V. T. ARMSTRONG

Secretário da Associação Geral

MEU texto encontra-se em Apocalipse 17:14: “Êstes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei aos reis; vencerão os que estão com Êle, chamados, e eleitos, e fiéis.”

Enquanto multidões na maior parte dos países da Terra meditam no que uma terceira guerra mundial significaria para a moderna civilização, e os estadistas das nações apressam-se de um concilio para outro num esfôrço para estabilizar os negócios do Estado e tirar ordem da confusão, nós, como obreiros na Causa de Deus precisamos lembrar-nos de que a última grande batalha entre o bem e o mal está quase finda. O dragão empenhou-se em guerra ao remanescente da igreja há já mais de um século. Se os anjos não estivessem retendo os ventos da luta, já teríamos sido lançados na terceira guerra mundial. Deus lhes ordenou que retenham os ventos até que tenhamos completado a tarefa.

Vemos e escutamos os sinais que se cumprem em tôrno de nós. De fato, em muitos lugares nosso povo não sòmente está vendo, mas sentindo o cumprimento da profecia. Sem dúvida estamo-nos aproximando das cenas finais dos últimos dias do conflito. Os acontecimentos do presente testificam que a Terra está envelhecendo e esgotando-se o tempo. Não existe em nossa mente dúvida alguma quanto ao cumprimento da profecia. Nosso passo é uma declaração clara do grande acontecimento: “O Cordeiro os vencerá.”

Que bem nos faz o têrmos no coração esta certeza, ao imprimirmos pressa em nosso trabalho entre as terríveis condições do tempo presente! Muitas coisas há no mundo hodierno tendentes a roubar-nos esta certeza. Praza a Deus que nada nunca nos prive dessa confiança na vitória. Como obreiros na Causa de Deus queremos lembrar-nos diariamente de que somos coobreiros de Deus. Seremos bem sucedidos neste grande conflito, não por motivo de nossa sabedoria ou recursos, não em virtude de nossos planos ou resoluções, mas porque esta é a obra de Deus e Êle é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Venceremos porque somos coobreiros de Deus.

Tôda providência foi já tomada para assegurar-nos o pleno êxito nesta luta. Nunca leio esta jóia no livro Atos dos Apóstolos, pág. 29, sem emoção do espírito e palpitação de coração:

“Cristo não disse a Seus discípulos que sua obra seria fácil. Mostrou-lhes a vasta confederação do mal arregimentada contra êles. Teriam de lutar ‘contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas dêste século, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.’ Mas não seriam deixados a lutar sozinhos. Assegurou-lhes que estaria com êles; e se avançassem com fé, seriam escudados pelo Onipotente. Ordenou-lhes que fôssem valorosos e fortes; pois Alguém mais poderoso que os anjos — O General das hostes celestiais — estaria em suas fileiras. Êle tomou completas providências para a prossecução de sua obra, e assumiu a responsabilidade de seu êxito. Enquanto Lhe obedecessem a palavra e trabalhassem em harmonia com Êle, não fracassariam. Ide por tôdas as nações, ordenou Êle. Ide às mais distantes partes do mundo habitado, e estai certos de que Minha presença estará convosco mesmo ali. Trabalhai com fé e confiança; pois em tempo algum vos deixarei. Estarei sempre convosco, ajudando-vos a executar vossas tarefas, guiando-vos, confortando-vos, santificando-vos e vos sustendo, dando-vos sucesso, quando falardes, de maneira que vossas palavras atrairão a atenção dos ourtos para o Céu.”

Não não, somos deixados a lutar sós. Podemos olhar retrospectivamente às experiências dêste movimento e enumerar as muitas vêzes em que êle teria sido derrotado se Deus não houvesse intervindo com Seu extraordinário poder. Podemos saber, de nossa experiência pessoal, que só ao vir-nos ajuda das côrtes divinas podemos ser capazes de realizar alguma coisa para Deus.

Nossa obra tem crescido em grandes proporções e avançado de vitória em vitória. Temos uma obra amplamente disseminada com mais problemas e maiores responsabilidades.

Alguns anos faz, recebi uma mensagem num cartão postal de um amigo, ministro de outra denominação. Foi quando tôdas as missões no Japão estavam tendo problemas.

Sim, cremos que nos estamos aproximando dos dias finais da obra de Deus e que a vitória está garantida. Êle é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Tomou tôdas as providências para o êxito da obra e assegura-nos de que podemos estar confiantes na vitória, contanto que com Êle avancemos pela fé.

Teremos Parte na Vitória?

O que me preocupa agora não é o resultado da luta; mas se teremos ou não participação na vitória. Não esqueçamos jamais que é possível ser membro da igreja, obreiro na causa de Deus, membro da Comissão da Associação Geral, ou obreiro do escritório da sede da obra, e mesmo assim perder o gôzo da vitória final quando a luta terminar. Lembramos os obreiros que abandonaram a luta e não mais estão conosco. Durante algum tempo marcharam com êste povo. Eram pessoas promissoras mas, em algum momento da luta abandonaram-na. Nós não somos mais atilados do que o foram êles. Não possuímos mais dotes pessoais do que êles tinham. Talvez não amemos mais a obra do que a amaram êles. Mas alguma coisa os levou a tropeçar, e perderam-se no caminho. Precisamos andar vigilantes e alerta, porque o diabo anda em nosso derredor, bramando como leão, e, se possível, enganará até os escolhidos.

Reza o passo: “Os que estão com Êle [os que permanecerem ao Seu lado e participarem da vitória], chamados, e eleitos, e fiéis.” O chamado divino está soando em todo o mundo hoje. Nalgum tempo e em alguma parte, você e eu atendemos a êste chamado. Pode haver sido em tôrno do altar da família, num lar cristão ou ao lermos um livro, folheto ou revista, ou escutando um sermão ou freqüentando um culto evangélico numa de nossas igrejas. Em alguma parte ouvimos o chamado e aceitamo-lo; por isso aqui estamos. Se o chamado não houvesse soado, estaríamos agora noutra parte. Alegro-me de que tenhamos escutado o chamado e atendido. Precisamos lembrar que cada convite feito aos pecadores para postarem-se ao lado de Jesus Cristo no grande conflito exigiu sacrifício.

Nosso Pai teve que sacrificar-Se, dando Seu Filho. Nosso Salvador fêz o sacrifício de dar a própria vida. Sem êsse sacrifício incalculável, o convite da salvação poderia nunca haver sido feito. É-nos preciso pensar continuamente no preço pago nas côrtes celestes por nossa salvação. O inimigo das almas ficou cheio de assombro ao ver o sacrifício voluntário em prol do homem. Notai estas palavras do livro O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 81:

“Satanás bem sabia a posição ocupada por Cristo no Céu, como o Amado do Pai. Que o Filho de Deus viesse à Terra como homem, encheu-o de assombro e apreensão. Não podia penetrar o mistério dêsse grande sacrifício. Sua alma egoísta não compreendia tal amor pela iludida raça. A glória e a paz do Céu, e a alegria da comunhão com Deus, não eram senão fracamente percebidas pelos homens; mas bem as conhecia Lúcifer.”

Melhor compreenderemos e mais amplamente apreciaremos o preço pago por nossa salvação se formos seguidamente ao jardim onde Êle passou Sua última noite de agonia:

“O tremendo momento chegara — aquêle momento que decidira o destino do mundo. Na balança oscilava a sorte da humanidade. Cristo ainda podia, mesmo então, recusar beber o cálice reservado ao homem culpado. Ainda não era demasiado tarde. Poderia enxugar da fronte o suor de sangue, e deixar perecer o homem em sua iniqüidade. Poderia dizer: Receba o pecador o castigo de seu pecado, e Eu voltarei a Meu Pai. Beberá o Filho de Deus o amargo cálice da humilhação e da agonia? Sofrerá o Inocente as conseqüências da maldição do pecado, para salvar o criminoso? Trêmulas caem as palavras dos pálidos lábios de Jesus: ‘Pai Meu, se êste cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade.’

“Três vêzes proferiu essa oração. Três vêzes recuou Sua humanidade do derradeiro, supremo sacrifício. Surge, porém, então, a história da raça humana diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores da lei, se deixados a si mesmos, têm de perecer. Vê o desamparo do homem. Vê o poder do pecado. As misérias e os ais do mundo condenado erguem-se ante Êle. Contempla-lhe a sorte iminente e decide-Se. Salvará o homem custe o que custar de Sua parte.” — Idem, pág. 517.

Sim, um supremo sacrifício foi feito para que o convite da salvação fôsse transmitido ao mundo. Êsse sacrifício foi feito por nós. Era o nosso destino que pesava na balança. Quanto mais meditarmos no sacrifício feito por nós, mais úteis seremos na causa de Deus; mais poder teremos na salvação dos pecadores ao transmitirmos-lhes o convite da salvação.

Talvez o nosso maior perigo como obreiros na causa de Deus hoje, seja o de, na pressa da nossa ocupação, não passarmos o tempo que devêramos passar ao pé da cruz, contemplando o inigualável sacrifício feito em nosso favor.

“Far-nos-ia bem passar diàriamente uma hora a refletir sôbre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente das finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nÊle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se nos queremos salvar afinal, teremos de aprender a lição de arrependimento e humilhação ao pé da cruz.” — Idem, pág. 58.

Não quero embaraçar ninguém hoje; nem a mim próprio; mas a citação diz que bem faríamos em passar uma hora diária ao pé da cruz. Quantos de nós passam só que sejam cinco minutos, com a pressa com que nos havemos em nosso trabalho? Não obstante, somente ao pé da cruz é que aprendemos a verdadeira penitência e humilhação. Alegramo-nos por haver atendido ao convite, mas não esqueçamos o sacrifício exigido para que o convite vos atingisse a vós e me atingisse a mim. Nossa tarefa é fazer com que êsse convite atinja outros mais. Tôda alma deve ouvir o convite; mas sê-lo-á por meio de sacrifício. Alguém se sacrificou para que vós recebêsseis o convite.

Pego da Bíblia. Quanto amamos êste livro! Houve homens que se sacrificaram para que eu pudesse possuí-la. Pensai em todos os sacrifícios feitos em tôdas as épocas pelas personagens historiadas neste livro! Todos fizeram sacrifícios para que dispuséssemos do Registo Sagrado que nos ajuda hoje. Pensai nos homens que trabalharam àrduamente para traduzir o Livro. Pensai nas pessoas que se tornaram mártires para que a Bíblia fôsse escrita e transmitida até nós hoje. Agora, por uma insignificância em dinheiro podemos dispor dêste dom inapreciável. Gosto de ler a Bíblia, e ao meditar nos sacrifícios feitos para que eu viesse a possuir êste precioso volume, valorizo-o ainda mais.

Aprecio imensamente os escritos do Espírito de Profecia. De que ajuda são êles! Aprecio-os mais ainda ao meditar no sacrifício feito para que fôssem escritos e entregues à igreja hoje.

Um Converso para Relatar

Um ministro veio ao nosso distrito, em Montana, e passou o Inverno realizando uma série de conferências, dando estudos e visitando as casas. Ao terminar êle o seu trabalho eu imagino se a Comissão da Associação terá pensado se seu trabalho foi proveitoso ou não. Depois de tudo terminado havia só um converso — um único. Alguém entregara o dízimo para sustentar o ministro todos aquêles meses e pagar-lhe as despesas. Êle mesmo suportara bravamente os rigores do Inverno; e trabalhara bastante. Suportou o ridículo, e tudo fêz para que uma pessoa aceitasse o convite. Não sei como a Comissão encarou o seu trabalho, mas para mim, foi o esfôrço de maior êxito já feito. Minha mãe foi aquela pessoa convertida. Sua aceitação da men-sagem trouxe-lhe uma tormenta de perseguição. Mamãe sofreu grandíssimas provas. Foi isso o que lhe custou a ela o transmitir-me a mim o convite. A única maneira que eu tenho de saldar essa dívida está em transmitir a outros o convite.

Ao sernos transmitido o convite para trabalhar num campo missionário, mamãe estava inválida nu-ma cadeira de rodas. Mas disse: “Por minha causa não deixes de aceitar.” Aceitamos o chamado. Quando voltámos a casa, nas nossas primeiras férias, mamãe estava fraca e precisava de ajutório. Um dia eu lhe disse: “Mamãe, talvez eu devesse não voltar para a Missão, mas ficar em casa para cuidar da senhora.” Nunca esquecerei o olhar que ela me lançou nem as palavras que proferiu: “Filho, prometi a Deus que se Êle te fizesse participante da mensagem, eu não mais teria direito sôbre ti, mas dedicar-te-ia à obra de Deus. Agora, se a tua presença é necessária no outro lado do mundo, vai. Ser-me-ia um grande desgosto se tivesses que ficar em casa por minha causa.” Despedimo-nos e parti. Mamãe morreu antes de tornarmos a voltar para casa; mas a sua mensagem de despedida ainda me está viva no coração. Sua última carta está entre as suas lembranças mais preciosas. Essa última mensagem não pedia que eu voltasse, nem que não trabalhasse demais ou que cuidasse de mim. Não. Mamãe cria num trabalho terminado, vitorioso e insistia em que eu fizesse todo o esfôrço para terminar a tarefa. Louvado seja Deus pelas mães dessa espécie!

Sim, houve um sacrifício feito por tôda alma salva no Reino. Êsses sacrifícios se estendem por todo o caminho, desde o Céu até aos confins da Terra, e muito nos alegramos de que não o sejam em vão. Milhares de pessoas em todo o mundo atendem ao convite e aceitam-no. Os que haverão de estar com Cristo naquele dia de vitória são chamados e escolhidos, e não importa a que preço nem a que sacrifício, haverá uma grande multidão de tôdas as nações da Terra que com Êle estarão naquele dia da vitória.

É-nos dito que o mesmo espírito de sacrifício manifestado nos começos da obra, é necessitado em seus dias finais. Estou certo de que todos quererão ver a obra terminada com rapidez. Queremos ver maiores realizações. Notai as palavras de Test. Sel., [Edição Mundial], Vol. III, pág. 52: “Se, porém, a mesma diligência e abnegação fôssem manifestas na fase atual da obra, como o foi no seu início, realizaríamos cem vêzes mais do que agora fazemos.”

Não considero que o espírito de sacrifício este-ja extinguindo-se na igreja. Mas tampouco creio que uma porcentagem elevada de nosso povo esteja realmente sacrificando-se hoje, como o fêz no comêço da obra. Anseio pelo dia em que haveremos de ter o mesmo espírito de sacrifício e diligência manifestado no comêço da obra. A realização de cem vêzes mais significará a breve terminação da obra. Significará mais obreiros, mais reuniões evangélicas, mais literatura, mais missionários em campos estrangeiros, e estou certo de que a tesouraria anunciaria que as dotações seriam aumentadas grandemente. É uma declaração que equivale a um repto.

Como líderes na causa nestes dias agitados precisamos levá-la a peito e ver o que mais podemos fazer para torná-la uma realidade viva em nossa própria vida e na de nosso povo. Muito mais há que poderiamos considerar em nosso texto, mas não devemos desprezar a sua última palavra. Deus pode chamar-nos e escolher-nos, mas para que nos seja concedido estar com Cristo naquele dia, devemos mostrar-nos “fiéis”. A palavra “fiéis” significa muito. Significa ser constante. Significa que seremos verdadeiros, leais, dignos de confiança, honestos. Êstes atributos terão que fazer parte de nosso caráter, se quisermos estar com Cristo no dia da vitória. Somos nós constantes em nossa experiência cristã? Somos sempre dignos de confiança? Em tempo de crise somos nós leais? Apegamo-nos sempre ao direito? Somos homens e mulheres honestos, ou acomodamos as coisas para atender à nossa conveniência pessoal?

Fidelidade e Infidelidade

Ao pensar na palavra “fiel” vem-me à mente a pessoa do pastor Chey, que conheci na Coréia. Quando os missionários abandonavam a Coréia, antes da Segunda Grande Guerra, êle foi convidado para presidir à União Coreana. Na manhã em que saí de Seul, depois de êle haver sido indicado para o cargo, apertei-lhe a mão e manifestei-lhe o meu pensamento de que talvez antes de rever-nos teríamos que passar por problemas sérios. Pedi ao pastor Chey que fizesse o melhor e fôsse fiel. Com lágrimas a deslizarem-lhe pela face, disse: “Acho que a guerra virá e que teremos tempos difíceis. A igreja certamente sofrerá perseguição. Talvez alguns dos obreiros irão para a prisão. Talvez teremos que dar a vida por esta mensagem. Prometo-lhe, porém, que permanecerei fiel.”

Ao voltar eu à Coréia, depois da guerra, perguntei pelo pastor Chey. Foi-me mostrada a sua sepultura e dito que sofrera perseguição; mas não traíra a fé. Foi castigado severamente de muitas maneiras. Certo dia foram ter com êle e disseram-lhe: “Sr. Chey, se o senhor assinar êste papel, nós lhe concederemos liberdade e o senhor poderá voltar para casa. Tão somente assine esta declaraço de que renuncia ao cristianismo, permanece leal cidadão japonês e membro da religião budista, e terá ampla liberdade.”

O pastor Chey respondeu: “Não. Não posso negar a minha religião. Não posso assinar êsse papel.” Foi então de novo castigado, e poucas horas antes de morrer, levado para casa para morrer ali. O pastor Chey morreu como mártir desta mensagem e da causa de Deus. Naquela hora de prova êle se mostrou fiel.

Desejo citar uns poucos homens que foram exemplos de infidelidade. Ao considerarmos a sua infidelidade, podemos guardar-nos do seu perigo em nossa vida. As mesmas causas produzem efeitos idênticos. O que levou o primeiro rei de Israel ao fracasso também nos fará fracassar se não o evitarmos. Saul apresentava grande esperança de êxito ao iniciar a sua obra, mas bem cedo no seu reinado lhe veio o fracasso. Saul foi chamado e escolhido, mas não foi fiel ao seu cometimento.

“Se Saul tivesse satisfeito as condições sob as quais fôra prometido auxílio divino, o Senhor teria operado um maravilhoso livramento para Israel, com os poucos que eram fiéis ao rei. Mas Saul estava tão satisfeito consigo mesmo e com a sua obra, que saiu ao encontro do profeta como alguém que devesse ser elogiado em vez de reprovado.” — Patriarcas e Profetas, pág. 689.

Diz a citação que Saul estava satisfeito consigo mesmo e com a sua obra. Sentia que devia ser elogiado pelo que fizera. Mas Deus não teve para êle palavras de elogio. Ao profeta foi dada outra espécie de mensagem — a de severa repreensão. (Domo é conosco? Estamos nós satisfeitos conosco mesmos? Sumariamos nós nossas realizações e nos gloriamos delas?

Agrada-nos sempre ouvir bons relatórios de aumento de membros, de mais fundos recoltados, mais notícias favoráveis na imprensa, construções e mobiliário maiores, mais amplos e custosos. Muitas coisas há que poderiamos mencionar de que os homens se orgulham, e que poderiam agradar-nos e tornar-nos satisfeitos conosco mesmos e com nossas realizações. O que nos deveria preocupar hoje é: Agradam a Deus o meu procedimento e a minha obra? Como considera Êle as minhas realizações?

Há no Apocalipse outro passo que descreve o estado de muitos: “Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu.” Olhemos para o que estamos fazendo e comparemo-lo com o que deve ser feito — o que Deus nos manda que façamos. Vêde as oportundidades presentes; ouvi os chamados que continuamente nos soam aos ouvidos; vêde as regiões escuras da Divisão Norte-americana; escutai os apelos vindos de tôdas as terras missionárias.

Estamos nós Satisfeitos com Nossas Realizações ?

Não faz muito estava eu numa reunião de Comissão, quando tivemos que demitir obreiros por faltarem-nos os recursos e têrmos que equilibrar o orçamento. Milhares de pessoas estavam freqüentando as classe batismais, necessitavam de orien-tação e instrução, e não havia obreiros em número suficiente para cuidar delas. Não obstante, em face da situação, alguns obreiros tiveram que ser despachados. Isso me humilhou muito. Eu não estava satisfeito e me perguntava por que devia prevalecer essa situação. Onde estamos nós fracassando no grande plano divino? Por que temos que perder as oportunidades de ganhar multidões e prepará-las para o Reino?

Quero dizer-vos, prezados coobreiros, que eu não estava satisfeito com o que fôra feito nem com o que se estava fazendo no grande plano de Deus. Acho que devemos preocupar-nos com que muito mais seja feito. Saul fracassou por sentir-se satisfeito consigo mesmo e com a sua obra. Há perigo em que nos sintamos satisfeitos com o que estamos fazendo e não empreendamos maiores realizações. Observai as normas estipuladas por Deus para a igreja remanescente, e vêde quão abaixo dessas normas, estabelecidas por Deus, estamos nós hoje, e não ficaremos satisfeitos — não podemos estar satisfeitos — com o que fizemos como líderes na causa de Deus. A satisfação própria levou Saul à ruína final. Precisamos guardar-nos contra ela, para que nossa sorte não venha a ser a ruína, também.

Se o profeta viesse ter conosco hoje e nos transmitisse o pensamento e a vontade de Deus, ser-nos-ia um elogio ou uma repreensão severa, como no caso de Saul? Meditai nisso quanto à vossa experiência e no serviço que prestai a Deus. Se formos verdadeiramente fiéis, com a ajuda divina, progrediremos em todo sentido e faremos, à maneira divina, o trabalho que nos fôr confiado. Nossa oração será: “Seja feita a Tua vontade.” Quanto a Saul, porém, lemos que foi a sua vontade, e não a de Deus, que o pôs em dificuldade. Fazemos hoje a vontade de Deus, ou a nossa?

Balaão foi outro homem que começou bem. Êle foi num tempo homem bom. Foi chamado para ser profeta de Deus. Mas, perdeu a vida — encontrou a morte entre os inimigos do povo de Deus. Da sua experiência, extraímos uma citação do registo inspirado:

“Balaão fôra homem bom e profeta de Deus; mas apostatara e entregara-se à cobiça; todavia professava ainda ser servo do Altíssimo. Não ignorava a obra de Deus em prol de Israel; e, quando os enviados comunicaram sua mensagem, bem sabia que era seu dever recusar as recompensas de Balaque, e despedir os embaixadores. Mas arriscou-se a contemporizar com a tentação, e instou com os mensageiros para que ficassem com êle aquela noite, declarando que não poderia dar resposta decisiva antes que houvesse pedido conselho da parte do Senhor. Balaão sabia que sua conduta não poderia prejudicar Israel. Deus estava ao lado dêles; e, enquanto fôssem fiéis a Êle, nenhum poder adverso, da Terra ou do inferno, poderia prevalecer contra êles. Mas seu orgulho fôra lisonjeado com as palavras dos embaixadores: ‘A quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado.’ As peitas de valiosas dádivas e a exaltação em perspectiva provocaram a sua cobiça. Avidamente aceitou os tesouros oferecidos, e então, ao mesmo tempo em que professava obediência estrita à vontade de Deus, procurou satisfazer os desejos de Balaque.

“À noite o anjo do Senhor veio a Balaão, com esta mensagem: ‘Não irás com êles, nem amaldiçoarás a êste povo, porquanto bendito é.’

“Pela manhã Balaão despediu relutantemente os mensageiros; mas não lhes referiu o que o Senhor dissera. Irado por se terem dissipado subitamente suas visões de lucro e honra, exclamou petulantemente: ‘Ide à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco.’

“Balaão ‘amou o prêmio da injustiça.’ O pecado da cobiça, que Deus declara ser idólatra, dêle fizera um servo de ocasião e, mediante esta única falta Satanás obteve inteiro domínio sôbre êle. Foi isto que causou a sua ruína. O tentador está sempre a apresentar lucros e honras mundanas para aliciar os homens do serviço de Deus. Diz-lhes que são os seus demasiados escrúpulos de consciência que os impedem de alcançar a prosperidade. Destarte muitos são induzidos ao risco de saírem do caminho da estrita integridade. Um passo errado torna o outro mais fácil, e êles se tornam cada vez mais arrogantes. Farão e ousarão as mais terríveis coisas quando uma vez se entregaram ao domínio da cobiça e do desejo de poderio. Muitos se lisonjeiam com a idéia de que poderão afastar-se da integridade estrita, durante algum tempo, por amor a alguma vantagem mundana, e que, tendo conseguido seu objetivo, podem mudar sua conduta quanto lhes aprover. Êsses tais se acham a enredar-se na cilada de Satanás, e raras vêzes é que escapam.” — Patriarcas e Profetas, págs. 481 e 482.

Balaão amou o prêmio da injustiça. O pecado da cobiça fizera dêle um servidor de ocasião, e por meio dêsse pecado Satanás obteve inteiro domínio sôbre êle. Essa foi a causa da sua ruína. Um único pecado na vida produz a queda. Pelo egoísmo e a cobiça Balaão foi levado à ruína. Seria muito surpreendente se os obreiros nestes últimos dias não enfrentassem a mesma tentação. O próprio espírito da época favorece o egoísmo e a cobiça. Não devemos tomar mais tempo para tratar do pecado que levou à ruína êsse profeta de Deus; mas saibamos que o amor do ganho e da honra em nossos dias produzirá resultados idênticos, e pode afastar-nos de Deus e tornar-nos infiéis na obra a que somos chamados para fazer.

Notai, por um instante, a experiência de Pedro. É-nos dito que êle se portou com infidelidade para com seu Mestre por não conhecer a sua própria fragilidade. Considerava-se forte, quando realmente era muito fraco. E as mesmas citações nos dizem que muitos dos professos discípulos de Cristo caem em graves tentações por não possuírem conhecimento correto de si mesmos. Se pudéssemos conhecer nossa própria fraqueza veriamos tanto que fazer em prol de nós mesmos que humilharíamos o coração sob a potente mão de Deus.

Determinemo-nos a não permitir que êsses pecados tenham domínio sôbre nós. Alegro-me com a promessa que nos é feita no tocante ao êrro de Pedro:

“O solícito cuidado de Cristo por Pedro foi a causa de sua restauração. Satanás nada podia fazer contra a todo-poderosa intercessão de Cristo. E a oração de Cristo em favor de Pedro, fá-la Êle por todos quantos são humildes e contritos de coração.” — Ellen G. White, em The Youth’s lnstructor, de 15 de dez, de 1898.

Estamos nós satisfeitos conosco mesmos e com nossa atuação na obra de Deus. Lastimamos nossos fracassos passados? Somos humildes e contritos de coração? Temos o propósito de fazer melhor? Se assim é, a oração de Cristo por Pedro, também o é por nós. Satanás nada pode fazer contra a todo-poderosa intercessão de Cristo. A oração que salvou Pedro é feita por vós e por mim. Praza a Deus ajudar-nos em nosso trabalho nos dias por virem. Sejamos fiéis em nossa grande tarefa para Deus.

“Êstes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com Êle, chamados, e eleitos, e fiéis.” Apoc. 17:14.