Em nossa pregação não devemos mostrar apenas as implicações do evangelho para o futuro, mas também seu significado para o mundo em que os ouvintes vivem agora.

O cristianismo parece estar ganhando mais terreno, no continente africano, do que qualquer uma das outras religiões. Não obstante, como nos dias da heresia dos Colossenses (ver Col. 1:13-23; 2:8-3:5), muitos não têm visto a suficiência de Cristo. Muitos conversos não vêem nenhum conflito em ir à igreja, ouvir os sermões, orar, cantar e dar o dízimo e as ofertas e, ao mesmo tempo, principalmente nas provações e situações difíceis, visitar um adivinho (babalawo) ou um profissional tradicional (onisseguri) para saber o que diz o futuro.

Creio firmemente que nossos missionários, pastores, evangelistas e pregadores locais necessitam voltar suas mensagens evangélicas para esta situação. Não estou dizendo que devamos mudar o evangelho apresentado nas Escrituras, mas estou verdadeiramente convencido de que nos tempos do Novo Testamento o evangelho jamais foi pregado num vazio que o distanciasse do ambiente. Cumpre-nos relacionar nossa pregação de Cristo com os diversos ambientes culturais.11

Os Colossenses e os países africanos

O mundo que a igreja enfrenta hoje na África, assemelha-se grandemente ao dos Colossenses do tempo de Paulo. Aquele mundo era um mundo cheio de espíritos e todas as formas de poderes cósmicos, que precisavam ser constantemente apaziguados por alguém para se sentir a Presença Divina. Os habitantes daquele mundo enfrentavam um universo hostil com seus inúmeros archai (principados) e exousiai (poderes). Sua observação dos movimentos regulares das estrelas havia levado muitos a concluírem que as estrelas possuíam poder sobre os assuntos humanos e que as posições individuais dos corpos celestes, por ocasião do nascimento de um homem, traçavam o seu destino. Criam que para obterem a felicidade na vida, as pessoas deviam procurar entender e, se necessário, apaziguar os espíritos dos astros.12

Crenças semelhantes existem hoje em muitas partes do mundo — como acontece na Nigéria, especialmente entre os povos de fala ioruba. Os africanos vivem em constante temor, em um mundo infestado de espíritos de demônios, que eles acreditam habitarem nas estrelas e nos ele-mentos naturais como o vento, o trovão, o relâmpago e a chuva. Eles temem também aqueles que, acreditam, podem usar essas forças espirituais para o bem ou para o mal.

Os iorubas crêem que há milhares de espíritos e divindades que devem não só ser reverenciados mas cultuados. Indistintamente, ninguém deve agir sem consultar uma dessas divindades, pois se acredita que esses deuses e espíritos controlam o acesso à presença divina. Por essa razão, os africanos consideram a religião como capaz de prover não só a salvação da alma e orientação para a vida moral, como também proteção contra esses poderes cósmicos empíricos.

Para o africano, a pregação de Cristo só está repleta de significação quando se relaciona com os problemas do alto. Para os cristãos africanos, a “salvação em Cristo apenas’’ deve abranger toda a esfera da vida. Deve proporcionar a vitória sobre os poderes demoníacos, a contínua proteção desses poderes, a provisão das necessidades diárias e a segurança para a sociedade na qual os africanos se encontram — em outras palavras, deve proporcionar o bem-estar geral das pessoas.

Mas sinto dizer que nossos evangelistas e os pregadores e pastores locais lamentavelmente estão deixando de atender a essas necessidades. Alguns têm negado totalmente a realidade dos poderes demoníacos, considerando como superstição a crença na existência deles. Outros têm aceito de má vontade esta realidade, mas têm feito pouco esforço para relacionar a mensagem do evangelho com esses problemas. Em lugar disso, têm ressaltado a salvação da alma e a vida moral.

Essa falha em deixar de relacionar o cristianismo com o mundo em que vivem os africanos, tem dado a impressão de que a salvação cristã está interessada primordialmente na vida por vir. Por causa dessa maneira de agir, muitos africanos acreditam ou que Cristo não está interessado nos seres cósmicos com os quais eles devem lutar, ou que Ele não tem nenhum poder sobre eles. Uma canção popular das festividades entre a tribo ioruba à qual pertenço, diz:

Festejaremos o ritual de nossa terra.

Festejaremos o ritual de nossa terra.

O cristianismo jamais proíbe. Não, o cristianismo jamais proíbe a participação no cerimonial.

Celebraremos o ritual de nossa terra.

É pelo fato de as igrejas cristãs raramente terem lidado de maneira adequada com esta situação, que muitas igrejas africanas independentes estão surgindo hoje em dia, e as igrejas da Missão Africana estão aumentando. Essa postura tem influenciado também a tendência da teologia cristã sobre o continente africano.

Que devemos fazer?

Os pregadores devem dar contexto ao seu trabalho evangelístico interior e externo. Devem mostrar como o evangelho de Cristo atende às várias necessidades das pessoas. Conquanto ao evangelizarmos devamos pregar o perdão dos pecados por meio de Cristo, devemos mostrar também às pessoas o total ajuste de Cristo a todas as suas necessidades agora e no futuro. Cumpre-lhes observar isto em sua experiência diária.

‘‘Devemos tornar as pessoas cientes da presença de Jesus e da vitória que Sua morte e ressurreição alcançaram em favor dos crentes.”

A proclamação do evangelho não deve apresentar somente a realidade da escravidão demoníaca, mas proclamar também a emancipação que Cristo proporciona. Como escreveu K. Koch: “Onde o fenômeno anormal da possessão, como a manifestação extrema do império do mal, realmente aparece, devemos enfrentá-lo com as alegres novas da mensagem de libertação.’’1 2 11 12 13

Devemos tornar cientes as pessoas da constante presença de Jesus e da vitória que Sua morte e ressurreição alcançaram em favor dos crentes. Nosso povo necessita saber acerca do poder da oração.

Precisamos pregar a Cristo à luz da compreensão cultural de nosso auditório, com vistas a remover os problemas da vida dúplice com que muitos deles ainda se debatem diariamente. Somente quando relacionarmos Jesus com o seu mundo de cada dia, podem eles vê-Lo não apenas como o Salvador do pecado, mas como o Vencedor, a quem foi dado todo o poder tanto no Céu como na Terra; Aquele que é suficiente para todas as suas necessidades. Aqui, Paulo é nosso maior exemplo.