O pastor Carlos Gill nasceu no Paraguai, mas cresceu e estudou na Argentina, onde se graduou em Teologia e concluiu o mestrado na Universidade Adventista del Plata. Atuou como pastor distrital, diretor de departamentos e presidente da Associação Argentina do Norte, além de liderar a União Austral e, depois, a União Argentina. Serviu também na Associação Planalto Central (APlaC), em Brasília, estudou Clínica Pastoral nos Estados Unidos e foi diretor espiritual da Adventist Health Brasil. Casado com Anny, diretora da Afam e do Ministério da Mulher na APlaC, é pai de Eric e Kevin, e avô de Alicia. Confira a entrevista com o novo líder da Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana.
Quais serão suas prioridades como secretário ministerial da Divisão Sul-Americana?
O principal objetivo do ministério é, segundo Ellen White, “manter o eu fora de foco e deixar que Cristo apareça. A exaltação de Cristo é a grande verdade que todos os que trabalham por palavra e doutrina devem revelar” (Mensagens Escolhidas [CPB, 2022], v. 1, p. 131). Meu propósito é desenvolver um ministério cristocêntrico: pastores que olhem para Cristo, que andem com Cristo e que falem de Cristo. Por isso, minhas prioridades são fortalecer a espiritualidade pastoral, investir no preparo contínuo e ajudar cada ministro a redescobrir a beleza e a força de nossa identidade adventista, a fim de cumprir nossa missão profética. Exaltar a Cristo também significa cuidar de quem cuida: estar próximo dos pastores, apoiar suas famílias e fortalecer sua caminhada espiritual e emocional.
Entre os maiores desafios que os pastores enfrentam hoje na América do Sul, quais o senhor destacaria?
Os pastores enfrentam pressões que não podem ser ignoradas. Vivemos em uma cultura marcada por vínculos frágeis, excesso de demandas e ritmos acelerados que desgastam a vida. A tentação é medir o valor do ministério apenas pelo desempenho, viver em meio a relações superficiais e correr o risco de perder a profundidade espiritual. Nesse cenário, o primeiro grande desafio é cuidar da espiritualidade e da identidade pastoral: fortalecer a comunhão com Deus, renovar a visão ministerial e viver de maneira íntegra. Ao mesmo tempo, é necessário redescobrir o equilíbrio entre vida pessoal e ministério, cultivar a saúde física e emocional e aprender a lidar de forma mais saudável com as mídias digitais. O segundo aspecto está ligado ao desenvolvimento contínuo e ao apoio mútuo. Precisamos de capacitação permanente, mas também de que cada pastor assuma um projeto pessoal de crescimento espiritual e ministerial, valorizando suas próprias iniciativas.
O que considera essencial para prevenir o desgaste emocional e espiritual no ministério?
No ministério, muitas vezes sentimos a pressão de nunca parar. Por se tratar de uma tarefa sagrada, acabamos nos cobrando além do necessário e, com isso, deixamos de lado o descanso, a família e até a recreação saudável. É justamente nesse ponto que nasce o desgaste. O essencial para preveni-lo é estabelecer prioridades corretas (Mt 6:33): antes da agenda, a vida devocional; antes da ação, a comunhão; antes do fazer, o ser. Também precisamos lembrar que cuidar de nós mesmos não é egoísmo, mas parte da fidelidade ao chamado. Viver a temperança significa equilíbrio: saber trabalhar e saber parar; servir com dedicação e também cultivar tempo para restaurar forças no Senhor. O ministério não é uma corrida de cem metros, mas uma maratona – e quem deseja chegar até o fim precisa aprender a correr no ritmo da graça.
Que conselhos daria aos pastores para manterem o equilíbrio entre vida pessoal, família e ministério?
O ministério demanda dedicação exclusiva, mas isso não significa descuidar das outras dimensões da vida. Quando zelo pela minha saúde física e emocional, estou também cuidando do meu ministério; quando dedico tempo à minha família, fortaleço minha vocação. Uma prática simples que me ajudou foi a “regra de um minuto”: comecei fazendo apenas um minuto de exercício e, a cada dia, acrescentava outro. Ao fim de um mês, já chegava a meia hora, tornando-se parte da rotina. Com a família, mesmo viajando muito, sempre busquei criar momentos de qualidade, ainda que breves. Dez minutos plenos e conectados com os filhos valem mais do que horas distraídas. Também acredito que o modo como apresentamos o ministério dentro de casa faz toda a diferença: se o tratamos como um peso, eles o sentirão assim; mas se o vivemos como um privilégio, aprenderão a amar o que amamos. Quando temos
uma vida devocional sólida, vínculos familiares fortes e hábitos de temperança, estamos também cuidando do ministério.
Como pretende incentivar a colaboração e a unidade entre pastores de diferentes regiões e culturas da América do Sul?
A família ministerial da DSA é muito grande: somos cerca de 5.600 pastores em oito países, e dentro de cada país encontramos realidades culturais diversas. Apesar dessas diferenças, existem muitos aspectos que nos unem. Enfrentamos os desafios de um mundo globalizado, interconectado e, ao mesmo tempo, polarizado, em que grupos tendem a se fechar em si mesmos. Por isso, quero fortalecer os canais que já temos, como nossas publicações oficiais, e atualizar nossos sites e recursos digitais, ampliando espaços nos quais possamos receber e compartilhar materiais e experiências que enriqueçam o ministério. Além disso, para este quinquênio, a igreja está planejando um grande Concílio Ministerial que reunirá todos os pastores do continente. Um encontro assim não é apenas um evento: é um espaço de comunhão, de renovação espiritual e de fortalecimento da unidade de nossa família ministerial.
Quais são os planos para a capacitação contínua dos pastores?
Uma de nossas prioridades será acompanhar de perto os pastores mais jovens desde a sua formação, para que possam crescer com bases sólidas. A Divisão Sul-Americana já avançou significativamente na implementação de um modelo de desenvolvimento ministerial que contempla as qualidades essenciais requeridas de um pastor adventista. Ao longo do quinquênio passado, a Secretaria Ministerial impulsionou um plano extraordinário de capacitação e formação, definindo com clareza as competências que devem caracterizar o ministério pastoral no contexto sul-americano. Nosso propósito agora é dar continuidade a esse processo, reconhecendo que se trata de um plano de longo prazo, que requer constante avaliação. Além disso, queremos aprofundar o programa de formação contínua para todos os pastores. Hoje, a tecnologia nos permite acompanhar cada ministro de forma mais próxima, e nosso objetivo é fortalecer plataformas digitais que facilitem o acesso a cursos e recursos de atualização.
Como pretende manter um canal aberto de diálogo com os pastores e líderes ministeriais?
O desafio é imenso, mas a rede ministerial na América do Sul está crescendo e se consolidando. Hoje contamos com 106 secretários ministeriais nas Uniões e Associações, e isso nos dá a certeza de que não caminhamos sozinhos. Uma das prioridades estratégicas da nossa Divisão é o discipulado, o que requer proximidade. Nossa função não é burocrática, mas pastoral: estar próximos, caminhar juntos e cuidar uns dos outros no ministério. Discipulado não acontece à distância, mas no convívio. Em resumo, discipulado não é evento ou programa, mas proximidade encarnada no cuidado cotidiano.
Carlos Gill, secretário ministerial para a Igreja Adventista na América do Sul
