A Setuagésima Semana de Daniel 9 e a Teoria do Intervalo

(Continuação)

Sem verificar a exatidão ou inexatidão dêstes pontos, examinemos os pontos de vista da igreja primitiva sôbre êstes assuntos. A igreja primitiva era premilenialista, mas o premilenialismo não equivale forçosamente ao futurismo, como muitos — tanto os futuristas como seus oponentes — supõem hoje em dia.

  • a. Os cristãos primitivos colocavam realmente no futuro grande parte das profecias (pela óbvia razão de que a igreja incipiente, situada no limiar do livro de Apocalipse, vivia no próprio início do cumprimento), e êles aplicaram aos últimos dias a maioria dos cumprimentos futuros devido a esperarem que os últimos dias viessem muito em breve. Mas não aplicavam o quarto reino, as bêstas do Apocalipse, o anticristo e a grande tribulação para depois da volta de Cristo e a primeira ressurreição.
  • b. Êles não encaravam o “período da igreja” como um parêntesis na profecia, ou interrupção dum período judaico que devia ser recuperado e completado sem a igreja, no futuro. Êles encontravam-se no meio dos cumprimentos proféticos — sob o quarto reino, que esperavam ser seguido pela desintegração do Império Romano e o surgimento do anticristo, que conduziríam ao segundo advento e ao reino. Divisavam continuidade na profecia e na História desde os tempos do Velho Testamento até o fim.
  • c.  É verdade que êles consideravam literal o período profético dos 1.260 dias etc. Isto era natural, pois não esperavam que o mundo durasse 1.260 anos.
  • d. Êles consideravam que o Israel literal perdera o direito ao reino que êle rejeitara juntamente com o Messias, e criam que dali para a frente o verdadeiro Israel era o Israel espiritual — a igreja.
  • e.  Imaginavam um domínio terrestre sôbre as nações não regeneradas, durante o milênio — isto, embelezado com pormenores de abundância e prosperidade, foi por êles herdado dos apocalipticistas judaicos — mas êles diferiam tanto dêstes últimos como dos futuristas modernos, cm que o reino devia ser o dos santos cristãos, e não o dos judeus.
  • f. Concordavam com o ponto de vista apocalíptico-judaico (e também o futurista) de um anticristo como um tirano individual que exercería o poder durante 3 anos e meio. Alguns dêles aplicavam o tempo do anticristo para a segunda metade de uma setuagésima semana adiada, mas isto não era o ponto de vista da maioria; muitos comentaristas fizeram as 70 semanas terminar por ocasião ou próximo do fim da vida de Cristo sôbre a Terra. Convém lembrar que os que introduziam um intervalo ’ nas 70 semanas tinham um conceito bem diferente dos futuristas atuais, pois êles esperavam apenas um breve intervalo até o fim; nem sequer cogitavam de tal anomalia como um intervalo de 2.000 anos inserido num período de 490 anos.
  • g.  Êles situaram a grande tribulação (sob o anticristo da ponta pequena) antes da primeira ressurreição, e Conseqüentemente acreditavam que a igreja estaria na Terra durante êsse período. Encaravam-na como o próximo desenvolvimento na História após a esperada desintegração do Império Romano então existente, e precedendo portanto a vinda de Cristo.
  • h.  Criam que Cristo dominaria na Terra, durante o milênio, por meio da igreja — os santos remidos tanto entre os judeus como os gentios — e não por meio dos judeus como um povo escolhido e separado fora da igreja.
  • i. Êles não dividiam as Escrituras em seções dispensacionais que atribuíam as Epístolas à igreja, a maior parte dos Evangelhos à época judaica etc. Consideravam os Evangelhos como fundamentais e distinguiam suas próprias tribulações no livro do Apocalipse. — Questions on Doctrine, págs. 305-307.