O chamado ao ministério é um privilégio solene conferido por Deus ao ser humano. Exercer essa função e se manter fiel ao chamado requer a entrega total da mente, do coração e das forças do pastor em serviço a Deus e a seu rebanho. Entretanto, por mais digno que seja o trabalho pastoral, às vezes notamos que surgem desequilíbrios na vida daqueles que se tornaram pescadores de homens. A rotina e as exigências do trabalho pastoral tendem, muitas vezes, a torná-lo sedentário.
Isso não é culpa dele. A própria natureza do trabalho exige que o pastor passe horas e horas sentado, estudando, preparando sermões, criando estratégias evangelísticas, lidando com problemas administrativos, dando estudos bíblicos, escrevendo textos e reflexões. Por esse motivo, o pastor sofre muito desgaste mental e emocional.
Consequentemente, não é incomum ouvirmos falar de colegas que estão sofrendo de pressão alta, problemas cardíacos, colesterol alto, obesidade, fadiga crônica, burnout, problemas na coluna e câncer, apenas para mencionar os mais conhecidos. Infelizmente, a deterioração da saúde do pastor produz uma deterioração no seu ministério, e aquele pastor que começou seu ministério feliz, motivado, cheio de energia e de novas ideias, acaba se tornando um pastor cansado, insatisfeito, impaciente e fragilizado. A apatia toma o lugar da motivação, e a doença o lugar da força.
Por mais paradoxal que pareça, ter uma vida ocupada não significa necessariamente ter uma vida ativa. Como a maioria da população brasileira, muitos pastores não se exercitam o mínimo necessário. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, uma pessoa que pratica menos de 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física intensa por semana já é considerada sedentária.1 Esse é um dos fatores que está levando 22% dos brasileiros à obesidade, sendo que 55 a 60% já estão com sobrepeso.2 Há quem diga que o sedentarismo é mais prejudicial que o consumo diário de cigarros!3
Infelizmente, muitos pastores tratam o exercício físico como um artigo de luxo, e não uma necessidade básica. Ellen White lamenta que “alguns de nossos pastores acham que precisam realizar cada dia qualquer trabalho que possam relatar para a Associação. E, consequentemente, seus esforços são muitas vezes débeis e ineficientes”. Ela afirma que, quando dedicamos tempo para realizar exercício físico “necessário para manter o organismo em bom funcionamento, vocês estão fazendo a obra de Deus da mesma forma que quando dirigem reuniões”.4 Ela é categórica: “No que se refere à saúde, o exercício físico seria do maior valor para todos os nossos pastores.”5
Tipos de exercício físico
Considerando essa necessidade, o pastor precisa identificar qual atividade física lhe é mais prazerosa e benéfica. Questões como ambiente, duração, idade, constituição física e companhia também devem ser consideradas na hora de escolher um exercício físico – uma atividade que possa ser adequada para um, talvez não o seja para outro.
Grosso modo, existem dois tipos de exercício físico: os “aeróbicos”, ou cardiovasculares; e os “anaeróbicos”, ou de força. Os exercícios aeróbicos são aqueles que usam o oxigênio como fonte de energia. Eles são praticados por um longo período, sem necessariamente exigir muita intensidade. Eles aumentam a frequência cardíaca e respiratória, melhoram a saúde do coração e dos pulmões, diminuem a pressão arterial, ajudam a construir resistência e aceleram o metabolismo. Exemplos desse tipo de exercício incluem corrida, pular corda, natação, ciclismo e uma caminhada rápida.
Por sua vez, os exercícios anaeróbicos são mais intensos e são praticados por um período mais curto. Eles exigem que o corpo use o carboidrato presente nas células para ter energia. Eles aumentam a massa muscular, que, por sua vez, aumenta a queima de calorias. Elas definem e tonificam os músculos, fortalecem os ossos e aumentam a força física. Exemplos desse tipo de exercício incluem musculação, pilates, flexões e abdominais.
Benefícios
Praticar exercício físico proporciona benefícios que vão além da simples melhora do corpo e da saúde física. Tratando-se de benefícios específicos para o ministério, podemos dizer que o simples esforço diário de correr, nadar ou ir para a academia já fortalece a força de vontade do pastor, estabelece uma disciplina e o ajuda a criar uma rotina. É comum ouvir pastores reclamando da ausência de rotina. Os horários para acordar, comer, trabalhar e dormir podem às vezes se tornar caóticos. Criar o hábito de praticar um exercício físico todo dia, logo de manhã, por exemplo, pode ajudar a melhorar essa questão.
A atividade física também ajuda a saúde mental do pastor. Como o cérebro é um dos órgãos principais utilizados por ele em suas atividades ministeriais, é fundamental que esteja funcionando bem. O ex-presidente americano John F. Kennedy disse certa vez que “a boa forma física não é apenas uma das chaves mais importantes para um corpo saudável; é a base de uma atividade intelectual dinâmica e criativa. Inteligência e habilidade só podem funcionar em seu auge quando o corpo está forte. Espíritos resilientes e mentes fortes normalmente habitam corpos saudáveis”.6
Devido ao alto nível de estresse, às oscilações emocionais e ao cronograma irregular ao qual um pastor é frequentemente submetido, regularmente ele poderá se sentir exausto ao fim de um dia de trabalho. Praticar exercício físico pode ajudar a melhorar sua resistência. Os músculos são fortalecidos, a circulação sanguínea é ativada, o corpo é regenerado e a tolerância do corpo a essas condições é desenvolvida. “Hábitos de estrita temperança no viver, ao lado do conveniente exercício, assegurariam vigor tanto físico quanto mental, dando capacidade de resistência a todos os obreiros que trabalham com o cérebro.”7
A atividade física também desempenha papel fundamental na redução dos níveis de estresse em indivíduos. Quando nos exercitamos, nosso corpo libera endorfinas, que são neurotransmissores conhecidos por promoverem a sensação de bem-estar e de alívio do estresse. Além disso, a prática regular de exercícios físicos reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.8
Outro benefício muito importante que a atividade física proporciona ao ministério do pastor é o testemunho silencioso que ele deixa em favor da temperança. Ao verem seu pastor se preocupando com a própria saúde física, os membros da igreja serão indiretamente estimulados a confiar no que ele prega e a seguir seu exemplo de vida. Eles identificarão uma coerência no que ele prega e vive. Muitos membros já relataram que começaram a praticar algum tipo de atividade física porque viam seu pastor correndo ou acompanhavam suas postagens nas redes sociais incentivando essa prática.
Não podemos nos esquecer de que um corpo que pratica exercício físico tem um repouso mais satisfatório e restaurador durante a noite. Aqueles que praticam exercício físico também tendem a beber mais água e a se preocupar mais com a qualidade e a quantidade de alimentos que ingerem. Todas essas questões proporcionam benefícios ao pastor durante o desempenho de suas funções.
Em resumo, a atividade física diária pode proporcionar um ministério mais eficaz. O pastor perceberá que, em questão de dias, sua resistência aumentará, ele terá menos fadiga e seus nervos estarão mais calmos diante das inúmeras situações de estresse. Ele terá mais disposição para trabalhar e notará que sua mente estará mais apta a realizar certas atividades que antes lhe causavam desânimo. Se nossa mente depende de um corpo que esteja ativo, não temos o “luxo” de viver uma vida sedentária.
Glauber Araújo editor associado da revista Ministério
Referências:
1 Juliana G. Martins de Lima, “Sedentarismo”, Vida e Saúde (abril de 2022), p. 22.
2 Pablo Wincler, “Exercício Físico”, Vida e Saúde (maio de 2022), p. 11.
3 Carolina Felix, “Prejuízos do Sedentarismo”, Vida e Saúde (janeiro de 2019), p. 9.
4 Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 564.
5 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 354.
6 John F. Kennedy, “The Soft American”, Sports Illustrated (26 de dezembro de 1960).
7 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 143.
8 “Exercising to Relax”, Harvard Health Publishing (7 de julho de 2020), disponível em , acesso em 18/12/2023.