T. E. UNRUH

(Presidente da Associação Este-Pensilvânia)

CREIO integralmente nos departamentos de nossa organização. Deus nos guiou na sua formação. A êles devemos muito do progresso experimentado por êste movimento. Embora alguns tenham pensado em estabelecer uma linha divisória entre as funções da administração e as departamentais, nos-sos departamentos não podem ser separados das funções administrativas. Na esfera da Associação, eu considero os diretores departamentais meus associados na administração. Suas atividades e problemas têm-me sempre atraído o interêsse. Têm os funcionários da Associação a responsabilidade de possibilitar a atividade departamental dentro do esquema de nossa organização. A totalidade da Associação só pode alcançar êxito e progresso ao contribuírem os departamentos para êsse progresso e êxito.

Uma Grande Necessidade

A grande necessidade, parece-me, é de coordenar devidamente tôdas as nossas atividades de forma que o seu potencial real coopere para o nosso alvo final. Parece haver uma tendência sempre crescente de cada departamento funcionar, não como parte de um grande todo mas como o todo. Muitas provas existem dessa tendência — conflitos de interêsse, duplicidade de esforços. Testemunhai as reivindicações feitas no fim do ano, pelas estatísticas departamentais, dos batismos relatados pela Associação. Quase invariàvelmente o total das reivindicações ultrapassa o total real dos batismos. As crescentes obrigações impostas pelo calendário denominacional certamente só podem ser atendidas por meio de organizações e departamentos que deixam de considerar-se uma parte do todo, esquecidos de que a soma de tôdas as nossas necessidades tem que afinal centralizar-se na igreja — seus membros, seu tempo e sua capacidade financeira. Essa tendência ou inclinação, se persistir, só pode produzir perplexidade crescente.

Estamos nós em vias de esquecer que a essência da religião é a comunhão com Deus, e que essa comunhão se manifesta em oração, estudo da Bíblia e serviço? É assunto de pouca monta que em nossa vida denominacional encontramos tempo demasiadamente pouco para oração e estudo? Mesmo em nossos concílios, de tôdas as esferas, só dispomos de tempo para “um momento de oração” ou “uma palavra de oração.” Necessitamos de tanto tempo para falar uns com os outros que não dispomos de tempo para falar com Deus.

Somos um povo de atividade intensa. E a atividade requer campanha, e esta o respectivo material para sua sobrevivência. Sem dúvida estamos dedicados à sobrevivência de tôdas as nossas atividades, pois tem-se tornado crescentemente notório que no cumprimento de nosso programa denominacional não possuímos peritos no campo da substituição ou supressão, mas formamos um exército de super-homens na arte da adição. Isto é evidente a todos quantos tomam tempo para pensar.

Quero apresentar apenas uma sugestão, que freqüentemente nos lembra as da advertência de nos acautelarmos, de “não fazer de nossas atividades um salvador.” Está ela em O Desejado de Tôdas as Nações:

“Na opinião dos rabinos, o mais alto grau da religião mostrava-se por contínua e ruidosa atividade. Dependiam de alguma prática exterior para mostrar sua superior piedade. Separavam assim sua alma de Deus, apoiando-se em presunção. O mesmo perigo existe ainda hoje. À medida que aumenta a atividade, e os homens são bem-sucedidos em realizar alguma obra para Deus, há risco de confiar em planos e métodos humanos. Vem a tendência de orar menos e ter menos fé. Como os discípulos, arriscamo-nos a perder de vista nossa dependência de Deus, e buscar fazer de nossa atividade um salvador.” — (1940), pág. 268. (Grifo nosso.)

Desejo partilhar convosco, sem comentário, vários parágrafos do livro The Way to Pentecost (O Caminho para o Pentecostes) cuja leitura poderia ser imensamente proveitosa para todos quantos estão sobrecarregados de responsabilidades administrativas :

“A igreja é impotente sem a presença e o poder do Espírito. Nunca falou ela tanto em si mesma e em seus problemas. Êste é sempre um mau sinal. A ânsia de falar acêrca do trabalho aumentou na proporção do declínio da capacidade do trabalho. Multiplicam-se as conferências quando o trabalho fracassa. Os problemas da igreja nunca são resolvidos com falar-se a seu respeito. Os problemas surgem com os fracassos. Não há necessidade de discutir a necessidade de atingir as massas, contanto que as massa sejam atingidas. Não existe o problema de igrejas vazias, enquanto as igrejas estiverem repletas. Não há dificuldade com a reunião de classes, enquanto as reuniões de classes estão exuberantes de vida e atendem às múltiplas necessidades do coração e da vida. A faculdade de atrair está na capacidade da atração, e inútil é anunciar o banquete se nada há para comer. Estamos procedendo como se o único remédio para o declínio fôssem o método, a organização e o compromisso.. . .

“A igreja conhece perfeitamente bem o motivo. Pura pretensão é buscar explicação em condições mutáveis. Quando foram diversas as condições? Perdeu a igreja o cunho da autoridade, o segrêdo da sabedoria, e o dom do poder, pela persistente e voluntária negligência do Espírito de Deus. A confusão e a impotência são inevitáveis quando a presença e o poder do Espírito de Deus são substituídos pela sabedoria e os recursos mundanos. …

“A ordem de permanecerem na cidade até que lhes fôsse conferido poder do alto prova que o equipamento essencial da igreja é o dom do Espírito Santo. Nada mais proveitoso para o verdadeiro trabalho da igreja. Para muita atividade da igreia Êle não é necessário. Não há necessidade do Espírito Santo para a realização de bazares, clubes sociais, instituições, e piqueniques, como não o há para a direção de um circo. Podem êsses ser acessórios necessários da igreja moderna, mas não é para a realização dessas coisas que necessitamos de poder. . . .

“O Espírito nunca abdicou de Sua autoridade nem relegou o Seu poder. Nem o papa, nem o parlamento, nem conferências, nem concílios são supremos na Igreja de Cristo. A igreja que é dirigida pelo homem em vez de ser governada por Deus, está condenada ao fracasso. O ministério que possui instrução colegial, mas não o Espírito, não opera milagres. A igreja que multiplica comissões e negligencia a oração, pode ser movimentada, barulhenta, empreendedora mas em vão trabalha e gasta suas energias em coisa nenhuma. É possível exceder-se em mecanismo e fracassar em dinamismo. Há superabundância de maquinaria; falta o poder. Para dirigir uma organização não há necessidade de Deus. O homem pode suprir a energia, mostrar entusiasmo pelas coisas mundanas. O verdadeiro trabalho da igreja depende do poder do Espírito.” — Págs. 7, 8, 11 e 12. (Grifo nosso.)

Tudo isso se assemelha ao apêlo que muitas vêzes temos lido, da mensageira do Senhor:

“O poder de Deus aguarda que o peçam e o recebam. Esta prometida bênção, reclamada pela fé, traz após si tôdas as outras bênçãos. — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 502.

“Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não fluem para a Terra em favor dos homens. Se o cumprimento da promessa não é visto como poderia ser, é porque não é apreciada como devia ser. Se todos estivessem dispostos todos seriam cheios do Espírito. Onde quer que a necessidade do Espírito Santo seja um assunto de que pouco se pensa ali se verá sequidão epiritual e espirituais declínio e morte. Quando quer que assuntos de menor importância ocupem a atenção, o divino poder, necessário para o crescimento e a prosperidade da igreja, e que haveria de trazer após si tôdas as demais bênçãos, está faltando, ainda que oferecido em infinita plenitude.

“Uma vez que êste é o meio pelo qual havemos de receber poder, por que não sentimos fome e sêde pelo dom do Espírito? Por que não falamos sôbre êle, não oramos por êle e não pregamos a seu respeito?” — Atos dos Apóstolos, pág. 50.

Voltemos ao nosso tópico. Estou certo de que a liderança do movimento, em tôdas as suas esferas está consciente de que a campanha de atividades definidas está exigindo uma porção sempre crecente e desproporcional de nosso tempo e atenção. De uma coisa, porém, podemos estar razoavelmente certos — os homens esquecidos dentre nós, os pastôres de nossas igrejas, estão anelantes e suplicantes pela campanha que se faz em Israel.

Duas Observações

Permita-se-me fazer um mínimo de duas observações muito elementares mas profundamente importantes:

Primeira: A menos que as atividades de desenvolvimento estejam adstritas a finalidades bem definidas, podem elas tornar-se uma cilada perigosa. Deve ser sempre mantido em mente que a campanha é um meio para atingir um fim, e nunca um fim em si mesma. Não devem os adventistas do sétimo dia ter senão um objetivo final, um alvo e um propósito, em tôda campanha e atividade — a utilização do poder contido no evangelho de Cristo para ganhar homens e mulheres para o divino caminho da Vida. Qualquer atividade que não contribua de alguma maneira substancial e certa para êste objetivo deve ser abandonada.

Existe um perigo sutil inerente na campanha que algumas vêzes, sem o propósito nem a intenção, se transforma de um meio num fim, num fim em si mesma. E assim nos comprazemos com a atividade ou com a campanha, e não com os resultados alcançados. Assim é que vemos crescente concorrência entre os departamentos e entre Associações na confecção de boletins, cartas circulares, folhetos, etc. Tempo houve em que êsses meios de comunicação eram simples e breves, transmissores de informação vital. Agora enchemos a escrivaninha com tôda espécie de papéis e cartões coloridos, vindos de tôda parte do país. Tudo isso é despendioso de tempo e dinheiro. Eficaz? Quem sabe. São os resultados proporcionalmente maiores? Disso devem falar os registos. É de temer-se que os elogios feitos a quem produz o melhor boletim sejam considerados recompensa substancial para essa atividade. Assim, o material de campanhas é enviado a dezenas de indivíduos ou organizações que nada têm que ver com a atividade promovida. Por quê? Demasiadas vêzes buscamos descobrir a eficiência de nossa campanha não nos que nos devem inspirar para o serviço, mas nos que pertencem a organizações superiores. De quando em quando ouvimos rumores de igrejas que recebem material de campanhas em quantidades muito superiores à sua possibilidade de utilização. Com que proveito, então, é feito tudo isso? Lembro-me de haver recebido, pelo correio, treze remessas de propaganda da mesma atividade. Vieram-me elas dos respectivos departamentos da Associação Geral e da União. Certa quantidade veio por mala aérea. Por quê? Uma simples comunicação, apresentando a necessidade e estabelecendo a época e a modalidade teria sido suficiente.

Assim, repito, existe perigo sutil na campanha que, sem o propósito nem a intenção, se transforma, de um meio para atingir um fim, em um fim em si mesma. E o que dizemos quanto aos boletins, vale também para outras atividades e campanhas, tais como concílios e convenções. Perfeitamente possível é ficarmos plenamente satisfeitos com simplesmente assistir a uma reunião, e então substituir essa satisfação pelo gôzo que adviría de uma realização concreta. Em realidade, o tempo gasto dessa maneira é muitas vêzes apresentado como desculpa para a falta de tempo para fazer a coisa que a reunião pretendia inspirar-nos a fazer. Demasiado freqüentemente alguns que pouco fizeram, ou nada, vangloriam-se de haver assistido a tal ou qual reunião. Sentimos vontade de perguntar: “E então?” Não é isto fazer de nossas atividades um fim e não um meio para um fim digno?

Estamos bem próximos do fim do ano para remembrar com proveito o editorial de Ano Novo de American Magazine, publicado há alguns anos pelo eminente físico, Dr. Mikkelson. Disse êle, em síntese:

“Atingimos o fim de outro ano. Estão em preparo as estatísticas. Dentro em breve nos vangloriaremos das coisas que, sem dúvida, engrandecerão a América. Anunciaremos que percorremos tantos milhões de quilômetros durante o ano que findou. Mas, realmente não é êsse o ponto vital. Que fizemos nós ao chegar lá? Gloriar-nos-emos de haver feito milhões de chamados telefônicos. E então? Que dissemos ao fazê-los? Estaremos orgulhosamente anunciando que durante o ano fizemos milhões de horas de trabalho. Não é isso que importa. Que monumentos de valor duradouro erigimos?”

Que verdade! Que grande verdade!

A promoção de qualquer atividade que não resulte num aumento de membros nem na vida espiritual aprofundada da igreja deve ser considerada com suspeita, se não com alarme. Não há tempo em dinheiro para mera atividade de passatem-po nestas horas finais em que já passa do tempo de o Senhor haver vindo!

Minha segunda observação é esta: Devemos buscar com grande empenho e com muita oração, simplificar grandemente nosso programa denominacional. Declarou a mensageira do Senhor:

“Deus usará os meios e recursos pelos quais se verá que Êle está tomando as rédeas em Suas próprias mãos. Os obreiros ficarão surpreendidos em ver os meios simples que Êle usará para concluir e aperfeiçoar Sua obra de justiça.” — Evangelismo, pág. 118. (Grifo nosso.)

Acho que esta simplificação do que lemos é imperativa, tanto em proveito do ministério como da congregação, Esclareçamos:

Nosso povo está-se tornado mais e mais desnorteado pela multiplicidade de atividades que se lhes pede que amparem. Nem bem um folheto foi apresentado, já outro, novo, sai do prelo. E tudo isso nosso povo tem de pagar. Em vez de fornecer a tôdas as Associações e mesmo à Divisão uma mesma espécie de literatura pelo período de vários anos, o que poderia ser então produzido em maior quantidade e por menor preço, mantemos nosso povo repassando o território com edições recentes. E o que dizemos quanto à constante renovação de literatura, poderia ser dito de algumas modificações de planos, métodos, equipamento e quejandas. Nos-so povo não é ingênuo. Estão já a formular perguntas embaraçantes. Um plano simplificado, irmãos, é a necessidade da hora presente. Êle será bem acolhido pela igreja. Resultará em mais profunda espiritualidade. Eu podeira citar muitas experiências com que corroborar êste apêlo. O tempo não o permite, porém. Crede-me que é verdade.

Mas, uma tragédia maior ainda do que o desnorteamento de nosso povo está-se processando. A pressão crescente das campanhas de nosso programa denominacional está reduzindo o homem insdispen-sável, o pastor local, o homem a quem Deus nomeou pastor de Suas ovelhas e para ser poderoso homem de Deus, cuja arma principal contra o pecado deve ser a espada de dois gumes do Espírito, a Palavra de Deus — êsse homem está sendo reduzido ao papel de mero diretor de programas. Pode isto ser considerado por alguns como uma declaração ousada. Não a formulamos como acusação. Apresentamo-la como uma advertência para que paremos e meditemos. Há muitas pessoas dizendo a êste homem o que êle deve fazer. Para uma quantidade crescente de sábados existe programa preparado, em que lhe é suprida a mensagem. Alguém muitíssimo distante de sua congregação determinou o de que o povo necessita e o que deve fazer. Que uma quantidade reduzida de programas é necessária para manter a unidade do movimento e o suprimento das necessidades gerais, ninguém contestará. Mas o alimentar o rebanho por espaço de quase seis meses do ano, com propaganda de empreendimentos, sem dúvida provoca reação. Acabo de consultar, em meu caderninho prêto, o calendário denominacional para o ano. Para vinte ou vinte e dois sábados dos cinqüenta e dois do ano, os programas estão preparados, com seis dêles visando a oferta especial. Sete outros sábados têm por alvo ofertas especiais. Outros oito estão reservados para campanhas especiais. Somai-os, irmãos, e pensai, então, nas necessidades da Associação e da igreja local, que também têm que ser atendidas. Quantas horas de culto sobram para a vital e refrigerante pregação da Palavra de Deus? Para os poucos sábados restantes, êste homem esquecido dispõe de pouco tempo e de menos incentivo para tornar-se pessoa poderosa nas Escrituras.

E o que mais significativo é, é que quase inconscientemente chegamos a avaliar a eficiência do pastor em função dos alvos alcançados e das campanhas dirigidas com êxito. Fiquei impressionado com a resposta de colegas da administração a um questionário concernente à atividade de alguém cujo chamado, ou transferência, estava em pauta. Quase sem exceção, o conceito é êste: “Êle alcança os seus alvos; suas campanhas têm bom êxito.” Raramente se afirma que a pessoa em questão é poderosa nas Escrituras, um homem de fé, a cujo ministério os pecadores não podem resistir, ou que suas congregações se caracterizam pela união e a devoção, pela liberalidade jubilosa que ultrapassa a expectativa, e por imenso amor aos perdidos.

Não quero dizer que se não deva esperar dos pastôres que alcancem os alvos que lhes são atribuídos. Penso que sim. Apelo para que haja um programa denominacional simplificado, cesse a multiplicação das atividades que exigem pressão propagandista, haja menos homens que gastem o seu tempo ideando planos que o pastor tenha que cumprir. Dê-se às congregações tempo suficiente para demonstrarem a eficiência de um plano de trabalho, antes de lhe serem propostos novos planos.

A tudo isto, poderá alguém dizer: “Fantástico! Oponho-me!” Afirmo que nosso sobrecarregado calendário denominacional é opressor do homem que se acha entre Deus e a congregação. Se seu ministério é ineficiente, talvez a culpa não seja totalmente sua. O material de campanhas que chega às mãos do pastor não é de natureza apenas informativa, para ser arquivado, se o quiser. São-lhe elas atribulações! A atividade de cada departamento conta com êle e com sua congregação. Esta redução do pastor ao papel de um executor de planos deve preocupar-nos como administradores. Para que venha o Pentecostes deve a congregação ouvir novamente a voz do púlpito ecoando as palavras dos antigos profetas: “Escutai a palavra do Senhor.” E se o Pentecostes não vier, não poderá haver terminação da obra!