Pergunta 34
Não são os adventistas do sétimo dia representa a Satanás?
NÃO, os adventistas do sétimo dia não são os únicos a crer que Azazel representa a Satanás. Façamos algumas considerações sôbre a palavra e sua origem.
Na K.J.V. (e também na Versão de Almeida), a expressão usada para designar o segundo bode no ritual do Dia da Expiação (Lev. 16:10) é “bode emissário;” na Revised Version, na American Revised Version e na maioria das outras traduções, a palavra empregada é “Azazel,” que é transliteração do têrmo hebraico.
A ETIMOLOGIA DA PALAVRA NÃO É CLARA. — O vocábulo “Azazel” tem sido objeto de muita discussão e conjetura através dos séculos. Numerosos eruditos admitem que êle é “uma expressão de invulgar dificuldade” (SMITH E PELOUBET, Á Dictionary of the Bible, pág. 65); “a origem e o significado do bode ‘para Azazel’ são deveras obscuros” (JORGE B. STEVENS, The Christian Doctrine of Salvation, pág. 11); “sua etimologia não é clara” (T. W. CHAMBERS, “Satanás no Antigo Testamento,” Presbyterian and Reformed Review, Vol. 3, pág. 26). Notai o seguinte:
“A [sua] etimologia, origem e significado são ainda assunto de conjetura. A designação bode emissário, na A. V. [K. J. V.] (isto é, o bode que se deixava escapar, expressão derivada de caper emissarius da Vulgata) obscurece o fato de que o vocábulo Azazel é um nome próprio no original, sendo particularmente o nome de um poderoso espírito ou demônio.” — A. R. S. KENNEDY, Hasting’s Dictionary of the Bible, pág. 77.
COMO SURGIU A EXPRESSÃO “SCAPEGOAT” – “BODE EMISSÁRIO” – NA K.J.V. — A tradução no texto da King James Version é “scapegoat.” O significado que lhe dá o dicionário (em inglês) é “scape,” proveniente do inglês antigo — scapen. Chaucer usou-a na expressão “help us to scape” (ajuda-nos a escapar). (Century Dictionary Encyclopedia.) os únicos a ensinar que o bode emissário, ou Azazel,
“Scapegoat. . . provém de scape. . . uma forma mutilada de escape.” (W. W. SKEAT, Etymological Dictionary in the English Language.)
Isto nos dá a idéia de um bode que escapava, com o sentido de que o bode era enviado para o deserto, sendo-lhe permitido ficar livre. Mais tarde, essa palavra passou a significar “uma pessoa ou coisa que leva a culpa de outros” (Dicionário de Webster).
Tyndale foi evidentemente a primeira pessoa a empregar a palavra “scapegoat” em traduções inglêsas:
“Inventada aparentemente por Tyndale (1530), para expressar o que êle julgava ser o sentido do [têrmo] hebraico . . . Azazel, que ocorre apenas em Lev. 16:8 e 10. (No vers. 10 êle traduziu-o assim: ‘O bode sôbre o qual caía a sorte para escapar.’) A mesma interpretação é expressa pela Vulgata: caper emissarius (e por conseguinte bouc emissaire no francês) e pela versão de Coverdale (1535): ‘the fregoate’ (o bode livre), mas é agora considerada indefensável. Essa palavra não aparece na Revised Version de 1884, cujo texto diz ‘Azazel’ (nome próprio) e ‘dismissal’ (soltura) na margem, como versão alternativa.” — Oxford English Dictionary, Vol. 9, pág 180.
Contudo, no que diz respeito a êsse capítulo do livro de Levítico, Tyndale foi evidentemente influenciado em maior grau pela Vulgata, a base das traduções católicas romanas das Escrituras Sagradas, do que pelo texto original em hebraico, que tem sido usado pelos protestantes e outros mais. A Vulgata Latina que, afinal de contas, é uma fonte secundária — sendo ela própria apenas uma tradução — verte o têrmo “Azazel” por caper emissarius, que é usado pari “bode emissário” ou “Azazel” em Levítico 16: 8, e significa “o bode que foi enviado para fora ou escapou.”
A EXPRESSÃO “BODE EMISSÁRIO” OBSCURECE O SENTIDO. – Muitos eruditos crêem que a expressão “bode emissário” não dá uma idéia correta do texto hebraico; alguns acham até que ela é um tanto desconcertante. O insigne crítico Dr. S. R. Driver comenta o seguinte:
“Um espírito mau, que as pessoas supunham habitar no deserto. Essa palavra ocorre apenas aqui no Antigo Testamento. … A tradução bode emissário, procedente de Símaco por intermédio de Jerônimo, certamente é incorreta; não concorda com o vers. 26, e implica uma derivação que se opõe à natureza da língua hebraica, como se Azazel fôsse uma palavra composta…. Além disso, a acentuada antítese entre para Azazel e para JHVH, não deixa dúvidas de que o primeiro encerra a idéia de um ser pessoal.” — Book of Leviticus, pág. 81.
Um erudito da escola evangélica declara, no Sunday School Times, que traduzir “Azazel” por “bode emissário” é desconcertante:
“O bode para Azazel, o bode emissário, conforme essa palavra é às vêzes traduzida erroneamente, simboliza o desafio que Deus faz a Satanás. (S. João 1:8; Efés. 3:10.)” — J. Russell Howden, em Sunday School Times, 15 de ianeiro de 1927.
O NOME “AZAZEL.” — O testemunho de muitos eruditos do passado, tanto judeus como cristãos, bem como de muitos no presente, encerra o sentido:
- a. De que Azazel se Refere a uma Pessoa.
A autoridade judaica, Dr. M. M. Kalisch. — “Não resta dúvida alguma de que Azazel é um ser pessoal, sobre-humano e maligno — em realidade, um perverso demônio. . . . Isso foi confirmado por antigos escritores cristãos, que identificam Azazel com Satanás (Orígenes. C. Cels. VI 43, pág. 305, ed. Spencer; Irineu. Adv. Haer. 1. 12; Epifânio. Haeres XXXIV. 11) e por muitos eruditos posteriores e modernos.” — A Historical and Criticai Commentary on the Old Testament, Vol. 2, págs. 328 e 329.
“International Standard Bible Encyclopedia.” — “Pelo emprego da mesma preposição. . . no tocante a Jeová e a Azazel, parece natural . . . deduzir algum ser pessoal.” — “Azazel,” Vol. 1, pág. 343.
“A Dictionary of the Bible,” de Smith e Peloubet. — “Os mais eminentes eruditos modernos admitem que êle designa o ser pessoal ao qual era enviado o bode, provàvelmente Satanás.” — Pág. 65.
- b. Que Azazel se Refere a Satanás.
J. Russell Howden (Igreja da Inglaterra’). — “O bode para Azazel, o bode emissário, conforme essa palavra é às vêzes traduzida errôneamente, simboliza o desafio que Deus faz a Satanás.
“Dos dois bodes, um era para Jeová, significando a aceitação, da parte de Deus, da oferta pelo pecado; o outro era para Azazel Isso deve ser interpretado provàvelmente como uma pessoa, estando em confronto com Jeová na cláusula precedente. Assim, Azazel é provàvelmente um sinônimo de Satanás.” — Sunday School Times, 15 de janeiro de 1927.
Samuel M. Zwemer (Presbiteriano). — “O diabo (Sheitan ou Iblis) tem um nome próprio — Azazil. Êle foi expulso do Éden.” — Islam, a Challenge to Faith, pág. 89.
E. W. Hengstenberg (Luterano). — “A maneira em que a expressão ‘para Azazel’ é contrastada com ‘para Jeová,’ requer forçosamente que Azazel designe um ser pessoal, e, nesse caso, só pode representar a Satanás. Se Azazel não significa Satanás, não existe razão para as sortes que eram lançadas. Não vemos então qualquer motivo por que a decisão era atribuída a Deus, e por que o sumo sacerdote não designava simplesmente um bode como oferta pelo pecado, e o outro para ser enviado ao deserto.” — Egypt and the Books of Moses, pág. 170 e 171.
J. B. Rotherham (Discípulos de Cristo ?). — ‘“E
uma sorte para Azazel’ (Lev 16:8). — Parece impossível discordar da opinião de que ‘Azazel,’ ao invés de ser um nome para o bode expiatório, é o nome ou o título de um ser maligno, oposto a Yahweh, ao qual era enviado o bode vivo, no grande Dia da Expiação. Admitindo-se isto, resta ainda investigar o significado dessa cerimônia muito peculiar e impressiva de enviar para Azazel o bode vivo. Supondo que Satanás é representado por Azazel — e não parece existir outra coisa que possamos aceitar biblicamente — é muitíssimo importante observar que aí não se faz alusão a qualquer sacrifício oferecido ao espírito maligno.” — The Emphasized Bible, Vol. 3, pág. 918.
Guilherme Jenks (Congregacionalista). — “Bode emissário. Ver a opinião diferente de Bochart. Spencer, segundo as opiniões mais antigas dos hebreus e dos cristãos, acha que Azazel é o nome do diabo, e o mesmo sucede com Rosenmuller, ao qual convém consultar. A Versão Siríaca traz Azzail, o ‘anjo (forte) que se revoltou.”’ — The Comprehensive Commentary of the Holy Bible, pág. 410.
“Abingdon Bible Commentary” (Metodista). — “Sôbre os bodes deviam ser lançadas sortes, uma para Jeová e a outra para Azazel. A tradução soltura na Revised Version, margem (cf. remoção, na American Standard Version, margem) é inadmissível, estando baseada numa etimologia errada. O significado da palavra é desconhecido, mas deve ser lembrada como o nome próprio de um demônio do deserto.” — Página 289.
Poderiamos mencionar também a Guilherme Milligan, Tiago Hastings e Guilherme Smith, da Igreja Presbiteriana; Elmer Flack e II. C. Alleman, da Igreja Luterana; Carlos Beecher e F. N. Peloubet, da Igreja Congregacional; Jorge A. Barton, da Sociedade dos Amigos; João M’ Clintock e Tiago Strong, da Igreja Metodista; Tiago M. Gray, da Igreja Episcopal Reformada; e muitos outros que se expressaram do mesmo modo. Os adventistas, através dos anos, têm estado plenamente de acôrdo com as declarações dêsses eminentes teólogos e eruditos, a respeito desta questão. — Questions on Doctrine, págs. 391-395.