HENRIQUE J. WESTPHAL

(Diretor da Associação Ministerial da Divisão Interamericana)

“SE a conversação (ou sermão) de V. Sa. é insípido, ou se sente desprovido de vida, morto para tôdas as novas concepções, se tem o espírito debilitado, e sente-se pesado e prosaico, leia mais livros. Essa é a maneira mais prática, mais curta e mais atraente de reunir o conhecimento que estimula a imaginação, amplia a mente, proporciona equilíbrio, visão, profundeza de compreensão e forma uma personalidade verdadeiramente culta.” — João Snider, em I Love Books.

Certamente, um bom livro abre os tesouros dos séculos. Inspira, enobrece, estimula a imaginação e conduz aos bons atos. Sábio é o ministro que aproveita êste grande privilégio. É um ministro que se desenvolve.

Crescimento. — ‘‘Ancora Impara”, (aprende ainda), era o lema do grande Miguel Ângelo, e esta determinação de progredir fêz dêle o artista que foi, e não um operário mais. O ministro que não estuda continuamente, fica paralisado. É-lhe impossível verter para outros a água da vida da Palavra, a menos que esteja constantemente bebendo da mesma fonte. Semana após semana, noite após noi-te, os ministros a proporcionam a outros: às almas sedentas. Como podem fazê-la fluir continuamente se não se alimentam espiritualmente com material sempre fresco? A irmã White escreve: “O coração que recebe a Palavra de Deus não é como um reservatório que se evapora, nem como uma cisterna rôta que perde seu conteúdo. É como a torrente da montanha, alimentada por mananciais inesgotáveis, cujas águas frescas, borbulhantes, saltam de pedra em pedra, e refrigeram os cansados, os sedentos e sobrecarregados.” — Obreiros Evangélicos.

Em busca de tempo. — Quando encontra o ministro tempo para êste estudo e leitura que lhe possam encher a alma? Êste é um verdadeiro problema para a maioria dos ministros adventistas, pois já têm muito compromisso, em geral muito sobrecarregado de atividades. Mas deve criar-se tempo. Pode sê-lo cedo nas primeira horas da manhã, ou nas últimas da noite, antes de recolher para o descanso, ou um pouco antes ou depois do almoço. O melhor de tudo é apartar um tempo determinado para o estudo e considerá-lo parte do programa diário. Alguns ministros aproveitam para a leitura o tempo nas viagens de trem ou qualquer outro meio de transporte. Outros levam consigo um pequeno livro e aproveitam os momentos de espera nas ante-salas das pessoas que vão visitar.

Escolha. — Já que o tempo do ministro é tão limitado e geralmente êle está sobrecarregado de atividades, como poderá tirar o melhor proveito de sua leitura? Escolhendo sàbiamente os livros que lerá. Não perderá tempo lendo livros de pouco valor. Tampouco dedicará horas aos livros superficiais e de valor efêmero. Escolherá seu material de leitura e estudá-lo-á cuidadosamente. Com o correr do tempo verificará ser necessário buscar dados valiosos nos mesmos. Neste caso já estará habituado a folhear rapidamente as páginas e a passar por alto as partes e seções do livro que não sejam importantes, e tomará nota lenta e cuidadosa dos parágrafos que o interessem.

Os livros que cada pessoa escolhe são diferentes, pois cada um põe em jôgo a sua personalidade na escolha dos livros. Um se interessa por certo aspecto da teologia ou da filosofia, e outro, por outra coisa. Nunca têm duas pessoas que enfrentar os mesmos problemas, como não têm os mesmos antecedentes nem igual preparo. Não obstante, deve o ministro fazer escolha geral dos assuntos para leitura. Não pode êle reduzir-se a uma especialidade, pois se trata de um pastor que atende a trabalho pastoral generalizado, e tem que entender alguma coisa a respeito de todos os pontos da teologia e das doutrinas. Acontecimentos correntes, problemas sociais, tendências políticas, desenvolvimentos científicos são, todos, temas importantes para o ministro, e deve êle entender um pouco de cada.

Para os leitores que dedicam todo o seu tempo às revistas e aos jornais, e são negligentes quanto à leitura dos livros profundos, o mundo moderno encerra graves perigos. Há muitos artigos valiosos em muitas das revistas, mas o ministro deve acostumar-se a escolher por si mesmo os que têm valor para êle, rejeitando os que não encerram valor algum, apesar de serem atraentes. Diz-se que o homem ocupado sempre poderá ler o jornal em pé. Uns poucos minutos são suficientes para dar uma vista de olhos aos títulos e ler os poucos assuntos de interêsse geral.

Custo. — A aquisição de livros é um problema para muitos dos pastôres de recursos limitados. Uma reserva anual ou mensal em seu orçamento Ser-lhe-á de grande auxílio. Gasta-se muito dinheiro em coisas que logo desaparecem, mas as importâncias gastas em livros bem escolhidos fornecem para o seu estudo alguma coisa de valor duradouro. Muitas vêzes podem êles ser comprados nas livrarias de segunda mão. Também, uma biblioteca pública proporciona boas coleções, e o ministro pode aproveitá-las sem a necessidade de gastos. Também pode efetuar a troca de livros com vários obreiros.

Meditação. — Tomaz Fuller disse o seguinte: “Os livros são como os amigos: devem ser poucos e bem escolhidos. Sempre podes pretender ficar forte se comes e lês sabiamente. Demasiada sobrecarga da natureza trará como conseqüência mais enfermidade do que sustento. O pensamento e a digestão é que tornam os livros úteis e proporcionam saúde e vigor à mente.”

Além da escolha sábia dos livros, é necessário digeri-los, pensar e meditar nêles. A vida de oração do ministro deve ser um assunto de duas direções. Êle fala com Deus e em seguida escuta a Sua resposta. Somente assim, os bons pensamentos que podem voltar-lhe à mente, podem juntar-se com a oração e o Espírito Santo, antes de que os exponha à congregação. Deve tomar tempo para meditar em sua devoção particular. Enquanto viaja, enquanto espera nas ante-salas ainda pode tornar a repassar mentalmente novas idéias, pensamentos que se relacionam entre si e sábias ilustrações. Se comenta com a espôsa e com os amigos os livros que leu, a própria repetição lhe servirá para fixar na memória o seu conteúdo. Nada nos ajuda mais a reter o conhecimento do que expô-lo a outra pessoa.

“Os livros são o colorido forte da experiência. Devem êles ser tomados cuidadosamente, gôta a gôta, não descuidadamente, como engolindo o conteúdo de uma garrafa; se quer aproveitar o melhor dos livros, dedique um quarto de hora para lê-los, e três quartos de hora para pensar no que leu.” — Dr. Lyman Abbott.

Para êstes momentos de meditação, oração e estudo sem distração, necessita o ministro de um canto que possa chamar seu. Uma biblioteca ou estúdio onde possa trabalhar sem interrupções e ter à mão as suas coisas; escrivaninha, material para escrever, livros, cadernos, arquivos, etc. O estúdio não precisa ser grande, nem ter móveis luxuosos, mas todo ministro necessita de um canto tranqüilo para meditação, pois êste lugar se transforma numa potência à retaguarda do púlpito. Nesse canto pode receber quem a êle recorra em busca de conselho ou ajuda. Êsse cantinho se transforma em um lugar sagrado do lar.

Memorizar. — Alguns dos tesouros que o ministro encontra em suas leituras deverão ser memorizados. Isto é um realidade, especialmente quanto ao Espírito de Profecia. Será muito boa idéia o copiar essas citações em pequenos cartões, relê-las e repassá-las de quando em quando, tal como se fazia nos colégios, anos atrás. A memória não se embota com o uso, antes, torna-se mais e mais aguçada com o exercício. Portanto, quanto mais o ministro pratique a memorização, tanto mais poderá aprender. Meu pai, o pastor J. W. Westphal, memorizou os livros de Romanos e Gálatas, e ao repeti-los uma e outra vez, viu-os com clareza tal em sua mente, que o despertaram para a grande verdade da salvação pela fé e pela vida vitoriosa.

Arquivo. — Entretanto, é pràticamente impossível que uma pessoa se lembre de tudo quanto haja lido. Uma parte pode ser retida na memória, mas a grande maioria dessas coisas deve ser mantida em um arquivo. Os artigos, os recortes, as histórias e ilustrações que se arquivem, devem sê-lo como os livros, muito bem selecionados. É possível que se tenha um arquivo sobrecarregado de abundante material, de pouco valor. Melhor é ter menos material, mas sàbiamente organizado. Há muitos métodos, mas a experiência demonstrou que o mais eficiente é o arquivo dos envelopes, em que se podem guardar os recortes dos artigos. Algumas pessoas dão preferência aos envelopes de papel manilha, de 25×35 c., outras preferem o tamanho de 20×25 c. Êsses envelopes devem ser dispostos em ordem alfabética em arquivo vertical. Os títulos dos envelopes devem ser postos de maneira tal que sejam vistos com facilidade. Cada recorte deve ter numa margem a data e o nome da publicação de que foi recortado. Precisar-se-ão de algumas inter-referências (de um envelope para outro), visto poder-se usar o mesmo material para assuntos diversos.

Boa idéia é juntar as revistas que se quer revisar até dispor-se de tempo para fazê-lo, recortar os artigos que interessam, e inutilizar o restante. Dever-se-ão arquivar os recortes diàriamente ou semanalmente. Faz-se o trabalho com mais gôsto e mais vantajosamente se se designa um tempo fixo para fazê-lo, em vez de deixá-lo amontoado, o que desanima e causa confusão. O conselho que me deu um ministro, certa ocasião, bem se poderia aplicar aqui: “Planeje o seu trabalho e execute-o em seguida”. A melhor organização não terá valor algum sem que seja executada.

Não se necessita de um arquivo dispendioso. Pode usar-se perfeitamente uma caixa de papelão até conseguir-se alguma coisa permanente.

Pode haver revistas de muito valor, e estas deverão arquivar-se em coleções anuais. O Ministério, por exemplo, contém muito material adequado, e melhor será conservar a revista, do que recortar os artigos.

Cada ministro desejará escolher e recortar o que será de interêsse para as pessoas do lugar em que trabalha. Cada país tem seus próprios heróis e ditos históricos, que chegam ao coração da gente dêsse lugar de maneira muito especial. Portanto, o ministro deverá selecionar, tanto quanto lhe fôr possível, dêsse material que tem que ver diretamente com o lugar, mais do que os referentes a países estrangeiros.

Problemas práticos. — É possível que o ministro dedique muito tempo ao preparo de sermões e ao estudo? Sim, por certo. O estudo, como tôdas as coisas, também pode ser levado a extremos. Quem se limita ao estudo e não está capacitado par enfrentar os problemas práticos com que se defronta a igreja, não se entrega inteiramente à causa do Senhor. Deverá haver uma relação compreensiva entre o estudo e a ação social da igreja. O ministro precisa estar próximo dos membros da igreja e ser capaz de conquistar amigos com facilidade. Suas relações sociais são vitais.

A irmã White nos adverte, em Obreiros Evangélicos: “Muitos ministros se ocupam incessantemente em ler e escrever, o que os incapacita para a obra pastoral. Consomem em estudos abstratos tempo valioso que deveriam dedicar para o auxílio aos necessitados no momento oportuno. . . . Com freqüência o pastor descuida vergonhosamente os deveres que lhe incumbem, porque lhe falta a fôrça para sacrificar suas inclinações pessoais para o retraimento e o estudo. O pastor deve visitar de casa em casa os membros de sua igreja, ensinando, conversando e orando com cada família, e atendendo ao seu bem-estar espiritual.”

“Deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”. Portanto, o verdadeiro ministro não será negligente em seu trabalho ativo em favor dos demais, nem deixará de tomar o tempo necessário para as horas valiosas de inspiração e estudo.