ROY A ANDERSON
Diretor da Associação Ministerial da Associação Geral
ACABO de regressar de Portland, Oregon, onde participamos da inauguração de um forte plano de evangelismo contínuo. Nosso motivo para aceitar o convite de ir a Portland não foi que houvéssemos considerado ser essa cidade a mais ímpia nem a mais necessitada das cidades norte-americanas, mas o pensarmos que êsse magnífico centro, que acaba de ser aparelhado pela Associação, proporcionaria oportunidade excelente para o estudo das necessidades e métodos especiais. Desde que a nossa obra denominacional teve início, o Se-nhor tem grandemente abençoado a proclamação de Sua Palavra em Portland.
Mas, que significa um Centro de Evangelização? É uma igreja? É um tabernáculo? Não, exatamente. Se bem que tôda igreja, sanatório, escola ou outra instituição deva ser um lugar em que almas estejam sendo ganhas para Cristo, no mais estricto sentido do têrmo nenhuma dessas instituições poderá ser apropriadamente chamada um centro de evangelização. Tudo quanto está relacionado com êste movimento está ligado ao evangelismo, no en-tanto ao falarmos de um “centro de evangelização” temos em mente algum lugar além de simplesmente um edifício de igreja ou instituição.
Parece-nos haver necessidade de um esclare-cimento de nossa terminologia. Lemos, recentemente, um relatório de um acampamento de jovens, e nêle o autor salientava a idéia de ser um “centro de evangelização”! Era-o, porém? Por certo, um acampamento deve sempre ser um lugar em que as almas infantis e jovens sejam encaminhadas para Deus. E, a menos que o acampamento tenha êsse objetivo nitidamente evangélico, será um fracasso. Um acampamento de jovens, ou outro qualquer, porém, dificilmente é um “centro de evangelização” tal como entendemos a significação do têrmo. A compra do nosso centro de evangelização em Londres nos empolgou a todos, mas êsse lugar não é um centro de saúde, nem igreja, nem, muito menos, um acampamento de jovens. Certo é que a congregação da igreja central de Londres se reúne numa das dependências dêsse grande centro, mas o auditório principal e ou-tras partes do edifício provêm oportunidade para evangelismo público contínuo. O edifício de Londres foi comprado para ser um centro de evangelização, e foi nisso convertido. Outros centros tais, nos Estados Unidos e noutros países, foram, ou comprados ou construídos.
Um centro de evangelização nisso se torna por motivos bem definidos. Sugerimos uns poucos:
- 1. Tem localização central.
- 2. É, por tôdas as igrejas adventistas do sétimo dia, do distrito, reconhecido como um local de reavivamento.
- 3. Está edificado, e mobilado, e deve ser dirigido de maneira tal que um plano contínuo de evangelismo pode ser realizado o ano inteiro.
Conceitos Novos
Êsses conceitos do evangelismo podem talvez ser novidade para os nossos obreiros. Nosso sis-tema tradicional tem sido que o evangelista realize séries de três, seis ou talvez doze meses de duração, com todo o entusiasmo de um cruzado que participe duma guerra santa contra o turco infiel, e depois volta para casa com umas poucas arranhadelas e coberto de glória, mas deixando a praça ainda em poder do ímpio. Embora algum Ricardo Coração de Leão surja brandindo grande espada, a cidade permanece “nas mãos do iníquo.”
Alguns planos de evangelização têm sido começados com grande entusiasmo. Tem havido zêlo, estardachaço e fumaça, e algumas vêzes muitos detritos para remover mais tarde, especialmente quando adotado no procedimento a orientação de “terra devastada.” Nossos obreiros bem sabem a que nos referimos. Ao apartar-nos do inimigo, sem futuras responsabilidades, fácil é dizer tudo quanto pode ser dito, e dizê-lo de maneira tal que a animosidade e a má vontade sejam tão instigados na comunidade que parecerá necessário esperar que surja outra geração antes que outra pessoa volte a evangelizar a mesma cidade.
Ao contrário, porém, o centro de evangelização, tem de ser um lugar de evangelismo contínuo com a melhor das relações públicas, onde a semeadura e a colheita prosseguem mês após mês, e ano após ano, e a influência expande-se constantemente. Para um tal plano temos que criar conceito novo e idear novos métodos.
Java é um dos países de maior produção de arroz no mundo. O clima ali é tal que é possível encontrarem-se ombro a ombro semeadores e ceifeiros, em cada dia do ano. O centro de evangelização deve ser exatamente isso. Cada sermão ou classe bíblica equivale à semeadura da semente, mas êsse mesmo sermão deve tam-bém ser a ceifa quer da seara dêsse evangelista, quer de semeadura de um antecessor.
Disse Jesus: “Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho” (S. João 4:38). E não é tôda evangelização exatamente isso? Quase cada pessoa que batizamos teve outro contato qualquer — algum evangelista anterior, qualquer colportor, um bom médico ou enfermeira ou, mais do que provável, algum sincero membro da igreja estabeleceu o contato inicial. Como evangelistas, temos, então, o gôzo de fazer com que frutifique aquilo que foi semeado por outros. Em face dessas várias instrumentalidades que cooperam para a conversão, quão impróprio é que qualquer um de nós se ensoberbeça por um pouco de êxito que o Senhor Se digne de conceder-nos!
“Tua é a Glória”
O lema escolhido para o concilio ministerial anterior à sessão da assembléia geral foi por certo oportuníssimo: “Tua é a Glória.” Nosso lema, quatro anos faz, foi “Abrasados para Deus,” com ênfase sôbre deixar-se queimar para Deus. Desta vez a ênfase é posta em Deus e Sua glória.Facílimo é que o êxito nos torne orgulhosos, presunçosos e vaidosos. Logo que nos orgulhemos em nós mesmos ou em nossa aparência, finanças, organização, capacidade ou métodos, deixamos de dar a Deus a glória.
O maior dos problemas que Jesus enfrentou não foi a multidão, mas as ambições egoístas dos próprios homens que escolhera para auxiliares. Não foi senão na cruz que aquêles primeiros evangelistas se viram tais quais eram na realidade. “Por que não pudemos nós expulsá-lo?” perguntaram êles, ao refletirem na sua incapacidade de curar o rapaz epiléptico. Significativa foi a resposta de nosso Senhor. Mais tarde, Êle lhes perguntou: “Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas êles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior” (S. Mar. 9:33 e 34). Quantas vêzes, através dos séculos, tem o ministério manifestado a sua impotência por motivo dessa velha luta! Como é fácil que o eu lute pela supremacia! E quantas coisas estranhas não surgem para a luz ante a mínima provocação ou decepção!
Estamos nós perplexos por estarem sendo retidas as abundantes chuvas serôdias? Talvez se realmente nos puséssemos a examinar-nos, logo encontraríamos a resposta. Existe um princípio divino justamente nessa demora. Deus não partilhará com homens orgulhosos a glória devida ao Seu Filho Jesus. Grandes reavivamentos surgiram a findarem durante os séculos cristãos, mas por que cessa um reavivamento? Deve haver muitos motivos. Um grande motivo é que os homens logo começam a se glorificar.
Em Isa. 41:6 e 7, temos uma ilustração extraordinária da verdadeira cooperação no serviço de Deus. Os edificadores representavam a variedade dos homens — carpinteiros, ferreiros, ourives, artífices — mas estavam todos trabalhando em equipe, e os carpinteiros animavam os ourives, e cada homem dizia a seu irmão: “Esforça-te.” Quando o ourives esquece que é ourives e se rejubila no companheirismo dos seus irmãos mais rudes, os milagres começam a ocorrer. Bem tem sido dito que Deus pode fazer muito com os homens, se ninguém fizer questão de honras pessoais. Nosso pensar pré-Pentecostal nos tem roubado demasiadas vêzes do poder do Espírito Santo. Conceber ou dirigir uma campanha evangélica, ou a contrução duma igreja, ou outra atividade departamental, e fazê-lo com o espírito de concorrência, equivale a cortejar o fracasso espiritual. Somos todos coobreiros uns dos outros e de Deus. Com isso todos, jubilosos, concordamos, e regozijamo-nos com o privilégio dêsse companheirismo.
Um centro de evangelização provê ambiente para essa espécie de companheirismo são. A aproximação e o contato espiritual de uma equipe de ganhadores de almas são empolgantes. Quer como pastôres, evangelistas, instrutores bíblicos, obreiros da Associação, quer como membros leigos, todos trabalhamos unidos, não apenas para uma igreja ou determinado distrito, mas para o erguimento de tôdas as igrejas.
A lembrança mais animadora que temos de nossa obra em Portland não é a quantidade de almas que foram encaminhadas ao batismo, sé bem que agradeçamos a Deus pelas 250 que até agora se uniram ao movimento do Advento. Não é a alegria de que cinco ministros de outras crenças tenham aceitado a mensagem e estejam guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Nem é a circunstância de que alguns que haviam estado afastados da mensagem tenham regressado ao aconchego do aprisco. Isso foi maravilhoso e verdadeiramente empolgante. A lembrança mais cara de tôdas, porém, é-nos a dos obreiros consagrados — pastôres, evangelistas, instrutores bíblicos, noviços do ministério, e oficiais de Associação, não importa a que congregação ou departamento pertencessem, dando-se as mãos numa maravilhosa camaradagem e apressando-se para trazer os perdidos para o aprisco, sem ter em conta a igreja em que êsses novos crentes iriam ingressar. Sim, nossos ourives e carpinteiros, bem como todos quantos martelaram fortemente para Deus com o martelo da verdade, tinham um único lema, que era: “Esforça-te”. E não fazia diferença alguma que igreja êsses novos conversos freqüentavam, contanto que fôssem resgatados dos perigos do pecado e se tornassem membros da família de Deus.
Um Centro de Evangelização pode e deve unificar os vários obreiros num grande empreendimento de nivelamento geral e conquista de almas. E quando êsse espírito, como fermento, atua em tôda a massa, então, e só então, pode Deus derramar o Seu Espírito em poderosas chuvas de bênçãos. Conquanto todos os esforços humanos tenham as suas restrições, e estamos disso conscientes, agradecemos a Deus o sentirmos pelo menos algumas gotas da chuva serôdia, que nos fizeram ficar sedentos da plenitude das chuvas celestiais.
Ao prosseguirmos na criação de centros de evangelização nas grandes áreas metropolitanas do mundo, mantenhamos bem nítidos na mente os supremos objetivos e possibilidades do plano de origem celeste.
R. A. A.