mais profundos de sociologia, psicologia e antropologia de consumo. Seu foco é compreender como esse conceito pode ser mais bem decodificado pelas marcas, a fim de que o mais importante recurso de uma pessoa seja despendido para com elas: a atenção. De fato, a atenção plena do indivíduo é o aspecto mais importante da sociedade experiencial. Saber como captá-la é uma ciência baseada na experiência desse mesmo indivíduo.3

Nesse caldeirão de novos conceitos sociológicos, encontra-se a religião. Em sua definição tradicional, o papel da ida ao templo é preponderante para a própria sobrevivência das denominações. Assim, surgem os questionamentos ligados a como a Igreja Adventista se posiciona diante dessa sociedade baseada na busca pela atenção dos indivíduos e na construção de experiências marcantes.

Experiência positiva na igreja

Imagine que o casal de visitantes mencionado no início deste artigo não tenha se sentido bem no culto de que participaram naquela manhã. Nesse caso, provavelmente eles passaram a fazer parte de uma estatística bastante preocupante: 91% daqueles que têm uma experiência ruim simplesmente vão embora e não voltam mais.4 Além disso, aqueles que têm uma experiência negativa espalham suas percepções para, em média, 16 pessoas de seu círculo próximo de amizades.5

Dados como esses mostram que a questão da experiência também deve ser levada em consideração quando se trata da organização do culto. Mas o que seria uma experiência positiva completa para a igreja e suas programações?

Em primeiro lugar, é importante ter em mente que “todo coração iluminado pela graça de Deus é constrangido a prostrar-se com inexprimível gratidão e adoração perante o Redentor, pelo Seu sacrifício infinito”.6 Ou seja, a experiência deve ter como base a adoração, como resultado direto da gratidão do ser humano pelo sacrifício de Cristo em nosso favor. Esse deve ser o mote de todo evento a ser realizado na igreja. Ao se colocar esse objetivo à frente, o contexto de qualquer programação será bem definido, e a reverência com alegria será um resultado natural. Pode-se partir para a construção de uma experiência positiva, que sirva de base para que a adoração seja plena, agradável e racional.

Ambiente físico

Nenhuma experiência será 100% positiva se não tiver um ambiente físico favorável. Um espaço atraente, bonito, limpo e confortável facilitará a adoração. Tudo começa com a fachada e a área externa do templo. Deve ser bonita, bem apresentável e atrativa. O ditado popular “a primeira impressão é a que fica” é uma verdade absoluta, em se tratando de experiência. Por isso, valorize o visual externo, considerando aspectos como pintura, design, logotipo, limpeza, iluminação ou jardins.

O papel da equipe de recepção também é importante. Na maioria das vezes, o primeiro contato, também conhecido como momento da verdade,7 é realizado por esse valoroso grupo. A empatia, hospitalidade, assertividade e a vontade de atender bem devem ser o foco do trabalho dos recepcionistas, indo além de um mero cumprimento. Eles devem ciceronear os convidados, bem como zelar para que o público em geral se acomode e participe do culto de forma satisfatória.

A área interna da igreja (nave, salas e instalações auxiliares) deve ser sempre vistoriada, a fim de verificar como andam sua limpeza e manutenção preventiva. O espaço interno deve ter assentos confortáveis e bem distribuídos e climatização adequada. Esses elementos favorecem a qualidade do culto e, por consequência, a reverência dos membros.

Dinâmica do culto

Após o membro ou convidado se sentir bem recebido e estar instalado de maneira confortável, ele volta completamente suas atenções ao culto. O objetivo final da programação deve ser uma experiência de adoração plena, e quando o programa tem problemas não consegue alcançar esse propósito.

O primeiro ponto a ser observado é o fluxo. Esse elemento é o mais importante para a experiência do público. O como a programação flui vai além dos componentes funcionais, da liturgia em si. Portanto, deve-se considerar alguns itens:

a) Organização. Nada pior do que uma programação sem roteiro. O roteiro deve ser intuitivo. Que cada participação aconteça de forma orgânica, que faça sentido às pessoas, sejam elas participantes ou não daquele momento.

b) Lacunas. Uma experiência marcante não pode ter lacunas. O vazio que é sentido em um programa no qual não se sabe o que está acontecendo é prejudicial à experiência.

c) Pontualidade. “As reuniões de conferências e oração não devem se tornar tediosas. Todos devem estar prontos, se possível, na hora indicada; e se há retardatários, que estejam atrasados meia hora, ou mesmo quinze minutos, não se deve esperar por eles. Se houver apenas dois presentes, podem reivindicar a promessa. A reunião deve ser iniciada na hora marcada, se possível, estejam presentes muitos ou poucos.”8

d) Mensagem. Os pregadores devem ser escolhidos com zelo e critério. Ellen White observou: “Não cansem jamais os ouvintes com sermões longos. Isso não é sábio. Durante muitos anos estive empenhada nesse assunto, tratando de que nossos irmãos preguem menos e dediquem seu tempo e energia para simplificar os pontos importantes da verdade, pois todo ponto será motivo de ataque de nossos oponentes. Todos quantos estejam relacionados com a obra devem manter ideias novas; […] e com tato e previsão façam todo o possível para interessar os seus ouvintes.”9 Portanto, a mensagem deve ser cristocêntrica, relevante e bíblica; porém simples, de fácil interpretação. Se assim não for, não trará uma experiência significativa ao público.

e) Música. A música não deve ser um fim em si mesmo no momento do culto, pois também é uma forma de adoração. Às vezes, no afã de valorizá-la, o programa fica extenso e pode perder o sentido. A música deve ser utilizada com parcimônia, de forma competente e estimulando a participação da audiência.

Os momentos do culto devem ser “sagrados e preciosos”.10 Eles não devem ser tediosos, longos e desinteressantes, repletos de conteúdos que dispersam a mente das pessoas da mensagem de salvação e da “própria atmosfera do Céu”.11 Essa atmosfera deve imperar na melhor experiência de culto.

A experiência individual

Não se pode negligenciar o papel das pessoas numa experiência marcante. Já foi mencionada neste artigo a importância da equipe de recepcionistas. Mas a recepção não pode ser realizada apenas da porta para fora. De fato, é dentro das dependências da igreja que a experiência se desenvolve e precisa ser acompanhada. Todos devem entender que receber bem e auxiliar os participantes são pontos indispensáveis para uma experiência plena. Observe os seguintes elementos:

a) A reverência é um importante fator para uma boa experiência na igreja. Um auditório que tenha excesso de conversas e distrações promovidas pelas pessoas impacta negativamente a experiência dos adoradores. A congregação deve ser constantemente orientada sobre esse tema.

b) Pessoas agradáveis refletem um ambiente agradável. Todo cristão deve saber que seu comportamento influencia a adoração de outras pessoas, principalmente dos convidados. Mostrar-se amável, empático e preocupado com o bem-estar dos outros é essencial para que as pessoas se sintam motivadas a estar na igreja.

c) A congregação deve demonstrar um real senso de comunidade. Os membros devem ser unidos e focados no propósito principal da igreja na Terra: levar a mensagem de salvação, sendo “sal” onde estiverem. Isso faz com que a experiência individual seja ainda mais positiva, e a vontade de participar da igreja seja maior.

A comunicação da igreja

É comum surgirem questionamentos quando uma abordagem centrada na experiência começa a ser pensada ou é constituída. O principal deles é: de quem é a responsabilidade sobre o tema?

O pastor é o primeiro elo dessa corrente. Cabe a ele dar as diretrizes para uma boa experiência de culto e orientar os membros sobre o assunto. O pastor despreocupado com o tema refletirá sua atitude aos líderes da igreja e, consequentemente, aos demais membros da comunidade.

Contudo, em virtude da rotina do trabalho ministerial, nem sempre o pastor consegue dedicar o tempo necessário às análises e ações relativas ao melhoramento da experiência de culto de suas congregações. Por isso, ele precisa do apoio do departamento que tem como missão “apresentar uma imagem favorável da igreja, sua missão, vida e atividades”:12 o departamento de comunicação.

É preciso expandir a visão acerca do que esse ramo de trabalho faz na igreja. Sua equipe não deve atuar apenas na informação, mas também ajudar a liderança no desenvolvimento de uma experiência positiva, que culmina no compartilhamento do que temos de mais precioso: a mensagem de salvação.

Portanto, o papel auxiliar do departamento de comunicação local na construção de uma experiência de culto significativa deve ser:

a) Apoiar o pastor e a liderança da igreja a refletir sobre o tema;

b) Avaliar o estado atual da experiência proposta pela igreja;13

c) Sugerir melhorias e mudanças, se necessário;

d) Acompanhar a experiência proposta.

Esse último ponto valoriza a participação do departamento de comunicação na dinâmica de culto da igreja local. Considera-se que se esse departamento tem como missão cuidar da imagem congregacional, é dele também a responsabilidade de contribuir para uma boa experiência de culto. Se a congregação proporciona uma experiência de adoração significativa, fica mais fácil comunicar os eventos e promover a igreja na comunidade em que ela está inserida.

Conclusão

O tema da experiência positiva completa no culto não é novo, ainda assim, necessita ser mais bem implementado. Contudo, com diversos microtemas alinhados e guiados por uma gestão única e participativa (recepção, sonoplastia, bom sermão, ambiente físico agradável, boa música, entre outros), a chance de se obter uma experiência de culto positiva aumenta consideravelmente.

Diante de uma sociedade que muitas vezes valoriza a experiência acima das próprias convicções, a igreja não pode se abster de entregar a melhor experiência possível, dentro das expectativas das pessoas. Para isso, entender o público que está à nossa volta é um ponto de partida fundamental.

Pensando nisso, a igreja não negligenciará a ordem necessária para o culto racional, ao mesmo tempo em que proporcionará um momento único a todos os participantes. Uma boa experiência traz formalidades litúrgicas, mas também promove o engajamento dos participantes e a alegria das pessoas. Afinal, o objetivo de uma boa experiência é que todos, incluindo o casal do início deste artigo, tenham prazer em dizer: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Sl 122:1). 

Referências

1 Gerhard Schulze, Die Erlebnisgesellschaft: Kultursoziologie der gegenwart (Berlim: Campus-Verlag, 1992).

2 B. Joseph Pine II e J. H. Gilmore, “The experience economy: Past, present and future”, em Jon Sundbo e Flemming Sørensen, Handbook on the Experience Economy (Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2013).

3 Thomas Davenport e John Beck, A Economia da Atenção: Compreendendo o novo diferencial de valor dos negócios (Rio de Janeiro: Elsevier, 2001).

4 1st Financial, “Are you undervaluing customer service?” Disponível em <www.1stfinancialtraining.com>.

5 Daniel Newman, “Customer experience is the future of marketing”, Forbes, 13/10/2015.

6 Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais (Casa Publicadora Brasileira, 1968), p. 9.

7 Momento de contato entre alguém da instituição e seu público. Foi popularizado pelo criador do termo, Jan Carlzon, que empoderou os funcionários de linha de frente de sua empresa aérea e colheu frutos interessantíssimos em termos de vínculo e relacionamentos positivos. Ver Jan Carlzon, Hora da Verdade (São Paulo: Sextante, 2005).

8 Ellen G. White, Conselhos Sobre a Escola Sabatina (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 170.

9 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 178.

10 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), v. 5, p. 607.

11 Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), v. 2, p. 252.

12 Departamento de Comunicação, Sobre Nós. Disponível em <https://goo.gl/dvhaQR>.

13 Um check-list pode ser encontrado em <https://goo.gl/LkznG3>.

 Fábio Bergamo, doutor em Marketing e Cibercultura, é coordenador do curso de Administração do Unasp, SP