Aquela xícara de café que tantas pessoas necessitam a fim de ir passando de manhã cedo pode estar fazendo algo mais do que simplesmente manter os olhos abertos. Com efeito, a longa lista de problemas de saúde que o café parece estar causando é um verdadeiro “abridor de olhos”.
Quando o prestigioso New England Journal of Medicine veio a lume com sua recente reportagem relacionando o café com o câncer do pâncreas, ele meramente avolumou o coro de vozes científicas que atualmente põe em dúvida o uso do café e outros produtos que contêm cafeína.
Embora os cem milhões de americanos que tomam café diariamente não encararassem essas reportagens com suficiente seriedade para reduzir significativamente a quantidade que estão usando, sem dúvida nenhuma as mãos que seguram as xícaras de café da nação estão tremendo um pouco mais como resultado desse bombardeio de más notícias. Com efeito, alguns usuários estão sentindo que seu estimulante diário está agora lhes abatendo o ânimo.
Tem sido de conhecimento geral, por muitos anos, que a cafeína contida no café ocasiona uma porção de problemas de saúde, desde insônia e nervosismo até problemas cardiovasculares. Durante a Segunda Guerra Mundial, experimentadores na Alemanha aprenderam que “embora a cafeína fosse um forte estimulante mental, resultava em indesejabilíssima debilitação da coordenação motriz (no tiro ao alvo, na escrita e na condução simulada de automóveis). Também houve um efeito de “ressaca”, no qual a eficiência mental, depois de haver sido melhorada, caiu abaixo dos valores normais — de uma a três horas após a ingestão do estimulante.”1
Então veio um relatório, mais tarde posto em dúvida, do Dr. Filipe Cole, da Escola de Saúde Pública de Harvard, dizendo que entre as mulheres que tomavam uma ou mais xícaras de café por dia o risco de contrair câncer da bexiga era duas e meia vezes maior do que entre as que não usavam café.2
Em 1972, a revista inglesa Lancet intensificou o ataque à bebida que substituiu gradualmente o chá na América, nos anos que se seguiram à Boston Tea Party. Com base nas descobertas do Programa Colaborativo de Vigilância Sobre Medicamentos, relatava que os que tomam café têm até duas vezes e meia maior risco de ataques cardíacos do que aqueles que não tomam café.3
Sem dúvida a cafeína ocasiona uma porção de problemas de saúde.
Então a Faculdade de Medicina Vanderbilt apresentou um estudo que indicava um aumento mensurável da pressão sanguínea devido ao uso da cafeína. Depois, em abril de 1980, The Nations Health divulgou um estudo da Food and Drug Administration (FDA) com ratos de laboratório, o qual indicava que alimentos e bebidas que contêm cafeína podem ser responsáveis por deformidades fetais. Segundo consta, o FDA pretende requerer que os recipientes de tais produtos como o café e o chá contenham rótulos advertindo que as mulheres grávidas devem restringir seu consumo dessas bebidas.4
Atualmente, as gestantes são aconselhadas a evitar produtos que contêm cafeína, porque estudos adicionais têm indicado que essa substância pode passar da corrente sanguínea da mãe para o feto, através da placenta. A cafeína também se manifesta no leite materno.
Além disso, há preocupações com as crianças de menos de oito anos de idade que tomam bebidas leves que contêm cafeína, as quais podem prejudicar o desenvolvimento de seu cérebro e o do sistema nervoso central.
As evidências desse possível dano são tão fortes que o Dr. Sanford Miller, diretor do Departamento’de Alimentos do FDA dos Estados Unidos, adverte: “Minha recomendação é que se pertenceis a um grupo suscetível (gestantes ou criancinhas cujo cérebro ainda está em desenvolvimento), deveis restringir a ingestão de cafeína. É o que dita a prudência. Por que arriscar-se?”5
Câncer Pancreático Ligado à Ingestão de Café
Como se essa crescente evidência de riscos de saúde não fosse suficiente para encher de amargor, até às bordas, a xícara dos afeiçoados ao café, o relatório mais recente associa a ingestão de café com o câncer pancreático — uma enfermidade que causa anualmente mais de 20.000 mortes nos Estados Unidos.
Como resultado da interrogação de 369 pacientes de câncer do pâncreas, bem como de 644 pacientes sob controle, quanto ao seu uso de fumo, álcool, chá e café, um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard chegou à conclusão de que há “forte relação entre o consumo de café e o câncer pancreático”. Isto era “evidente em ambos os sexos”.6 O risco dos consumidores de uma a duas xícaras de café por dia, em comparação com os que não tomavam café, era de 2,1 vezes; para os que tomavam três a quatro xícaras por dia, 2,8 vezes; e para os que tomavam cinco ou mais xícaras por dia. 3.2 vezes.7
A descoberta de que há uma “relação ” não estabelece uma conexão causai. Mas os cientistas de Harvard comentaram “ser digno de nota que alguns dos aspectos descritivos da epidemiologia do câncer do pâncreas parecem ser consentâneos com semelhante relação. O evidente aumento na freqüência do câncer pancreático em décadas recentes e os baixos índices observados nos mórmons e nos adventistas do sétimo dia seriam compatíveis com um papel causativo para o consumo de café ou para o hábito de fumar cigarros. No entanto, o relativamente pequeno excesso de homens com essa enfermidade em proporção com as mulheres parece denotar que isso tem mais relação com o café do que com os cigarros.”8
O câncer do pâncreas é a quarta doença maligna mais comum e fatal nos Estados Unidos. Os cientistas de Harvard calculam que “a proporção do câncer pancreático potencialmente atribuível ao consumo do café é pouco mais de cinqüenta por cento.”9
Assim avolumam-se as evidências de que o café é potencialmente prejudicial à saúde. Isso não deve constituir uma surpresa para os que compreendem que há 75 a 155 miligramas de cafeína numa xícara de café (mais na infusão de café, e menos no café instantâneo). Essa poderosa substância influi sobre o sistema nervoso central, causando irregularidade nas pulsações do coração, contraindo os vasos sanguíneos, fazendo que o cérebro continue trabalhando quando deveria descansar, e causando insônia. Também eleva a pressão sanguínea. Mas os seus efeitos são seguidos, diversas horas mais tarde, de fadiga e diminuição de vivacidade. Ingerir cafeína em grandes quantidades às vezes ocasiona tremores, agitação e zumbidos. Tomar diariamente uma substância química tão forte como essa não pode deixar de ser nocivo.
O café não é a única bebida que contém cafeína. Uma xícara de tamanho médio de infusão de chá-da-índia contém 28 a 44 mg, e uma xícara de chá instantâneo, pode conter até 131 mg. Uma lata de refrigerante à base de cola contém 32 a 65 mg de cafeína. A maioria das pílulas para manter as pessoas acordadas, dos diuréticos e alguns comprimidos para dor de cabeça também contêm cerca de 40 mg de cafeína. O FDA calcula que nos Estados Unidos, cada ano, é acrescentado um milhão de quilos dessa substância química a alimentos e bebidas. Com efeito, as bebidas à base de cola precisam conter cafeína.
O café em julgamento…
Como é de esperar, os fabricantes que elaboram produtos que contêm cafeína insistem em afirmar que até agora os estudos não provam os perigos potenciais da cafeína. Tampouco é certo que a cafeína do café é responsável pela relação entre a ingestão dessa bebida e o câncer pancreático. Na realidade, uma pesquisa recente descobriu que havia mais casos de câncer pancreático entre os que agora bebem café descafeinizado. Os pesquisadores salientam, porém, que o uso do café descafeinizado é um fenômeno recente que geralmente reflete regular e elevado consumo de café no passado, e que o fator-tempo envolvido no desenvolvimento dessa espécie de câncer denota não ter sido o café descafeinizado que causou os casos de câncer observados.10
Como Romper o Hábito de Tomar Café
Se estiverdes entre os que têm planos de abandonar o café devido às questões de saúde que agora estão sendo suscitadas, que pretendeis fazer neste sentido? Eis algumas sugestões exeqüíveis:
- 1. Tomar um bom desjejum para manter elevado nível de energia durante a manhã.
- 2. Visto que os nervos reagirão à privação da cafeína, necessitareis de toda a vitamina B que puderdes obter de fontes naturais. Eliminai as sobremesas e doces e ingeri frutas, cereais e verduras em abundância.
- 3. Substituí as bebidas de cereais e os chás de ervas durante algum tempo, se for necessário. Melhor ainda, tomai um copo de água meia hora antes de comer, e então evitai beber algo nas refeições. Certificai-vos de tomar pelo menos seis copos de água por dia.
- 4. Parai de fumar. Tomar café e fumar se acham tão intimamente relacionados para a maioria das pessoas, que um acompanha automaticamente o outro.
- 5. Em lugar do costumeiro “cafezinho” efetuai uma breve e rápida caminhada, respirando profundamente. Este é um dos hábitos mais benéficos que podeis formar.
- 6. Relaxai-vos freqüentemente, provei-vos de sono adequado e tomai diariamente um banho quente.
- 7. Se sois pessoas religiosas, esta é a ocasião de lançar mão dos recursos espirituais. Especialmente quando o desejo é forte, deveis passar alguns minutos em oração, rogando o auxílio divino.
Depois de seguir estas sete sugestões, logo notareis que vos estais sentindo bem melhor e vigorosos do que ao usar café ou outros alimentos e bebidas cafeinizados. Esses hábitos salutares dar-vos-ão um estímulo que nunca vos deixará abatidos.
- 1. H. A. de Vries, Physiology of Exercise (Dubuque, Iowa: Wm. C. Brown Publishers, 1966), pág. 395.
- 2. “O Quê — Também o Café?”, Newsweek, 12 de julho de 1971, pág. 82.
- 3. ”A Ingestão de Café e o Infarto do Miocárdio Agudo”, relatório do Programa Colaborativo de Vigilância Sobre Medicamentos, de Boston, Lancet, 16 de dezembro de 1972. págs. 1.278-1.281.
- 4. Associação Americana de Saúde Pública, “Possíveis Riscos Encontrados na Cafeína”, The Nation’s Health, abril de 1980, pág. 11.
- 5. Molly Sinclair, “O Estimulante de Cafeína Preferido Pelos Americanos Passa a Ser Atacado”, Washington Post, 23 de março de 1981, pág. A-10.
- 6. Dr. Brian MacMahon e outros, “O Café e o Câncer do Pâncreas”, New England Journal of Medicine, 12 de março de 1981, pág. 630.
- 7. Idem, pág. 631.
- 8. Idem, pág. 632.
- 9. Idem, pág. 633.
- 10. R. S. Lin e H. Kessler, “Um Modelo Multifatorial Para o Câncer Pancreático no Homem: Evidências Epidemiológicas”, JAMA, vol. 245 (1981), págs. 147-152.