VERNON FLORY

(Diretor das Atividades Missionárias, União dos Lagos, EE. UU.)

NO máximo da condensação, o plano divino para a terminação da obra na Terra é apresentado em Isa. 43:12: “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus.” Os planos divinos são sempre planos simples. Muito está abrangido nestas poucas palavras: “Vós sois as Minhas testemunhas.” Uma testemunha tem que conhecer por experiência própria o de que fala. Não podemos testificar de Deus com êxito sem primeiramente ter uma experiência nós mesmos. Não podemos falar do gôzo de conhecer a Jesus como nosso Salvador sem que o tenhamos experimentado. Podemos nós louvar o valor e a potencialidade de uma vida de oração sem estarmos vivendo essa experiência? Sem dúvida uma das razões principais do nosso testemunho para Deus não ser tão eficaz como quereriamos que fôsse, está em não conhecermos Deus como deveriamos.

Pilatos certa vez perguntou a Jesus: “És Tu o rei dos judeus?”

“Respondeu-lhe Jesus:, Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-no outros de Mim?” (S. João 18: 34). “Pilatos: estás tu dizendo isso por teres convicção pessoal a Meu respeito ou apenas estás dizendo-o porque alguém te falou que Eu era rei dos judeus?” Como testemunhas do Mestre temos que falar de nossa própria experiência. Ao fazermos isso, terá um pêso extraordinário. Meramente repetir o que ouvimos a outra pessoa dizer acêrca de Deus não é testemunhar.

Deus pode usar qualquer pessoa como Sua testemunha, se essa pessoa é consagrada e conhece a Deus. Êste fato, nós, como ministros, temos que meditar. Quantas vêzes desdenhamos algum prezado irmão ou irmã, por pensar que não os podemos usar. Talvez não seja a pessoa progressista ou ativa que gostamos de incluir em nossos planos. Não faz diferença a humildade ou o atraso que possa ter, Deus pode usá-la para Sua glória, se Lhe é consagrada. A Revista Adventista tem publicado artigos nesse sentido. Deus tem usado de maneira extraordinária pessoas recentemente batizadas. Elas Lhe são Suas testemunhas.

Jesus, em Seu ministério, usou como testemunhas algumas pessoas que nós certamente teríamos rejeitado. Lede, a propósito, a história dos dois endemoninhados. Ninguém dentre nós os escolhería e enviaria a uma cidade para preparar o caminho para o evangelismo bem-sucedido. Jesus foi convidado a sair. Os cidadãos não O queriam ali. Quando os endemoninhados buscaram ficar com Jesus, ao estar Êle de saída, notai o que lhes disse Êle: “Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas te fêz Deus.” (S. Luc. 8:39). Êsses homens foram Suas testemunhas.

Notai, porém, o que aconteceu quando Jesus voltou ali: “E aconteceu que, quando voltou Jesus, a multidão O recebeu, porque todos O estavam esperando” (v. 40). A diferença na atitude das pessoas foi o resultado do testemunho dêsses homens. Êsses endemoninhados não sabiam muita coisa acêrca de Jesus. Não haviam escutado sermão algum. Haviam visto Jesus uma vez apenas, e com Êle estado umas poucas horas no máximo. Não saíram para dar uma série de estudos bíblicos. Fizeram apenas o que podiam. Testemunharam do que Jesus por êles fizera. Essa fôra a sua experiência. Que extraordinária eficácia teve.

Interessante é notar, na Concordância, quantas vêzes são usadas, apenas no livro dos Atos, as palavras “testemunha” e “testemunhas”.

“Vós sois as Minhas testemunhas.” Às vêzes ficamos convencidos de que somos os advogados de Deus. Advogados são as pessoas que depois de tôdas as testemunhas haverem dado o seu testemunho, argüem nos pontos sutis da lei e, por meio de argumentos, tratam de conseguir uma decisão em seu favor. Deus nunca nos contratou para sermos advogados Seus. Somos chamados para ser Suas testemunhas. Seremos, talvez, capazes de argüir com bastante lógica, mas os argumentos só produzem argumentos.

“A influência espontânea e inconsciente de uma vida santa é o mais convincente sermão que se pode fazer em prol do cristianismo. O argumento, mesmo quando seja irrespondível, pode só provocar oposição; mas o exemplo piedoso tem um poder a que é impossível resistir completamente.” — Atos dos Apóstolos, pág. 510.

Nisto, pois, consiste o plano simples do Céu para levar ao mundo o conhecimento do Deus vivo e de um amoroso Salvador. “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus” (Isa. 43: 12). A serva do Senhor apresenta-o da maneira seguinte, em A Ciência do Bom Viver, pág. 80:

“Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Êsses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando corroborados por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, o qual opera para salvação de almas. . . . Há maior animação na mínima bênção que nós mesmos recebemos de Deus, do que em tôdas as narrações que possamos ler da fé e experiência de outros.”

Notai outra declaração:

“Os seguidores de Cristo devem ser a luz do mundo; mas Deus não lhes manda fazer um esfôrço para brilhar. Êle não aprova nenhum esfôrço de satisfação própria para exibir uma bondade superior. Deseja que sua alma esteja imbuída dos princípios do Céu; então, ao se porém em contato com o mundo, revelarão a luz que nêles há.” — Idem, págs. 27 e 28.

“O mundo necessita atualmente daquilo que tem sido necessário já há mil e novecentos anos — a revelação de Cristo.” — Idem, pág. 120.

Isto é o que nós, como ministros e membros da Igreja, temos que tratar de realizar. Precisaremos do auxílio de cada membro da igreja. É-nos um repto para nós, obreiros, encontrar o lugar em que cada um de nossos membros da Igreja possa ser testemunha mais eficiente do Mestre. Isto não é fácil. Talvez por isso é que não seja feito com maior freqüência. Mais fácil é apenas pregar.

“Muito mais poderosa que qualquer sermão pregado, é a influência de um verdadeiro lar, no coração e na vida.” — Idem, pág. 303.

“Nem todos os livros escritos podem servir aos desígnios de uma vida santa.” — Idem, pág. 391.

“Há uma eloqüência mais poderosa do que a eloqüência de meras palavras na tranqüila vida do puro e verdadeiro cristão. O que o homem é tem mais influência do que o que êle diz. … A fim de vencer os outros acêrca do poder da graça de Cristo, devemos ter experimentado o Seu poder em nosso próprio coração e vida.” — Idem, pág. 419.

“A divisa do cristianismo . . . é o que revela a união do homem com Deus. Pelo poder da Sua graça manifestada na transformação do caráter, o mundo será convencido de que Deus enviou Seu Filho como Redentor. Nenhuma influência que possa rodear a alma tem mais poder do que a duma vida desinteressada. O mais forte argumento em favor do Evangelho é um cristão que sabe amar e é amável.” — Idem, pág. 419.

Se quisermos algum dia apresentar à nossa igreja o repto de testemunhar, êle operará um bem indizível. Vivificará a igreja. Grandemente reduzidos ficarão os nossos problemas internos. Nosso próprio trabalho pastoral será muito mais bem-sucedido. Animemos a todos para serem testemunhas.

Irmãos: Êste é o plano divino. Nossos planos humanos algumas vêzes se complicam demais. Mas os planos de Deus são sempre simples, e se, sob Sua guia, pudermos incutir em nosso povo o espírito de testemunhar, que extraordinário poder para a salvação de almas será! Requer êle um verdadeiro reavivamento na igreja. Dêste ponto é que todo evangelismo deve começar.

Todos os nossos planos denominacionais se acomodarão em seus respectivos lugares quando corretamente compreendermos a nossa condição de testemunhas de Deus.