Qualquer pessoa que tenha experimentado um período de amnésia, conhece a sensação desconcertante de acordar repentinamente e perceber que uma parte de sua vida foi apagada da memória. Que tragédia! Contudo, uma tragédia ainda maior persegue inúmeras famílias cristãs, ainda hoje. Acreditando-se vencedoras, descobrem que estão prestes a perder a batalha pela preservação da lembrança mais preciosa do nosso legado espiritual. A amnésia espiritual apaga da nossa mente a lembrança de Deus.
O desvio da fé por parte dos filhos da Igreja não começou com p advento da televisão, da música rock, ou das drogas. Há muitos anos, Moisés, por inspiração divina, previu o problema e deu o seguinte aviso ao povo de Israel: “Havendo-te, pois, o Senhor teu Deus introduzido na terra que, sob juramento, prometeu a teus pais Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades que tu não edificaste; e casas cheias de tudo o que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não abriste; vinhais e olivais, que não plantaste; e quando comeres e te fartares, guarda-te, para que não esqueças o Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão.” (Deut. 6:10-12).
Perigo de esquecimento
O perigo de outrora é o perigo da atualidade. As pessoas naturalmente se esquecem do Senhor. Não raro, o vírus da prosperidade e do êxito amortece os sentidos e provoca amnésia espiritual. A maior ameaça dessa enfermidade é a sutileza com que contamina.
Quem iria imaginar que os filhos e netos da comunidade que passou pelo deserto abandonariam o Senhor que os havia tirado do Egito? Que outra geração teria experimentado, de for-ma tão viva, a presença e o poder de Deus?
Apesar de ter presenciado muitos feitos admiráveis, o povo de Israel esqueceu-se do seu Deus no decorrer de uma geração. O capítulo dois do livro dos Juizes registra que aquela geração, testemunha de todos os feitos grandiosos de Deus em favor de Israel, serviu ao Senhor; mas “outra geração após deles se levantou, que não conhecia ao Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel” (Juizes 2:10).
Será que o esquecimento surge da noite para o dia? Dificilmente. Deveriamos ficar profundamente sensibilizados e preocupados diante do fracasso de Israel. Se os filhos da-queles que viveram tantas experiências marcantes com Deus esqueceram-se dEle, como escaparão os nossos filhos? Como poderemos evitar a contaminação?
Tratamento preventivo
O tratamento preventivo contra o mesmo tipo de mal consiste em doses substanciais da Palavra de Deus, recebidas dentro do lar. O cristianismo baseado na prescrição de “uma dose ao dia”, uma breve oração antes das refeições, uma rápida leitura da Bíblia, uma reunião semanal de culto, não é suficiente para deter a imensa pressão que se abate sobre nos-sos filhos, incitando-os a abandonarem a fé.
Diz Ellen White: “Em todo lar cristão, Deus deve ser honrado pelo sacrifício da oração e louvor de manhã e à noite. As crianças devem ser ensinadas a respeitar e reverenciar a hora da oração. Na igreja do lar devem as crianças aprender a orar e a confiar em Deus.” (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, pág. 97).
E de suprema importância que dediquemos, todos os dias, algum tempo para nossa família, de manhã e à tarde, para o culto. Deus tem interesse especial nas famílias de Seus filhos. “Portanto, de cada família suba ao Céu a oração, tanto pela manhã como na hora clara do pôr-do-sol, manhã e tarde o universo celeste anota toda a casa em que se ora.” (Meditações Matinais, 1989, pág.29).
Possivelmente, muitas pessoas que hoje estão ausentes de nossas igrejas, estariam firmes na fé se houvessem cultivado diariamente o culto doméstico.
Benefícios
Oculto familiar serve como plataforma para que a criança aceite a Jesus Cris-to como seu Salvador pessoal. Esse fato foi ilustrado na vida de Timóteo. A fé de sua avó, Lóide, foi transmitida à filha Eunice e esta, por sua vez, transmitiu-a a seu filho (II Tim. 1:15). O jovem Timóteo já estava evangelizado quando encontrou-se com o apóstolo Paulo. Semelhantemente, hoje temos o privilégio de apresentar aos nossos filhos a pessoa de Cristo e levá-los à conversão.
A sociedade atual nos impõe valores contrários à orientação da Bíblia. O lar cristão responde combatendo a filosofia secular com o ensino de princípios bíblicos. Os filhos necessitam ouvir dos pais o que a Bíblia tem a dizer sobre namoro, sexo, álcool, amizade, integridade, diligência, dinheiro, etc. Através do culto doméstico, a família pode avaliar a realidade ao seu redor e encontrar as respostas certas na Palavra de Deus.
O altar da família providencia um ponto de encontro que gera segurança e unidade familiar em meio aos embates da vida moderna.
É o culto familiar que possibilita momentos para que cada um compartilhe suas lutas, dificuldades e vitórias. É aí que os filhos abrem as janelas de suas vidas e expõem suas idéias e inquietações. Os pais podem ser transparentes com respeito às próprias faltas cometidas e pedir perdão, quando for necessário. Algo, no entanto, não deve ser esquecido: para estabelecer canais de comunicação no culto doméstico, é preciso cultivar um ambiente seguro, isento de críticas, ameaças e discursos prolongados por parte dos pais.
Realizado de maneira equilibrada, o culto no lar estimula hábitos indispensáveis para a vida cristã, tais como oração, adoração, estudo bíblico e evangelização. Não somente mostra o valor dessas práticas, mas também ensina de forma natural e espontânea como proceder. O pai atento reconhece no culto doméstico uma oportunidade para disciplinar seu filho.
Se for perguntado a um adulto que cresceu num lar cristão, quando ou onde aprendeu os versículos que consegue citar de cor, provavelmente o interlocutor ouvirá: “quando criança, no culto da família.” Essa prática, sem dúvida, representa um investimento em memorização de versículos, aprendizagem de cânticos e de histórias bíblicas. Aquilo que uma criança retiver bem cedo na vida, estará gravado para sempre.
A família não vive para si. Ele olha ao seu redor, e encontra pessoas espiritualmente carentes em toda a parte. O culto doméstico ajuda também no sentido de ampliar a visão para a necessidade de levar Cristo aos que não O conhecem. Começando por aquelas pessoas que moram na casa vizinha, através de projetos criativos de evangelização, ação social, correspondência, entre outros, a família desenvolve o sentido de missão.
Conclusão
Será difícil esconder os resultados de um culto doméstico criativo, consistente e bíblico. Logo os amigos irão perceber uma diferença na família e querer saber sua razão. O êxito pode gerar uma reação em cadeia, entre as famílias da igreja. Porém, o mais importante é que os filhos desenvolverão um profundo amor pela instrução bíblica no lar, e vão transmiti-lo à geração seguinte. Isto quer dizer que em sua família pode ter início um movimento espiritual que durará por gerações e gerações.
Certo pregador teve oportunidade de fa-lar de Deus a um povo rico e sofisticado, mas sem resultados visíveis. Finalmente, clamou a Deus: “Senhor, faze alguma coisa por este povo, ou morro.”
Conforme ele mesmo disse posteriormente, a resposta veio “como se Deus tivesse fa-lado em voz alta e recomendado: ‘Você está trabalhando no lugar errado; está esperando que o avivamento venha através da igreja. Tente pelo lar’”. O pregador começou então a visitar os lares, ajudando as famílas a organizarem um “altar” em cada casa, até que o Espírito Santo ateou fogo naquela congregação e fez dela uma igreja forte.
Certamente andamos preocupados em nos-sos dias com reavivamento e reforma espiri-tual. Dar-se-á, porventura, o caso de estarmos esperando que a igreja faça aquilo que deve ter início em nosso lar?
Que Deus nos faça comprometidos em promover um reavivamento em nosso lar, e que tal experiência se espalhe por toda a congregação.