“Amar o próximo, à luz do ensinamento de Cristo, envolve saber escolher nosso vocabulário da forma mais humanizadora”

— Gomes de Matos

No emaranhado de subsídios enfatizados para a boa comunicação, poucas pessoas há que se preocupam com a comunicação para o bem, e que foi incentivada pelo lingüista Francisco Gomes de Matos: “Sejamos comunica-tivamente prudentes, piedosos e pacíficos. Usemos uma boa linguagem. Comuniquemos bem, comunicando-nos para o bem.”1 Nessas palavras,  encontramos características essenciais da comunicação nos relacionamentos interpessoais.

Prudência

A prudência é uma característica da boa comunicação e está implícita no conselho de Salomão: “Não te apresses com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus.” Ecles. 5:2. Na comunicação prudente, alguns cuidados não podem ser desconsiderados. Por exemplo, a importância do vocativo para abrir e testar o canal da comunicação. Deus e Seus mensageiros usaram esse recurso: “Abraão, Abraão…” Gên. 22:11; “Simão, Simão…” Luc. 22;31; “Filhinhos meus…”; “Amados…”; “Filhinhos…” I. João 2:1, 7 e 12.

O vocativo chama a atenção do destinatário, ajudando-o a ter certeza de que a mensagem lhe é dirigida. Ser comunicativamente prudente é garantir que nossa mensagem seja recebida; é testar se o destinatário está em nosso campo visual e, principalmente, auditivo.

Piedade

A comunicação piedosa pressupõe respeito lingüístico, ou seja, saber ouvir uma diversidade lingüística sem esboçar ironia.

Na igreja, é fácil encontrarmos as mais diversas classes sociais e níveis de escolaridade diversificados. Necessitamos ter o mínimo conhecimento lingüístico para não desprezar o “falar” diferente, sem ignorar a correção gramatical. Saber interagir com pessoas carentes de condição educacional privilegiada é um dos grandes desafios da religião prática. Acima da mera orientação comportamental, a polidez deve ser o estilo de vida do cristão. Sejamos piedosos ao demonstrar carinho e afeto com todos os que nos cercam.

Paz

O Professor Gomes de Matos chama os cristãos a se comprometerem no processo comunicativo com o interlocutor, assumindo as seguintes responsabilidades:

  • 1. Solução verbal de todo conflito. Devo ser paciente, aberto e ter autocontrole.
  • 2. Tratar bem e respeitar todas as pessoas.
  • 3. Comunicar de modo amistoso. Substituirei a maledicência, o insulto e a ofensa pelo hábito de falar bem a respeito do semelhante.
  • 4. Ajudar as pessoas a se entenderem. Atuarei como mediador.
  • 5. Compartilhar o que aprendi sobre a paz comunicativa.

Gomes de Matos ainda nos aconselha a utilizar o idioma com polidez, usar vocabulário humanizador, palavras e expressões que possam contribuir para dignificar o relacionamento interpessoal.

Boa linguagem

Nunca devemos desprezar as regras e os preceitos gramaticais. Porém, a boa linguagem está além de frases sintaticamente bem construídas, ou concordâncias e regências impecáveis. A boa linguagem é marcada por expressões de polidez, pelo uso do futuro do pretérito (poderia, gostaria…), pela melodia frasal, pois o como dizer é tão significativo quanto o que dizer.

Nossa comunicação deve ser inspirada pelos valores espirituais. Não há como não canalizarmos nossa mensagem para o bem, se nossa vida estiver dirigida por Deus e para Deus. Utilizemos todas as formas de comunicação ao nosso dispor, para a glória de Deus, o bem do semelhante, da igreja, e nosso próprio bem.

Referência:

1 Francisco Gomes de Matos, Comunicar Para o Bem: Rumo à Paz Comunicativa, (São Paulo, SP: Editora Ave-Maria, 2002).