ENTREVISTA: LEE VENDEN

“O tempo investido a sós com Deus deve estar no topo das prioridades. Necessitamos estar com Ele, diariamente, a fim de ajudar outros a encontrá-Lo também diariamente”

Durante mais de 30 anos, o pastor e escritor Lee Venden pastoreou igrejas, trabalhou como professor e apresentador de programas evangelísticos no rádio e na televisão. Atualmente, ele e a esposa, Marji, professora por mais de doze anos, trabalham na Associação Alto Colúmbia, Estados Unidos. Ali o casal, que tem dois filhos, presta assistência aos pastores na realização de seminários destinados a orientar a irmandade no aprofundamento da comunhão com Cristo e na busca de reavivamento e reforma.

Nesta entrevista, o pastor Lee fala de sua nova atividade e a maneira pela qual ela pode ajudar os pastores a conduzir membros e igrejas na descoberta da diferença entre saber a respeito de Jesus e conhecê-Lo por experiência.

Ministério: Quais foram os acontecimentos e convicções que o motivaram à mudança radical em suas atividades?

Venden: Aproximadamente quinze anos atrás, comecei a sentir uma paixão pelo reavivamento entre o povo de Deus. Essa paixão cresceu. Li a Bíblia buscando o que poderia facilitar esse reavivamento e também li sobre grandes reavivamentos no passado. Depois de alguns anos, um administrador da igreja propôs que eu me dedicasse integralmente à promoção do reavivamento. Fiquei surpreso. Poucas semanas antes, eu tinha perguntado a Deus como poderia tornar realidade essa paixão. O administrador continuou dizendo que também havia se sentido impressionado por Deus a priorizar o reavivamento. Então, aceitei a tarefa.

Ministério: O que estimulou essa paixão?

Venden: Pesquisas feitas por mim indicam que menos de 25% dos membros da igreja passam algum tempo diariamente em comunhão com Deus, com oração e estudo de Sua Palavra. Isso é muito sério, quando consideramos que, de acordo com 1 João 5:11-13, nosso crescimento espiritual está na dependência do relacionamento com Cristo.

Ministério: Existe algum problema específico que pode ter contribuído para essa condição?

Venden: Parece-me que algumas pessoas se unem à igreja porque reconhecem o fundamento bíblico para nossas doutrinas, ou por influência familiar. Ou seja, não conseguem ver Jesus como o centro de cada doutrina. Preocupa-me o fato de que muitas pessoas buscam as Escrituras, pensando ter nelas a vida eterna, mas não percebem que essas Escrituras testificam de Cristo. Muitos se unem à igreja, mas não se unem a Jesus, para que tenham vida. Então, à semelhança da semente lançada no solo rochoso, eles murcham tão rapidamente como brotaram.

Ministério: Ao visitar igrejas pelo mundo, o que o senhor aprendeu sobre a necessidade de reavivamento?

Venden: Tenho percebido que, em qualquer lugar, muitos irmãos estão famintos por Jesus e desejam conhecê-Lo, para desenvolver com Ele uma amizade tangível e transformadora de vida. Entre aqueles com quem temos contato, a maioria está sedenta de instrução clara e prática sobre a maneira de desenvolver um relacionamento com Jesus. É a falta dessa compreensão que gera apostasia. Nos últimos três anos e meio, temos viajado a muitos países e visitado muitas igrejas. Em cada uma delas, concluímos nossos seminários com uma pesquisa curta e anônima, cujos resultados são surpreendentes. A primeira pergunta da pesquisa é a seguinte: “Qual é a melhor descrição de sua vida espiritual, antes de você assistir às reuniões de reavivamento: 1) Vegetava entre Deus e a igreja; 2) frequentava a igreja, mas faltava o relacionamento diário significativo com Cristo; 3) Mantinha vibrante relacionamento com Jesus e testemunhava?” Entre 70% e 80% dos participantes do seminário assinalaram a segunda alternativa. Porém, quando solicitados a descrever sua condição depois do seminário, aproximadamente 95% relataram estar começando a experimentar o vibrante relacionamento com Jesus, e intensa disposição para testemunhar. Há uma coisa em que tenho pensado muito: Pressupomos que as pessoas mantenham um relacionamento diário com Deus, mas isso não é real. A maioria delas admite que não anda diariamente com Cristo, e nós devemos fazer mais do que lhes falar que precisam fazer isso. Precisamos estar seguros de que elas sabem usar os recursos para experimentar esse relacionamento.

“Membros reavivados espontaneamente se tornam evangelistas voluntários e contribuem para o crescimento do Reino”

Ministério: De que maneira o senhor tem desenvolvido os seminários?

Venden: Realizamos treze programas em nove dias. Começamos na sexta-feira à noite. Aos sábados, nos reunimos três vezes e, durante a semana, somente à noite. Ao longo da programação, fazemos a seguinte abordagem: 1) Amizade com Deus. Ele deseja Se relacionar significativamente conosco. Na verdade, Ele está mais interessado em nós do que nós estamos interessados nEle. 2) Conhecimento pessoal de Cristo. Cristianismo não é algo apenas a respeito do que fazemos, mas, principalmente, de Quem conhecemos, pois Quem conhecemos é a causa do que fazemos. 3) Novo nascimento. Todos nós precisamos ser nascidos do Espírito. É trabalho dEle operar nossa conversão, mas se priorizarmos Cristo, o Espírito Santo produzirá mais rapidamente esse novo nascimento. 4) Certeza da salvação. Muitos entre nós não têm certeza da salvação. Nossa segurança está fundamentada em relacionamento, não em comportamento. Jesus promete nos salvar e purificar, se permanecermos unidos a Ele. 5) Nutrição espiritual diária. Em Sua Palavra, Cristo é o Pão da vida. Manter a vida devocional significa nos alimentarmos diariamente desse Pão. 6) Oração. Esse é o principal instrumento de comunhão com Deus e se torna um caminho de duas vias, caso estejamos em quietude para ouvir. 7) Testemunho. Deus nos dá o privilégio de servir e falar a outras pessoas a respeito dEle. Isso contribui para nosso bem-estar e felicidade. 8) Como permanecer firmes. Superação e vitória são dádivas que o Espírito concede àqueles que, pela contemplação de Cristo, são transformados à semelhança dEle. 9) Na batalha cristã, o inimigo empregará todos os meios possíveis para nos induzir ao pecado, inclusive, tentando evitar que busquemos diariamente a Cristo. Mas Deus nos providenciou armas especialmente úteis nessa guerra. 10) Crescimento espiritual. Nosso Consolador e Amigo, o Espírito Santo, está profundamente comprometido com nosso crescimento espiritual e nossa utilidade. Podemos tê-Lo diariamente conosco. 11) Sugestões. Nesse ponto, damos oportunidade para sugestões que os participantes queiram fazer no sentido de manter e aumentar a chama do reavivamento, individualmente e na igreja como um todo. 12) Nossa identidade. É bom lembrarmos a razão pela qual somos adventistas. O que somos e o que desejamos ser até que finalmente cheguemos ao lar? 13) Jesus Cristo, sempre. Jesus é indispensável e inesgotável. Torná-Lo o centro e a razão de tudo, e assim mantê-Lo em nossa vida, produzirá plena satisfação para toda necessidade pessoal e corporativa entre nós.

Ministério: De que maneira o apelo é feito?

Venden: Estimulamos os participantes a lançar mão dos recursos apresentados e usá-los para desenvolver um relacionamento diário com Deus. O foco do seminário é encorajar as pessoas a investir tempo, cada manhã, no estudo da Bíblia e oração. E então, partilhar a Palavra com outras pessoas. Sem essas três colunas da construção do relacionamento com Deus, nossa experiência espiritual definhará e, eventualmente, ficará estagnada. A primeira coluna do relacionamento é o estudo da Bíblia, com o propósito de conhecer Deus. Não se trata de obter mera informação, mas experimentar comunhão. Não estudamos para tentar provar alguma coisa, mas para nos familiarizarmos com uma Pessoa. A segunda coluna é oração, com objetivo de comungar com Deus, em vez de simplesmente apresentar pedidos a Ele. A terceira coluna é partilhar com outros o que descobrimos e experimentamos através das duas primeiras colunas. Incentivamos os participantes a convidar Deus para que abra os olhos deles para as oportunidades que nos permitam fazer diferença na vida de outras pessoas.

Ministério: Qual é sua avaliação sobre o ministério de reavivamento como complemento da missão evangelizadora da igreja?

Venden: Partindo da premissa de que ovelhas sadias reproduzirão para a glória de Deus, a nomeação de alguém, na igreja local, que ajude o pastor na coordenação do programa de reavivamento, muito contribuirá para o crescimento saudável das ovelhas. Membros reavivados, que estão experimentando um relacionamento pessoal com Jesus, espontaneamente se tornam evangelistas voluntários e contribuem para o crescimento exponencial do Reino.

Ministério: Qual é sua avaliação sobre a receptividade da igreja a esses seminários?

Venden: Tendo como base o número de pessoas que normalmente vão à igreja sábado pela manhã, penso que entre 70% e 80% participam do seminário. A cada reunião, a assistência cresce. Isso parece indicar genuíno interesse da parte dos membros da igreja, em aprender a desenvolver um relacionamento mais significativo com Deus.

“O líder que prioriza o reavivamento é especialista em ajudar a encontrar o perdido”

Ministério: O senhor acha que cada Associação deveria ter alguém oficialmente nomeado para fazer o trabalho que o senhor faz?

Venden: A busca por reavivamento é tarefa de todos: líderes e membros da igreja. Todos nós, individualmente, devemos buscar reavivamento e reforma. Porém, como líderes, temos a responsabilidade de conduzir a igreja para essa experiência. Então, à semelhança do que acontece, por exemplo, com o evangelismo e o testemunho pessoal, pode ser válida a indicação de alguém para ministrar orientações e incentivo a respeito do assunto. Acredito que, assim como os pastores apreciam o apoio prestado pelos evangelistas, também darão boas-vindas a alguém que os ajude a despertar, orientar e conduzir a igreja para o reavivamento. Em Lucas 15, Jesus descreveu as parábolas da ovelha perdida que não sabia o caminho de volta, da moeda perdida que nem sabia que estava perdida, e do filho pródigo que escolheu se perder e ficou maravilhado ao ser recebido de volta. O líder que prioriza o reavivamento é especialista em ajudar a encontrar o perdido, especialmente as moedas que estão perdidas dentro da igreja.

Ministério: Qual é a participação de sua esposa nesse trabalho?

Venden: Na verdade, eu não poderia fazer isso se ela não estivesse comigo. Embora não seja assalariada, Marji trabalha tanto quanto eu. Sendo professora, ela deixou a sala de aula para ficar comigo nesse ministério. Seu apoio mais visível é o trabalho que ela realiza com as crianças, em nossas apresentações. Marji acredita no que Ellen G. White escreveu: “É ainda verdade que as crianças são as pessoas mais susceptíveis aos ensinos do evangelho; seu coração se acha aberto às influências divinas e forte para reter as lições recebidas. Os pequeninos podem ser cristãos, tendo uma experiência em harmonia com sua idade” (O Desejado de Todas as Nações, p. 515). Ela simplesmente ama ajudar as crianças na compreensão de que elas também podem ter um relacionamento diário com Jesus.

Ministério: Caso desejem, os pastores podem adquirir o material do seminário?

Venden: Sim. Ele está disponível no site www.allaboutJesusseminars.org. Ali também encontrarão esboços de sermões, palestras em PowerPoint e guias de estudos para crianças e adultos. Também temos apresentações disponíveis em DVD.

Ministério: Da experiência adquirida nesse trabalho, o que o senhor diria aos pastores?

Venden: Tenho três lições. Primeira: não é suficiente pregar a respeito de Jesus. Cada sermão deve apresentar a singularidade e a fascinação de Jesus. Segunda: Jesus é o Pão da vida e, antes de distribuí-Lo, precisamos ter estado à mesa e nos alimentado dEle. Satanás trabalha intensamente para manter os pastores longe da comunhão íntima, diária, com Deus. O tempo investido a sós com Deus deve estar no topo das prioridades. Necessitamos estar com Ele, diariamente, a fim de ajudar outros a encontrá-Lo também diariamente. Terceira: ao partilharmos o Pão “quente” da vida, as pessoas desejarão ter a “receita”. Então, cada mensagem deve incluir lembretes sobre quanto é inegociável o dever de investir tempo com Jesus, bem como incentivar para que todos estejam à mesa da comunhão com Ele.