Como os pastores podem encarar algumas crenças irracionais

Daniel Bosqued

É comum os membros da igreja atribuírem ao pastor qualidades excepcionais, considerando-o praticamente inabalável diante das situações desafiadoras da vida. Contudo, todo pastor sabe que, longe de ser inatingível, ele é vulnerável a alterações emocionais, especialmente vividas por quem desempenha sua função.

Nesse sentido, pode ser útil se utilizar do conceito desenvolvido pelo psicólogo Albert Ellis, criador da chamada Terapia Racional Emotiva Comportamental. Depois de anos de experiência clínica, sua proposta consistiu em isolar o que ele chamou de “crenças irracionais” que se encontravam na base de problemas psicológicos como depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais.*

Desde que estudei as ideias de Ellis, percebi que essas crenças poderiam ser facilmente adaptadas à nossa realidade como pastores. A proposta deste artigo é analisá-las e descobrir de que forma a Bíblia serve como melhor antídoto contra todas elas. Assim, entendo que internalizar a mensagem bíblica constitui uma salvaguarda frente às emoções negativas, começando pela vida do pastor. A seguir, apresento as crenças irracionais mais comuns no ministério.

“O pastor precisa ser amado e aprovado por todos os membros.”

Todos nós já chegamos pela primeira vez em uma igreja e quisemos realizar um bom trabalho, gerar um bom ambiente, ligar-nos a todos os membros, acompanhá-los em seu crescimento espiritual e capacitá-los a cumprir a missão.

No entanto, esse desejo de ser amados, aceitos e aprovados por todos os membros é uma expectativa inalcançável, portanto, irracional. Se um pastor nutre esse pensamento, logo começará a experimentar frustração. Por quê? Porque no exercício do ministério pastoral é normal haver situações em que nem todos estejam de acordo e surjam críticas por parte dos membros em relação ao seu líder.

Se um pastor busca a aprovação de todos os membros, certamente não poderá abordar situações complicadas que requeiram sua intervenção ou fazer mudanças necessárias, embora sejam impopulares. O curioso é que, no fim, ficará igualmente exposto às críticas que tanto pretendia evitar.

Que antídoto a Bíblia apresenta para superar essa crença irracional? Além de compreender que não podemos controlar o que os demais sentem a nosso respeito (Rm 12:18), o maior exemplo é o de Cristo. Apesar de Sua vida perfeita, impecável, Ele teve muitos críticos ao longo de Seu ministério. Muitos não O aceitaram e, por fim, Ele acabou sendo preso, condenado e morto injustamente.

Descobrir e integrar a vida de Jesus, como o “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13:20) e aceitar que, apesar de tudo, houve quem O criticasse nos ajudará a descansar em Suas mãos, entendendo que nem sempre receberemos o aplauso de todos.

“Um pastor só é bom quando é muito competente.”

Essa crença irracional tem que ver com expectativas irreais sobre as capacidades do pastor. Tradicionalmente, ser pastor tem sido um dos ofícios mais polivalentes na igreja. Há pastores administradores, professores, diretores, distritais, entre outras funções. Contudo, ainda que alguém possa estar confortável em diferentes funções, ninguém pode ser totalmente competente em todos os aspectos.

Se um pastor busca o êxito em cada uma das áreas do ministério, talvez caia em uma contínua comparação com outros diante dos quais se sente inferior. Isso não significa que não devamos lutar para melhorar em todas as áreas, mas precisamos aceitar nossos dons, nossas limitações e nossas áreas de interesse especial.

A Bíblia ensina que devemos buscar a excelência. Eclesiastes 9:10 afirma: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.”

O Senhor concede dons diferentes a cada um de nós, e nosso ministério está ligado a eles. Devemos nos esforçar para desenvolvê-los da melhor forma possível, porém, longe de entrar em uma luta desmedida pelo “sucesso total” mal compreendido.

“Alguns membros da igreja são maus e devem ser punidos por isso.”

Algumas pessoas são realmente complicadas. Parece que, em certas ocasiões, elas querem irritar de propósito. São pessoas tóxicas e muitas vezes criam emoções negativas em torno delas. A primeira reação a essas pessoas pode ser enfrentá-las, cultivar uma atitude negativa ou desejar que a vida “dê a elas o que merecem”.

Embora seja verdade que colhemos o que plantamos (Gl 6:7), como pastores somos chamados a dar um passo além. Devemos evitar nutrir uma primeira emoção negativa em relação a alguém, mas tentar entender o motivo por trás das atitudes da pessoa.

De fato, se tomarmos tempo para analisar a vida dela, descobriremos em muitas ocasiões uma infância dura, pais exigentes, traumas infantis, amizades perigosas ou desilusões que ajudam a compreender certas atitudes dessa pessoa “complicada”.

Não se trata de desculpá-la por tudo, mas de aplicar o antídoto apresentado por Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7:1). Só Deus conhece o coração, a vida, o passado e as motivações pessoais. Nossa função não é julgar, mas ajudar, compreender e restaurar.

“Se a igreja não seguir meus planos será algo catastrófico.”

Às vezes desenvolvemos uma visão clara sobre as igrejas que estamos pastoreando. Sonhamos com projetos, ministérios e atividades e fazemos tudo para que o sonho se torne realidade. No entanto, há uma linha tênue entre uma visão correta e uma crença irracional que devemos cuidar para não ultrapassar.

A verdade é que nossa visão não é mais do que isto: uma perspectiva da realidade ou de futuro. Se confundirmos nossa opinião com uma “verdade absoluta”, começaremos a cultivar essa perigosa crença irracional. Quando as coisas não saem como esperamos é correto lutar para mudá-las. Entretanto, quando isso não é possível ou a maioria da igreja prefere outro caminho, o mais saudável é aceitar a realidade. Do contrário, o pastor será vítima de uma profunda ira ou frustração.

Nesse caso, uma atitude madura e saudável é aceitar que nem sempre as coisas sairão como queremos. Isso necessariamente não é ruim, às vezes, é algo bom. Lembre-se de que Provérbios 14:12 diz: “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” Nossa vontade não é o único caminho, e aceitar isso é um grande passo. O melhor é reconhecer que podemos estar equivocados, ou mesmo estando corretos, compreender que as coisas nem sempre sairão como desejamos.

“Se algo de ruim vai ocorrer ou pode acontecer, devemos nos inquietar por isso e não deixar de pensar no que pode suceder.”

Essa crença irracional consiste em acreditar que haja um vínculo entre a preocupação do pastor e a solução dos problemas, como se isso, por si, fosse uma ação positiva ou inibidora. Assim, quanto mais o pastor ficar preocupado, melhor.

Uma coisa é antecipar-se aos problemas e ter planos de contingência diante de situações adversas que podem acontecer. Contudo, a maior parte dos problemas potenciais que tememos não ocorre!

A verdade é que, além de fazer uma previsão correta, em termos objetivos, de nada adianta preocupar-se por possíveis problemas. Ademais, a preocupação excessiva pode contribuir para o surgimento de um problema.

Jesus nos orienta a viver o presente evitando a ansiedade pelos contratempos que talvez ocorram: “Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6:34). É muito melhor focalizar a resolução dos problemas de hoje e deixar o futuro nas mãos do Senhor.

“O pastor tem pouca ou nenhuma capacidade para controlar ou superar os problemas que outros provocam.”

Essa crença irracional consiste em crer que os problemas sempre são externos. Podemos culpar os membros, a administração da igreja ou as circunstâncias. O pastor que nutre essa crença em vez de buscar formas de resolver a situação assume a postura de vítima. “Eu não posso fazer nada, porque os outros são culpados.”

Assim, quem não se sente parte do problema não pode ser parte de sua solução. Em muitas ocasiões, somos nós mesmos que originamos os problemas e as dificuldades (cf. Tg 1:14). Nem tudo que ocorre é inevitável, nem todo mal é alheio a nós. Adotar uma atitude responsável e proativa fará com que o pastor evite cair em um vitimismo paralisador para a igreja e seu próprio ministério.

“É mais fácil evitar do que confrontar certas responsabilidades e dificuldades na igreja.”

Nesse caso, a crença irracional consiste em uma atitude irresponsável que confunde evitar os problemas com a felicidade. De fato, há situações difíceis que não gostamos de tratar. Por exemplo, não é agradável resolver conflitos entre os membros da igreja. Por isso, alguns pastores não confrontam a questão, evitando as responsabilidades que lhes correspondem como líderes espirituais.

Contudo, essa atitude, embora possa ganhar a simpatia de alguns membros em curto prazo, com o tempo aprofunda os problemas, aumenta a tensão na igreja e gera desconfiança em todos. A experiência mostra que um ministério feliz está ligado aos compromissos de longo prazo, objetivos difíceis e à resolução rápida de conflitos que surgem.

O antídoto bíblico para essa crença pode ser a atitude de Davi diante do gigante Golias (1Sm 17). Essa história nos lembra que, embora os problemas pareçam grandes, não confrontá-los não fará com que sejam resolvidos. A melhor atitude é enfrentá-los com coragem, em nome do Senhor dos Exércitos.

“O pastor deve se sentir muito preocupado com os problemas dos outros.”

Essa crença é especialmente delicada em nosso meio. O pastor realmente vocacionado é capaz de dar a vida pelas ovelhas (cf. Jo 10:11). Acompanha os membros, cuida deles e participa das situações difíceis que eles vivenciam.

No entanto, a preocupação genuína com os problemas dos membros pode se transformar em uma atitude prejudicial, em que o pastor se perde na “vida dos outros”. É um erro trazer constantemente os problemas dos outros para seu cotidiano familiar.

Essa crença distorcida sobre a inquietação pastoral não é saudável nem sustentável ao longo do tempo. É necessário evitar o paternalismo excessivo quando se trata de ajudar os membros da igreja e encorajar as pessoas para que assumam a responsabilidade de resolver seus problemas. Eles e o Senhor devem ser os protagonistas de sua própria história, e não devem nutrir sentimentos de dependência em relação ao pastor, por mais agradáveis que sejam.

Quando o pastor faz tudo o que está ao seu alcance por alguém e ainda assim essa pessoa decide continuar envolvida em comportamentos negativos, é necessário estabelecer uma “distância terapêutica” que nos permita continuar com nosso ministério. Sempre oferecendo ajuda, sempre com a mão estendida, mas ciente de que cada um é responsável diante de Deus pelas decisões que toma em sua vida. Em outras palavras, o pastor não deve viver a vida dos outros.

Um texto que pode servir como um antídoto para essa crença irracional é encontrado em João 21:22, quando Jesus disse a Pedro que não reparasse na vida de João, mas se concentrasse em seu próprio chamado: “Se Eu quero que ele permaneça até que Eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-Me.”

“O pastor deve depender dos demais, especificamente, de alguém mais forte.”

Essa crença irracional implica uma atitude de excessiva dependência de pessoas ou instituições por parte do pastor. É preciso ter equilíbrio. Todos aprendemos com colegas mais experientes. Ter mentores espirituais e contar com a sabedoria deles para resolver problemas é uma bênção. E uma relação saudável de confiança com a administração da igreja também é importante, pois, geralmente, ela tem uma visão mais ampla de nosso ministério.

No entanto, quando essa atitude se torna de dependência absoluta, o pastor deixa de tomar decisões e fica à mercê das opiniões de “outros” ou “dos que lideram”. Assim, em vez de agir, ele fica condicionado ao que os outros pensam para avançar; comprometendo dessa maneira sua individualidade.

O pastor deve ter confiança suficiente para tomar decisões e prosseguir confiando na Providência divina. Nesse sentido, o Salmo 37:5 afirma: “Entrega o teu caminho ao Senhor”. Não devemos confiar nosso caminho a mais ninguém, além de Deus.

“É inevitável que o meu passado siga me afetando no presente.”

Essa crença consiste em estabelecer um elo inevitável e direto com o passado, para que todo o nosso presente seja condicionado por ele. Mais uma vez, é necessário equilíbrio. Nós podemos aprender com os erros, repetir os sucessos e evitar as falhas que cometemos. Isso é sabedoria.

Contudo, acreditar que alguém não seja capaz de mudar seu presente por causa de algo que aconteceu no passado implica privar o ser humano de liberdade e limitar a capacidade divina de operar milagres.

Em certas ocasiões, o passado é usado como desculpa para evitar enfrentar as mudanças que o presente necessita. “Não posso mudar”; “sou assim”; e “isso não vai funcionar, eu já tentei” são frases que impedem a criação de uma nova realidade.

Um dos antídotos bíblicos para confrontar essa crença equivocada se encontra em Filipenses 3:13. “Porém uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente” (NTLH). A projeção para o futuro soltando o lastro do passado é uma atitude saudável e especialmente importante na vida do pastor.

“Existe uma solução perfeita para cada um dos problemas da igreja.”

A última crença irracional consiste em uma atitude rígida sobre as soluções para nossa realidade humana ou eclesiástica. Não há soluções perfeitas! Quando nos deparamos com um problema, temos que pensar nas opções possíveis, pedir ajuda ao Senhor e reconhecer que, às vezes, longe do ideal, temos que escolher a opção “menos ruim” de todas.

É melhor ter uma atitude flexível e saudável. Compreender a natureza parcial e provisória de cada solução humana e continuar avançando pela fé, para resolver todos os problemas, quando Deus fizer um “novo céu e nova terra” (Ap 21:1).

Neste artigo analisei as crenças irracionais em que todos nós podemos cair. O salmista clamou: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço!” (Sl 19:12, NVI). Que o Senhor nos ajude a nos livrar deles e encontrar cura espiritual na sabedoria da Bíblia!

Acima de tudo, querido colega de ministério, não desanime! Lembre-se da mensagem de Paulo: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15:58). Que Deus o inspire, liberte-o de crenças irracionais e abençoe seu ministério! 

Referência

* Albert Ellis e Windy Dryden, Práctica de la Terapia Racional Emotiva (Bilbao: Desclée de Brouwer, 1989), p. 17.

Daniel Bosqued, doutor em Teologia, é diretor de pós-graduação em Teologia da Universidade Adventista del Plata