Os dias do obscurantismo religioso verificou-se a decadência da pregação. Os púlpitos quase silenciaram e a liturgia aparatosa substituiu o ministério da Palavra. A Reforma, porém, restaurou a “loucura da pregação”. Hoje, nas igrejas reformadas, o púlpito constitui o centro de todo o serviço de adoração. Mas, a rebelião protestante restaurando o ministério da Palavra, desprezou a importância da liturgia no serviço de adoração.

Muitas vezes ouvimos de alguns ministros, para os quais a forma do culto constitui um elemento secundário, a afirmação de que não somos uma igreja litúrgica. Outros, com acentos de eloquência, declaram ser a liturgia uma vivência do paganismo, inovação espúria não sancionada pela igreja cristã primitiva. E assim, reagindo contra os excessos perpetrados pela igreja medieval que transformou a liturgia em um mero formalismo, desprezamos a ordem e a forma, elementos indispensáveis em um legítimo serviço de adoração.

Quando estudamos o mistério da mediação que, dia após dia, era efetuado no antigo santuário, maravilhamo-nos diante de um imponente e solene ritual que prefigurava o sacrifício e o sacerdócio de Jesus. Com efeito, a impressiva liturgia judaica, “sombra dos bens futuros”, inspirava no coração dos adoradores um genuíno sentimento de reverência, fé e consagração.

Na igreja neo-testamentária a principal função do ministério se cifrava no culto divino. “Nós nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra”, sentenciaram os apóstolos, quando se viram envolvidos com os inúmeros negócios da igreja. Recusaram-se a substituir o culto por programas, promoções, campanhas ou atividades de qualquer espécie.

Quão significativa se nos afigura a imputação formulada contra Paulo, em Corinto: “Êste persuade os homens a adorar a Deus!” (Atos 18:13). Sim, o pregador que não cultiva e mantém em sua igreja uma atmosfera de adoração, jamais logrará persuadir os pecadores a adorar a Deus.

Hemos visto que em muitos lugares o culto é precedido pelo ruidoso sussurro dos membros conversadores. A esta parolice irreverente se associa, muitas vezes, a impontualidade do pregador e a ausência de unidade e ordem no serviço de adoração. Os anúncios, algumas vezes inoportunos, outras vezes desnecessários, parecem transformar a casa de Deus em um recinto comum. E a estes fatores negativos acrescentamos o desleixo, o descuido e mau gosto tão evidentes no mobiliário de algumas igrejas, na cor de suas cortinas e na pintura de suas paredes. Nada que estimule a adorar!

Acaso perdemos a sensibilidade bíblica para o culto? No coração da mensagem adventista encontramos um chamado à adoração: “. . . Adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar. e as fontes das águas” (Apoc. 14:7).

Uma digressão suscinta sobre os elementos que formam o culto, mostrar-nos-á se realmente sabemos criar o ambiente místico imprescindível à adoração.

  1. O silêncio

Os templos que consagramos ao Senhor são feitos para a alma e a atmosfera que neles se respira é sobrenatural, convidando-nos ao silêncio indispensável à oração. Esta reverente quietude desperta na alma humana uma disposição misteriosa, levando-a em exaltação íntima, a pressentir a presença do Ser Supremo.

“Mas o Senhor está no Seu santo templo, cale-se diante dele toda a Terra” (Hab. 2:20).

  1. A música

A música no serviço de adoração constitui um elemento de primeira importância. “Contudo – diz a irmã White – não tiramos o máximo proveito desta parte do culto” (Evangelismo. pág. 505).

Os hinos cantados pela congregação, sejam de adoração, louvor, súplica ou consagração, devem ser interpretados com espírito e entendimento. As verdades profundas e sublimes do evangelho, repetidas em acentos musicais, transportam os adoradores a um nível espiritual mais alto, predispondo-os a receber a mensagem de Deus, através da voz do pregador.

  1. A oração

“A oração é a voz do espírito” e, como tal, ocupa uma parte importante na ordem do culto. Consideremos em primeiro lugar a invocação. Esta deve ser um reconhecimento expresso de que Deus está em Seu santo templo e de que os adoradores se congregaram para receber o refrigério prometido, a misericórdia e a graça divinas. Em segundo lugar, há o que chamamos de oração pastoral. Esta não somente deve unir os adoradores a Deus, mas também preparar os fiéis para receber a mensagem com os ouvidos atentos e o coração ungido.

E por último vem a oração com a qual concluímos os exercícios religiosos em nossos templos – a bênção. Não existem para esta ocasião expressões mais oportunas que as inspiradas pelo Senhor. Por exemplo: “E da parte de Jesus Cristo, que é fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da Terra. Aquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai:

a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém” (Apoc. 1:5 e 6). Este e dezenas de outros textos deveríamos usar, com mais frequência, como ato de encerramento em nossos cultos regulares.

  1. A oferta

No Velho Testamento, quando o homem era impelido à adoração, a oferta—o sacrifício—constituía a parte predominante. Foi a oferta que auxiliou o adorador a ter um senso da presença augusta de Deus. Em vez de um intervalo—um parêntesis dentro do culto—era a sua parte mais importante, a essência da adoração. Os fiéis reunidos devem ser concitados a apresentar suas oferendas com reverente espírito de oração, suplicando que seja aceita e usada para glória do Senhor.

  1. A mensagem

Nem toda espécie de mensagem serve para pôr em relevo o significado da adoração. Entretanto, a pregação expositiva ou textual deve de alguma forma contribuir para tornar real a presença de Deus no santuário. Através da mensagem os presentes deverão sentir que aquele lugar e aqueles momentos são sagrados e diferentes de outros lugares e ocasiões. Todos estes elementos mencionados devem produzir um efeito benéfico no adorador, apelando à imaginação, ao gosto estético e ao amor ao belo. Somente assim poderão os fiéis vislumbrar reverentes a beleza da santidade divina e desfrutar em sua plenitude o gozo de Suas bênçãos.