A Setuagésima Semana de Daniel 9 e a Teoria do Intervalo
(Continuação)
2. FALÁCIA DE RECORRER AOS PROGENITORES DA IGREJA PRIMITIVA. -O ato de apelarem os adeptos modernos da teoria do intervalo para escritores como Hipólito de Portus Romanus (terceiro século) ou Apolinário de Laodiceia (quarto século), exige uma investigação quanto à base dessa alegação.
Em primeiro lugar, a interpretação das 70 semanas por estes dois expositores (cujos pontos de vista não eram os da maioria na igreja primitiva) continha elementos divergentes que por certo não são seguidos pelos que os consideram como precursores das atuais idéias futuristas. Tomemos, por exemplo, a Hipólito: Ao projetar um intervalo nas 70 hebdomads, ele interpretou as primeiras 69 unidades, ou semanas de anos, como se estendendo do primeiro ano de Ciro (ou de Dario o Medo) até a encarnação de Cristo — uma impossibilidade cronológica sem alongar o período. Naturalmente os que citam Hipólito para a interpretação do intervalo não seguem os pormenores de sua teoria, como o seu errôneo prolongamento das 69 semanas, e muito menos sua expectativa de que o Segundo Advento ocorresse por volta de 500 A. D. Recorrem porém a Hipólito e a outros para provar a origem primitiva de sua teoria futurista acerca das 70 semanas. Entretanto, basear o futurismo, da maneira como é compreendido hoje em dia, nos pontos de vista da igreja primitiva é fazer mau uso de um precedente histórico. Empregar semelhantes “fundamentos históricos” é construir sôbre areia movediça. O conceito dos cristãos primitivos sôbre a escatologia não era realmente futurismo. Os historicistas fazem mais juz ao parentesco com a igreja primitiva.
A crença dos cristãos primitivos de que a maior parte das profecias ainda não se haviam cumprido naquele tempo não os torna futuristas no sentido ordinário da palavra. Futurismo não é a opinião de que a maioria das profecias se encontravam no futuro por ocasião do início da era cristã, mas de que ainda estarão no futuro por ocasião do fim da era cristã. Os historicístas crêem que houve necessariamente um tempo em que a maior parte das profecias ainda não se haviam cumprido, e que por fim haverá um tempo em que todas elas estarão cumpridas. A diferença consiste em que o historicista espera que o cumprimento se manifeste progressivamente na História, até o fim; ao passo que o futurista torna a era cristã um “parêntesis,” ou intervalo, no cumprimento profético, e transfere o cumprimento adicional para um tempo relativamente breve no fim, a começar com a vinda de Cristo em favor de Seus santos. Há muitas variações entre os futuristas, mas podemos resumir seus pontos característicos da seguinte maneira:
- a. Que a maior parte das profecias (inclusive o quarto reino e a setuagésima semana do livro de Daniel, e todo o Apocalipse, exceto as cartas para as sete igrejas) esperam cumprir-se no tempo após a vinda de Cristo para ressuscitar e trasladar os santos.
- b. Que todo o “período da igreja” é um intervalo durante o qual o relógio profético deixou de funcionar.
- c. Que todas as profecias sobre períodos de tempo são literais (é rejeitado o princípio do dia-ano).
- d. Que o termo Israel em todas as partes da Bíblia sempre se refere aos judeus literais.
- e. Que as profecias e promessas do Velho Testamento sobre o glorioso domínio do povo de Deus devem cumprir-se de modo incondicional e literal para os judeus restaurados, que segundo se espera reinarão sobre as nações não convertidas e transformadas durante o milênio.
- f. Que o anti-cristo é uma pessoa futura, um tirano que se opõe a Deus, e que oprimirá os judeus e causará ao mundo (os judeus que houverem regressado, nas nações gentílicas e na cristandade apostatada) uma tribulação de três anos e meio durante a última metade duma adiada, setuagésima hebdomad, após o segundo advento.
- g. Que antes desta tribulação o “arrebatamento,” ou a ressurreição e trasladação dos santos, removerá a igreja da Terra (secretamente, como crê a maioria). ,
- h. Que mesmo durante o milênio os judeus serão completamente separados da igreja cristã.
- i. Que não somente a maior parte das profecias mas outras consideráveis porções da Bíblia, inclusive a maior parte dos Evangelhos, pertencem a outras épocas e não à igreja. (Isto faz parte de um minucioso sistema de “dispensações” que é salientado nos escritos futuristas.) — Questions on Doctrine, págs. 302-305.