Mordomia é um amplo projeto da administração do ser. Envolve o homem biológico (mordomia da vida), o homem psicológico (mordomia da mente), o homem social (mordomia da sociabilidade) e o homem espiritual (mordomia da espiritualidade).
O enfoque parcializado da realidade humana tem dado origem a práticas completamente alheias aos princípios de um estilo de vida cristã. Por exemplo, os espiritualistas vêm na carne ou no corpo, a morada do mal e do peca-do; portanto, há um frenesi pelo progresso temporal e o cuidado do corpo. Nada menos que o eco da velha filosofia platônica que polarizava a carne diante do espírito.1
A concepção do homem em sua dimensão plena, longe de causar em seu interior essa polarização, torna interdependentes todas as facetas do ser. A parte espiritual e a carnal são componentes inseparáveis de um ser: o homem total.2 Escrevendo aos cristãos de Tessalônica, Paulo lhes disse: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Tess. 5:23).
Santificação completa e total. Santificação de todo o ser. Que significa isso? Jesus é nosso modelo de uma santificação que abarca o homem total e completo: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Luc. 2:52). Em outras palavras, santificação da vida intelectual (“crescia… em sabedoria”), santificação da dimensão física (“crescia… em estatura”), santificação da vida social (“crescia… em graça” para com os homens) e santificação da dimensão espiritual (“crescia… em graça” para com Deus).
Segundo as Escrituras Sagradas, “o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (I Cor. 4:2). Deus deseja que cada um dos indivíduos que O aceitam como Senhor, seja achado fiel administrador. O que têm eles para administrar? Todo o ser, para a glória de Deus (I Cor. 10:31). A mordomia é um amplo projeto da administração de todo o ser.
A mordomia cristã tradicional estava centralizada nos bens: talentos, tesouros, tempo e templo. Mas a Palavra de Deus a centraliza no homem criado à Sua “imagem e semelhança” (Gên. 1:26). O objeto da mordomia é o homem criado por Deus, o homem separado de Deus, o homem redimido em suas dimensões plenas. Por conseguinte, a mordomia, nas mãos do Espírito Santo, é o instrumento para santificar o homem. Por isso falamos das quatro dimensões vitais da mordomia: a mordomia da vida física, mental, social e espiritual.
A partir desse ponto de vista, a mordomia restaura no homem a imagem perdida e o capacita para que se achado como um fiel mordomo, um fiel administrador.
De que maneira posso permitir que o Espírito Santo governe minha mordomia da vida? Esse aspecto da mordomia compreende a administração da vida física no que respeita a alimentos, vestuário, morada, bem-estar econômico, trabalho, saúde, etc.3 Seria o caso de nos perguntarmos: governa o Espírito Santo nossa dieta, maneira de vestir, moradia e nosso trabalho? Tem sido o evangelho de Cristo o “poder de Deus para a salvação” (Rom. 1:16), em todos esses aspectos da nossa vida física? Temos nos demonstrado humildes em aceitar que Cristo é o Senhor da mordomia da nossa vida?
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura” (II Cor. 5:17). As pessoas que são atraídas das trevas para a luz, através da pregação do evangelho, são introduzidas a um novo estilo de vida, o estilo de vida de Cristo. Tornam-se, então, novas criaturas. Observarão com profundo gozo e disposição os princípios que regem sua maneira de comer, vestir, viver e trabalhar. Em todas as coisas glorificarão o Senhor que as salvou.
O novo homem tem agora um “coração novo” (Sal. 51:10). Sua mente também foi alcançada pelo evangelho. Seus pensamentos, sua ideologia, sua filosofia, sua visão do mundo, sua educação, tudo tem sido tocado e transformado pelo Espírito Santo. Agora, glorifica ao Senhor com a mordomia da sua mente. Como Paulo diz: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim” (Gál. 2:19 e 20).
Seus pensamentos são os pensamentos de Deus. Sua ideologia parte da cruz, e sua maneira de olhar o mundo nasce da revelação divina.
Mordomia da sociabilidade
O novo homem também é socialmente santificado. Como afirmou João, “aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço” (I João 2:10). E Paulo reitera: “Amai-vos cordialmente uns aos ou-tros com amor fraternal” (Rom. 12:10). E o próprio Cristo já ordenara antes com maior amplitude: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mat. 5:44).
O homem nascido de Deus é um mordomo fiel quando administra a sua vida social. Nesse campo procura santificar suas relações com os semelhantes, a relação com o cônjuge, as relações com outros membros da família, com os amigos, colegas de trabalho, com os líderes, etc. A mordomia da sociabilidade nos coloca diante da interrogação: Honro a Deus na maneira como trato as demais pessoas?
Mordomia da espiritualidade
O homem nascido de Deus goza comunhão íntima com seu Criador (I João 1:3). Comunhão essa que o convida a santificar sua espiritualidade, a administrar fielmente esse aspecto da
sua vida. O homem comum, sem Deus, sofre o que os especialistas chamam de “vazio existencial”. Essa é uma situação de afastamento de Deus, uma espiritualidade pobre. Ao buscar resolvê-la através de filosofias, costumes, práticas e diversões mundanos, além de narcóticos, o ser humano aplaca apenas temporariamente a necessidade de Deus.
O salmista confessou ter “sede de Deus, do Deus vivo” (Sal. 42:2). O pro-feta Jeremias descreve essa realidade, explicando-a nas palavras do próprio Deus: “porque dois males cometeu o Meu povo: a Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jer. (2:13).
Mesmo os que professam ter aceito a Cristo se encontram, muitas vezes, sujeitos à prática formal de uma religião árida, seca e desprovida de sentido. Deus deseja santificar nossa espiritualidade. Anela que sejamos mordomos fiéis, leais administradores da faceta espiritual da nossa vida. Isso envolve o cuidado com as horas de devoção pessoal, adoração, oração, nosso compromisso com a pregação, bem como o desempenho fiel da vocação para a qual fomos chamados.
A espiritualidade, segundo o ponto de vista da mordomia total, capacita o homem para que funcione como uma unidade e não como um ente parcelado.
Fidelidade plena
Em suma, Deus anela santificar o homem por inteiro. Ao resgatar o ser humano e torná-lo uma nova criatura em Cristo Jesus, o redime em sua mordomia da vida, da mente, da sociabilidade e da espiritualidade. To-das essas áreas vitais da experiência humana são fortalecidas na unidade do ser que arrependido e redimido pelo sangue de Cristo, diz como Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Quando nos tornamos filhos de Deus, O reconhecemos como doa-dor de todas as coisas (Sal. 24:1). Então valorizamos os bens que tem colocado à nossa disposição (talentos, tempo, tesouros e templo) para que sejam fielmente administrados para fomentar o desenvolvimento total do homem.
Um enfoque bíblico do homem nos permite considerar tudo o que ele significa como imagem de Deus: um ser completo física, psíquica, social e espiritualmente. A mordomia cristã reconhece que o evangelho transforma, santifica, imprime em nosso ser a imagem de Deus e nos torna novas criaturas em Cristo Jesus.
Essa nova criatura entrega-se plenamente e permite que o Espírito Santo a governe em todas as dimensões da vida.
Referências:
- 1. Máximo Vicuña Arrieta, La Ressurrección de Muer-tos, Universidade da União Peruana, págs. 2 e 3.
- 2. Ibidem, pág. 170.
- 3. Stephen R. Covey, Primero lo Primero, Editora Pai-dós, Buenos Aires, pág. 61.