Entre inúmeras obras de arte encontradas no interior de uma vetusta igreja situada na cidade de Hamburgo, Alemanha, há uma estátua de mármore imponente e expressiva, representando o vidente de Patmos. Com grande imaginação, e extraordinária habilidade artística, o escultor apresenta o discípulo do amor, absorto, debruçado sôbre um pergaminho, tendo em sua mão direita uma pena com a qual êle parece estar escrevendo. Atrás do apóstolo destaca-se a figura suave de um anjo que o assiste, guiando com a sua mão a pena do revelador.
Esta obra de arte mui apropriadamente ilustra o incansável labor literário da Sra. White, também assessorada, consoante o seu testemunho, por alguém que a orientava, a quem ela chamava: “meu anjo assistente”, “meu guia”, ou “meu instrutor”.
Quão relevante tem sido a influência destes escritos, não sòmente no período formativo do movimento adventista, mas também na edificação e aperfeiçoamento da igreja através dos anos!
Suas mensagens comunicaram alento e coragem aos perplexos e desorientados pioneiros que, após o melancólico desapontamento de 1844, buscavam, com oração, um caminho de luz. Seus testemunhos repassados de censura, silenciaram o fanatismo que, nos primórdios, perigosamente conspirava contra os triunfos da pregação adventista. As instruções e conselhos que procederam de sua pena inspirada, estimularam a adoção de um vibrante e vitorioso programa de evangelização mundial. Seus escritos orientaram com segurança a fundação de escolas, a edificação de instituições médicas e o estabelecimento de casas publicadoras, tendo em vista dinamizar a proclamação da tríplice mensagem angélica.
Porém, do afirmar a nossa crença na inspiração dos escritos da Sra. White, não pretendemos que êles sejam uma segunda Bíblia, apoucando dêste modo a supremacia do Livro de Deus. “A Bíblia tão sòmente”, eis a nossa única e insubstituível regra de fé e doutrina.
Jamais pretendeu a Sra. White que seus escritos fossem uma outra Bíblia, ou mesmo uma adição ao cânon sagrado das Escrituras. Em seu pri-meiro livro, publicado em 1851, ela declara. “Recomendo-vos, prezado leitor, a Palavra de Deus como vossa regra de fé e prática. Por essa Palavra havemos de ser julgados. Nessa Palavra, Deus prometeu dar visões nos ‘últimos dias’; não para ser uma regra de fé, mas para conforto de Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica”. — Early Writings, pág. 78.
Em um dos seus primeiros artigos, salientando o primado das Escrituras, destacou Tiago White:
“A Bíblia é uma revelação perfeita e completa. É nossa única regra de fé e prática. Isto, porém, não é razão para que Deus não possa mostrar o cumprimento passado, presente e futuro de Sua palavra, nestes últimos dias, por meio de sonhos e visões, segundo o testemunho de Pedro. As genuínas visões são dadas a fim de levar-nos a Deus, e Sua palavra escrita; mas as que são dadas como nova regra de fé e prática, separam da Bíblia, não podem ser de Deus, e devem ser rejeitadas.” — A Word to the “Little Flock”, pág. 13.
Algumas décadas mais tarde, a Review and Herald reproduziu em suas páginas uma significativa declaração de Jorge I. Butler, então presidente da Associação Geral. Ei-la:
“A maioria dos nossos crentes acredita serem essas visões genuína manifestação dos dons espirituais, e como tais, acharem-se intituladas ao res-peito. Não as consideramos superiores à Bíblia, ou em certo sentido, iguais a ela. As Escrituras são nossa regra para provar qualquer coisa, tanto as visões, como as demais coisas. Essa regra, portanto, é da mais alta autoridade; o padrão é mais elevado que aquilo que é por êle aferido. Caso a Bíblia demonstrasse que as visões não se achavam em harmonia com ela, a Bíblia permanecería, ao passo que as visões seriam abandonadas. Isto mostra claramente que estimamos mais as Escrituras, a despeito do que dizem nossos inimigos”. — Review and Herald, Suplemento de 14 de agôsto de 1883.
Nos anais da Assembléia da Associação Geral, realizada em Washington, D. C., em 1909, estão registadas as palavras memoráveis proferidas pela mensageira de Deus aos delegados reunidos. Após haver apresentado uma significativa mensagem, ante um numeroso auditório, a Sra. White ergueu a Bíblia com as mãos trêmulas e debilitadas pela idade, e sentenciou: “Irmãos e irmãs, recomendo-vos o Livro”.
Entretanto, malgrado estas inequívocas declarações, e numerosas outras encontradas em nossa literatura denominacional, os adversários da mensagem adventista continuam acusando-nos, com impertinência, de que nós acrescentamos, ao cânon da Escritura, todos os escritos da Sra. White.
Não podemos negar que, algumas vêzes, em nossa pregação, temos dado margem a esta equívoca interpretação. Lembro-me de um ministro que pregou, certa vez, sôbre a Santificação. Na exposição dêste importante tema, êle leu algumas vigorosas e oportunas declarações contidas nos Testemunhos. A Bíblia, entretanto, permaneceu cerrada sôbre o púlpito. Foi evidente naquela manhã, a supremacia dos Testemunhos sôbre as Escrituras. Quão cuidadosos deveriamos ser!
Aceitamos, é certo, como inspiradas as cem mil páginas escritas pela mensageira dêste movimento. Mas, não diminuímos, de modo algum, a nossa crença na soberania da Palavra de Deus.
Há alguns meses passados ouvi do Presidente da Junta Consultiva da Sociedade Bíblica no Uruguai, pastor Emílio Castro, da Igreja Central Metodista de Montevidéu, a informação de que os adventistas são os melhores compradores de Bíblias, neste país. Sim, com freqüência ouvimos dos editores da Bíblia que os adventistas estão sem-pre entre os seus melhores fregueses. Não procede, pois, a imputação de que encontramos nos escritos da Sra White um substituto para o divino Livro.
Neste número de O Ministério Adventista, dedicado ao Espírito de Profecia, rendemos a Deus o nosso reverente louvor pela dádiva da Bíblia, que nos orienta nas veredas da vida. Rendemos- Lhe também o testemunho de nossa gratidão pela manifestação do Espírito de Profecia na igreja remanescente, a “luz menor” que conduz “homens e mulheres à luz maior”, o Santo Livro de Deus.