Ao escrever sua segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo não tinha dúvidas de que o seu processo haveria de resultar em sentença de morte. Tudo parece respirar profunda emoção; todos os sentimentos que se agitavam dentro de seu coração, são revelados nesta carta. As expressões: “Só Lucas está comigo” e “apressa-te a vir ter comigo,” bem demonstram o estado de espírito em que se encontrava. E foi nestas circunstâncias que São Paulo escreveu a Timóteo, receando que ele não chegasse a tempo para trocar o abraço de despedida. Importantes instruções tinha Paulo a transmitir a Timóteo, pois fora-lhe confiada uma obra pastoral. Usando de palavras imperativas, Paulo procura recordar a Timóteo os deveres que sobre ele impendiam como Ministro do Evangelho de Cristo. “Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo. . .” foram as palavras introdutórias a sua carta. As instruções transmitidas são um verdadeiro programa pastoral. São orientações certas e seguras para o sucesso do ministério evangélico de nossos dias, como foram nos dias de Timóteo.

PREGADOR

Apontando o Tribunal de Deus, no julgamento dos “vivos e dos mortos na Sua vinda,” reforça Paulo o dever de pregar a “palavra.” Esta pregação não poderia estar condicionada ao tempo e espaço. A edição “Ave Maria” traduz: “Pregues com insistência, oportuna e inoportunamente.” A nossa primeira e única preocupação deve ser pregar a palavra. Embora usemos de recursos modernos para apresentar a verdade, jamais devemos nos desviar da “palavra.” A irmã White, comentando os escritos de Paulo a Timóteo diz: “Esta solene incumbência a alguém tão zeloso e fiel como era Timóteo, é um forte testemunho da importância e responsabilidade da obra do ministro evangélico. Chamando Timóteo ao Tribunal de Deus, Paulo lhe ordena pregar a palavra; não fórmulas e ditos humanos; a testemunhar prontamente de Deus onde quer que se lhe apresentasse oportunidade — diante de grandes congregações ou limitados círculos, junto a caminhos e nos lares, a amigos e inimigos, fosse em segurança ou exposto a dificuldades e perigos, vitupério e danos.

AÇÃO TRÍPLICE

Em seu ministério, deveria Timóteo cuidar em “repreender, suplicar e admoestar,” segundo a versão de Matos Soares. Achamos muito oportuna esta tradução, porque ela revela uma grande necessidade em nossos dias. Preocupamo-nos somente em repreender; no entanto, para que nossa obra seja completa em favor do errante, são exigidas mais duas ações: suplicar e admoestar. Conhecemos a experiência de muitos ex-irmãos, inclusive jovens, que desapontados fugiram de nosso meio porque houve alguém que não usou o método ensinado por São Paulo, que não é outro senão o método de Jesus. Para estourar uma boiada, ou dispersar um rebanho, basta um movimento brusco do guia; e será difícil contê-los. Nossos jovens passam por momentos difíceis. Mais do que nunca está o mundo a lhes acenar, convidando-os a uma vida de comodidade, luxo e prazer. Que estamos fazendo para salvá-los? Não será com repreensões e censuras. A repreensão deve ser dosada, temperada com a compreensão de uma súplica e exortação. Assim fez Jesus e continua a fazê-lo. Podemos sentir nestas palavras de Jesus uma súplica: “Não peques mais.” Sobre o assunto temos o seguinte comentário da irmã White: “Temendo que a disposição branda e condescendente de Timóteo, pudesse levá-lo a esquivar-se de uma parte essencial de sua obra, Paulo exorta-o a ser fiel em reprovar o pecado, e a repreender mesmo com firmeza os que fossem culpados de males graves. Contudo, deveria fazê-lo com ‘toda longanimidade e doutrina.’ Devia ele revelar a paciência e o amor de Cristo, tornando claras suas reprovações e reforçando-as pelas verdades da Palavra.” — Atos dos Apóstolos, pág. 503.

PACIÊNCIA

Reforçando o pensamento da “ação tríplice,” temos a salientar uma conduta valiosa diante do transgressor. Para alcançarmos êxito em nosso trabalho pessoal, é necessário “paciência.” Ao tratarmos com os indiferentes, com os críticos, com os zombadores e sarcásticos, muitas vezes falta-nos a paciência. O ambiente, o ar, o clima que se respira numa cidade grande, afetam seriamente nosso comportamento. Mas sendo a paciência uma característica do amor (I Cor. 13:4), e um dos frutos do espírito (Gál. 5:22), como pois entender um ministro do evangelho impaciente no trato com os errantes? Na realidade é difícil conservar a calma neste mundo. Diante de tanta transgressão, tanto descaso para com as coisas sagradas da salvação, quem não se zanga? A irmã White comenta: “Odiar e reprovar o pecado, e ao mesmo tempo mostrar piedade e comiseração pelo pecador é uma difícil tarefa. Quanto mais ardentes nossos próprios esforços para manter a santidade do coração e da vida, tanto mais aguda nossa percepção do pecado, e mais decidida nossa desaprovação de qualquer desvio do direito. Precisamos guardar-nos contra a indevida severidade no trato com os que erram, mas precisamos também ser cuidadosos para não perder de vista a excessiva malignidade do pecado.’ — Atos dos Apoótolos, pág. 503.

INSTRUÇÃO

A tradução Almeida revista diz: “doutrina” mas preferimos usar “instrução,” segundo a tradução “Ave Maria.” Instruir é algo mais do que pregar; instruir deve ser o principal objetivo do pastor. O ensino prático da instrução, tem demonstrado ser um fator de êxito para muitos em suas Igrejas. Um candidato ao batismo, bem instruído, será um bom membro da Igreja. Os candidatos mal preparados, sem instrução, resultam em apostasia, quando não se transformam em parasitas dentro da Igreja. Se quisermos uma Igreja “viva” é preciso haver instrução, ensino, não somente antes do batismo, mas sempre. Por isso diz São Paulo: “Não cesses de instruir.”

SUPORTAR OS TRABALHOS

Coloquemos em destaque o apelo de São Paulo: “Tu, porém. . . suporta os trabalhos. . . ” (Matos Soares).

Se temos a certeza de nosso chamado para trabalhar na obra, jamais haveremos de questionar sobre esta ou aquela atividade. Diz o versículo que devemos suportar os trabalhos. Isto é, assumir as conseqüências do trabalho, colher os frutos do trabalho. O pastor no distrito ou Igreja é o ponto central. Para ele convergem todos os problemas. Deve o pastor suportar tudo: os erros dos irmãos, dos colegas, as críticas merecidas ou imerecidas. Não permitir que estas coisas o desviem da rota de sua vocação. Diz a irmã White: “Ele o admoestava a fugir de todo o interesse e embaraço temporal que pudesse impedi-lo de dar-se inteiramente ao trabalho de Deus, a suportar de bom grado a oposição, a perseguição e a injúria a que estava exposto por sua fidelidade, e a dar prova cabal de seu ministério pelo emprego de todos os meios a seu alcance para fazer o bem a todos por quem Cristo morreu.” — Atos dos Apóstolos, pág. 507. Vamos citar apenas um exemplo bíblico de alguém que não suportou os trabalhos: Moisés. Antes mesmo de receber instruções definidas do “Senhor” julgou-se escolhido para salvar o povo da escravidão. Moisés desejava realizar um trabalho. No entanto, Deus mostrou-lhe (para nosso ensino) que o homem deve primeiro suportar, isto é, preparar-se psicologicamente, ver-se a si mesmo. Nada podemos realizar para Deus em nossa força, por conseguinte, é Ele que “realiza em nós o Seu querer.” Antes de sairmos para o trabalho, é preciso que já o tenhamos aceito em nosso coração, para realizá-lo “como ao Senhor.” Foi lá no deserto que Moisés aprendeu a “suportar os trabalhos.” Assim também nós, quando nos recolhemos a sós com Deus, suportaremos os trabalhos. Suportar os trabalhos é “buscar primeiro o reino de Deus e Sua Justiça,’ é dedicar-nos inteiramente à Sua obra, não permitindo que ganhos materiais, nos traiam em nossa vocação. Suportar os trabalhos é não “nos embaraçarmos com os negócios desta vida.” Sejamos um “Ministro de Deus” e não um “profissional do evangelho.” Cumprir o ministério é o apelo final de São Paulo a Timóteo. Cumprir o ministério no seu sentido mais pleno. Estamos nos dedicando somente à obra para a qual fomos chamados? ou haverá outros interesses impedindo de executarmos com fidelidade Sua obra? A Igreja militante será triunfante se for consagrada e cumprir com a finalidade para a qual foi organizada. Esta experiência será alcançada quando o ministério atender o apelo do apóstolo: “cumpre o teu ministério.”