Há 152 anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia ensina pessoas em todo o mundo a viver melhor

Em 6 de junho de 1863, em Otsego, Michigan, Deus revelou por meio de Ellen G. White, que os adventistas deviam começar a prestar atenção à saúde e ao estilo de vida. Essa primeira visão sobre saúde transformou a Igreja Adventista do Sétimo Dia, levando-a a se tornar uma instituição importante em assuntos de saúde e ciência da saúde ao redor do mundo.

No início do século 19, as práticas de saúde na América do Norte estavam longe do que hoje consideramos normal. Conforme Rennie Schoepflin, “no início do século 19, pacientes americanos e médicos compartilhavam uma compreensão comum de saúde e doenças, contrária à compreensão da maioria dos americanos hoje”.1 Médicos e enfermeiros tinham pouca ou nenhuma educação formal. Cigarro e outras drogas mortais eram usadas na medicina, e os pacientes eram levados à morte. Um em cada seis recém-nascidos morria antes de completar um mês de existência. A expectativa de vida, em média, não passava dos 30 anos. Pouco ou nada era conhecido sobre nutrição, “frutas e vegetais eram largamente evitados”. A higiene também deixava muito a desejar. Segundo alguns relatos, naquele tempo havia americanos que raramente ou nunca tomavam um banho.2

Nesse contexto, os reformadores de saúde começaram a aparecer e apelar para novos caminhos de vida saudável. Sylvester Graham surgiu com sua nova dieta Graham, ensinando novos hábitos de alimentação. O Dr. James C. Jackson estabeleceu uma instituição no estado de Nova York, que usava hidroterapia e outros métodos naturais.3

Primeiras atitudes

Nos anos 1850, a maioria dos adventistas sabatistas não estava interessada em saúde, afinal todos estavam muito ocupados na pregação da “verdade presente”. Por volta de 1851, eles priorizaram certas doutrinas teológicas que definiam quem eles eram. Entusiasmados, compartilhavam a fé.Quando alguns crentes começaram a perguntar se os alimentos suínos eram saudáveis, Tiago White respondia que a abordagem de tal assunto “somente distrairia o rebanho de Deus, e desviaria a mente dos irmãos da importância da presente obra de Deus entre o remanescente”.5 Ellen G. White o apoiou. Em 1858, ela escreveu:

“Vi que suas ideias sobre a carne de porco não seriam prejudiciais se vocês as retivessem para si mesmos, mas, em seu julgamento e opinião, os irmãos têm feito dessa questão uma prova, e seus atos têm demonstrado o que vocês creem sobre isso. Se ­Deus achar por bem que Seu povo se abstenha da carne de porco, Ele os convencerá a respeito […] Se for dever da igreja se abster da carne de porco, ­Deus o revelará a mais do que duas ou três pessoas. Ele ensinará à Sua igreja o dever dela.”6

Mas os adventistas tiveram que entrar na discussão da saúde, por causa de questões práticas. Embora pregassem a verdade presente, sofriam e morriam por causa de maus hábitos de estilo de vida. De fato, o adventismo enfrentou ameaça de colapso, porque seus líderes não prestavam atenção à própria saúde.

Nos anos 1860, por exemplo, a saúde de Tiago White definhava fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Ellen G. White notou como o marido se demorava em “lembranças desagradáveis” do passado que haviam causado a ele profunda angústia emocional. Ele também se descontrolava com os que trabalhavam para ele, facilmente se irritava e tinha espírito imperdoável. Portanto, parte da visão de 1863 foi direcionada a Tiago White e seu estilo de vida.7 Em 1865, ele sofreu seu primeiro acidente vascular cerebral por causa de sobrecarga e exaustão.

John N. Andrews, primeiro missionário oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também refletiu sobre seus hábitos de saúde naquele tempo:

“Fui impedido de usar tabaco, até mesmo de provar bebida forte; mas aprendi quase nada sobre os males da alimentação insalubre. […] Pensava que queijo velho era bom para ser digerido! Não sorria da minha tolice; a menos que minha memória esteja falhando, aprendi isso nas ‘obras médicas padrão’. Com respeito à carne moída e salsichas, eu não imaginava que eram insalubres, a menos que estivessem exageradamente condimentadas, ou com data vencida. Biscoitos quentes com manteiga, rosquinhas, conservas, chá, café, tudo isso era de uso comum. Sobre ventilação, eu sabia quase nada. […]

“Quando ingressei no ministério cristão, aos 21 anos, eu já não desfrutava saúde estável. […]

“Tivesse eu compreendido as leis a respeito do uso de alimentos, dos princípios gerais de higiene, eu poderia ter ido mais longe do que fui no exaustivo trabalho que tentei realizar. Mas, em resumo, esta é
minha história: Em menos de cinco anos, eu estava completamente prostrado. Minha voz foi destruída, acho que permanentemente; minha visão estava consideravelmente prejudicada. Eu não conseguia descansar durante o dia, nem tinha bom sono à noite.”8

John N. Loughborough, primeiro historiador do movimento, também descreveu parte de sua dieta: “Eu era grande apreciador da carne como alimento”, ele escreveu. “Preferia gordura de porco frita no desjejum, carne cozida no almoço, fatias de presunto gelado ou bife no jantar. Um dos meus mais deliciosos petiscos era pão bem embebido no molho de porco.”9 Obviamente, o adventismo do sétimo dia e seus líderes necessitavam de um ponto da virada.

1863 em diante

Foi nesse contexto que Deus lembrou aos adventistas a importância da saúde, na visão que Ellen G. White recebeu em junho de 1983. Ela escreveu:

“Vi que agora devíamos ter especial cuidado da saúde que Deus nos deu, pois nossa obra ainda não tinha sido realizada. […] A obra que Deus requer de nós não nos isenta de cuidar de nossa saúde. Quanto mais perfeita for nossa saúde, tanto mais perfeito será o nosso trabalho. […] Vi que era um dever sagrado zelar de nossa saúde, e despertar outros para seu dever, sem colocar sobre nós o peso do seu caso. Temos, porém, o dever de falar e de batalhar contra a intemperança de toda espécie – intemperança no trabalho, no comer, no beber e no uso de medicamentos – indicando-lhes então o grande remédio de Deus: água, água pura, para doenças, para a saúde, para limpeza e como regalo.”10

A mensagem de Deus é simples: A saúde é importante e os adventistas do sétimo dia devem prestar atenção a isso.

Essa ideia levou o adventismo a se tornar gradualmente líder na promoção do viver saudável. Como resultado, os adventistas do sétimo dia construiriam sua primeira instituição médica – o Western Health Reform Institute – em 1866. Posteriormente, o instituto se tornou o Sanatório de Battle Creek. No mesmo ano, também lançaram o primeiro periódico sobre saúde, o Health Reformer. Jovens adventistas, incluindo John Harvey Kellogg, foram encorajados a obter educação médica. Mais tarde, em 1905, graças à liderança visionária de Ellen G. White e a ajuda de John A. Burden, os adventistas compraram a propriedade para o que se tornaria o Sanatório Loma Linda, na Califórnia.11 Em 1906, eles também começaram a faculdade de Medicina (Universidade Loma Linda).

Hoje, os adventistas do sétimo dia têm o maior sistema protestante de saúde no mundo, com mais de 500 instituições em 65 países. Sua abordagem integral da saúde tem feito excelentes contribuições à ciência e educação da saúde no século 21. Mas, tudo começou com a simples mensagem de Deus, há mais de 150 anos: a saúde é importante. Os adventistas continuam a proclamar a mesma mensagem, ajudando pessoas a viver melhor e mais saudáveis em todo o mundo. 

Referências:

  • 1 Rennie B. Schoepflin, The World of Ellen G. White (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1987), p. 143.
  • 2 George R. Knight, Ellen White’s World: A Fascinating Look at the Times in Which She Lived (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1998), p. 29-41.
  • 3 Ibid., p. 34-36.
  • 4 A lista inclui as doutrinas da segunda vinda, sábado, santuário, estado do homem na morte e dons espirituais.
  • 5 James White, Advent Review and Advent Herald, 23 de maio de 1854, p. 140.
  • 6 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 206, 207.
  • 7 ___________, Manuscript 1, 1863.
  • 8 Nohn N. Andrews, citado em Ellen G. White, Christian Temperance and Bible Hygiene (Battle Creek, MI: Good Health Publishing, 1890), p. 262, 263.
  • 9 John N. Loughborough, Gospel of Health, outubro de 1899, p. 175.
  • 10 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 279, 280.
  • 11 John A. Burden foi pastor adventista do sétimo dia. Sua atuação foi fundamental na negociação e compra da propriedade para a Universidade Loma Linda. Ele também atuou como administrador do Sanatório Loma Linda, de 1905 a 1915.