Quando um rabino chamava alguém para segui-lo, o processo de discipulado implicava a imitação do mestre. A palavra discipulado vem do latim, discipulatu, que significa “aprender” ou “aprendizagem”. Antes de Jesus enviar Seus discípulos, Ele os convidou a segui-Lo. “Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens” (Mt 4:19). Michael Green, no livro Evangelização na Igreja Primitiva, declara: “Jesus encarregou um pequeno grupo de onze homens para executar Sua obra e levar o evangelho a todo o mundo. Eles não eram pessoas importantes nem bem instruídas, e também não tinham pessoas influentes atrás de si. […] Mesmo assim, eles conseguiram” (p. 11).

O livro de Atos confirma que os discípulos cumpriram sua missão. Igrejas foram estabelecidas e, em seguida, a liderança local foi nutrida e treinada para espalhar o evangelho. Os recém-convertidos eram incentivados a desempenhar seus dons. Os milhares que foram batizados perseveraram na doutrina apostólica (At 2:42). “Cada ano, por ocasião das festas, muitos […] vinham a Jerusalém, […] os apóstolos pregavam a Cristo com indômita coragem [e] muitos se converteram à fé; e esses, de volta a seus lares em diferentes partes do mundo, espalhavam as sementes da verdade” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 165).

Os apóstolos e novos conversos aproveitaram toda oportunidade para pregar e fazer discípulos. Testemunharam nas sinagogas e ao ar livre, nos lares e nas escolas; também ensinaram por preceito e exemplo. A convicção de que o Messias tinha vindo, cumprido a profecia e deixado a mensagem de salvação para que eles a anunciassem era a força que os impelia a avançar. Eles também compreenderam que se não dedicassem atenção ao crescimento dos novos na fé, teriam poucos frutos duradouros.

Paulo, um discipulador por excelência, ensinou pelo exemplo (1Co 4:16); conviveu com os novos conversos compartilhando o que sabia (At 20:34); e finalmente delegou responsabilidades a eles enquanto ainda estavam em treinamento. O apóstolo também manteve contato com aqueles a quem havia discipulado (1 e 2 Timóteo e Tito). Sua preocupação era firmar os novos crentes e ensiná-los a trabalhar pela salvação de outros.

Fazer discípulos exige que sejamos modelos que reflitam Jesus para nossos seguidores. “Sejam meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Co 11:1). No discipulado, transmitir o que se recebeu serve como edificação. Por isso ele deve ser realizado em nível pessoal. Barnabé ensinou João Marcos (At 12:25; 15:39), Áquila e Priscila ajudaram Apolo (At 18:24-26) e Paulo preparou Timóteo (At 16:1-3). O apóstolo testemunhou: “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito” (2Tm 3:10).

A exemplo de Paulo, cada ministro e líder cristão deve se sentir responsável pelo progresso espiritual daqueles que estão sob seus cuidados, a fim de que se tornem discípulos e cooperadores do Senhor. Precisamos, portanto, de um discipulado genuíno. Um movimento poderoso e relacional que seja relevante. Não podemos nos esquecer de que o evangelho não é um sistema de dogmas, muito menos uma cultura cristã. O evangelho é uma Pessoa.

Michael Green declara que o maior estímulo para o discipulado na igreja apostólica “foi a consciência da iminência do fim […] e das contas que, no fim, teremos que prestar a Deus” (Evangelização na Igreja Primitiva, p. 326). Todos os que receberam o evangelho têm a sagrada responsabilidade de reparti-lo com o mundo, fazendo assim novos discípulos para o Mestre. Essa tarefa não cabe somente aos pastores, mas a todos aqueles que receberam as boas-novas. 

“Fazer discípulos exige que sejamos modelos que reflitam Jesus para nossos seguidores.”

Márcio Nastrini, mestre em Teologia, é editor associado da revista Ministério