Um plano sugestivo para tornar mais eficiente seu ministério de visitação

Paulo Nogueira

Após o encontro que teve com Jesus, Pedro parece ter levado a sério a ordem enfatizada por Cristo três vezes: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21:17). Em sua primeira carta, ele aconselhou aos presbíteros: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, […] tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe 5:2, 3). Entendo que, ao vivenciarmos o ministério de visitação na prática, damos bom exemplo ao nosso rebanho e despertamos nos anciãos, diáconos, diaconisas e outros líderes a necessidade de se unirem conosco nessa missão. Para evidenciar a necessidade de reavivarmos essa atribuição pastoral, em 2012 fiz um estudo envolvendo pastores e membros de dois campos da região sudeste, para descobrir detalhes sobre o ministério da visitação. A pesquisa foi feita por amostragem, em congregações com até 100 membros, de 100 a 499 membros e com mais de 500 membros.

Entre outros dados, a pesquisa identificou que, independentemente do tamanho da congregação, idade ou escolaridade dos membros, 96% das pessoas entendem que a visita pastoral é importante. Por outro lado, quando os participantes tiveram que responder se haviam recebido alguma visita pastoral nos últimos três anos, apenas 38% disseram que sim; 59% afirmaram que não; e 3% não responderam.

Quanto aos pastores, a amostra foi composta por ministros com até quatro anos de trabalho, entre 5 e 25 anos, e acima de 26 anos de ministério. Os dados indicaram que 94% dos pastores creem que a visitação é importante e necessária. Contudo, 82% dos ministros não têm um plano sistemático de visitação. Quando perguntados, em uma escala de 0 a 5, que posição a visitação pastoral ocupava em seu trabalho, 54% atribuíram 3, indicando prioridade média; 37% atribuíram 4; e 9% não responderam. Assim, nota-se que a maioria dos pastores considera essa tarefa importante; contudo, ela não se encontra em uma posição elevada em seu ranking de atividades.

Atividade intencional

Ao longo do tempo, considerando a relevância do ministério da visitação, comecei a sistematizar essa atividade ministerial, desempenhando-a com propósitos bem definidos. Esse trabalho começa comigo, quando visito todos os membros. Em seguida, conscientizo os anciãos, capacitando-os e inspirando-os a visitar também. Como resultado, essa prática alcança os membros, levando-os a visitar uns aos outros e a ser mais acolhedores com as visitas. Assim, desenvolvi um plano de visitação, que gostaria de compartilhar a seguir:

Passo 1 – No primeiro ano de trabalho, faço um planejamento e dedico muito tempo à visitação de todos os membros do distrito ou da igreja. Essa é uma visita de reconhecimento. Começo visitando os anciãos; depois, os membros da comissão; em seguida, outros oficiais locais. Por fim, visito os idosos e demais membros.

Nessa primeira visita, prefiro não estar acompanhado de nenhum líder local, para que o membro se sinta mais à vontade. Minha esposa tem me acompanhado na maior parte dessas visitas. Caso tenha necessidade de companhia, peça a ajuda de um irmão piedoso e consagrado para acompanhá-lo.

Passo 2 – Na primeira visita, faço algumas perguntas básicas. Por meio delas, consigo ter um quadro geral da igreja. São elas:

1) Como foi sua conversão?

2) Em caso de casais: Como se conheceram? Quanto tempo têm de casados? Quantos filhos?

3) Qual é sua ocupação? Onde trabalha? O que levou você a optar por essa carreira profissional?

4) Qual é seu ministério na igreja? O que levou você a frequentar a igreja onde está? Está satisfeito com a igreja? Sente-se parte dela? Qual é a grande virtude da igreja em que congrega?

Essas perguntas não devem ser feitas em forma de interrogatório, mas naturalmente, à medida que o diálogo flui. As informações obtidas podem ser anotadas em uma agenda ou aplicativo digital. Além de ajudá-lo a conhecer melhor as pessoas, esses dados podem contribuir para a atualização da secretaria da igreja.

Passo 3 – Dependendo do tamanho da família, essa visita não deve passar de uma hora a uma hora e meia. Antes da oração final, leio um texto bíblico e dou a oportunidade para que cada pessoa expresse seus desejos e sonhos, garantindo que passarei a orar por elas.

Tenho um caderno no qual anoto esses pedidos. Digo que cada membro da família pode colocar até três itens ali. Se for algo objetivo, peço que me avisem quando Deus atender e compartilhem outro pedido para ser colocado no lugar desse. Isso cria um vínculo de intercessão entre o pastor e seu rebanho. Duas vezes ao dia, em meus momentos devocionais, intercedo pelos pedidos anotados. Costumo dizer: “Minha visita vai terminar, mas minha intercessão por vocês, não.”

Então, peço que orem por mim, minha família e meu ministério. Solicito também a cooperação deles para levarmos avante a obra do Senhor. Depois, oro pela família, incluindo na oração os pedidos que foram feitos. Também menciono os vizinhos da família visitada e seus familiares não adventistas. Com isso, aponto intencionalmente a visão missionária de meu ministério. Estou ali para abençoá-los, mas quero que eles abençoem a igreja e a comunidade em que estão inseridos.

Em algumas ocasiões, os membros insistem em apresentar questões graves que se relacionam à igreja. Quando isso ocorre, digo que estou chegando e precisarei de mais tempo para entender esses problemas. Além disso, peço que orem pela situação. Se for alguma dificuldade da própria família, ouço com atenção e intercedo diante de Deus em oração.

A família visitada pode estar tão carente do cuidado pastoral que aproveita para se abrir. A maior parte quer apenas atenção. Não espera que o pastor solucione seus problemas, quer apenas que ouça com empatia. Em outros casos, a família ainda não confia no pastor; por isso, não fala tanto sobre os problemas dela.

Na primeira visita, eu me convido para visitá-los, insisto em estar com eles e faço o agendamento pessoalmente. Nas demais, deixo claro aos membros que eles terão que solicitar a visita, quando houver necessidade. Isso é feito por meio da secretaria da igreja. Adoto essa estratégia considerando o papel importante que o ancionato ocupará no ministério da visitação.

Passo 4 – Quando estou finalizando as visitas, convido anciãos e esposas para uma reunião. Nesse encontro, compartilho com eles o sonho de ver a igreja bem cuidada. Procuro motivá-los a fazer o trabalho de visitação de maneira sistemática e intencional. Apresento-lhes um pequeno relatório das visitas que fiz. Geralmente, eles se manifestam, testemunhando como foi boa a visita que receberam.

Então, desafio cada ancião a assumir determinado número de famílias para pastorear e estabelecer entre elas um pequeno grupo. Marco uma reunião com eles para dividirmos a igreja em regiões geográficas ou por afinidade. Dessa maneira, como líderes, damos um grande passo para solidificar o ministério de visitação.

Passo 5 – Os anciãos recebem a lista de famílias pelas quais serão responsáveis nos próximos anos. Assim, cada família terá um ancião que vai pastoreá-la e levá-la a viver em comunhão, valorizar os relacionamentos e se apaixonar pela missão.

Em um culto de sábado, chamo os anciãos à frente com as esposas e filhos para interceder por eles e informar à igreja de que o ancionato fará o trabalho de visitação. Os membros precisam entender e aceitar que o ancião é um copastor, e que a visitação faz parte de seu trabalho.

Trimestralmente, eu me reúno com os anciãos para avaliar como estão sendo feitas as visitas e qual é o estado das ovelhas. Nesses encontros, eles compartilham situações com as quais não conseguiram lidar. Quando necessário, eu agendo uma visita à família e vou com eles para prestar a ajuda adequada. Geralmente, são casos de conflitos familiares, quebra de princípios bíblicos e questões doutrinárias.

Algo muito importante nesse processo é que o ancião esteja bem orientado e motivado a promover algumas ações com as ovelhas de seu rebanho: (1) um pequeno grupo semanal ou quinzenal, (2) atividades sociais e (3) atividades espirituais e missionárias.

Enquanto vivenciam o pastoreio, os anciãos são capacitados e se sentem apoiados para cumprir seu ministério. Esse modelo os desafia a buscar o poder do Espírito Santo. Sem consagração, eles não terão a força que essa missão requer. Consequentemente, isso resulta em crescimento pessoal e congregacional.

Vantagens do plano intencional

À medida que coloquei esse plano em prática, meu ministério adquiriu novo fôlego. Tenho visto mais crescimento pessoal no ancionato e novo vigor espiritual na igreja. Os bons resultados qualitativos e quantitativos fazem com que eu acredite nessa visão. Ao longo do tempo, observei algumas vantagens importantes do plano de visitação intencional.

Desperta na igreja o desejo de cooperar mais. Ao colocar em prática o plano intencional de visitação, é possível encontrar famílias que não foram visitadas há anos. Uma parte nunca recebeu uma visita pastoral. Isso poderá resultar na construção de um relacionamento saudável com essas pessoas. Muitas delas, movidas por gratidão, estarão mais dispostas a apoiar seu ministério e trabalhar pela igreja.

Melhora a compreensão sobre o trabalho pastoral. Uma colega de nossa filha disse à sua mãe: “Eu queria ter um pai como o da Ellen. Ele só trabalha aos sábados!” A mãe dela nos contou essa história. Aproveitei a oportunidade e, quando os visitei pela primeira vez, eles puderam entender que eu não trabalhava apenas aos sábados. Pastores e anciãos que visitam ajudam a igreja a compreender a grandeza e o alcance do ministério pastoral.

Amplia a ligação com as famílias. Quantas pessoas não cristãs da família você conhece e passa a se relacionar por meio da visitação! Trabalhei em uma igreja na qual o número de mulheres cujos esposos não eram adventistas era muito grande. Conversei com elas sobre os hobbies e preferências pessoais de seus maridos. A partir das informações que obtive, estreitei a amizade com eles, com base em assuntos que lhes fossem interessantes. Pela graça de Deus, batizei muitos deles.

Desperta o espírito missionário. Nas visitas, podemos fomentar o espírito missionário na vida dos membros da igreja. Essa é a oportunidade de perguntar sobre seus interessados e a lista de pessoas por quem estão intercedendo e trabalhando pela salvação. Ao agir assim, nos colocamos à disposição para ajudar os membros da igreja a ganhar pessoas para Cristo.

Ajuda a conter falsas doutrinas, apostasias e dissidências. Muitos de nossos problemas não são doutrinários, mas de carência afetiva. A visitação pode suprir essa necessidade e, ao mesmo tempo, nutrir os membros da igreja para que não sejam “agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4:14). O espírito denominacional é cultivado no trabalho intencional de visitação.

Torna-se uma fonte de inspiração para sermões. Muitas ideias e ilustrações de meus sermões provêm da visitação. Haddon Robinson afirmou: “Os pastores que visitam e conhecem as necessidades de seu rebanho têm uma grande vantagem. Passam a conhecer suas dores, seus problemas e questionamentos. Considero isso vital para a eficácia de sua pregação. As pessoas da sua congregação precisam saber que são amadas por você. Que você deseja o melhor de Deus para elas. Ao agirem assim, elas captarão algo em sua pregação e darão ouvido à Palavra que você pregar a elas. Isso é vital e essencial.”1

Estimula o ancionato ao pastoreio local. Em muitas igrejas, o ancião dedica a maior parte do tempo a assuntos administrativos e litúrgicos. É preciso restaurar a visão de que ele é um pastor local. Em meu ministério, enfatizo muito isso. Não que outros aspectos da igreja não mereçam atenção; contudo, o trabalho primordial do ancião é me ajudar a cuidar dos membros da igreja e conquistar pessoas para Cristo. À semelhança do pastor distrital, o ancião tem sob seus ombros a responsabilidade de zelar pelo rebanho do Senhor.

Conclusão

Concordo com Jay Adams quando ele afirma que precisamos andar menos pelos corredores da igreja, realizar menos reuniões e programas, e andar mais em direção aos lares dos irmãos e às ruas da cidade, visitando a comunidade que nos cerca.2 Tenho dito para os anciãos que se fizerem essa obra no espírito de Cristo com perseverança, dedicação e comprometimento, os frutos virão. Façamos nossa parte e deixemos os resultados nas mãos de Deus!

Referências

1 Haddon W. Robinson, “O sermão que transforma vidas”, Ministério, jan/fev 2015, p. 6.

2 Jay Adams, Shepherding God’s Flock (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1974), p. 77.

Paulo Nogueira, pastor em Uberlândia, MG