É manhã de sábado e o templo está cheio. O pastor fará um sermão bastante paternal. Ele e sua família estarão se despedindo dos irmãos, rumo a um novo desafio. Lágrimas banham os rostos jovens e idosos. Por certo, a frase mais ouvida nos últimos dias foi: “Pastor, por favor, não nos deixe agora. Ainda precisamos muito de você.”

Que qualidades esse pastor reuniu em si mesmo para ser tão apreciado assim pe-los membros de sua comunidade? Talvez não muita coisa além de ter ficado naquele lugar tempo suficiente para fazer, com seu trabalho pastoral e sua consistente espiritualidade, uma grande diferença na vi-da deles. E isso é muito importante. Pastorados desenvolvidos em períodos demasiado curtos sempre deixam a desejar. Por isso deveriamos refletir um pouco mais sobre a necessidade de ser estabelecido um período mais extenso de permanência do pastor em um distrito ou numa igreja.

O objetivo deste artigo é apresentar a opinião de vários estudiosos sobre a duração do pastorado. Ao lado disso, enumeraremos os principais benefícios de uma permanência mais longa do pastor, num determinado lugar de trabalho. Não hesitamos em afirmar que, quando Jesus Cristo dirigiu-Se a Pedro com as palavras: “apascenta as Minhas ovelhas” (João 21:15-17), es-tava incluindo tudo o que era necessário para o bem-estar do rebanho. Sem dúvida, ficar em um determinado lugar tempo sufi-ciente para conhecer mais profundamente os membros, é um componente importante da tarefa ministerial. Possibilita ao pastor, melhores condições de apascentar as ovelhas com mais eficientes cuidados e mais nutritivo e apropriado alimento espiritual. Além de mais efetivo programa de treinamento e envolvimento missionário.

Falam os estudiosos

Pesquisadores ligados aos assuntos ministeriais e ao crescimento de igrejas afirmam que pastorados longos resultam mais produtivos. Segundo Lyle Schaller, “é raro encontrar uma igreja grande que tenha tido crescimento numérico significativo e tenha mantido esse crescimento sem os benefícios de um pastorado longo”. (Gro-wing Plans: Strategies to Increase Your Churchs Membership, pág. 116).

Peter Wagner afirma que “há abundante evidência de que os anos mais produtivos de um pastorado raras vezes começam antes do quarto, quinto ou sexto ano de ministério pastoral em uma congregação”. (Your Church Can Be Health, pág. 106).

Daniel Reeves e Ronald Jensson também opinam sobre o assunto: “Quando o pastor deixa o distrito antes do quarto ano sai exatamente quando começariam os anos mais produtivos de seu ministério naquela localidade.” (Avanzando: Estraté-gias Modernas para el Crecimiento de la Iglesia, pág. 23).

Lamentavelmente, o número de anos que os pastores adventistas têm permanecido nas igrejas é bem pequeno.

Um estudo realizado por Desmond Cummings, de 1976 a 1978, em igrejas adventistas de fala inglesa, nos Estados Uni-dos, revelou que a média dos pastorados foi de dois anos e três meses, segundo menciona Ricardo Zambelli em sua tese doutorai, intitulada Implicaciones de la Duración de tos Pastorados en la Argentina, publicada em 1997 pela Universidade Adventista del Plata, pág. 62. No mesmo trabalho, Zambelli apontou que na Argentina os pastores adventistas permanecem em média dois anos e sete meses num distrito.

Em contato com alguns administradores da Igreja, pudemos constatar que, no Brasil, a média de duração dos pastorados é aproximadamente a mesma. Para o Dr. Daniel Rode, professor de Crescimento de Igreja, no Seminário Adventista del Plata, transferir pastores de forma tão freqüente é um erro estratégico.

Cuidar do rebanho exige tempo. Ellen White declara que “a obra do pastor não pode ser feita no escritório. Deve conversar com todos os membros de seu rebanho e captar o sentir dos pais e dos filhos. O médico da alma deveria averiguar as enfermidades espirituais que afetam os membros do rebanho, e então trabalhar para administrar os remédios apropriados e pedir ao Grande médico que venha em sua ajuda. Dê a eles a ajuda que necessitam. Tais ministros receberão todo o respeito e a honra devida como ministras de Cristo”. (Testimonies for the Church, vol. 2, pág. 619).

Dessas considerações iniciais, podemos concluir que o pastor que permanece mais tempo num distrito está se habilitando para realizar um trabalho mais completo. E esse procedimento traz inúmeras vantagens para todos os envolvidos.

Benefícios para a igreja

Quando o pastor assume a liderança de uma igreja, ele tem o título de pastor. Com o passar do tempo, depois de enterrar mortos, visitar enfermos e atender as diversas circunstâncias da vida, passa a ter a condição de pastor. É que somente então terá conquistado o coração do povo. Pastores que pela sua humildade e serviço demonstram aos membros que os compreendem e os amam, podem treinar discípulos e fazer a diferença na vida dos membros sob os seus cuidados.

Muitas igrejas não se lançam à realização de grandes coisas porque temem vir um novo pastor e pôr abaixo tudo o que foi anteriormente planejado. Pastorados longos dão à comunidade a motivação e a segurança necessárias para elaborar ousados planos e concretizá-los.

Benefícios para o pastor

Segundo o Dr. Rode, um pastor com 15 anos de experiência, que esteve três anos em cada distrito, tem, na verdade, “três anos de experiência”. O que ocorre é que ele apenas repetiu a experiência de ser pastor por três anos. Há certos privilégios e desafios que só aparecem com o tempo. Casar os jovens que antes eram adolescentes, chorar com aqueles que ele casou mas que agora estão se separando, acompanhar a experiência de solidificação na fé, vivida pelos novos membros; tudo isso amadurece um pastor.

Passar mais tempo numa localidade ajuda o pastor em seu crescimento pessoal. Obriga-o a preparar novos sermões e, Conseqüentemente, a estudar mais. Dá-lhe melhor compreensão de si mesmo e da natureza humana. Possibilita-lhe a oportunidade de amar verdadeiramente a seu povo.

Benefícios para a família pastoral

Quando o pastor é transferido para uma nova localidade, é difícil para sua família deixar os amigos e começar novas amizades.

Cada mudança representa um desgaste físico e emocional muito grande para a esposa. Colocar todas as coisas no devido lugar é um trabalho estafante. Ver os móveis da casa se deteriorando é algo que pode abatê-la e frustrar. Ela pode ter problemas com trabalho, se for o caso de exercer alguma atividade fora do lar. O mais difícil, entretanto, é a saudade de pessoas queridas e a incerteza de como será recebida nesta nova comunidade.

As crianças também sofrem com mu-danças freqüentes. Com sua natureza sensível, elas se ressentem da falta dos amiguinhos e do ambiente com o qual estavam acostumadas. Acabam ficando crianças desprovidas de raízes sociais; algumas até sem laços emocionais sólidos. Não raras vezes, as crianças têm dificuldades na escola. Pastorados longos diminuem esses inconvenientes.

Benefícios para o Campo

A Associação, ou Missão, perde muito com a mudança freqüente de seus pasto-res. Aqueles que permanecem mais tempo num lugar conhecem melhor a realidade dos distritos. Tornam-se uma ajuda para os líderes, na tarefa de planejarem estratégias para o desenvolvimento da Igreja naquela região.

Além disso, pastores que ficam mais tempo em um distrito dão à administração a oportunidade de saber avaliar com mais segurança a qualidade real do seu ministério. Quando um pastor fica mais de quatro anos em uma localidade, sendo amado e respeitado pelos membros, prova que ganhou o coração do povo, e isso é fruto de um trabalho consciente, criterioso, capaz, bem realizado.

Avanço da missão

Muitos pesquisadores têm concluído que pastorados de longa duração produzem maior crescimento missionário da igreja. É que os pastores passam a conhecer melhor as características das pessoas do seu território, assim como conhecem na mesma medida as qualificações dos membros. Com isso, têm a chave da mobilização leiga nas suas mãos. Não existe ninguém melhor que esses pastores para motivar a igreja para a ação.

Além do testemunho dos eruditos, em minha própria experiência, após trabalhar como pastor em cinco distritos diferentes, posso hoje reconhecer ter sido mais produtivo, justamente onde permanecí durante um período maior.

Os frutos de um pastorado de longa duração poderão ser mais que compensadores, em termos de desenvolvimento pessoal, satisfação familiar e cumprimento da missão. Vale a pena experimentar.