Uma Presença Indispensável
Desejo introduzir o meu assunto lendo uma passagem da Bíblia, porém, da maneira como é citada pela irmã White em Obreiros Evangélicos à pág. 413. Diz assim: “Eu não posso guiar a êste povo, a não ser que a Tua presença vá comigo” (Êxodo 33:15).
Que extraordinário conceito não se encontra nas entrelinhas dêsse versículo! Moisés, aquêle poderoso homem de fé, demonstrou aqui ser inteiramente dependente de Deus para realizar a Sua Obra, particularmente numa ocasião especial como aquela.
A igreja de Deus naqueles dias estava passando por uma crise espiritual sem precedentes na história de sua existência.
Deus condenara o povo à destruição por causa do seu grande pecado e prometia fazer da descendência de Moisés uma grande nação. E foi nesta hora de crise, quando tudo parecia perdido que a liderança sábia, amorosa e dedicada de um verdadeiro líder se fêz sentir; de um líder que estava integrado nos planos de Deus no tocante ao povo que êle estava dirigindo; de um líder que se havia identificado com Deus e Sua Obra.
Moisés intercedeu pelo povo perante Deus. Notemos a sua oração intercessória: “Tornou Moisés ao Senhor, e disse: Ora o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-Te, do livro que escreveste” (Êxodo 32:31 e 32).
Deus ouviu a sua petição, mas sob uma condição; disse Deus: “Eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo obstinado … eis que o Meu anjo irá adiante de ti …” (Êxodo 33:3 e 32:24).
Entretanto, Moisés não ficou satisfeito com a solução que Deus havia dado. Êle ficou descontente. Para Moisés a presença de Deus era indispensável para o desempenho de suas pesadas responsabilidades. Só ela servia naquela contingência. Nem mesmo a presença de um anjo iria satisfazer as necessidades daquela hora em crise.
E foi então que Moisés arrazoando com Deus, argumentou humildemente mas com convicção, dizendo: “Eu não posso guiar a êste povo, a não ser que a Tua presença vá comigo.”
Não é um exemplo extraordinário êsse? Nada menos do que a presença de Deus deve ser vista e sentida em nossa liderança se quisermos ter êxito em nosso trabalho. Diz a serva do Senhor: “Se os oficiais de uma associação quiserem desempenhar-se com êxito das responsabilidades que lhes são confiadas, devem orar, devem crer, devem confiar em que Deus Se sirva dêles como instrumentos para manter as igrejas da Associação em bom funcionamento. …” — Obreiros Evangélicos, págs. 416 e 417.
Mas voltemos à experiência de Moisés. Quando um líder está unido com Deus para a ação como Moisés estava, também como Moisés êle conseguirá coisas extraordinárias e até mesmo em mudar, muitas vêzes, os intentos de Deus porque êle é um cooperador Seu em liderar a Sua Obra aqui na Terra. Deus aceita sugestões de Seus conservos não que necessite de conselhos mas porque Lhe agrada quando demonstramos interêsse pelo Seu povo, pelo bem-estar de Sua igreja.
Foi o que aconteceu. Moisés argumentou com Deus, dizendo: “Eu não posso guiar a êste povo, a não ser que a Tua presença vá comigo.” Deus Se aborreceu com isto? Não. Pelo contrário; Deus foi solícito em atender ao pedido de Seu fiel servo. “Disse o Senhor a Moisés: Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos Meus olhos, e Eu te conheço pelo nome teu.” E mais: “Respondeu-lhe: A Minha presença irá contigo, e Eu te darei descanso” (Êxodo 33:17 e 14).
Por que foi que Moisés conseguiu isto de Deus? Notemos que êle conseguiu mudar os intentos de Deus por duas vêzes nessa ocasião: a primeira, impedindo que Êle destruísse o povo por causa de seu grande pecado; a segunda, quando Deus prometeu a Sua presença nova-mente no meio do povo. Mas, porque Moisés conseguiu isto?
Irmãos, êle conseguiu tudo isto porque estava intimamente unido com Deus na execução de Sua Obra. E nós só conseguiremos o mesmo quando nos ligarmos a Deus inteiramente, quando com Êle nos unirmos sem reservas para a execução de Seu trabalho; quando pensarmos menos em nossa posição e de como mantê-la através dos anos; quando pensarmos mais nos interesses de Deus; quando o nosso único interêsse fôr a Obra de Deus e de como terminá-la, então Deus nos conhecerá pelo nome e fará maravilhas por nosso intermédio como o fêz por intermédio de Moisés.
Sim, irmãos meus, a nossa oração diária deveria ser: “Senhor…, eu não posso guiar a Associação Sul-rio-grandense, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a Missão Catarinense, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a Associação Paranaense, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a Associação Paulista, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a Missão Brasil Central, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a Missão Mato-grossense, a não ser que a Tua presença vá comigo”; “Eu não posso guiar a União Sul-Brasileira, a não ser que a Tua presença vá comigo.”
Devemos ser administradores da confiança de Deus. Será que Êle já nos conhece pelo nome?
Uma União Indispensável
Diz a irmã White em Obreiros Evangélicos, à página 417: “Em fé viva, una-se a alma com Deus.” E o salmista, em Salmo 16:8, diz: “O Senhor, tenho-O sempre à minha presença; estando Êle à minha direita não serei abalado.”
Companheiros de administração, o nosso Deus é o mesmo Deus de Moisés e como ajudou a Moisés, ajudar-nos-á também.
Tenho aqui comigo mais algumas citações do Espírito de Profecia: “Todos necessitam de experiência prática em confiar em Deus por si mesmos. Nenhum homem se torne vosso confessor; abri a Deus o coração; dizei-Lhe todo o segrêdo da alma. Levai-Lhe vossas dificuldades, pequenas ou grandes, e Êle vos há de mostrar um caminho para sair de todas elas. Sòmente Êle pode saber dar-vos exatamente o auxílio de que necessitais. . . . Estais aprendendo a vos dirigir a Deus em tôdas as vossas aflições. .. . Por que somos nós tão indispostos a nos chegar diretamente à Fonte de nossa força? Não nos temos afastado do Senhor a êsse respeito? Não deveriam nossos ministros e presidentes de associações aprender de onde lhes vem auxílio?” — Obreiros Evangélicos, págs. 418 e 419.
Em 19 de janeiro de 1888, centenas de crentes se reuniram na estação de Toronto para se despedirem do casal Goforth que ia trabalhar na obra de Deus na China. Antes de sair o trem, todos baixaram a cabeça em oração e, ao partir o trem, a grande multidão cantava: “Avante Soldados de Cristo.” E uma vez fora da estação, os dois no trem rogaram a Deus que os guardassem para viverem eternamente dignos da grande confiança que êsses irmãos depositaram nêles.
Não muito tempo depois de chegarem à China, Hudson Taylor lhes escreveu: “Faz dez anos que a nossa Missão se esforça para entrar no sul da província de Honã e sòmente agora é que o conseguimos. . . . Irmã, se quer entrar nessa província, deve avançar de joelhos.” As palavras de Hudson Taylor, “avançar de joelhos,” tornaram-se o lema da Missão de Goforth para entrar no norte de Honã.
Nós também devemos “avançar de joelhos” se quisermos ter êxito em nossas atividades.
Unidos Com Deus e Com os Obreiros
Quando estamos unidos com Deus demonstraremos em nossas relações para com os obreiros os Seus atributos: compreensão e bondade. O presidente de um Campo é um pastor de pastores e como tal, deve demonstrar amor para com os obreiros e membros; sentir com êles e com êles viver.
Os obreiros esperam do seu presidente mais que um simples administrador. Êles esperam dêle um conselheiro e orientador mas também um amigo, especialmente nas horas de crise e de desânimo, pois os obreiros, como qualquer outra pessoa, têm horas amargas na vida, mementos de lutas e de abatimento, quando então êles esperam do pastor geral uma palavra de amor, de compreensão e bondade.
Há alguns que pensam que ser firmes nos princípios que norteiam a Obra é demonstrar autoridade, severa autoridade. Não têm uma palavra de apreciação para com os obreiros; olham só para as facêtas negativas de seu trabalho.
O líder que está unido com Deus para o desempenho de suas funções exerce uma autoridade racional que tem sua origem na competência. O líder cuja autoridade é respeitada, exerce com entendimento a tarefa que lhe foi confiada pelos que lhe conferiram tal autoridade. Êle não precisa intimidar ninguém. Êle não se acerca de um certo número de amigos granjeados com promessas ou deferimentos especiais, em detrimento de outros que muitas vêzes são dignos e consagrados. O líder consagrado e identificado com Deus não se preocupa em despertar a admiração dos demais por meio de qualidades mágicas. Sendo êle capaz e útil, sua genuína autoridade decorrente do cargo que ocupa, baseia-se em motivos racionais e não carece de um respeito irracional cheio de mêdo.
Do outro lado, o líder autoritário tem prazer em dizer que êle manda. Falta-lhe autoridade racional, essa autoridade que lhe é conferida c reconhecida por outros em virtude de sua capacidade de dirigir e orientar satisfazendo a todos sem se desviar do que é reto e do padrão ideal de conduta. Faltando-lhe isto, êle exerce uma autoridade irracional, que nada mais é que o poder sôbre as pessoas. O poder de um lado e o mêdo do outro, são sempre os esteios em que se apóiam a autoridade irracional. Torna-se uma pessoa “difícil”; julga-se importante; está sempre “ocupado.” Quando alguém deseja falar-lhe sempre tem que esperar, e muito. É temido por seus liderados. Um líder assim destrói-se a si mesmo; perde a confiança de seus colaboradores em sua liderança.
Um líder que possui as qualidades anteriores é aquêle que procura fazer tudo pelas próprias fôrças esquecendo-se de lançar mão dos recursos que Deus lhe oferece. Não está unido com Deus para uma ação em conjunto. Não, esta não é a vontade de Deus.
Deus deseja que à frente de Sua Obra estejam homens consagrados e dedicados. Deus está buscando dirigentes que estejam dispostos a pagar o preço de uma entrega total.
Ainda são da irmã White as seguintes palavras: “Tenho aguardado ansiosamente, esperando que Deus investisse a alguns de Seu Espírito e os usasse como instrumentos da justiça para despertar e pôr a igreja em ordem ”
E o pastor Robert H. Pierson em seu livro intitulado “So You Want to Be a Leader,” à página 152 da edição em castelhano, escreve: “Quereis ser dirigentes? Então colocai-vos de joelhos diante de Deus. Com lágrimas de aflição rogai pedindo aptidão, primeiro para vós mesmos, e depois para o povo a quem conduzis.
E logo a seguir, êle conclui: “Os tempos perigosos em que vivemos exigem dirigentes com uma preocupação, dirigentes que chorem entre o alpendre e o altar, dirigentes que jejuem e orem buscando ao Senhor de todo o coração. A Obra de Deus na atualidade exige dirigentes que anelem profundamente a comunhão com Êle, dirigentes que investiguem as Sagradas Escrituras, dirigentes que vivam vidas centralizadas em Cristo e que preguem sermões Cristocêntricos.”
Irmãos, que o Senhor vos transforme e a mim também em dirigentes com estas qualificações. Amém.
* Obs. Sermão devocional pronunciado no encontro de presidentes de campo da União Sul-Brasileira, realizado de 4 a 8 de setembro, sob os auspícios da U. S. B.