Por R. R. BIETZ

(Presidente da Associação do Sul da Califórnia, E.U.A.)

O CHAMADO para o ministério é sagrado, e não é mais uma profissão. Em Obreiros Evangélicos, lemos:

“O ministro, sendo coobreiro de Cristo, terá profundo sentimento da santidade de sua obra, e da lida e sacrifício exibidos para realizá-la com êxito .. . O verdadeiro ministro não fará coisa alguma que venha a amesquinhar seu sagrado ofício. Será circunspecto em seu comportamento, e prudente em tôda a sua maneira de agir. Trabalhará como Cristo trabalhava; procederá como procedeu Cristo.” — Págs. 13-15.

Todos aquêles cujos nomes figuram na lista de pagamento da Associação, têm a sagrada responsa-bilidade de viver corretamente e de trabalhar para Deus. Woodrow Wilson, ex-presidente dos Estados Unidos, disse o seguinte: “Não se necessita de coisa alguma especial para ser advogado. Eu o sou e por isso o sei. Não se necessita de nada especial nem de experimentar mudança alguma espiritual profunda para ser comerciante. A única profissão que implica que sejamos alguma coisa é o ministério de nosso Senhor e Salvador . . . E não consiste em nada mais. Manifesta-se de muitas maneiras, mas não consiste em outra coisa.”

Uma vez que tenhamos experimentado o chamado, não devemos vacilar em ser os emissários de Deus. Não devemos vacilar nem duvidar de que Deus nos tenha chamado. Nem sequer devemos permitir indícios disso em nossa vida. Tampouco êste sentimento deve induzir-nos a vangloriar-nos. Isso seria prova de não havermos sido chamados. Podemos confiar e prosseguir sendo humildes. Como disse alguém: “Então se caminha com passo firme, andar seguro e olhar confiante, com o que se manifesta que o ministério é uma delícia, não importa o que sobrevenha ou deixe de sobrevir.”

Nossa Obra

Ao olhar para o futuro devemos fazê-lo com propósito definido. Temos uma tarefa que realizar. Devemos fazer planos e trabalhar para terminá-la. Para ter êxito, tôda igreja, tôda Associação deve lançar um olhar para diante. Não somente deverão traçar-se planos, mas também executá-los. Não devemos somente esperar fazer alguma coisa, mas fazê-la.

Todo pastor deve ter um programa em desenvolvimento contínuo. Ninguém que tome a sério o seu chamado, se satisfará com um programa estático. Não importa que métodos sigamos, contanto que nosso programa seja produtivo. Todo obreiro deve ter propósitos definidos. Nunca glorifica a causa de Deus quem só tem o desejo de correr e não sabe em que direção fazê-lo. Aimaas não se preocupava de que sua atividade tivesse algum propósito; a única coisa que o preocupava era estar ativo.

O pastorado é o cargo mais importante na hierarquia dos obreiros da denominação. Reduzido à sua expressão mínima, o programa do pastor consiste em dois grandes propósitos. Foram estabelecidos por Cristo. O primeiro dêles figura em S. João 17: 12: “Tenho guardado aquêles que Tu Me deste, e nenhum dêles se perdeu; senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.”

Descobrimos aí um programa evangélico que se concentra nas ovelhas do rebanho. É um programa de doutrinamento: de edificação da saúde espiritual das ovelhas. Todo departamento da igreja deve ter um programa que alimente e edifique espiritualmente os membros. O pastor está à testa de todo êsse programa de evangelismo dentro da igreja.

A segunda espécie de evangelismo é mencionada por Jesus em São João 10:16: “Ainda tenho outras ovelhas que não são dêste aprisco; também Me convém agregar estas, e elas ouvirão a Minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor”. Para buscar as ovelhas de fora precisamos da ajuda das de dentro. As ovelhas de dentro deverão estar sãs porque, ao contrário, prestarão pouco auxílio para encontrar as de fora.

Em tôda igreja deveria haver um vigoroso programa missionário. Nunca deveriamos dar por terminada a tarefa sem que consigamos que os membros trabalhem em favor dos que não o são. Todo esfôrço realizado em favor do público, ainda que difícil, produzirá nova vida se os membros com êle cooperam. Sempre deveria haver um programa evangélico em favor das ovelhas que não são do redil, embora não seja justamente evangelismo público.

Nossa Pregação

De quando em quando recebemos um chamado telefônico em que nos é perguntado: “Por que não ouvimos mais falar da mensagem?” Muitas vêzes êsses telefonemas procedem de pessoas que crêem que pregar a mensagem consista em atacar violentamente outra igreja. As queixas procedentes de tais pessoas me preocuparam muito. Não obstante, é importante que nos perguntemos: “Dou eu à minha congregação as verdades para esta hora?” Creio que às vêzes fracassamos na espécie de sermão que pregamos. Nossos sermões deveriam estar sempre alicerçados sôbre a segura Palavra de Deus. Ela deve ser o nosso texto único. Devemos estudá-la mais cabal e profundamente.

Os sermões são mais que recapitulações de recortes de jornais, são mais do que listas de estatísticas, mais do que artigos lidos em algum jornal religioso e mais do que citações do Espírito de profecia; os sermões devem surgir das mais profundas convicções. Estas crescem no coração do pregador, graças ao estudo consagrado, à vida pia, à oração e à meditação, e ao contato real com as situações da vida. Duvido do quanto necessitam as nossas congregações de muitas dissertações sôbre problemas sociais, ou ensaios relativos à situação religiosa do mundo. Duvido que estejam demasiado interessados nas declarações dos eruditos, dos homens de reputação e nomeada. Duvido que creiam que nós ou qual-quer outra pessoa saiba muito acêrca da situação política do mundo. O que creio — isso sim — entretanto, é que nossos irmãos e as pessoas que não pertencem à nossa igreja, querem saber o que Deus pensa. Desejam êles que se lhes diga, de forma enfática, o que Deus diz em Sua Palavra. Não há satisfação perdurável em nada, além disso. O Dr. Ralph Sockman, pastor metodista da Igreja de Cristo, da cidade de Nova York, declara:

“A função docente do ministério deve ser compreendida e reafirmada se queremos dissipar a ignorância crassa de nosso tempo. Êstes esforços significam que usaremos mais nossa Bíblia. Muitos jovens parece que temem empregar a Bíblia no púlpito . ..

“Precisa-se de um reavivamento da pregação, que exponha a Palavra … O pregador doutrinário que toma os ensinos eternos e os apresenta de novo à congregação em forma viva, assemelha-se à lava incandescente que procede de uma fonte que está situada mais distante que a luz.” — Best Sermons, págs. 14 e 15, ed. 1946.

Em todo o sentido nós, como pastôres adventistas, devemos descobrir a forma de tomar nossas grandes verdades proféticas e doutrinárias e infundir-A mera teoria só é o esqueleto da verdade profética e nunca atrairá às fontes de água viva as almas lhes vida, dinamismo e poder de salvar as almas, sedentas. O pregador que alimenta com a mensagem da Bíblia sua mente e sua alma, nunca precisa preocupar-se durante a semana perguntando-se que orientação dar ao tema que apresentará no ser-mão do sábado.

O pastor deveria melhorar continuamente sua capacidade mental.

“Nunca penseis que já aprendestes o suficiente, e que podeis afrouxar agora vossos esforços. O espírito culto é a medida do homem. Vossa educação deve continuar através da vida inteira; deveis aprender todos os dias, e pôr em prática os conhecimentos adquiridos.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 446.

Nem todos podemos ir a um seminário. Não obstante, todos podemos estudar. O título ou o diploma têm pouca significação, a menos que a mente progrida em forma contínua. Há perigo de que descuidemos o estudo no altar das reuniões de comissões. O pastor não pode permitir que isto aconteça. Se devesse escolher entre ambas as atividades, haveria de decidir-se pelo estudo. Raras vêzes os sermões surgem nas reuniões de comissões.

Nossas Finanças

Em I Tim. 3 lemos que a vida do bispo deve ser “irrepreensível, . . . não cobiçoso de torpe ganância, . . . que tenha bom testemunho dos que estão de fora.” O pastor deve ter boa reputação. Demasiados há que têm desacreditado o ministério por seu descuido em assuntos financeiros. Conquanto seja melhor não ter dívidas, o estado atual da economia justifica que alguém tenha dívida de quando em quando. Se compramos a prazo, cuidemos de controlar de maneira tal o pagamento das prestações que nunca nem a sombra de uma dúvida nos obscureça o crédito. Melhor é seguir vivendo sem certas coisas, do que comprá-las e não poder pagá-las depois. Pelo pagamento a prestações podemos fortalecer nosso crédito ou arruiná-lo com-pletamente.

Pode apresentar-se a ocasião em que um pastor deva pedir dinheiro emprestado. Melhor é que o não peça aos irmãos. Melhor é não dever aos membros da igreja nada além da obrigação de pregar a Palavra, repreender e exortar. Um membro que lhe empresta dinheiro crerá, na maioria dos casos, que lhe fêz um grande favor. Se é necessário pedir dinheiro emprestado, recorra-se a um Banco, instituição que precisamente desenvolve suas atividades nesse ramo.

Todos os obreiros devem ser honestos e fiéis na entrega dos dízimos e ofertas. Eu soube de obreiros que descuidavam o pagamento de seus dízimos por muito tempo. Como podemos ser exemplo se mostramos êsse descuido? Quem demora a cumprir suas obrigações com o Senhor, cedo ou tarde se encontrará fora da causa de Deus.

Ao manusear fundos da obra, o pastor deve pôr grande cuidado. Êsse dinheiro deve ser considerado sagrado. Deve êle prestar contas de todo cruzeiro que receba. Para cada gasto deve haver um comprovante. Isso é necessário para proteção própria e para facilitar o trabalho do revisor de contas. Nenhum obreiro deve dispor dos fundos evangélicos e empregá-los para suas próprias necessidades. Chegar à conclusão de que podemos pagar-nos uma espécie de refôrço de salário, por nossa própria conta, pelo tempo que trabalhamos a mais, é um raciocínio falso. Todos trabalhamos horas extras e a ninguém se nos paga por isso. Nossa consciência deve ser sensível nesses assuntos.

Casos há em que certos obreiros inexperientes pedem ao tesoureiro da igreja que transfira determinados fundos. O tesoureiro da igreja não tem a obrigação de transferir nenhum fundo sem ter a autorização de um voto da comissão. Com efeito, se o faz, desqualifica-se para o cumprimento da função para que foi eleito. Só um obreiro falto de moral poderia levar um tesoureiro de igreja a uma situação tão embaraçosa.

Trabalho ou Atividades Extras

De quando em quando ouvimos falar de um obreiro a quem parece conveniente, do ponto de vista financeiro, dedicar-se a algum trabalho ou atividade fora da obra. Foram os pastôres acusados de vender tudo, desde automóveis até terrenos, e desde lâminas de barbear até mel e pílulas vitamínicas. Mui-tas dessas acusações são totalmente falsas. Alguns, entretanto, transgrediram os princípios e, devido ao seu procedimento pouco discreto, deram margem a que as pessoas nos ponham a todos na mesma categoria. Uma imprudência da parte de um pastor pode suscitar a suspeita quanto a todos os demais. Deve ser guardada zelosamente a reputação dos pastôres.

“Os ministros não podem ter os encargos da obra, estando ao mesmo tempo a fazer face aos de fazendas ou outras emprêsas comerciais, tendo o coração em seu tesouro terrestre. Seu discernimento espiritual é obscurecido”. — Obreiros Evangélicos, pág. 337.

“Os pastôres não devem ter interêsses à parte da grande obra de conduzir almas à verdade. Tôdas as energias são necessárias para isso. Não devem dedicar-se a comerciar, a mascatear, nem a negócio algum além desta grande obra.” — Testimonies, Vol. I, pág. 470.

Juntamente com estas declarações há outra em que a comissão da Associação deveria meditar:

“Não devem dedicar-se a emprêsas mundanas porque isto os impede de dedicar suas melhores faculdades às coisas espirituais. Mas devem receber salário suficiente para suster-se a si próprios e a sua família”. — Idem, Vol. VII, pág 250 (Grifo nosso).

Creio que na maior parte dos casos, os obreiros de nossas Associações estão bem cuidados. Ao tomarmos em consideração os auxílios que recebemos, devemos reconhecer que nosso salário é bastante bom. Se há alguns, entretanto, que passam por dificuldades financeiras, devem êles aconselhar-se com os administradores da Associação.

Aceitação de Presentes

Suponho que nenhum de nós deveria ter escrúpulos de consciência pelo recebimento de algum pre-sente, sobretudo se êsse não fôr inspirado por algum motivo ulterior. Um obséquio pode ser uma verdadeira bênção, tanto para o doador quanto para o receptor, se procede de um coração que deseja expressar apreciação sincera. Tal pessoa não espera favor algum como compensação. Paulo recebeu um obséquio dos filipenses: “Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que abunde para a vossa conta.” (Fil. 4:16 e 17.)

Há, porém, outra espécie de presentes cuja aceitação é imoral por demais. Alguns pastôres causam deliberadamente a impressão perante os irmãos de que recebem pouco salário: suas mãos estão sempre abertas e estendidas para receber proveitos pessoais. Tal conduta da parte do obreiro não está em har-monia com a ética, e revela um coração egoísta. Devido ao respeito que as pessoas têm pelo seu cargo, o pastor pode converter-se em um parasita que explora as emoções daqueles que mais respeitam o seu cargo. Pode literalmente encher de dinheiro os bolsos. Lembremo-nos, porém, de que cedo a congregação lhe porá um número e, em geral, êsse é o número “13”. Começarão as críticas, perder-se-á a confiança, e a Associação terá preparada a peneira para sacudi-lo.

Às vêzes as congregações costumam retirar uma oferta para os obreiros. Pode ser que a chamem “oferta de amor.” Tais planos podem ser impedidos pelo obreiro, se assim o deseja. Não obstante, se a oferta foi tomada, será fácil ao obreiro expressar sincero apreço pela preocupação da congregação, e dedicar todo o seu montante a um projeto digno. O equipamento necessário para realizar obra evangélica pode ser um projeto bom. É necessário, entretanto, manter a confiança da congregação; com o tempo, porém, o prestígio do obreiro consolidar-se-á devido ao espírito isento de egoísmo que mani-festou.

“O interêsse egoísta deve desaparecer na profunda ansiedade pela salvação das almas. Alguns ministros trabalharam, não por não poderem agir de outra maneira, não por haver sôbre êles um ai, mas tendo em vista a recompensa que iriam receber.. . .

“Inteiramente errôneo é fazer-se pagar por cada recado feito em prol do Senhor. … Se os ministros se dedicam cabalmente à obra de Deus, e dedicam as energias à edificação de Sua obra, nada lhes faltará”. — Idem, Vol. II, págs. 344 e 345 (Grifo nosso.)

(continua.)