Por que salientam os adventistas do sétimo dia tanto as profecias, princípalmente Daniel 8 e 9? Não seria melhor centralizarmos nossa ênfase e afeição em Jesus Cristo e na salvação por meio da fé nÊle? Não constituem as esperanças frustradas de 1844 um fundamento bastante instável sôbre que basear a vossa expectativa da iminente vinda de nosso Senhor?

A S profecias de Daniel 8 e 9, que os adventistas do sétimo dia crêem estar inseparávelmente ligadas, são preciosas para nós pela simples razão de acreditarmos que seu objetivo principal é apresentar a Jesus Cristo como nosso sacrifício expiatório, efetuado no Calvário há dezenove séculos, e nosso mediador e sacerdote no Céu, durante os séculos subseqüentes, como preparação para Sua volta na qualidade de eterno Rei dos reis, em superna glória.

Cremos que os capítulos 8 e 9 estão inseparàvelmente relacionados um com o outro, devido a chamarem a atenção para os notáveis eventos preparatórios e as gloriosas providências do primeiro e segundo adventos de Jesus Cristo nosso Senhor. E para nós êstes dois adventos formam os centros correlatos, ou focos, das providências redentoras que Deus tomou em favor do homem. * Constituem os pontos focais do tempo e da eternidade. Achamos não haver maior revelação das provisões do evangelho em tôda a Palavra profética, do que aí.

No primeiro advento, o encarnado Filho de Deus levou uma existência inigualável e sem pecado entre os homens, como poderoso Servo e Revelador de Deus, e nosso exemplo. Depois, como o Cordeiro divino, morreu de modo vicário, expiatório e reconciliador pelo mundo

* No primeiro advento, Cristo. Se ofereceu sem mácula a Deus (Heb. 9:14), para expiar nossos pecados e reconciliar-nos com o Pai, mediante Sua própria morte expiatória. Isto serviu de fundamento para tôdas as providências redentoras que viriam depois. E no segundoadvento Êle virá para a redenção do nosso corpo (Rom. 8:23), e para a eterna remoção de todo vestígio das conseqüências do pecado. Em tôrno dêstes dois pontos centraliza-se Sua completa obra de redenção pelo perdido (II Cor. 5:19). E êste extraordinário ato redentor ocorreu no “meio” da setuagésima “semana” de anos profetizada por Daniel.

Êste evento transcendente demonstrou perante todo o universo a integridade das múltiplas promessas de redenção em Cristo. E ela foi atestada por Sua triunfante ressurreição dentre os mortos e por Sua ascensão ao Céu, onde, como nosso grande Sumo Sacerdote, ministra na presença de Deus os benefícios da expiação efetuada no Calvário. E cremos que, de acordo com a promessa e a profecia, deu início ao juízo, o segundo e derradeiro aspecto dêsse ministério celestial, quando o grande período dos 2.300 dias-anos terminou em 1844, como fôra predito em Daniel 8:14.

Acreditamos que na conclusão de Sua obra como mediador, o tempo de graça para os homens terminará para sempre, estando cada caso decidido para a eternidade e vindicadas perante tôdas as inteligências criadas do universo, a justiça e eqüidade de Deus. Segundo nossa compreensão, isto será seguido pelo segundo aparecimento pessoal de Cristo, em poder e glória, para ressuscitar os justos mortos à imortalidade e transformar ao mesmo tempo os justos vivos (I Cor. 15:51-54). Ambos os grupos de remidos — os ressuscitados e os transformados — serão arrebatados juntos para encontrar o Senhor nos ares, a fim de sempre estar com Êle (I Tess. 4:17).

Para nós, isso é a gloriosa conexão e a admirável revelação dêstes dois capítulos. Êles representam e incluem a miraculosa encarnação, a vida sem pecado, a unção divinamente atestada, a morte expiatória, a ressurreição triunfante, a ascensão literal, o ministério intercessor e então a gloriosa volta de nosso Senhor a fim de reunir os Seus santos para estarem eternamente com Êle. Cremos que isto constitui a própria essência e plenitude do evangelho. É por isso que gostamos de demorar-nos sôbre êstes capítulos proféticos, que descrevem os dois maravilhosos adventos de nosso Senhor, e os aspectos da redenção relacionados com êles.

Os séculos da Era Cristã que se estendem depois da cruz, e que se aproximam agora de sua terminação fatal, são aí revelados de modo inigualável, em esbôço profético, para podermos compreender a seqüência dos eventos que estão baseados numa inalterável data inicial. Destarte, somos habilitados a conhecer os tempos, ou os últimos dias, em que vivemos, no desenvolvimento do grande e divino plano de redenção em favor dos homens de tôdas as épocas.

A profecia é essencialmente a revelação da atividade redentora de Deus em e mediante Jesus Cristo. Êstes capítulos são, portanto, muitíssimo preciosos para nós, pois formam a chave da imponente abóbada da completa e gloriosa salvação por meio de Jesus Cristo. Isto, para nós, não é honrar e amar menos a Cristo, mas é simplesmente outra revelação, que em geral não é salientada muito hoje em dia, de nosso incomparável Senhor e Salvador. Eis o motivo de nós, como adventistas do sétimo dia, demonstrarmos tão profundo interêsse e fé no majestoso esbôço das profecias de Daniel 8 e 9.

Quanto à segunda pergunta, concernente ao “desapontamento” de 1844, achamos que êstes dois capítulos não sòmente descrevem as ocorrências conducentes aos dois adventos, mas que cada um dêles foi acompanhado por grave equívoco e desapontamento inicial. O primeiro foi experimentado pelo grupo de discípulos em conexão com a morte de Jesus na cruz como o Cordeiro de Deus. O outro, experimentaram-no os que aguardavam a gloriosa volta de seu Senhor em 1844, e que depois, como os discípulos, descobriram seu êrro de interpretação no tocante ao evento predito. Quando os discípulos viram Jesus morrer na cruz, ficaram amargamente desapontados. Suas esperanças se desfizeram, pois estavam convictos de que Jesus era o Messias prometido, como fôra confirmado por Sua unção pelo Espírito Santo. Haviam-nO ouvido declarar que o “tempo” profético para Seu aparecimento estava “cumprido” (S. Mar. 1:15). Sem dúvida, Êle Se referia à terminação das sessenta e nove semanas de anos e ao início da setuagésima semana da profecia de Daniel. Testemunharam Sua morte no tempo especificado, mas só compreenderam o significado de Seu sacrifício expiatório, depois da ressurreição.

Por qualquer razão, foram incapazes de apanhar a idéia de que Êle seria “tirado” por meio de violenta morte na “metade” dessa última semana de anos da grande profecia messiânica. Pensaram que nessa ocasião Êle restauraria o reino terrestre a Israel, e que ocupariam posições importantes em Seu glorioso reino. Quando, em vez disso, Êle foi julgado, rejeitado e morto no Gólgota, suas esperanças morreram com Êle. E ao depositarem ternamente Seu corpo dilacerado na sepultura, julgavam que suas esperanças estavam sepultadas de modo irrevogável.

Tudo mudou, porém, ao ressuscitar Êle triunfantemente de Sua morte sacrifical. O próprio Jesus explicou então a êles tôdas as profecias concernentes a Sua vida, morte e ressurreição. Após Sua ascensão, entenderam que o grande desapontamento que experimentaram em Sua morte no tempo designado — assim como Sua ressurreição, e ascensão para oficiar como sacerdote celestial em favor do homem — provinham da ordenação divina. E esta seqüência de eventos redentores constitui na verdade o fundamento sôbre o qual foi edificada a própria igreja cristã. O tempo estava certo, mas o evento antecipado — o estabelecimento do reino de glória — estava errado. Cristo não devia ocupar o trono naquela ocasião, mas sim morrer como nosso sacrifício expiatório, e, depois, como nosso sacerdote e mediador, ministrar êsse sacrifício no Céu, em favor do homem. Não voltaria como Rei conquistador antes do determinado fim dos séculos. Tudo então se tornou claro, simples e razoável. Era tão sòmente a operação do imutável propósito de Deus, fartamente predito pelos profetas da antiguidade. — Questions on Doctrine, págs. 244-248.