Em fevereiro de 1860, Lincoln aceitou o convite de uma poderosa sociedade antiescravagista de Nova York para pronunciar um discurso sob seus auspícios. Não foi, entretanto, sem algumas hesitações que, sempre intimidado pela sua humilde pessoa, aceitou a idéia de falar nessa grande cidade, em meio tão nôvo, tão superior . . .
Tendo chegado a Nova York na manhã da conferência, passeava, sem rumo, pelas ruas, quando ouviu uma suave melodia. Parou e escutou. Eram os alunos de uma escola dominical, que cantavam um dêsses cânticos que nos arrebatam a alma — talvez, uma daquelas canções com as quais sua mãe o embalara na terra natal.
Quando o hino terminou, ao invés de continuar seu caminho, êste grande amigo das crianças entrou, sentou-se um pouco afastado, escutou a lição e tomou parte nas preces, com tanta simplicidade como os pequeninos que o rodeavam. Um dirigente, notando a presença daquele estranho um pouco bizarro, mas de ar triste e tão bom, foi ter com êle e lhe perguntou se desejava dizer alguma coisa aos alunos. Lincoln levantou-se, com seu meigo sorriso, colocou-se diante dos meninos e começou a lhes contar histórias.
Era preciso ver todos aquêles pequeninos rostos radiantes voltados para êle, olhos brilhantes e lábios rosados, suplicando, com ardor, quando Lincoln fazia menção de parar: “Mais, senhor! Mais!”
Êsse foi dos triunfos oratórios o que lhe deve ter causado a maior alegria!
Como, afinal, êle fizesse menção de se retirar, o dirigente, agradecido, deteve-o e pediu, com insistência, que lhe dissesse seu nome.
— Abraão Lincoln, de Illinois, respondeu modestamente.
Algumas horas mais tarde, o presidente da sociedade abolicionista o introduzia, nestes têrmos, diante de homens ilustres que se comprimiam na imensa sala de conferências:
— Senhores de Nova York, é para mim uma grande honra apresentar-vos o futuro presidente dos Estados Unidos, Sr. Abraão Lincoln.