Como a pornografia afasta os homens do propósito divino para
a sexualidade

Com o aumento do uso e das facilidades da internet, tem se tornado cada vez mais cômodo e discreto o acesso a materiais danosos à vida cristã, como a pornografia. Estima-se que, de longe, a indústria de filmes pornográficos seja a maior do ramo cinematográfico. Somente nos Estados Unidos são produzidos anualmente cerca de 11 mil títulos, quase 20 vezes o número de filmes lançados de todos os demais gêneros juntos.1 Estatísticas apresentadas pelo projeto
Just1ClickAway, liderado por Josh McDowell, indicam que 25% das buscas feitas na web são sobre pornografia e, em sua maioria, quem vai atrás desse conteúdo são os homens.2 Especificamente no contexto cristão, pesquisas apontaram que 50% dos homens e 20% das mulheres ligados à igreja nos Estados Unidos eram viciados em conteúdo erótico. Entre pastores, 54% tinham visto pornografia nos últimos 12 meses e 30% nos últimos 30 dias.3

A quase onipresente pornografia tem se tornado mais do que uma distorção da intenção de Deus para a sexualidade humana. De fato, trata-se de um veneno viciante que sufoca aos poucos e sempre cobra seu preço. Um alto preço!

Mas, afinal, o que leva alguém a buscar esse tipo de material? Por que está alcançando os pastores também? O assunto é complexo e envolve não somente fatores psicológicos, mas também questões neurofisiológicas, conforme William M. Struthers bem argumenta em seu livro Wired for Intimacy: How Pornography Hijacks the Male Brain.4

Luke Gilkerson, no artigo “Four Reasons Men Like Porn”, afirma que, para muitos homens, a pornografia se tornou uma ferramenta que os ajuda a lidar com seus desafios e lutas.5 A partir da argumentação de Gilkerson, gostaria de compartilhar algumas considerações também.

A pornografia é “fácil”, mas os relacionamentos são difíceis.

Os relacionamentos para o pastor sempre são difíceis, pois exigem muito dele. Como líder, ele sempre tem que se preocupar com o que está acontecendo ao redor. Em meio a essa tensão
contínua, a pornografia oferece um sentimento de liberdade, no qual ele se vê livre dos riscos da intimidade e das preocupações. Nesse momento, o pastor não tem que pensar em qualquer outra pessoa, senão nele mesmo.

Além disso, os conteúdos eróticos apresentam um mundo de fantasia no qual os pastores não são obrigados a conhecer ninguém, não necessitam de romance e não se autossacrificam para benefício de outros. A pornografia ainda proporciona o prazer de uma enorme gama de mulheres virtuais, que atendem a todos os seus caprichos sem a complicação dos relacionamentos reais.

Essa imersão pode dar a ideia de alívio, e é nesse ponto em que mora o perigo: crer que a tensão dos relacionamentos cotidianos pode ser aliviada com a pornografia. Esse raciocínio é pecaminoso! O aparente “relaxamento” é momentâneo e vem acompanhado na sequência de medo, do distanciamento conjugal e das mentiras para esconder o vício. O que acontece é apenas uma ruptura pontual da tensão, que instantes depois volta à tona. Portanto, isso não é um alívio duradouro, mas uma anestesia temporal.

A Bíblia afirma que vida plena é obtida somente como resultado da comunhão com Cristo (Jo 15:1-11; 16:16-24; Rm 15:13). Como pastores, precisamos entender que nossa alegria deve residir em cumprir a vontade de Deus, e que há prazer em seguir Seus planos. Em Mateus 11:28, Jesus convida todos os que estão cansados e sobrecarregados a ir até Ele. Nosso supremo Pastor pode aliviar as cargas do trabalho ministerial!

Portanto, invista em sua vida devocional e no culto familiar. Se for preciso, procure ajuda especializada ou alguém de sua total confiança que lhe seja um confidente, um amigo para compartilhar suas cargas e, assim, aliviar sua tensão, sem que tenha que usar a pornografia para isso.

A pornografia é “relaxante”, mas a vida é estressante.

Na vida, as coisas dão errado. As expectativas são frustradas. As pessoas nos decepcionam. Tragédias acontecem. Ficamos doentes. Há desentendimentos. Choramos. Sentimos medo e insegurança quanto ao futuro. Existem temas delicados e que não sabemos como resolver. De fato, viver estressa!

Por outro lado, a traiçoeira ilusão da pornografia oferece um mundo muito confortável, em que nada dá errado. Trata-se de um ambiente onde se sabe que vai encontrar exatamente o que é prometido.

A pornografia, de fato, é uma fuga que não resolve o que causa o estresse. Consumir esse tipo de material nunca será uma experiência emocional ou fisiologicamente neutra. Quem procura se refugiar nesse vício acaba exposto à manipulação do diabo. A Bíblia é contundente ao afirmar que Deus é nosso verdadeiro refúgio e fortaleza (Sl 46; 59:16, 17; 61:1-3; 62:5-8; 91; 142).

Quem procura refúgio na pornografia se assemelha a alguém sedento que tenta saciar a sede bebendo água do mar. O “relaxamento” oferecido, na verdade, é um alto fator de estresse. Homens que caem nesse vício deixam de ser amantes de sua esposa e passam a fantasiar com mulheres que eles nunca terão na realidade. Por consequência, essa desvinculação emocional fragiliza o casamento e promove um ambiente sufocante. O alívio torna-se uma carga pesada e com consequências desastrosas.

A pornografia é “emocionante”, mas a vida é monótona.

O tédio é um dos frutos de uma cultura de entretenimento que sempre busca algo a mais. Há uma fome generalizada por distração. Exatamente nesse ponto surge a pornografia, oferecendo um mundo de excitação sexual para mentes entediadas.

A vida pode sair da apatia quando se descobre a emoção de conhecer a Deus e obedecê-Lo (Mt 13:44, 2Co 8:1, 2; Fp 1:3, 4, Cl 1:9-14, 1Pe 1:3-9; 3Jo 3, 4). Fazer a vontade do Senhor e vencer as tentações também proporciona entusiasmo, confiança e quebra de monotonia. Ellen G. White escreveu: “A verdadeira santificação é obra diária, continuando por tanto tempo quanto dure a vida. Aqueles que estão batalhando contra tentações diárias, vencendo as próprias tendências pecaminosas e buscando santidade do coração e da vida, não fazem nenhuma orgulhosa proclamação de santidade. Eles são famintos e sedentos de justiça. O pecado parece-lhes excessivamente pecaminoso.”6 E, definitivamente, nessa luta contra o pecado não há monotonia.

A pornografia faz o homem se sentir “poderoso”, quando, na verdade, ela o torna fraco.

A pornografia oferece aos homens uma falsa sensação de poder, alimentando todas as suas fantasias com garotas que nunca dizem não. Não existem barreiras entre um homem e uma mulher. As mulheres bonitas são fáceis e não passam de troféus colecionáveis. Os filmes potencializam a ideia da dominação masculina, permitindo que os homens fantasiem com um mundo onde as mulheres gostam de ser tratadas como objetos.

Todos nós passamos por alguma situação em que nos sentimos menosprezados, sem importância ou desrespeitados. Contudo, em momentos assim, jamais se deve recorrer à pornografia como solução para elevar a autoestima ou a valorização pessoal.

Para Deus somos importantes. Cristo compartilha Sua glória com cada ser humano, porque Ele vive em nós (Jo 17:20-24, Rm 2:6-10; Cl 1:24-29). Humanizar as pessoas que estão “se exibindo” sexualmente
tem sido de grande ajuda aos que estão lutando contra a pornografia. Cada ator ou atriz faz parte de uma família, tem pais e irmãos; alguns são pais e lutam contra a vergonha que lançam sobre seus filhos. São pessoas e não objetos.

Relatos de atores e atrizes do mundo pornográfico apresentam com regularidade o fato de que, para conseguir desempenhar seu papel, tinham que estar sob o efeito de álcool ou drogas. Os que descobriram a satisfação da salvação em Jesus e se libertaram dessa prisão relatam suas experiências passadas com tristeza e vergonha.7

Não há nada em toda a criação que valha mais do que os seres humanos. Não há mensagem mais central no evangelho do que a morte e ressurreição de Jesus. A relação entre marido e mulher é um símbolo do relacionamento entre Cristo e Sua igreja. A sexualidade é intrinsecamente ligada ao casamento. Sua única expressão correta ocorre dentro dessa união, que representa o grau de intimidade que Cristo espera em Sua relação com Seu povo.

Em última instância, a pornografia é uma violação do evangelho. A pureza da relação sexual aponta para o amor imaculado que o Salvador tem por Sua igreja. Qualquer caminho diferente mancha a pureza e sublimidade que Deus deseja compartilhar com o ser humano.

Tim Challies, em seu artigo “Why Viewing Porn Mocks the Gospel?”, conclui suas reflexões com uma pergunta profunda e importante: “Você ama a pornografia o suficiente para perder sua salvação por causa dela?”8 Se algum dia você se sentir tentado a acessar algo que não deveria, lembre-se dessa questão. Não permita que a pornografia desonre o ministério que você recebeu do Senhor e tire de você o elemento mais importante da vida: sua salvação. 

Referências

1 Ralph Frammolino e P. J. Huffstutter. “The Actress, the Producer, & Their Porn Revolution”, Los Angeles Times Magazine, 6/1/2002.

2 “Sexo na internet: uma epidemia”,
<https://goo.gl/aDZpik>.

3 Renato Cardoso e Cristiane Cardoso, Casamento Blindado (Thomas Nelson Brasil, 2012), p. 27.

4 William M. Struthers, Wired for Intimacy: How Pornography Hijacks the Male Brain (Downers Grove, IL: IVP Books, 2009), capítulo 4, “Your brain on porn”.

5 Luke Gilkerson, “Four Reasons Men Like Porn”, <https://goo.gl/d8vDFf>.

6 Ellen G. White, Santificação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 10.

7 Shelley Lubben , “Porn as a Driver of Demand for Prostitution & Sex Trafficking”, <https://goo.gl/Bo7Kvv>.

8 Tim Challies, “Why Viewing Porn Mocks the Gospel?”, <https://goo.gl/ayRLTF>.

Rafael Rossi, mestre em Teologia Pastoral, é líder de Comunicação para a Igreja Adventista na América do Sul