Um grupo de pastores experientes estava discutindo seu papel no ministério de cura de suas igrejas. “Havia uma irmã doente”, um dos pastores começou a falar, timidamente. “A família me pediu que a ungisse. Eu a ungi, mas dois dias depois, ela morreu. O que fiz de errado?” Expressões de compaixão do grupo mostraram que todos haviam passado por situações semelhantes de aparente derrota. Alguns, ao que parecia, até questionavam o propósito de ungir os enfermos. Como então, entender o que Tiago escreveu sobre a importância da cerimônia da unção (Tg 5:14-16)?

A prática de ungir os enfermos tem raízes na história judaica e no ministério de Jesus, e essas raízes elucidam duas razões importantes para adicionar a unção à oração eficaz.

  1. Óleo simboliza o tratamento humano

A primeira razão é que o óleo representa o tratamento curativo. A admoestação de Tiago para ungir os enfermos não deu início à prática. Seu conceito está enraizado no exemplo de Jesus e Seus discípulos. “Chamou os doze e passou a enviá-los de dois em dois. […] Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6:7, 12, 13).

Os evangelhos estão repletos de histórias surpreendentes de enfermos restaurados, de um grande número de pessoas recebendo cura física. Embora Jesus tenha vindo para salvar Seu povo dos pecados (Mt 1:21), Ele passou mais tempo curando os fisicamente enfermos do que pregando sermões.1

Além disso, quando os discípulos foram enviados de dois em dois para proclamar o evangelho, eles podem não apenas ter realizado milagres de cura, mas também usado remédios simples, ilustrados pelo óleo de unção. Encontramos a importância do azeite como agente terapêutico na parábola do bom samaritano, que tratou o viajante ferido com óleo e vinho (Lc 10:34). No mundo antigo, o azeite era considerado útil para curar quase tudo,2 e seria visto como uma substância curativa na época de Jesus e dos apóstolos. Assim, Tiago parece estar incentivando os anciãos a ir até os enfermos munidos com oração e remédios.3

Se o óleo da unção representa os recursos terapêuticos disponíveis que devem ser oferecidos aos doentes, então Tiago diz que o uso de tratamentos médicos deve acompanhar a oração. Orar pelos enfermos sem usar os recursos terapêuticos apropriados seria presunção, não fé. Isso contrasta com a ênfase de muitos ministérios de cura atuais. A gama de tratamentos médicos aumentou radicalmente desde os tempos apostólicos, mas o princípio de fazer pleno uso dos recursos disponíveis ainda se aplica.

Por outro lado, os enfermos não devem ser abandonados aos cuidados médicos sem a devida atenção às suas necessidades espirituais. Encontramos isso ilustrado em um relato do Antigo Testamento. O rei Asa, de Judá, no fim de seu reinado de 41 anos, “contraiu uma doença nos pés, e essa doença era muito grave. Porém, na sua enfermidade ele não recorreu ao Senhor, mas confiou nos médicos” (2Cr 16:12). A ajuda médica sem “buscar o Senhor” não é apoiada. Os pastores são, portanto, uma parte importante da equipe de tratamento e não devem ver seu trabalho pelos enfermos como algo separado dos cuidados médicos.

2. Óleo simboliza consagração a Deus

Há uma segunda razão, ainda mais importante, para adicionar a unção à oração pelos enfermos: separar a pessoa para a obra do Senhor. A unção tinha um significado especial no Antigo Testamento, familiar para os leitores cristãos judeus de Tiago, e cuja importância teriam compreendido.

Jacó, enquanto fugia para salvar sua vida, e impressionado com um sonho que teve, no qual anjos subiam por uma escada que alcançava o Céu, reconheceu a presença de Deus no lugar em que havia dormido e ungiu uma rocha em Betel (Gn 28:18, 19). Isso confirmou a presença divina e a vontade de Jacó de se dedicar ao Senhor. A unção foi ordenada por Deus para a consagração dos sacerdotes araônicos (Êx 28:41; 29:7), que foram designados para um serviço especial. Até o tabernáculo e todos os seus móveis (Êx 29:36; 40:11) foram ungidos para que se tornassem santos (Êx 40:9). Nesse caso, a unção está associada à dedicação ao propósito de Deus. Samuel, por ordem divina, ungiu e separou Saul como rei de Israel (1Sm 9:16, 10:1). Quando Samuel, por ordem do Senhor, ungiu Davi, “o Espírito do Senhor Se apossou de Davi” daquele dia em diante (1Sm 16:13). A unção indicava o recebimento do Espírito Santo e a consagração para o serviço de Deus.

Esse entendimento do Antigo Testamento sobre a unção precisa ser reconhecido e enfatizado quando aplicado aos enfermos. Ao admitir que a pessoa ungida foi consagrada a Deus, para ser conduzida como Ele achar adequado, o resultado pode ser deixado nas mãos Dele. Frequentemente, muito se fala da fé da pessoa por quem oramos ou daqueles que estão orando. Se uma pessoa (ou pessoas) tem fé suficiente, o doente será curado, mas se uma pessoa não for curada, ela carrega o fardo, não apenas de sua doença, mas também de sua alegada falta de fé.4 O conceito da pessoa doente sendo dedicada ou entregue a Deus lida com esses problemas de maneira singela. Como Paulo com seu espinho na carne, ela pode confiar em Deus e em Sua graça (2Co 12:7-9).

A cura para os crentes vem no tempo de Deus e por diferentes meios. Eles podem ser curados imediatamente, por meio de vários tratamentos e orações ao longo do tempo, ou finalmente e eternamente na ressurreição. Todo aquele que crê nas promessas de Tiago 5 e é ungido apropriadamente será curado à maneira e no tempo de Deus. Podemos ter certeza disso.

A unção, portanto, leva o doente além da angústia imediata de sua doença para a íntima confiança em Deus. Quer sua vida seja curta ou longa, ele pode ter certeza de que Deus o usará para ser uma bênção para os outros. Se sua saúde for restaurada, então ele permanecerá, para o resto da vida, uma pessoa ungida, especialmente dedicada a Deus para Seu uso. Portanto, a unção deve ser a escolha da pessoa enferma e de mais ninguém.

Assim, ela pode ser comparada ao batismo. Como o batismo é uma declaração pública de aceitação do poder salvador de Jesus, a unção é uma declaração pública de dedicação total à vontade de Deus para Seu uso especial. Se Deus cura imediatamente, permite que o sofrimento continue ou deixa que a pessoa experimente o sono da morte, torna-se irrelevante. Uma pessoa ungida e curada se concentrará não na bênção da saúde física, mas na salvação divina e em como Ele planeja usar sua vida. Ela louvará a Deus pela evidência de que Ele a usará para um propósito especial e orará para que esse propósito seja revelado.

3. Oportunidade de orientação

Os pastores podem usar as circunstâncias de uma doença para orientar as famílias da igreja, a fim de que entendam os planos de cura de Deus. Sermões não apenas sobre oração, mas também sobre a importância do perdão e o significado da unção devem ser pregados.

A confusão entre a unção e a “extrema unção” precisa ser eliminada para que os enfermos, especialmente os que sofrem de crises e enfermidades crônicas, possam experimentar a bênção do compromisso total com Deus. Enquanto o médico derrama o óleo da cura medicinal, o pastor derrama o óleo que representa o poder do Espírito Santo e direciona a pessoa que luta, sua família e a comunidade da igreja para Deus.

Referências

1 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 19.

2 Douglas J. Moo,The Letter of James (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000), p. 239.

3 Moo, The Letter of James, p. 239.

4 Moo, The Letter of James, p. 244.

Elizabeth Ostring, médica-missionária na Nova Zelândia