Apresentamos a seguir, bem sintetizados, alguns aspectos do mais significativo movimento eclesiástico de nosso século. Apesar das limitações de espaço, procuramos não omitir nenhum elemento fundamental. O preparo destes artigos concluiu-se em fins de fevereiro do ano em curso. Esperamos que cada missionário adventista se sinta estimulado a prosseguir, por sua própria iniciativa, o desenvolvimento posterior deste grande movimento.

A partir da Reforma o protestantismo propendeu a dividir-se e subdividir-se. Hoje, somente nos Estados Unidos, há mais de duzentas denominações. Em fins do século XIX, era difícil imaginar-se como o “falso profeta” de Apoc. 16:13, ou a “imagem da bêsta” de Apoc.l3:15, pudessem representar um protestantismo tão subdividido. Foi então que a Sra. White escreveu: “Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável.” 1

Movimentos Precursores

No decurso de mais de um século vinha o mundo protestante preparando-se para o movimento ecumênico do século XX. Já em 1794 organizava-se em Londres a primeira sociedade missionária interdenominacional (Sociedade Missionária de Londres). Também em Londres se fundaram a Sociedade de Tratados Religiosos, interdenominacional, em 1799, e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, em 1804. Em 1816, funda-se nos Estados Unidos a Sociedade Bíblica Americana. Em 1844, Jorge Williams cria em Londres a Associação Cristã de Moços (YMCA). Estes são apenas alguns dos movimentos precursores.

Movimentos de Unificação nos Estados Unidos

Em 1908 organizou-se nos Estados Unidos o Concilio Federal das Igrejas de Cristo na América, que em 1918 já contava com o apoio de 30 denominações. Seu objetivo era de conselho, sem funções legislativas nem judiciais.

Em 1950 o Concilio Federal se transformou em Concilio Nacional de Igrejas de Cristo ao fundir-se com a Conferência Missionária da América do Norte e outros seis organismos interdenominacionais. O Concilio Nacional agrupa presentemente 33 corporações religiosas, com uma coletividade de 40 milhões de membros. Êste organismo integra entre outros: batistas, metodistas, presbiterianos, quaquers, episcopais e ortodoxos gregos.

Embora o Concilio Nacional das Igrejas seja o mais poderoso agrupamento não católico, não é, contudo, o único. Em 1942 organizou-se a Associação Nacional dos Evangélicos como protesto contra a teologia predominantemente liberal do Concilio Federal das Igrejas. Conta com 41 denominações que agrupam uns 10 milhões de membros. Constitui hoje a parte protestante conservadora do Concilio Nacional das Igrejas. Um de seus membros mais destacados é o evangelista Billy Graham.

Uma organização menor, presentemente em franca decadência, é o Concilio Americano das Igrejas Cristãs. Fundado por Carlos Mc Intire dedicou-se especialmente a combater os demais protestantes.

Fora destas três organizações, há aproximadamente 25 milhões de protestantes que mantêm sua independência denominacional.

O Concilio Missionário Internacional

O século XIX foi o grande século das missões protestantes. Várias igrejas, ao trabalharem nos mesmos campos missionários, tinham os mesmos problemas (tradução e produção de publicações, relações com os governos, etc.), e iniciaram espontaneamente várias empresas de cooperação. Isto ocorreu, por exemplo, na Índia, no Japão e na China. Pouco depois, as juntas e sociedades missionárias seguiram este exemplo tanto na Europa como nos Estados Unidos. Isto determinou a celebração da famosa Conferência de Edimburgo em 1910, que logrou unir várias denominações no esforço missionário. Depois desta conferência instituíram-se numerosos concílios missionários nacionais ou regionais. Em 1921, o movimento culminou com a criação do Concilio Missionário Internacional. Este foi um dos três mais importantes movimentos que intervieram na evolução do movimento ecumênico.

O Concilio Mundial das Igrejas

No mesmo ano de 1910, quando se realizou a Conferência de Edimburgo, a Convenção Geral da Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos inaugurava um movimento tendente a uma conferência mundial de Fé e Ordem (doutrina e organização eclesiástica). A maioria das igrejas protestantes norte-americanas apoiou a iniciativa. Também se abteve apoio da Grã Bretanha, contudo a Primeira Guerra Mundial interrompeu as negociações. Finalmente, em 1927 realizou-se em Lausane, Suiça, a primeira conferência mundial de Fé e Ordem. Em 1937 celebrou-se o segundo concilio em Edimburgo, Escócia. Os debates e os documentos posteriormente publicados deixaram claro que as principais igrejas do mundo criam haver chegado o momento de se associarem numa grande organização internacional.

Paralelamente à criação do Concilio Missionário Internacional e às conferências sobre Fé e Ordem, surge um terceiro movimento de unificação mundial: Vida e Obra. Seu propósito era conseguir unidade de ação crescente nas igrejas na aplicação de normas de vida cristã no mundo político, social e econômico. Depois da Primeira Guerra Mundial, os múltiplos problemas sociais motivaram uma conferência mundial em Estocolmo, em 1925. Em 1937 celebrou-se em Oxford, Inglaterra, a segunda conferência mundial de Vida e Obra. Da mesma forma que a conferência sobre Fé e Ordem que se celebrou nesse mesmo ano em Edimburgo, o concilio de Vida e Obra trouxe para as igrejas o pensamento de que a solução dos problemas mundiais exigia uma unidade maior a fim de tornar possível uma ação coordenada.

As comissões que prosseguiram trabalhando após a conferência de Edimburgo, em 1937, elaboraram um anteprojeto de estatutos para um Concilio Mundial de Igrejas impediu a reunião da assembleia constituinte dessa organização. Apesar disso, constituiu-se uma comissão provisória que trabalhou em Genebra durante a guerra.

Em 1948, instituiu-se formalmente em Amsterdã, Holanda, o Concilio Mundial das Igrejas (World Council of Churches — WCC). O Concilio incorporou as duas organizações interdenominacionais que conceberam sua criação: Movimentos de Fé e Ordem, e Vida e Obra, e definiu-se a si mesmo no artigo 1º de seus estatutos dessa forma: “O Concilio Mundial das Igrejas é uma comunidade de igrejas que aceitam a Nosso Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador”.

Em agosto de 1954, realizou-se a Segunda Assembleia do Concilio Mundial de Igrejas em Evanston, Illinois, Estados Unidos. No término das sessões, o secretário geral do Concilio, Willen Adolf Visser’t Hooft, resumiu os resultados das mesmas dizendo em essência: “Demos os passos preliminares para a unidade, fomos apresentados uns aos outros. . . . Agora, se temos que avançar mais para o alvo da genuína unidade devemos ter certa medida de unidade doutrinária a fim de propiciar verdadeiros progressos em direção da unidade da cristandade”. 2

A sugestão do secretário geral foi aceita e redundou em reuniões anuais de Fé e Ordem que se realizam desde 1955.

A Terceira Assembleia do Concilio Mundial realizou-se em Nova Delhi, Índia, de 18 de novembro a 6 de dezembro de 1961. O primeiro ato histórico da Assembleia foi a fusão com o Concilio Missionário Internacional. Desta maneira integraram-se no Concilio Mundial os três organismos que preparam o caminho para a sua formação. (Os outros dois são, segundo dissemos acima, os movimentos Vida e Obra e Fé e Ordem.)

No dia seguinte, aceitaram-se 23 novas igrejas, o que eleva o total de igrejas membros a 197. Destas, duas são igrejas pentecostais do Chile. Contudo, a incorporação mais significativa foi a de quatro igrejas ortodoxas da Europa Oriental: Rússia, Bulgária, Romênia e Polônia, que representam uns 70 milhões de membros. Assim, quase todas as igrejas ortodoxas acham-se presentemente associadas ao Concilio Mundial.

Entre as considerações e acordos da Terceira Assembleia podemos destacar os seguintes:

  1. Nova ênfase sobre a Bíblia e a Trindade. Comparando-se o artigo 1º dos estatutos aprovados em 1948 com a redação aceita em Nova Delhi, enuncia-se: “O Concilio Mundial das Igrejas é uma comunidade de igrejas que confessam ao Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador segundo as Escrituras e que, portanto, tratam de cumprir juntas sua vocação comum, para glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”.
  2. Insistiu-se em que as igrejas deviam encabeçar a “luta contra os abusos sociais” e trabalharem “em prol da justiça social e da paz”.
  3. Fez-se vigoroso apelo em favor da liberdade religiosa.
  4. Ressaltou-se que as igrejas deveriam contar cada vez mais com a ajuda dos leigos em seu programa de difusão do cristianismo.
  5. Talvez o que houve de mais significativo foi o debate do problema da consecução da verdadeira unidade entre as igrejas cristãs. Afirmou-se que o “evangelho não pode ser proclamado ao mundo, com autoridade, por uma igreja dividida”. 3 Descreveu-se em seguida a unidade desejada como unidade visível para a qual todos os “que são batizados em Jesus Cristo e O confessam como Senhor e Salvador” devem ser “trazidos pelo Espírito Santo a uma comunhão plena, unidos em oração comum, e tendo uma vida corporativa que se expresse num testemunho e serviço em favor de todos, e que estejam, ao mesmo tempo, unidos com toda a comunhão cristã em todos os lugares e em todos os tempos, de maneira tal que tanto ministros como membros sejam aceitos por todos, e que todos possam atuar e falar juntos quando a ocasião o requeira em relação com as tarefas para as quais Deus chama seu povo”. 4

Porém ao mesmo tempo em que se apresentava o ideal admitiu-se francamente que há desacordo fundamental entre diferentes igrejas membros sobre vários pontos, principalmente o batismo, Bíblia e tradição, Santa Ceia e natureza do ministério (pastorado, episcopado, etc.). Estes pontos de divergência tornam-se mais sérios em vista da grande representação ortodoxa e também das igrejas anglicanas, que insistem na necessidade de uma sucessão apostólica e de uma forma episcopal de governo eclesiástico.

O concílio anterior firmou a conclusão de que “o conseguimento da unidade pressupõe nada menos que a morte e o renascimento de muitas formas de vida da igreja” que temos conhecido. “Cremos, diz-se, que nada que custe menos poderá finalmente bastar.” 5

Crescente Tendência à Fusão de Diversas Denominações

Não tem havido apenas uma aproximação geral entre as várias denominações. Produziram-se também uniões orgânicas (fusões completas) entre igrejas da mesma família ou de origem diferente. Desde 1910 até 1857, por exemplo, produziram-se 26 uniões orgânicas entre igrejas de origem similar. Sessenta e seis denominações reduziram-se a 26. Aproximadamente no mesmo período realizaram-se 14 fusões entre denominações completamente diferentes. Neste caso, 43 denominações reduziram-se a 14. Estas fusões realizaram-se, entre outros países, na Índia, na China, África Ocidental, Rodésia, Escócia, França, Guatemala, México e Estados Unidos. A tendência à unidade é total.

Em dezembro de 1960, o Dr. Eugênio Carson Balke, principal oficial executivo da Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos, propôs que se unissem 4 das principais igrejas protestantes dos Estados Unidos: a Metodista (9,9 milhões de membros), Protestante Episcopal (3,4 milhões), Presbiteriana Unida (3,3 milhões) e Unida de Cristo (2,3 milhões). Explicou que esta união seria o primeiro passo para a união final de todos os cristãos, incluindo os católicos. 6 É interessante notar que em meados de maio de 1961, a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana Unida elegeu moderador a um leigo que apoia abertamente a posição do Dr. Blake. O plano será discutido em todos os seus alcances por representantes das quatro igrejas, de 9 a 10 de abril de 1962 em Washington, D. C. o ambiente parece ser altamente favorável.

Referências

1. Ellen G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 480.

2. F. D. Nichol, The Idea of Church Unity Grows, na Review and Herald, de 24 de outubro de 1957, pág. 16.

3. W. L. Emmerson, The Days Ahead, na Review and Herald, de 11 de março de 1962, pág. 4. (Ver “The Ecumenical Century” no Time, de 8 de dezembro de 1961, pág. 60).

4. Ibidem.

5. Emmerson, op. cit. pág. 5. (Cf. “The Ecumenical Century”, op. cit. pág. 61).

6. “On Religious Front”, Review and Herald, 19 de janeiro de 1961, pág. 2.

7. “Merger Mapping”, Christianity Today, 2 de fevereiro de 1962, pág. 34.