E. STANLEY JONES

ORAÇÃO e a Bíblia têm sido os dois braços da âncora que me têm retido para a realidade em meio das tormentas e inquietações da vida. Eu as separo, e no entanto, em minha experiência, chegaram a ser parte de um todo único.

No estudo da Bíblia, Deus me fala e, em oração, eu falo com Deus: é um tráfego em duas direções. Na Palavra, Deus está em comunhão comigo, e na oração Deus está em comunhão comigo e eu com Êle.

O estudo da Bíblia, porém, é o ponto de partida; é a primeira coisa que faço antes de começar a orar; assim começo a pensar e a orar na devida direção. Se começo a orar sem estudo bíblico, começo com os meus desejos, mas se o faço com a Bíblia, começo com os desejos de Deus para mim mesmo. Se a pessoa começa consigo própria provavelmente terminará também consigo mesma e virá a ser pessoa egocêntrica, conquanto pareça ser muito religiosa. Mas se começa com a Palavra, começará com Deus; vindo a ser pessoa centralizada em Deus. Não será ela o centro do universo, mas sê-lo-á Deus.

Mas o Deus que é o centro de seu universo não será o Deus de sua imaginação, mas o Deus revelado a nós em Jesus Cristo. Não começamos com nossa idéia de Deus, mas com a idéia de Deus mesmo, simplificado, compreensível, acessível, disponível. Jesus é Deus falando uma linguagem que podemos compreender — uma linguagem humana — e mostrando-nos Seu caráter no lugar em que podemos entendê-Lo, isto é, na corrente da história humana. O verbo [A Palavra] se fêz carne.

Mediante a Palavra com que nos falou, limpa-nos de todo mal; portanto, ao ir eu diariamente a essa Palavra recebo um banho diário espiritual. Vivo durante o dia do universo limpo, sem importar-me da imundície que possa haver em meu redor.

Por meio de Sua Palavra não somente me limpa, também me guia, pois para minha direção geral tenho a vida e os ensinos de Jesus. Ali vejo o que Deus é e o que eu devo ser quando, estando em dúvida, verifico que a coisa mais digna de Cristo é também a mais elevada e segura.

E não somente recebo direção, mas recebo poder para tornar prática essa direção, pois dentro das páginas dêste Livro encontro homens débeis que chegam a ser fortes; homens impuros que chegam a ser puros; homens em confusão que chegam à certeza; e homens derrotados que chegam a ser vitoriosos. Êsse é o ensino e poder ao mesmo tempo.

Além de tudo isso, encontro aí o estímulo que comunica entusiasmo à vida. Acho uma eterna frescura; nunca endurece, como o pão frio; se há dureza, é que eu a trago e a projeto ali. Então, e sòmente então, endurece.

Alguma coisa há, inesgotável, na Palavra; um dia me parece que me aprofundei em sua significação, e no dia imediato encontro outra significação mais profunda que não havia conhecido. Hoje em dia é mais fresca e mais viva do que há quarenta e cinco anos, quando como jovem cristão imprimi meus lábios em suas páginas, em gratidão por tão admirável redenção. É uma “fonte de água que salta para a vida eterna”.

Assim cada dia, com o lápis na mão, aproximo-me desta Palavra, esperando que de suas páginas brote algum pensamento vivo. Tomar do lápis é um ato de fé, uma atitude de expectação, e nunca, ou rara vez, saí desiludido. Escrevo o que me ocorre, porque se o não faço, escapa-me como por uma peneira.

Ao abrir a Bíblia, os passos seguintes me ajudam muito:

  • 1.  Aquieto a mente, porque Deus sempre nos fala no silêncio.
  • 2.  Logo minha mente vai, de versículo a versículo, perguntando qual é o seu significado geral. Ao encontrar eu êsse significado geral, faço-me outra pergunta:
  • 3.  Qual é o seu significado para mim?, pois Deus me está falando a mim nestas palavras.
  • 4. Como posso aplicá-las hoje em dia à minha vida?
  • 5.  Faço novo silêncio para que o Senhor prossiga falando-me.
  • 6. Peço poder para pôr em prática o que compreendo.
  • 7. Creio que me concede poder, e agradeço-Lhe.

Verifico que os cristãos que descuidam sua Bíblia e confiam nalguma direção proveniente de sua própria intuição, logo se encontram tateando nas trevas ou na imaginação. Não tardam a guiar-se por seus próprios desejos e projetos, com base no inconsciente, e a isto chamam direção divina. — Publicado no jornal El Mundo, de Cuba, pelo Rev. Raul Fernandez Ceballos, reproduzido em La Bíblia en América Latina, n°. 40.

“Aquêle que mais profundamente experimenta sua necessidade do auxílio divino, há de rogá-lo, e o Espírito Santo lhe dará vislumbres de Jesus que lhe fortaleçam e elevem a alma. Sairá, depois de comungar com Cristo, para trabalhar em benefício dos que se acham a perecer em seus pecados. Está ungido para a sua missão; e é bem sucedido onde muitos sábios haviam de fracassar.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 436.