A Terra gira pelo espaço num percurso anual em volta do Sol, rodando interminavelmente sobre o seu eixo inclinado. Esse eixo contém o segredo de nossas estações em constante mutação. Se em vez de pender exatamente 23,5 graus para um lado, o eixo da Terra fosse bem vertical, nosso globo apresentaria o mesmo aspecto ao Sol durante o ano todo. Não haveria primavera e verão, outono e inverno. Embora a Terra tivesse climas diferentes, não haveria estações diferentes, e perderíamos muita beleza e diversidade!

É fascinante descobrir que a inclinação da Terra nunca se altera à medida que ela faz seu giro anual em torno do Sol. É a contínua modificação das posições do planeta em relação com o Sol que ocasiona o desfile das estações. A parte superior, ou Hemisfério Setentrional, se inclina para o Sol no verão, e se afasta dele no inverno. Durante seu avanço curvilíneo da posição mais afastada para a posição mais próxima do Sol, e vice-versa, ela passa pelas modificações intermediárias, e temos as estações de variação mais dramática: outono e primavera.

Werner

Um poeta diria que na Primavera, as cores voltam a sorrir e o ar se perfuma com o hálito das flores.

Ha um momento exato, cada ano, em que o tique-taque do relógio separa o inverno e a primavera. É o momento — geralmente no dia 21 de março (no Hemisfério Setentrional) e 23 de setembro (no Hemisfério Meridional) — no qual o Sol atinge o Equador celestial, a linha imaginária através dos céus, diretamente acima do Equador da Terra. No exato momento em que o centro do Sol parece atravessar essa linha, as estações mudam oficialmente. Esse é o equinócio da primavera dos astrônomos antigos. Nesse momento, os raios solares incidem verticalmente sobre o Equador, e o dia e a noite têm igual duração em todas as partes do globo. A partir desse momento, no Hemisfério Setentrional, as noites se tornam mais curtas e os dias vão se encompridando até o solstício de verão, que ocorre na segunda quinzena de junho. Por ocasião dos solstícios de verão e de inverno, há um breve espaço de tempo em que o Sol “fica parado no céu” e o verão ou o inverno começam a nascer à medida que o Sol inicia outra vez sua oscilação ponderosamente previsível em direção à Terra.

O equinócio da primavera decorreu na semana passada, e posso dizer que meu pequeno mundo está sendo atingido de modo mais direto pelos raios solares. Ele está inundado de cores e da agitação da vida. Felpudos amentilhos verde-amarelados bamboleiam airosamente dos ramos de carvalho. Um halo de corolas levemente rosadas circunda a manzaníta (espécie de arbusto californiano). Pássaros migratórios despojaram os arbustos das bagas avermelhadas produzidas por eles. Os abacateiros estão perdendo suas folhas e cobrindo-se ao mesmo tempo de flores amareladas. Delicadas florescências de damascos, pêssegos e nectarinas adornam primorosamente as árvores e flutuam suavemente até o solo na amena brisa primaveril, como se fossem flocos de neve.

Sobre o telhado defronte da porta dos fundos há uma grande caixa de material elétrico. Anos atrás, um casal de corruíras estabelecera ah o seu ninho, e de vez em quando cria nele diversos filhotes. Esse pássaro é pequenino, mas tem um coração de gigante e um gorjeio que parece ser interminável, sendo, porém, muito agradável, melodioso e cadenciado. O volume e a duração dessa efusão melódica é surpreendente. Como pode provir de uma partícula de vida tão diminuta? O macho vigia atentamente o seu lar, atracando-se furiosamente com qualquer outra ave que ouse invadir o seu domínio! Muitas vezes fico sentada durante longos intervalos de tempo observando esse pequenino e agressivo chefe de família enquanto ele corteja, edifica, alimenta e adestra sua família.

Fico maravilhada com a variedade da Natureza na primavera! Um belo dia, cansada pelo muito trabalho literário, sentei-me ao sol, observando os pássaros. Olhei para o prado coberto de relva. Numerosas mamangabas amarelas e pretas moviam-se de uma parte para outra em busca de néctar. Observei como elas pousavam nas violetas, curvando-as até o solo com o seu peso. Beija-flores passavam zunindo, abanando as flores com a velocidade de suas asas minúsculas. Formigas vermelhas exploravam a massa em decomposição debaixo dos abacateiros. Uma mosca neuróptera rastejava sobre um besouro em sua pressa para atingir o alto de uma tênue haste de capim. Ao chegar na ponta, ela olhou em volta com olhos que brilharam à luz do Sol como se estivessem chapeados de ouro polido. O dia era uma sinfonia de co-res!

Lembro-me de haver passeado pelo Vale da Morte, certa primavera. Tínhamos atravessado diversos quilômetros de xisto e cascalho, quando notei uma mancha colorida contra a monótona cor cinzenta do cascalho. Era uma solitária flor do deserto. Ela não continha folhas verdes. Não havia nada mais senão uma flor perfeitamente formada, cor-de-rosa e púrpura, constituindo um brilhante contraste com a cor cinzenta. Por que vicejava ali sozinha?

Certa feita, há muito tempo, no mês de março, andamos por entre as dunas de areia da parte mais baixa do Deserto Mojave. Subimos ao topo de uma duna bem alta, e descemos do outro lado até uma sólida rampa cheia de lírios do deserto agradavelmente perfumados. Essas alvas flores erguiam-se acima de delgadas folhas verde-azuladas que se estendiam através da areia. No centro da parte dorsal de cada pétala o grande Projetista pintou uma faixa verde-azulada. Será que semelhante beleza e fragrância estava sendo esbanjada naquela duna do deserto?

Num prado pantanoso ao lado da Trilha John Muir, no alto da região de High Sierra, certa primavera encontrei uma flor fascinante. Eu havia tirado a mochila das costas e me estirava sobre o musgo ao lado do brejo, quando notei uma tênue haste apontando para o céu. Estava

O amor divino preparou a atmosfera primaveril do Jardim do Eden. Tudo respirava carinho, ternura e amor.

coberta de flores de delicado matiz cor-de-rosa, e cada uma delas tinha exatamente o aspecto da silhueta de uma pequena cabeça de elefante: achatada, orelhas grandes, testa bem definida e longa tromba arqueada. Aderindo ao caule com minúsculos pecíolos, as flores meneavam suas pequeninas cabeças de elefante sob a ação da brisa. Recordo ter-me deitado de costas sobre o musgo espesso, olhado para a abóbada celeste e perguntado a Deus, com admiração, por que tão esmerada perfeição fora outorgada a uma flor que bem poucas pessoas iriam ver.

Quando considerei essas flores que freqüentemente floriam sem serem vistas por olhos humanos, sem serem apreciadas por corações humanos, e exalando um perfume que bem poucos seres humanos iriam aspirar, fiquei estupefata. O Deus que criou as vastas extensões do espaço, que mantém a inclinação da Terra precisamente em 23,5 graus, e que move a Terra e o Sol em suas órbitas, é o mesmo Deus que inventou as flores e as impregna de perfumes. Tanto o espaço infinito como a florescência mais diminuta são mantidas por Seu poder — e não posso deixar de prostrar-me diante dEle com reverência e temor.

Nosso Deus ama a cor, a beleza e a diversidade, pois tem sido generoso em cumular nossa vida de todas estas três coisas. Penso, também, que Ele deve ter muito senso de humor. Ponderemos nos cangurus, na planta boca-de-leão e nas flores com cabeça de elefante! Será que Ele sorriu ao inventar isso para nós? Tenho certeza de que toda haste de grama, toda flor que desabrocha e toda ave que canta nos foram concedidas como uma expressão de Seu amor. Que diremos, porém, da beleza em recessos, fendas e lugares desertos? Por que ali, meu Senhor?

Salomão disse há muito tempo: “Há um propósito para tudo que vive debaixo do Sol.” A beleza que escapa à consideração humana é vista e apreciada pelo Deus Vivo, pois na economia divina não há nenhuma flor inútil, nem perfume desnecessário. Embora a Escritura chame essas coisas de “erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno”, elas têm importância para o Deus que ama a beleza.

Na semana passada, quando chegou o equinócio da primavera, sentei-me sozinha, com o sol batendo nas costas, e pus-me a ouvir as vibrações das abelhas em atividade. O perfume dos pomares elevava-se encosta acima. Refleti novamente na maneira como Deus adornou nosso mundo. No alto estendia-se o firmamento abaulado e azul. Pela terra alastrava-se um envoltório de diversas tonalidades de cor verde, e o Artista por excelência pincelara uma porção de outras cores para servir de contraste, agradar os olhos e deleitar nossos sentidos. Era a coloração da primavera!

Visto que a Terra modifica vagarosamente sua posição para com o Sol, todo ano haverá uma primavera. “Enquanto durar a Terra não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.” Gên. 8:22. Esta é uma promessa de nosso Senhor, e quando começar a primavera Ele inundará mais uma vez o vosso mundo de cor e beleza, para vosso prazer, porque vos ama. Como podeis ver, A COR DA PRIMAVERA É O AMOR!

Bunnie Herndon, esposa de um médico residente em Corona, Califórnia.